A Vilã Morre No Final . escrita por Liz03


Capítulo 33
33) Último dia de trabalho - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, eu sumi um pouco, mas estava escrevendo, pois então, decidi dividir o último capítulo em 2 porque estava ficando muito grande, e seria cansativo para vocês, também porque assim vocês ficam com curiosidade hehe :D Espero que curtam, eu me esforcei de verdade ^^
ps: Se eu pudesse indicar uma música para ouvir lendo o capítulo, possivelmente indicaria Faint do Linkin park :)



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Reflito um pouco antes de começar a perguntar, aguardo fazendo uma longa respiração, não por falta de ânimo de questionar, minhas dúvidas ardem na garganta, a ansiedade é atormentadora, mas o medo das respostas é ainda mais assustador. Por fim seleciono uma pergunta e falo.

– Por que você matou o Paulo e o César? – digo e olho para ela que está com os olhos vidrados na rua

– Porque era a vida deles ou a minha e a sua, e nesse caso do seu amigo também – diz seca sem olhar para mim e sem pestanejar

Riu de primeira, pensando ser alguma piada de mau gosto, como ela não mexe nem um músculo, percebo que não é chacota e continuo:

– Ah é ? – me viro no banco para olhar mais para ela, que mal pisca e continua acelerando e cantando pneus na hora de fazer a curva – E por que eles queriam as nossas vidas?

– Porque eles são da concorrência – ri sarcasticamente no fim da frase, mas logo volta a ficar séria

– Concorrências...? – olho para a frente, os postes iluminam as ruas, percebo que não tenho ideia de para onde estou indo – Para onde estamos indo?

– Cobrar uns favores

– Cobrar uns...? – começo a frase, mas não tenho interesse em concluí-la tenho milhões de perguntas mais urgentes que essa – Eles seriam a concorrência de quem?

– De instituições como a que eu trabalho

– O exército?

Capitã desvia pela primeira vez os olhos da estrada e coloca-os apenas por alguns segundos no retrovisor, logo eles já estão de volta para as curvas e as retas em velocidade, estou quase repetindo minha pergunta quando ela diz enfim um breve: “Não”.

– Você trabalha em outro lugar também?

– Na verdade o exército é só um – reflete por um par de segundos – disfarce

Disfarce?! – Unhum, ok , gente que não bebe quando resolve dar uma animadinha fica assim. Só pode. Ou isso aqui é um filme clichê de ação? Daqui a pouco a Angelina Jolie vai aparecer na estrada com uma metralhadora e uma lingerie, ou o nosso amigo Tom Cruise vai fazer qualquer coisa impossível sem assanhar o topete? – Você tá me gozando neh? Aquele lance de falar a verdade já ta valendo viu? – riu debochadamente, na verdade gargalho por alguns instantes

Dessa vez ela finalmente olha para mim com o semblante retorcido, como se não acreditasse na minha reação. Como se fosse algo atípico, imagina...rir de uma piada de mau gosto é atípico, agora matar dois homens é tipo velhinhos jogando dominó na praça.

– Eu estou falando a verdade, Tomás! – ela olha freneticamente da estrada para mim ainda incrédula – Pela primeira vez tudo que eu estou dizendo é verdade

– Ah pela primeira vez? Pela primeira vez? – sinto minha voz subir duas oitavas, quem liga? – Então todo o resto foi mentira ?

– Algumas verdades, mas todo o resto sim, mentira

Paro por um momento. Volto a sentar no meu lugar e olhar o asfalto que passa por debaixo dos pneus. Todo o resto, o que seria isso?

– OK, e pra que um disfarce? De quem você estava se escondendo?

– De todos basicamente

– Ah...muito esclarecedor...e se o exército é um...disfarce...o que é o real?

– Bem, eu trabalho para uma agência de espionagem particular, algo assim

– Espionagem? – tento sorrir mas já faz um tempinho que percebi que isso não é piada – E eles da concorrência?

–Unhum – balança a cabeça afirmativamente – E a garota também

Sinto meu estômago se contorcer.

– Você matou a Alex? – falo gritando e sentindo meus olhos arderem

–Não – diz com a voz calma de sempre – Encontrei com ela no banheiro e disse que sumisse, dei a chance porque ela é jovem e provavelmente novata

– Novata na concorrência? E você é antiga no ramo?

Não responde, estreita ligeiramente as pálpebras, aperta por uns instante o volante com mais força.

– Eu estou nessa a muito tempo – a voz tinha um traço que fugia de seu tom normal de calma – Uns 15 anos na verdade

– 15 anos? – faço contas mentais – Pera aí , você não tem 28 anos?

– Sim

– Então a 15 anos atrás você tinha 13, como...?

Bem, depois de um suspiro exausto,ela começa a contar:

– Tomás, eu nasci em Santa Croce, na Itália em 1984 ....

Foi assim que eu conheci a verdadeira história de Nina Croce. Mas você já sabia disso não é? Já lhe contei lembra? Sim, já lhe disse,contudo, não conseguiria relatar aqui nem em lugar nenhum minha reação ao ouvir aquilo, e mais! Meu sentimento em vê-la contar a própria história foi perturbador e intenso. Senti raiva pela mentira, por tanto tempo de enganação, cada coisa que eu senti por Emiliane Cortez simplesmente não valeu de nada, porque ela não existe, nunca existiu. Vi uma lágrima escorrer pelo canto direito de seu rosto e brilhar banhada pela luz dos postes que iam e vinham passando por nós, a palma da mão secou-a rapidamente. Engoliu em seco. Espero um tempo, as informações vinham como gotas frenéticas de uma grande tempestade na minha cabeça, muita coisa para assimilar de uma vez só, mas mesmo quando a voz já estava de volta à minha garganta aguardei mais um pouco para que ela pudesse descansar porque relembrar tudo aquilo é sofrer mais uma vez, e as dores que nos atingem além do corpo, sobretudo na alma, quando somos apenas crianças são as que mais doem.

Não que crianças sejam mais frágeis (e com isso não digo que são mais fortes), existem homens e mulheres mais frágeis emocionalmente que crianças, sim existem. Mas digo que o sofrimento na infância fica e dói para sempre porque esse é o momento da vida que temos mais esperança. Que a maldade que vamos acumulando no coração ainda é inofensiva para contaminar nossa pureza. Somos confiantes e otimistas quando pequenos. Não esperamos nada de ruim, e então recebemos um bote desleal pelas costas. A dor de uma criança é perene.

Depois de um tempo com o silêncio pesando no ar e nos pulmões, falo enfim:

– E onde eu entro nisso tudo?

– O chefe da agência queria que eu trouxesse você para perto para ter acesso a documentos do exército brasileiro que seriam úteis para a missão

– Mas aí o exército ia me expulsar?!

– Mais que isso, a concorrência mataria você

– ME MATAR?!

– Sim, mas se tudo der certo isso não vai acontecer

O ar está indo embora dos meus pulmões....indo....indo....embora....me matar? Então esse papo de “nossas vidas ou a deles” era valendo? O que eu fiz para quererem me matar? Minha vontade é puxar o freio de mão descer do carro e gritar ou correr, melhor! Ambos! Aliás minha vontade é esganar essa mulher, só falta uma pergunta para eu pular no pescoço dela:

– E ... – dou uma gargalhada nervosa, meneio com a cabeça. Será que eu realmente quero saber?. Tusso um pouco para liberar a garganta – Você...digo nós, começou antes de você ter que me trazer para perto?

– Depois

Minha cabeça gira ferozmente, meu estômago borbulha, fecho os olhos, mas mesmo assim sinto a água vindo, se eu abri-los ela vai vazar, tenho certeza. Uma bola gigantesca vai se formando no meu peito, esmagando meus pulmões, tentando sair pela minha boca, minha vontade é gritar. Gritar o mais alto que eu puder, até minha voz sumir para expulsar essa bola de mim.

– Mas não foi assim como você está pensando, nem tudo foi planejado ou milimetricamente calculado ou.....

– Você me usou o tempo todo...- sussurro como um mantra a ser gravado na minha mente

– Não foi tudo mentira, está bem?!

–....NÃO?! VOCÊ. ME. USOU! – esmurro o painel do carro – EU NUNCA SOUBE SEU NOME, NADA DA SUA VIDA, NEM QUEM VOCÊ É – inútil tentar evitar, malditas lágrimas inundando meu rosto – ALIÁS, QUEM É VOCÊ? VOCÊ SABE?- puxo os fios do cabelo até meu couro cabeludo doer bastante – você não sabe – riu embriagado na minha própria frustração – você.....não sabe, porque você não existe. VOCÊ NÃO EXISTE!

Abaixo a cabeça e choro copiosamente. Deixo as lágrimas apenas pingarem em qualquer lugar.

– Você está certo, mas se ainda quiser viver vai ter que deixar seu ódio de lado por um tempo e escutar o que vamos fazer

Levanto os olhos e vejo sua imagem pouco nítida, estamos numa estrada com pouca iluminação agora.

– Nós estamos indo buscar ajuda, depois vamos pegar a chave para sua sobrevivência e então você vai ter a garantia de vida, entendeu?

– Como eu vou saber que estou indo buscar a garantia pra minha vida e não a mortalha do meu funeral?

– É uma aposta, Tomás – ela espera um pouco antes de concluir – Com um preço muito alto a se pagar, então pense bem.... e rápido

Fazemos o resto do caminho em silêncio. Ela estaciona o carro no acostamento, passa o braço pelas minhas pernas para abrir o porta luvas, tira uma arma e estende para mim.

–Caso seja necessário use! Não hesite, porque ninguém vai pensar mais de uma vez em atirar na sua cabeça, ok?

Faço que não com a cabeça. Ela faz um grunhido de reprovação.

– Você quer morrer garoto?! Acha que é brincadeira? Pois não é, se a coisa apertar você destrava – ela mesma o faz para exemplificar – e atira, se der tempo de mirar, ótimo, se não sai atirando, ok?

Faço que sim com a cabeça. Ela desce do carro depois de tirar uma arma da bolsa prateada que trazia. Coloco a minha arma na cintura e escondo com a camisa. Avançamos pelo mato, passando por arbustos e alguns animais. Caminhamos no nada por uns 15 minutos, até eu ver uma construção a alguns metros de distância.

–É ali – sussurra

Chegamos a uma espécie de armazém abandonado, um Mustang antigo de cor laranja enfurrajada estava estacionado em um arbusto perto dali ao lado podia se ver algo parecido com um mini Cooper também antigo, cor preta com falhas nos lados. Emi...ou melhor, Nina Croce dá algumas batidas na porta e entramos. Três homens apontam armas de diferentes calibres.

– Boa noite, rapazes – diz Nina

O homem do meio, cabelos longos, muito bagunçados e loiros, uma barba que fazia o parecer um grande bulldog. Colete de couro, calça também , botas pretas igualmente, a blusa preta com mangas até os cotovelos com uma estampa de uma banda de heavy metal chamada Ked Earth, é o primeiro a abaixar a arma. Inclina um pouco a cabeça. Olha na minha direção através de seus óculos de lente preta, logo volta a atenção para ela.

– Agente 239 – diz ele com um inglês bem alemão – A que devo a honra? – ante que ela respondesse ele se vira para os companheiros com ar de reprovação- Ora vamos, não vão cumprimentar a primeira mulher que vocês veem em anos?

O homem da esquerda é o mais jovem, muito alto, digo, exageradamente alto. Cabelo curto, cicatriz no supercilho, magro, com um blusa verde musgo dois tamanhos maiores, calça também folgada apertada por um cinto marrom surrado, ele faz um cumprimento discreto de cabeça, ela responde com igual aceno.

O homem da direita, pelo contrário, é o mais velho, impossível não citar como primeira característica a falta da perna esquerda e no lugar uma prótese de madeira, como a de um pirata, blusa de botão branca com listras azuis finas, bermuda bege, cabelo branco preso num rabo de cavalo desgrenhado, barba rala pelo rosto, tira por alguns instantes a bengala do chão significando um “oi”. Ela mais uma vez mexe a cabeça para responder.

Depois desse minuto de apresentação Nina anda mais para perto.

– Gerrard, eu queria um favor seu – diz isso e olha para trás encontrando meus olhos atentos e , deviam também estar, um tanto assustados, volta a atenção para a frente- Melhor, meu caro, digamos que isso é apenas uma lembrança...

– Para relembrar alguns favores que eu lhe devo, certo?

– Sim, para quitarmos essa dívida, digamos

–Por que algo me diz que essa quitação vai custar caro pra mim?

– Nada que você não possa fazer – diz ela se aproximando dele, segurando o colete e trazendo o mais para perto – Digo mais, nada que você não possa fazer por mim, Gerrard

– Aaaaa...- ele segura as mãos dela no colete, primeiro penso que ele vai tirá-las dali, mas depois vejo que não é um gesto brusco, sim uma espécie de carinho – Eu sei que vai ser algo impossível, querida, mas eu devo minha vida a você então pode falar que eu morrerei tentando lhe ajudar. Mas – e então desvia o olhar para mim – me explique antes, onde esse franguinho entra na história? – aponta para mim

– Ele é o objetivo dessa missão – ela também olha para mim e caminha pelo ambiente mal iluminado. Talvez por nervosismo eu não tenha reparado muito bem no lugar, mas lembro que haviam caixotes por toda parte além de uma grande mesa de madeira e alguns colchões velhos – Tem muita gente atrás de nós...

–Muito, quanto?

– Muito, todos

– Eu sabia...

– Como eu já disse mantê-lo vivo é o objetivo da missão, eu tenho informações privilegiadas sobre a localização de uma caixa preta da Agência, que como você sabe tem podres não apenas dela, mas de toda concorrência também

“ Eu preciso pegá-la, inteira, destruída não serve. Eu quero ter algo que eles não possam perder, para podermos fazer uma troca...”

–A caixa preta inteira pelo frangote inteiro ....

– Isso. Para tanto vou precisar dos seus brinquedinhos e também da ajuda nerd – Nina olha para o rapaz alto que estava sentado em um caixote, ao perceber que a conversa chegou até onde ele estava parece surgir um entusiasmo em seus olhos, levanta-se e chega mais perto – Quero invadir e enganar o sistema, a parte prática é comigo, e para isso quero mais brinquedinhos para mim e para ele – aponta para mim com o queixo - já que, por incrível que pareça o local mais seguro para ele no momento é comigo

– Invadir e enganar o sistema da Agência não vai ser mole, quanto tempo temos?

– Pouco, eles devem estar a caminho

– Aaaa....- diz retorcendo a boca – O que acha Svec?

O rapaz alto estreita os olhos por alguns segundos mirando uma paisagem imaginária, morde o lábio inferior e estala o pescoço para os dois lados, sem dizer nenhuma palavra respira fundo e faz um menear de cabeça seguido por um sinal afirmativo. O que eu interpretei como: “OK, dá pra tentar”.

–Hum...- o roqueiro loiro acaricia a barba pensativo – Que brinquedinhos você vai querer?

– Algumas armas, rastreadores, telefone de satélite para eu me comunicar com vocês, umas bombinhas, cabos de aço para escalada, um carro mais rápido, enfim o básico, ah sim, uma arma com sistema de carregamento automático para ele, digamos que não se trata de alguém do ramo, então o lance de atirar ainda é meio precário

– OK, essa parte é a mais fácil – o homem loiro vai até um caixote e tira algumas armas, de outro cordas metálicas, e assim vai pegando as encomendas, por último abre um caixote que dentro contém um pequeno cofre eletrônico, com o dedo faz a leitura digital, de dentro do compartimento ele retira uma chave – Dê os dados ao Svec, e vamos ao possante

Nina Croce diz ao rapaz um conjunto de coordenadas e senhas para ajudá-lo a penetrar no sistema, rapidamente ele abre um caixote e põem na mesa um computador com uma tela grande, logo equações complexas aparecem na tela e ele vai desvendando os labirintos virtuais. Seguimos o roqueiro loiro até o fim do armazém, ele se abaixou e empurrou alguns caixotes, no chão via-se agora um tipo de tampa, abriu e desceu para um local totalmente escuro. Indicou para que o seguíssemos. Ligou o interruptor e lá estava ele de frente a um compartimento devidamente climatizado, com vidros de uma espessura considerável, mais uma leitura de digital e uma porta da saleta de vidro se abriu. O carro era preto e do fim das portas para baixo de um laranja berrante.

– Bugatti Veyron 16.4 Super Sport, sete machas, a empresa limitou a velocidade em 415 km/h, mas essa belezinha aqui é destravada e com uma pitada de sorte você pode chegar a 431 km/h, feito de fibra de carbono, e claro, fizemos uns aprimoramentos, já inclui telefone por satélite, e brinquedinhos próprios – diz com um sorriso orgulhoso no rosto

– Agora eu posso dirigir com decência

Ao ouvir isso o sorriso no rosto do homem desaparece, ele entrega com um ar de tristeza a chave do carro para Nina, como um pai que se despede do filho que acaba de sair de casa.

– Provavelmente eu não vou mais vê-lo, não é? – ele passa cuidadosamente a mão sobre o carro – E se voltar vai estar, no mínimo, sem as quatro rodas, estou certo?

– Provavelmente ...

O homem loiro dá um longo suspiro antes de olhar para ela de novo.

– Precisa de mais alguma coisa?

– Não, obrigada, Gerrard, temos que ir logo – diz e aponta o banco do carona para que eu me sente, dou a volta no carro e tento mostrar cuidado ao abrir a porta – Vou seguir para o local da caixa preta e mantenho contato com vocês, ok?

–Pode deixar, vou vendo por aqui alguém que esteja seguindo vocês e mando para o rastreador do carro, e o Svec vai ludibriando o sistema da Agência, lhe mantenho informada

– OK, obrigada

– Você vai seguir pelo túnel – ele aponta um grande buraco na parede – e vai sair numa ladeira já perto da estrada que leva a Itália

Ela responde com um aceno breve. Caminha até o carro e antes que ela ligue a máquina o homem loiro faz uma última pergunta.

– Agente 239...?

– Sim...

– Por que está fazendo tudo isso por esse frangote? Você disse que ele não é do ramo...

Nina Croce olha o painel do carro por alguns instantes, passados bons 10 segundos volta a atenção para ele e diz enfim.

– Eu também tenho dívidas a quitar – dá a partida, o motor do carro clama velocidade, mas antes de acelerar ela continua, mais como um pensamento em voz alta que um complemento a pergunta de Gerrard – e eu nunca vou poder pagar a quantia justa

Acelera pelo túnel, os faróis iluminando a completa escuridão subterrânea. O painel mostra mais aparatos do que na verdade o carro tem, os brinquedinhos nos dizem onde estamos e quem está por aí, esperando para dar o bote. Minha cabeça só agora começa a se ajustar, como quando você gira, gira, gira e cai, mas não se sente totalmente seguro para levantar porque ainda sente uma certa tontura. Muito bem, a tontura está passando, e começo a pensar que essa ideia de girar, girar e girar foi realmente péssima, mas não dá para voltar não é?! Tento ser racional e organizar os pensamentos, fazer uma seleção do que mais importa no momento. Meu objetivo principal é ficar vivo, o fato de ter passado os últimos meses com uma agente que só queria estar comigo para depois me usar ou o fato de que eu não tenho noção real de com que estou lidando são verdadeiramente questões secundárias.

Passados 15 minutos nem eu nem ela dissemos uma palavra, o motor do carro funciona silenciosamente, o túnel é silencioso. Olho pelo canto do olho, ela está atenta ao túnel e aos aparelhos do carro, mãos firmes no volante. Como eu já disse, meu objetivo é ficar vivo, mas começo a reconhecer que isso pode não acontecer e, embora um arrepio suba pela minha coluna, tenho que considerar essa possibilidade.Sabe aquele ditado que diz “não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje”? Bem, quando você não sabe se amanhã vai existir ele se torna muito mais impactante. Decido então apenas falar.

– Você disse que estamos indo buscar uma caixa preta... – agora viro a cabeça para olhá-la, nenhum movimento. Será que está escutando ou se encontra tão absorta no que está fazendo que nem ouviu? Mais uma vez opto por apenas ir falando, afinal falar assim sem mais até que acalma - ...do que exatamente se trata?

– Mesmo raciocínio de uma caixa preta de avião,mantém as atitudes que foram tomadas registradas, só que nesse caso se essas informações vazam muita gente não vai gostar das escolhas feitas – responde sem olhar, como uma máquina, direta e objetiva.

– Mas se são informações tão delicadas deveriam estar muito bem guardadas, não?

– E estão

– Hum...- continuo olhando para ela. Cabelos presos num rabo de cabelo, olhos atentos – Então vai ser difícil...?

– Sim

Volto a olhar para frente, passam-se alguns minutos, o silêncio começa a parecer pesado.

– Então por que? – digo e já estou novamente a encarando

– Por que o que?

– Por que está fazendo isso? Você poderia deixar que as coisas seguissem seu curso não? – já estou falando mais rápido que o pretendido – O plano não era botar a culpa em mim e deixar que eu me ferrasse sozinho? Por que está colaborando? Ou...você não está? – sinto a nova conclusão fumegar em minha mente, parecia tão óbvio que eu nem pude ver – Claro! Você está me usando de novo não é? – riu alto – Cara, você deve ser a funcionária do mês no seu trabalho, sério, meus parabéns me enganou de novo, brilhante...

– Guarde sua ironia para alguém que lhe peça, se não estiver interessado em ajuda abra a porta e se joga, ok? – Nina Croce finalmente olha para mim – Então, o que acha? Se for se jogar faça logo porque o túnel não deve demorar muito para acabar

As luzes do painel iluminam os olhos verdes, procuro um vestígio de brincadeira, nem um sinal.

– Só não consigo lhe entender

– Então pare de tentar

O túnel se alonga por mais alguns minutos. Gerrard se comunica através do som do carro, explica que ganhamos vantagem em relação as pessoas que estão atrás de nós tanto pela velocidade do carro quanto pelo atalho do túnel, Nina pergunta sobre a invasão ao sistema, Gerrrard explica que Svec está progredindo, mas muito devagar porque as barreiras são várias, ela pede então que ele se apresse, mas agradece ao fim. Quando menos espero saímos numa estrada, ela não diminui a velocidade nem por um segundo, assim logo estamos passando por simpáticos chalés que passam rapidamente e se tornam borrões. Passamos por placas, mas a velocidade não permite que eu leia.

– Onde estamos?

– Região de Piemonte, Macugnaga, mais precisamente Via Monte Rosa – faz uma pequena pausa e continua dirigindo pelas ruas muito estreitas – Mas não ficaremos aqui, vamos seguir para Torino

– Torino? Por que?

– Você fazia faculdade de história, certo?

Aceno que sim com a cabeça.

– Sabe a fama de Torino?

Hum...capital do automóvel?

– Isso, a fábrica de maior destaque era Lingotto, 5 andares, estrutura moderna para época, estamos falando da primeira metade do século passado. Hoje é uma espécie de centro cultural, fizeram uma reforma e tudo.

– A tal caixa preta está lá?

– Espero que sim

Espero que sim....? Resposta curiosa, melhor não polemizar. Não demoramos até chegar a Torino, ou como diria um legítimo italiano Turim. Passamos por uma ponte, a cidade ainda está um pouco movimentada então ela diminui a velocidade, mas não pense que íamos devagar, cruzamos velozmente a Via Zino Giacomo Zini, não demora até uma construção imponente erguer-se. Cômodos pequenos, pelo menos assim a distância, com janelas transparentes de vidro, e lá no topo havia uma espécie de prancha com uma bolha verde em um dos lados. Pessoas mesmo de madrugada ainda transitavam nas ruas, bem se eu quisesse esconder algo de todo mundo eu não colocaria num lugar assim tão movimentado.

– Aqui não tem gente demais para se esconder algo como uma caixa preta?

– Aqui tem de tudo um pouco teatro, salões, comércio e até um hotel

– Um hotel? Então como...?

– É tão movimentado que ninguém nunca pensaria em esconder algo aqui....

– Tão improvável que....é perfeito

–Exatamente - Nina volta a olhar para mim dessa vez como um professor que consegue fazer um aluno entender uma questão difícil, não com pavor ou com medo que provavelmente estavam na minha cara, e sim com tranquilidade

– E agora?

– Agora? – o lábio superior levanta-se um pouco e alguns dentes ficam a mostra, não posso dizer que foi um sorriso, não. Assim eu estaria passando uma ideia meio idealizada e talvez você ficasse otimista, talvez eu deva descrever fielmente como uma fera que mostra os dentes para mostrar do que é capaz – Agora é que começa a história, sua vida, Daris, vai ser dividida entre antes e depois desse momento, acredite



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Notas finais do capítulo

Bem, foram muitas emoções e acreditem na Capitã Cortez, apesar de ser o fim essa adrenalinazinha está só começando. Dessa vez nos comentários vocês vão responder 3 perguntas:
1) O que acham que vai acontecer na fic ?
2) Desafio: Quero que vocês o objeto de medo de algumas fobias, proibido perguntar ao nosso brother camarada google, claro, eu digo as resposta no próximo capítulo, vale resposta lógica ou criativa, vamos lá : a) Anuptafobia b)Selenofobia c)Geliofobia
3) Pergunta da música de Vanessa da Mata, Amado, lá estava eu tomando banho e ouvindo, daí queria saber o que vocês acham, a pergunta : "Como pode ser gostar de alguém e esse tal alguém não ser seu?"
ps: Um amigo meu postou um conto aqui é pequeno e fofis, quem quiser é : "Primeiro amor e tudo que ele traz" .
Um bj especial no coração de vocês, postarei a segunda parte em breve, paz e saúde que o resto a gente arruma ;)