Naquela noite Kurt não conseguia dormir. Fitava o teto com frequência e quanto mais fazia isso, mais se lembrava de coisas que queria evitar. E aquela frase... Não saía de sua cabeça.

'' - Kurt... George pensa que estamos tendo um caso''. - A garota lhe disse um tanto sem jeito, visivelmente constrangida.''

Na conversa que teve com Valerie, Kurt mostrou-se não tão preocupado com as ameaças do tal ex-namorado dela. E naquela hora da noite, onde involuntariamente refletia sobre algumas coisas, ele observou a possibilidade de realmente estar correndo perigo. Mesmo que não fosse justo e muito menos tivesse um fundamento.

'' - Isto é tão constrangedor... Nós mal nos conhecemos e já venho te trazer problema... Eu realmente sinto muito por tudo isso.'' - Desabafou ela, visivelmente abatida.

O loiro acabou adormecendo com várias daquelas frases na cabeça, e como de praxe, teve um terrível pesadelo. Foi o de sempre: Aquela sensação de sufocamento que sempre desencadeava numa cena de apuros, como por exemplo, um afogamento.

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Apesar de tudo, Valerie se sentia mais aliviada por ter contado a Kurt tudo o que estava acontecendo e o que provavelmente iria acontecer. Só não gostou muito de sua reação, já que ele praticamente ignorou as possibilidades de realmente estar correndo risco. Como Valerie conhecia muito bem quem era seu ex-namorado, chegou a uma conclusão: A partir daquele dia iria tentar se afastar do loiro. Ela achava que com essa medida George não teria mais motivos para suspeitar nenhuma ''traição''.

Quando estava ''deprimida'', Valerie gostava de se isolar no quarto e se entreter com filmes e mais filmes que guardava na estante. E era exatamente o que ela fazia naquela noite de sábado. O telefone tocou e ela esticou o braço até o criado mudo.

– Alô...

– Valerie? É a Susy! - Disse a garota com uma voz animada, supostamente em algum lugar movimentado.

– Oi amiga... Onde você tá? Tô ouvindo o barulho daqui.

– Eu to no Junkie's Bar com a galera! Tô te ligando pra te chamar também.

– Ah amiga, obrigada pelo convite, mas não vai dar...

– Mas porquê, tá com cólica de novo? - Pergutou Susy, desconfiada.

– Dessa vez não. - Valerie riu. - É que eu não tô bem mesmo... Me bateu um desânimo danado... Tô aqui vendo filme.

– Deixa eu ver se eu adivinho: Está deitada, enrolada num edredon, vendo comédia romântica e ainda se entupindo de sorvete?

– Isso mesmo, e não há o menor problema nisso.

– Fala sério Val... É sábado à noite... Venha se divertir!

– Hoje não tô com espírito pra sair Susy... Me entenda.

– Mas é por isso mesmo! Você não tá bem, certo?

– Certo. - Valerie disse e revirou os olhos.

– Então você precisa descontrair. Não vê que ficar nesse quarto só te faz mais mal?

Apesar do total desânimo, Valerie viu que tudo o que ela falava fazia sentido.

– Eu não acredito que você vai me fazer sair da minha cama! - Valerie tirou o pote de sorvete do colo.

– Ah, eu sabia que te convenceria!

– Não vai se achando tanto que eu mudo de idéia. - As duas riram. - Eu te encontro aí, vou me arrumar.

– Estamos numa mesa perto do bar.

– Ok então... Até.

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Logo Valerie chegou ao Junkie's Bar e foi direto ao balcão onde serviam as bebidas. Não foi difícil achar a mesa em que a ruiva estava sentada.

– Olha quem chegou... - Susy disse para os outros que estavam lá.

– Olá pessoas... - A morena logo se sentou na mesa.

– Olá! - Todos disseram em coro.

– Aceita? - A ruiva segurava um cigarro. - É malboro.

– Ainda pergunta? - Valerie respondeu. Todos riram.

– Jhonny, pega uma bebida pra mim e pra Val? - Susy disse para o namorado.

– O que querem?

– E quero vodka. - Respondeu Valerie enquanto tragava seu cigarro.

– Duas então, amor.

Valerie olhou pro palco distraída... Só percebeu que uma banda se preparava pra tocar. Logo Jhonny chegou com as bebidas. O rapaz tentou brincar com ela, mas Valerie não achou muita graça. Na verdade, detestava o novo namorado da amiga. Jurava de pé junto que ele não prestava.

– Já falei pra dizer pra ele não fazer essas piadas idiotas. - Val disse para a amiga, um pouco irritada.

– Lá vem você implicando com ele... Ele não disse nada de mal! - O tom rude de Susy denunciava que ela começava a querer ficar bêbada.

– Ok, então fique com seu namoradinho. - Valerie pegou a bebida e saiu andando, driblando as pessoas e as mesas que encontrava pelo caminho.

– Valerie, volta aqui! - Susy correu para alcançá-la e pegou em seu ombro. - Porquê está tão irritada?

– Te disse que não estava bem... Só queria ficar com você, não com esse idiota! - A morena continuava a andar.

– Sabe de uma coisa? Deixa ele pra lá, ele se cuida sozinho. Vou ficar com minha amiga.

As duas conseguiram uma mesa bem perto do palco, e finalmente puderam conversar em paz.

– Eu realmente não sei o que está havendo comigo... Agora qualquer coisa me irrita, me tira completamente do sério! - Valerie fumava com vontade, dando longas tragadas.

– Eu sei que é por causa do George... - A ruiva deu um gole na vodca, fazendo uma pequena careta no final.

– Não é só ele... - Valerie não queria se abrir tanto para a amiga, mas respirou fundo e soltou. - É também por causa de Kurt.

Susy ficou olhando fixamente para o palco, até Valerie perceber e seguir seu olhar.

– Olha aí, Valerie... Foi só falar nele e olha quem está no palco. - Ela revirou todo o resto da bebida na boca.

– Era só o que me faltava.

Sim, Kurt estava no palco ajeitando seu microfone, seguido de Krist e Dave, já sentado na bateria. O nirvana já ia iniciar sua apresentação.

– Boa noite. - O loiro falou concentrado, sendo correspondido por vários gritos de fãs. - Essa se chama About a Girl.

Os acordes iniciais da canção começaram e depois da explosão da bateria, Valerie ficou curiosa para saber como realmente era a voz de Kurt. Até que...

I need an easy friend

Preciso de uma amiga agradavel...

I do... with an ear to lend

Preciso... Com um ouvido para emprestar...

I do... think you fit this shoe

Preciso... Acho que você é perfeita para o caso...

I do... but you have a clue

Eu acho... Mas você tem uma pista

Parecia que só havia os dois naquele lugar. Os olhos de Valerie ficaram fixos nele e seus ouvidos, fixos em sua voz. De repente ela fechou os olhos e literalmente viajou naquela música. Tudo nela era tão... Tão envolvente.

I'll take advantage while, you hang me out to dry

Vou me aproveitar enquanto, Você me pendura para fora para secar

But I can't see you every night (2x)

Mas não posso te ver todas as noites...

Free...

Livre...

I do, I do, I do, I do...

Eu aceito, eu aceito, eu aceito, eu aceito...

Teve lembranças, pensamentos, devaneios... Quando finalmente abriu os olhos, a música já havia terminado e para seu azar (ou não) Kurt já a tinha encontrado na platéia. Ele sorriu e ela correspondeu com um tímido aceno. Susy, que só observava tudo, não conseguiu conter o riso.

– Agora sei porque está tão irritada... - A ruiva tinha um cigarro entre os lábios.

– Vou fingir que não escutei. - Disse Valerie tentando se acalmar, já que seu coração não queria parar de acelerar.

– Até que o Kurt é bonitinho mesmo... Mas e aquele bateirista? - Susy fuzilava Dave com olhares reveladores. - Gostaria de ser aquelas baquetas agora... - As duas gargalharam.

– Depois você não concorda quando eu digo que você não presta... - A ruiva mostrou a língua para a amiga. Valerie se levantou. - Vou pegar mais bebida pra gente.

Ao todo o nirvana tocou umas dez músicas, todas do até então novo disco Nevermind, tirando ''about a girl'', que era de Bleach. Por isso, todos pareciam muito entusiasmados com a banda e o nirvana acabou seu show como o mais aplaudido da noite.

Ao perceber que sua namorada havia o esquecido, Johnny foi até a mesa onde estavam as duas amigas e fez um ''pequeno escândalo.'' Como Susy já estava bastante alterada, ficou no lado da amiga e praticamente o mandou ir para aquele lugar. Mesmo estando sóbria, Valerie não evitou todos aqueles xingamentos do casal, já que detestava aquele rapaz.

– Nos deixe em paz... Dê o o fora daqui e leve com você suas piadas ridículas! - Valerie gritou para o rapaz que logo virou as costas, extremamente irritado. - Não sei como você tem coragem de dormir com essa coisa... - Valerie olhou para a ruiva.

– Eu já sei... É o álcool. - A ruiva levantou uma garrafa de whisky. Valerie riu.

– Falando em álcool... É melhor a senhorita me dar isso... - A morena pegou a garrafa da mão dela.

– Quem disse que estou bêbada?

– Nem precisa ninguém dizer Susy...

– Você me deve a metade de uma Jack Daniel's. - Alertou ela. Val revirou os olhos.

Valerie sentiu alguém tocar seu ombro e logo olhou pra trás. Seu coração voltou a bater frenéticamente novamente... Era Kurt.

– Kurt... - Ela se levantou para cumprimentá-lo e deu um beijo em cada lado do rosto dele. - Adorei sua banda... Vocês são muito bons. - Ela estava um pouco corada.

– Ah... Obrigada. - O loiro respondeu.

– Quero que conheça minha amiga Susy... - Valerie apontou para a amiga e ela sorriu. - Esse é Kurt, meu vizinho.

– Muito prazer Kurt... - A ruiva apertou a mão dele. - Val me falou muito sobre você...

Valerie olhou para a amiga furiosa mas para sua sorte Dave e Krist haviam chegado à mesa, interrompendo aquela conversa. Kurt tratou de apresentar as duas moças para os colegas de banda. Logo todos estavam sentados na mesa. Susy, é claro, não parou de encarar Dave, que toda hora fazia uma piada para fazer todos rirem.

Se podia perceber que o que menos bebia era Kurt, mas em compensação, era o que mais fumava. Krist era um pouco calado, mas também se revezava com Dave nas piadas. Susy aproveitou que a amiga estava distraída e pegou a garrafa de whisky, a virando toda na boca. Todos riram.

– Que merda, já disse pra parar de beber isso! - Valerie pegou a garrafa novamente.

– Deixa a menina ser feliz... - Repetiu Dave, já um pouco tocado também.

– É porque ainda não viram o que essa daí já mandou pra dentro... - Valerie disse virando a mesma garrafa na boca. Dave riu alto. - Eu posso, tá?

Não demoraram muito no Junkie's Bar, Krist propôs para todos irem a outro bar beber. Inclusive às duas moças. Mas foi Kurt quem fez o convite. Valerie relutou em querer aceitar o convite no começo, mas logo algo a fez mudar de idéia e esquecer toda aquela coisa de querer evitar o rapaz.

– Ok... Vamos então. - Valerie respondeu e foi pagar a conta com a amiga.

Saindo do bar, resolveram que iriam no carro de Valerie. A morena ia dirigindo com Kurt do lado. Susy foi no meio dos dois outros rapazes no banco de trás. Aliás, o baixista não servia como um bom guia, já que avisava as curvas em cima da hora.

– Kurt, pelo amor de Deus, você sabe onde é esse lugar?! - Gritou Susy. - Se depender do Krist vamos acabar cruzando a fronteira desse país! - Ninguém conseguiu prender o riso.

– Ok, é melhor eu ser o guia agora. - Kurt consolou o amigo, que chorava de mentirinha, fazendo todos perderem o fôlego de tanto rir.