A Vilã Morre No Final . escrita por Liz03


Capítulo 35
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Ah vocês pensaram que se livrariam de mim fácil assim, foi?



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E quando minha mãe morreu, vítima de uma mal súbito, e ficamos apenas eu e Sofia, decidi que precisávamos sair dali. Tudo naquele apartamento agora parecia triste. Tolói se casara se mudara com a esposa para França havia uns 5 anos, mais ou menos isso. Como eu, desistira da carreira militar e resolvera abrir o próprio negócio. Pedi ao meu amigo um emprego e recebia a chance. Conclui por lá mesmo minha formação em História, passei a dar aula de História da Arte. Minha pequena Sofia era todo o meu combustível, passei a viver para ela. Ela sorria, eu sorria; ela chorava, eu chorava; sempre em sintonia com a vida da minha melhor amiga. Até o dia que ela se mudou, e eu sabia que seria feliz, mas juro que pedi a Deus que me levasse. Na verdade, foi Sofia mesmo quem quis me levar para morar com ela, mas eu era um velho só e monótono, não um velho egoísta o suficiente para estragar a vida de um jovem casal apaixonado. Pelo menos ela sempre vinha me visitar, e de repente vinha com um novo melhor amigo. Léo. A quem conto as melhores histórias de um velho gaga. Um garoto muito inteligente ao auge de seus 4 ou seriam 5 anos?

– Quantos anos ele tem mesmo, Sofia? – perdido nos meus devaneios nem percebi que ela estava chorando – Puxa vida, você está chorando! Minha vida é tão deprimente assim

– Não é nada disso – assoa o nariz – É que quando você me disse que tinha uma boa história para eu publicar na coluna não pensei que fosse nada comparado a isso – funga – E eu sabia que você tinha ficado abalado quando eu me mudei, mas não sabia que queria morrer, Tomás, eu te disse tanto para vir com a gente. O Marcel te adora, verdade, e o Léo eu nem preciso dizer, né? Aliás ele tem 6 anos e meio

– 6 anos! Minha nossa, quando foi que se passaram 6 anos....e meio!

Ela sorri, sorriu também – como sempre – tomei a decisão de contar finalmente toda a história para alguém, porque quando você passa dos 80 anos os segredos do passado não parecem mais tão secretos. Então tudo que tive que fazer foi pedir para a jornalista mais confiável que conheço, que é minha melhor amiga desde que nasceu, para vir tomar um café comigo.Pedi apenas a ela que trocasse os nomes. Passamos mais meia hora repassando detalhes da história, ao fim Sofia arrumava as coisas, enquanto avisei que não voltaria com ela. Insistiu, mas resisti, disse que precisava de um tempo sozinho para saber como estava depois de ter desenterrado toda essa confusão de tanto tempo. Custou, mas minha irmã concordou, saiu do café por volta de 17:30 p.m , típica hora de buscar o Léo na escola.

Levanto e decido ir para uma cadeira perto do balcão para ficar mais aquecido. O frio fazia meus ossos doerem. Sento respiro fundo, me sinto muito mais aliviado do que pensei que sentiria. Peço um café latte, e minhas mãos trêmulas levam a xícara até a boca. O balconista está ouvindo as notícias no rádio, um casal apaixonado conversa na mesa do lado de fora, uma senhora senta-se na cadeira ao meu lado. Tudo parece mais leve.

– Um café puro e sem açúcar – diz a senhora ao meu lado

Estou prestes a tomar mais um gole quando vejo a mão dela no balcão se aproximar de mim, penso que dirá algo, mas continua esperando seu café . Isso se chama excesso de carência de um velho sozinho. Mas é então que a senhora de suéter lilás ao meu lado levanta a mão e deixa sobre o balcão algo que não via há muito, muito tempo. Meus óculos embaçados leram para mim a frase desgastada.

“Para Tomás, Sofia e mamãe”

Meu coração disparou como não disparava a muito tempo. Tentei respirar, mas de repente todo o ar do ambiente sumira. Há muito tempo, também, que não tenho medo de morrer, mas pedi que não me levassem agora. Acho que alguém lá encima gosta de mim, porque não só não morri como também tive tempo de olhar para o lado e ver.

Eram eles! Daí percebo que morrer ou não morrer não fez a menor diferença, disse, digo e repito, mesmo que eu estivesse morto reconheceria aqueles olhos verdes.

–Eu sabia! – praticamente grito

Mas ela não respondeu, pegou seu café e bebeu o primeiro gole. Espere um minuto. Eu estou louco? Eu estou louco! Levo a xícara do café até a boca e dou um longo gole, fico de cabeça baixa. Que vergonha, sou um velho patético. Patético. Sou ridículo, mas ainda posso ser educado.

– Desculpe – falo dessa vez baixinho

A senhora balança cabeça afirmativamente.


Esse é meu glorioso fim de história.















– Aliás- completa a senhora depois de um gole de café – Sobre seu pedido de desculpas... – passa o guardanapo sobre a boca - - Não mereço – olha para mim com um discreto sorriso - Mas você sempre foi generoso, além de ser o maior bobo que conheci



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4º Motivo da Rosa

“Não te aflijas com a pétala que voa:

também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzidas,

mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos

ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,

por desfolhar-me é que não tenho fim.”

Cecília Meireles





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Notas finais do capítulo

Agora é oficial. Adeus. Um adeus em grande estilo porque termina com Cecília Meireles. Espero que a história tenha trazido algo legal para vocês. Agradeço a você que chegou até aqui pela paciência e pela atenção. Aproveitem para despedir-se em grande estilo também com comentários o// aushauhsuahs recomendação se for o caso ^^'' . Ai...cá estou eu enrolando só para não ter que dizer a última palavra, acho que me apeguei à história. Mas precisamos disso. Obrigada por tudo. Um bj no coração o//
Adeus não,
Até breve :)