A Vilã Morre No Final . escrita por Liz03


Capítulo 20
20) Hora de parar para fazer uma boquinha




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08:30 a.m Não estou descansada, mas sono não é uma das minhas qualidades. Então abri os olhos, e lá estava ele dormindo como um bebê desprotegido. Eu tinha um arsenal representável no meu apartamento, e Daris não dormiria assim tão calmamente se visse um calibre 38 mm.  Ponderei os fatos da noite, na verdade, foi mais fácil do que eu pensei e mais estranho, se é que essa é a palavra certa.Mas também que palavra define gostar e não gostar ao mesmo tempo?

E gostar também é a palavra errada, porém pouparei minhas críticas ao léxico para o encontro com o dicionário. O fato é que Tomás era bastante previsível, e minhas previsões estarem corretas me agradam muito, gentil e carinhoso, o que é meio chato na minha opinião, mas não vamos discutir isso.

E não gostar, bem eu tenho dois motivos para isso. O primeiro: Se ele desistisse, se fosse embora, se não estivesse aqui agora dormindo ao meu lado, talvez eu pudesse dizer ao Giovanni que não consegui – se ele ia engolir não sei, mas seria uma tentativa – porém, cá estava Tomás Daris adormecido por cima do próprio braço, eu não sabia se aquilo era o jeito dele de respirar dormindo, mas dava até para dizer que aquilo na boca era um sorriso. Torto. Esquisito. E até com um pouco de baba lustrando o travesseiro. Mas um sorriso.  O segundo: Eu gostei dele ter ficado, e não fique aí conjecturando que eu sou uma sanguinária psicótica, retifico, eu não queria ter gostado, por exemplo, quando ele beijou cada uma das minhas mãos, é sei, babaquice, mas eu não posso dizer que não gostei,até posso na verdade tentar,e  tentei dizer ao meu inconsciente, mas ele não me dou ouvidos.

Levantei da cama tentando não acordá-lo. Caminhei silenciosamente pelo quarto, aliás outro momento péssimo para ter um quarto grande.  Abri a porta torcendo para não fazer aquele estalo, fechei a com mais cuidado ainda. Pronto.Aí  fui conferir a cozinha, temos leite, ovo, queijo, café e esse é o fantástico cardápio, espero que você esteja surpreso.

Pus a água para ferver, peguei duas canecas na prateleira dentro do armário. Duas canecas, isso significa duas pessoas, eu não estava muito acostumada em viver no plural, até mesmo porque meus relacionamentos não duravam mais que uma noite, só para descarregar os hormônios.  Me senti observada e levantei os olhos, Tomás estava espiando com a cabeça inclinada e o corpo escondido atrás da parede. Ele disse “bom dia” e saiu do seu esconderijo, respondi com um aceno de cabeça e me virei para ver se a água já estava fervendo. Corrigindo: Eu sabia que não estava nem perto de ferver, acabei de colocar, mas não quis sustentar o olhar dele.

- Eu ajudo – Ele examinou os ingredientes na bancada da pia – Vejamos...

- Só tem isso aí, acho que vou ao supermercado comprar alguma coisa

- Ah. Não precisa, podemos fazer uma omelete, o que acha?

- Não sei fazer

- Eu sei – Ele sorriu e eu logo voltei a olhar para a chaleira – Posso pegar uma frigideira?

“Unhum”. Apontei para o armário. Ele pegou uma frigideira e uma cumbuca, separou a gema da clara e começou a a rodar o garfo, examinou a espuma se formar.

- Tudo bem?

- Am? Tá, tá, tudo bem  - Cruzei os braços e me apoiei na parede

Ele estava com a calça jeans e a blusa de ontem, sem os sapatos.

- Quer que eu vá embora?

Como eu não respondi ele se dedicou mais aos ovos. Uma coisa eu podia dizer, ele sabia cozinhar muito melhor do que eu. A omelete com recheio de queijo foi absolutamente a melhor coisa que já saiu dessa cozinha. Comemos na mesa da sala, coloquei café nas canecas. Algumas garfadas depois ele resolveu romper o silêncio meio ensurdecedor.

- Eu fiz algo errado?

Mastiguei vagarosamente. Engoli. Tomei um gole de café. Limpei a boca com guardanapo. E ele continuou olhando, respirei fundo.

- Não

- E por que você está assim?

Mais um pouco de omelete, mastiguei o mais devagar possível, mais uma bebericada de café. Guardanapo. Olhei para Tomás enfim, e dei de ombros.Ele mexeu um pouco com o garfo. Voltou a olhar para mim e novamente para a omelete. Percebi que ele mexia o pé freneticamente debaixo da mesa.

- Desculpe

Eu não estava chateada com ele, era mais um aborrecimento com essa vida maldita. Mas ele precisava fazer essa cara de cachorro perdido? Resolvi tentar ser mais legal, eu mereço um troféu por essa iniciativa porque além do mau humor eu tinha um vira-lata abandonado em casa.

- Olha, você não fez nada então não se desculpe, porque esse nhem nhem nhem me irrita

- Acho que antes do  “nhem nhem nhem” – Olha que graça, ele estava imitando minha voz, é cada uma – você já estava irritada

- Oh, que triste, por que você não vai chorar na saia da mamãe?

- Você está me mandando embora?

- Sim!

- Ótimo!

Tomás Daris levantou da mesa pôs a caneca e o prato na bancada da pia e saiu pela porta da cozinha. O idiota saiu sem os sapatos, corri até o quarto peguei o tênis, continuei correndo até a porta da cozinha. Ele estava esperando o elevador andando impaciente de um lado para o outro.

- Ô imbecil! – Ele se virou para mim – Toma! – Joguei os sapatos

O calouro se abaixou e pegou cada par, aí percebi que uma gota escorreu do rosto dele até o chão. O elevador abriu as portas escandalosamente, ele entrou, fui atrás e consegui entrar antes das portas fecharem automaticamente.

- Que?! – Ele examinou minha passagem triunfal atônito

- Você está chorando seu idiota?

Tomás passou os dedos no olho freneticamente, e murmurou um “não” e depois “deve ter caído alguma coisa, sério” . Não sei por que as pessoas ainda tentam essa desculpa, ninguém acredita. Arranquei a mão dele do olho, e segurei o queixo dele para que ele olhasse para mim.

- Não seja tão demente, ouviu?- Balancei o rosto dele – OUVIU?!

- Pensei que tinha sido bom.... – Ele fungou

- Aí não! Vai chorar de novo?

- Desculpa

- Pare de pedir desculpas , idiota! – Segurei o rosto dele com as duas mãos – Certo?- Ele fez que sim com a cabeça.

Encarei um pouco mais. Pensei por um instante, ótimo....refleti por mais alguns segundos, e decidi. Beijei o demoradamente, como os românticos gostam , ele não se moveu, mas juro que dava para ouvir o coração dele saindo dos trilhos, se Tomás tiver um piripaco agora vai ser o fim da picada. Fui interrompida pelo barulho escandaloso da porta do elevador abrindo, um casal de velhinhos até fez menção de entrar com o semblante espantado. Mas falei em alto e bom som um “dá licença!?” e eles resolveram esperar mais um pouco, a porta fechou  e eu voltei a olhar para ele. Difícil dizer qual a cara mais espantada da  manhã, Tomás Daris x Casal de velhinhos. Ele até tentou balbuciar algumas perguntas monossilábicas, mas resolvi calá-lo me aproximando o suficiente para encostar meus lábios nos dele. Mordi suavemente a parte de baixo da boca do calouro. As portas abriram no térreo.Me afastei.

- Err...Acho que eu tenho que...sair...

- E você vai – Apertei o número do meu andar – Só que vamos terminar aquela omelete

Tomás Daris sorriu. Eu nunca realizei o sonho de uma criança, mas acho que deve ser algo mágico e contagiante como aquele mostrar de dentes. Ele não disse nada, nenhuma palavra, ficou sorrindo, abriu os braços que me perguntaram se podiam me dar um abraço. Assenti positivamente. Daris me envolveu, o corpo dele era aquecido e , como eu já tinha impressão de ter ouvido, o coração dele pulsava freneticamente.

Não sei bem explicar por que, mas me senti protegida. Veja só, eu protegida por Tomás Daris. Pode rir, eu deixo. Entramos no meu apartamento mais uma vez, sentamos nos nossos respectivos lugares. Não resisti. Apesar da omelete estar realmente gostosa, despejei meu complexo de queijo na blusa dele.

- Por que....?

- Acho melhor você tomar um banho – Dei uma piscadela

Tomás riu, e me olhou com um sorriso malicioso esculpido em seus lábios.  Fomos batendo as costas pelas paredes e trocando beijos nervosos e urgentes, as roupas foram ficando pelo caminho. A água do chuveiro escorreu pelos nossos corpos unidos. Ele me abraçou, e não precisou se afastar muito para me dar um beijo na testa, depois ficou simplesmente me olhando. Estava consciente de que ele procurava uma personagem que eu criei e não realmente eu, mesmo assim, não consegui separar muito bem as coisas como antes, deixei-me iludir. Deixe-me envolver com aquela peça teatral, na qual eu deveria atuar, por um instante, não interpretei. Acariciei o rosto dele com carinho. Tomás não tirava os olhos de mim e eu não podia mais encará-lo. Não ele. Não eu. Abracei-o para que seus olhos saíssem de mim. Foi pior. Porque agora seu coração pulsava paralelo ao meu.Suas mãos que envolviam meu corpo e sua respiração em meu pescoço fizeram com que eu me sentisse culpada, eu podia lidar com esse sentimento, eu fui treinada para isso. Então por que estou com vontade de chorar por tê-lo aqui comigo?  

As coisas não melhoraram muito no meu turbilhão emocional quando ele resolveu me beijar mais um pouco. Daris tinha um gosto bom, certo, um pouco do gosto da omelete, mas ainda assim um gosto só dele.Queria afastá-lo um pouco, manter sua boca numa distância segura para que parasse de me martirizar. Não fiz. Não consegui fazer.

Escute não é a primeira vez que isso me acontece, sempre que acabo atingindo um inocente me sinto um lixo, não é porque a minha vida é uma droga que a de todo mundo tem que ser. Tomás Daris não foi o primeiro, e infelizmente não será o último. Então, você com sua maniazinha hipócrita e romanticazinha, pare de confabular uma história de filme de fadas. Pare de ler essa isso achando que está lendo uma fábula de princesas.Não está. Eu e Tomás Daris não somos um casal, ele não sabe disso, mas eu e você sabemos.

Não, não vai ficar tudo bem. Nem tenho um “felizes para sempre” para oferecer. Sim, você pode ir embora se quiser, aliás vá agora.


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Notas finais do capítulo

Oiee, onde vocês estão? Poucos comentários me deprimem D:
E esse capítulo eu gostei de escrever e vcs gostaram de ler?
Um xeru no coração de vcs ^^
ps: Uma bjoka especial para nossa colega Laísws que recomendou essa bagaça aqui meu povo \o// (uma salva de palmas).
Até mais.