Assim que chegaram no outro bar, se sentaram numa mesa não muito distante do balcão de bebidas. Valerie ia agarrada à amiga, mas praticamente não interagiu com ela na mesa, já que a ruiva só tinha olhos para Dave. Aliás, todos na mesa perceberam que ela estava afim do moreno.

O papo, a bebida e os cigarros estavam ótimos, mas não demorou muito para Dave e Susy deixarem a mesa e irem para a pista de dança. O álcool parecia responsável por isso, mas na verdade ele não era o principal.

- Porque está me olhando desse jeito? - A ruiva balançava num ritmo lento enquanto seus braços envolviam o pescoço do baterista. A música lenta e levemente romântica construía um ambiente propício para a sedução.

- Agora é proibido olhar alguém? - Os olhos dele se mantiam bem fixos nos dela. Susy riu.

- Claro que não... É que às vezes fico tímida. - Ela desviou o rosto por um momento.

- Tímida... Você? Sei... - Ele segurava em sua cintura com delicadeza.

- Não é possível ser sempre hiperativa. - Foi a vez dele rir. - Tem sempre uma coisa que nos deixa mais acanhado.

- Por exemplo... ? - Perguntou o moreno.

- Você.

Assim que ouviu aquela palavra Dave encarou aqueles olhos castanhos que eram uma irresistível mistura de pecado e doçura. Apenas aproximou o rosto e sentiu os lábios quentes dela tocarem os seus de leve. Com o passar dos segundos ela inclinou o rosto e, à medida que aprofundava mais o beijo, segurava mais fortemente nos longos cabelos negros dele. As línguas se moviam num ritmo lento e sincronizado, o que denunciava um desejo cada vez maior. Quando o ar começou a faltar e outras coisas começaram a se manifestar, se separaram.

- Tá mais calma agora? - Ele sorria enquanto deslizava os dedos nos fios ruivos do cabelo dela.

- Seu bobo... - A menina corava levemente enquanto tentava recuperar o fôlego.

Enquanto isso...

Krist, que se sentiu meio deslocado na mesa, logo percebeu um certo introsamento entre Kurt e Valerie, e por isso foi falar com uma galera conhecida, deixando os dois sozinhos na mesa. Valerie, que reparou tal ato, riu sozinha.

- Do que está rindo? - Kurt perguntou, curioso.

- Nada... Lembrei de uma coisa súbitamente aqui. - Ela disfarçou pegando seu isqueiro do bolso. - Aliás... Nem me disse que iria fazer um show pela cidade... - Valerie dizia para Kurt enquanto acendia o cigarro dele com seu isqueiro.

- Na verdade nem ia ter show nenhum. Mike, que é dono do Junkie's nos chamou de última hora. Ele é um grande amigo nosso. - O loiro deu uma tragada. Valerie sorriu.

- Ainda bem que tocaram hoje... Estava precisando dar uma espairecida. - Ela parecia triste do nada.

- Sei disso... - Kurt tragava com tranquilidade, soltando a fumaça vagarosamente. - Acho que o que você precisa é relaxar mais, se preocupar menos com as coisas.

A morena percebeu que ele havia tocado em seu ponto fraco. Ela sempre fora tachada de ''certinha demais'', controladora de tudo... E ainda sofria por não se permitir passar da conta, nem que fosse por um breve momento.

- Todos dizem isso pra mim, mas... O problema é que não consigo me dar muito bem com a culpa.

- Mas quem disse que devemos sempre sentir culpa? Isso não é pra ser comum.

- O fato é que me preocupo demais com as consequências das coisas e com o que elas podem trazer pra outras pessoas. - Valerie não percebia que o que falava se encaixava perfeitamente com o que sentia em relação a Kurt.

- Pois eu digo que está errada. - Kurt era incivo nas palavras. Tanto, que parecia não ter bebido nem um pingo de álcool. - Se por acaso ocorrerem erros no caminho... É porque tinha que acontecer... - Ele sorriu.

- Ver você falando desse jeito me faz crer que tudo é tão natural... E fácil. - Ela desabafava enquanto bebia um gole de vinho.

- Mas cara... Imagina se a vida fosse pra ser encarada com seriedade e cautela? Ia ser uma merda. - Valerie não conseguiu prender o riso. Nem ele.

- É, acho que sou um pouco paranóica demais pro ''sistema''... - Agora ela ria de si mesma, parecia um pouco mais aliviada.

Um pouco depois, Dave e Susy andaram de mãos dadas até a mesa onde os outros estavam. A ruiva riu por dentro ao ver que só havia Kurt e Valerie.

- Cadê o Krist? - Perguntou Susy se sentando.

- Foi falar com uma galera. - Respondeu Kurt.

- Interrompemos alguma coisa? - Perguntou Susy enquanto olhava para a amiga. Valerie queria bater nela de tanta vergonha.

- Não, só estava aqui sendo chato mesmo... Tentativa de dar conselhos... - Disse Kurt, agora deixando escapar os efeitos do álcool.

- Conselho desse aí? Eu não me atreveria a seguir... - Brincou Dave, dando leves socos no amigo. Nisso, Krist volta à mesa também.

- O que é isso na sua cara? - Perguntou Dave enquanto analizava uma marca de batom no rosto do baixista.

- Um beijo... - O altão fez uma cara de apaixonado de propósito, fazendo todos rirem.

- Dessa vez o que deu a ela? - Acrescentou Kurt. Até Krist riu.

- Não precisei pagar mais que dois drinques... - Com essa foi impossível não gargalhar alto.

- Não desanime, já foi pior... - Dave batia no ombro dele, ao mesmo tempo que abraçava Susy fortemente pela cintura.

(...)

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Dias depois...

O nirvana tinha acabado de fazer um show em Olympia, uma cidade bem próxima de Seattle. Krist tinha saído pra ver se arrumava drogas de algum jeito. Kurt e Dave se recolhiam numa sala. O baterista desdobrou o papel que continha o telefone de Susy e ligou pra ela do telefone que havia lá. Enquanto isso, Kurt lembrou subitamente de Valerie.

- Kurt... - O moreno o chamava, mas nada dele responder. - Kurt, acorda! - Ele jogou uma de suas baquetas no loiro, que é claro, levou um baita de um susto.

- Que merda! Vai assustar o capeta! - Kurt jogou a baqueta de volta. Dave riu.

- Estou te chamando faz tempo.

- Estava pensando... O que quer?

- Quero voltar pra Seattle.

Kurt pegou uma cerveja na pequena geladeira.

- É a ruiva? Estava falando com ela? - Kurt perguntou. Dave assentiu. - Tá a fim dela? Por que ela nem precisa perguntar... - O loiro deu um gole na bebida.

- Acho que sim... Ela não sai da minha cabeça. - Dave levantou para pegar uma bebida também. Kurt riu.

- E Valerie... Está bem? - O loiro parecia interessado.

- Na verdade não muito. - Dave se sentou. - Susy disse que ela está doente. Pegou uma gripe ou algo assim. - Kurt permanecia em silêncio. Estava distante dali de novo. - Kurt! Caralho, eu desisto.

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Um pouco depois, Krist voltou com o pouco que tinha conseguido comprar. Ele e Dave dividiam parte da droga em algum lugar daquele club. Kurt, que vagou sozinho entre a platéia, migrou até um lugar onde havia absolutamente ninguém. Assim que se sentou, uma certa morena de olhos claros tomou conta novamente de seus pensamentos. Já havia alguns dias que ele se pegava pensando nela. Não via a hora de voltar para seu apartamento, já estava sentindo falta das conversas que tinha com ela; bem como daquele sorriso meigo que ele tanto provocava nela. E foi no meio dessas lembranças que ele percebeu a presença de alguém a seu lado.

- Oi... Posso lhe fazer compania? - Uma mulher loira e ligeiramente alta o perguntou.

- Claro... - Kurt estranhou tal pergunta, mas mesmo assim puxou uma cadeira para ela se sentar.

- Vi o show de vocês... Literalmente me apaixonei. - Ela olhava diretamente nos olhos azuis de Kurt, que corou de repente - Que cabeça a minha! - Ela riu alto. - Prazer, meu nome é Courtney...