Gerard’s P.O.V.

 O trânsito estava infernal, mas seria menos pior se Frank não estivesse tão chato. Tentei animar nosso “passeio” ligando o rádio do carro, mas logo Frank estragou minha diversão.

 - Essa música é chata – ele reclamou, sem tirar os olhos da paisagem do outro lado do vidro.

 Ignorei seu comentário, a música era apenas um pouco monótona, mas não algo a considerar-se “chato”.

 Vendo que eu não faria nada, e não feliz em desdenhar a estação de rádio que eu escolhera, Frank movimentou-se rapidamente na direção do rádio, mudando a estação.

 Encarei-o indignado, ele estava agindo como uma criança, sem falar que tocou no rádio do meu Audi! Meu, meu, meu, meu, meu Audi! Só meu!

 Troquei novamente a estação, voltando à anterior. Frank encarou-me irritado, voltando a tocar no meu – repito, meu – rádio e mudando a estação mais uma vez. Bufei, com raiva, estendendo minha mão até o rádio e voltando à estação anterior novamente, ouvi Frank bufar e logo o vi mudar de estão mais uma vez. Eu estava ficando irritado com isso, mas mudei a estação novamente. Assim que vi a mão de Frank ir em direção ao rádio para mudar mais uma vez a estação do rádio, não me contive.

 - Se você dá algum valor à essa mão, não ouse mudar essa estação novamente – ameacei, enfatizando cada palavra.

 Frank parou, encarando-me sem expressão... Pensei que ele tivesse repensado sua ação, mas logo ele mudou a estação novamente.

 - Já chega! – rosnei, desligando o rádio de uma vez.

 Ouvi uma risada baixa vinda de Frank, o maldito estava se divertido com isso. Contive minha vontade de abrir sua porta e arremessá-lo do carro em movimento.

*

 Finalmente chegamos ao nosso destino. Parei o carro em uma das vagas livres em frente ao estabelecimento, saímos do carro simultaneamente, tranquei as portas e ativei o alarme rapidamente.

 - Porque mesmo você quis vir aqui? – Frank perguntou-me, semicerrando os olhos.

 - Depois explico... – dei de ombros.

 Fomos em direção à porta de vidro que dava entrada ao lugar, assim que entramos ali pude localizar Jade ao lado de outra garota – provavelmente a secretária ou recepcionista dali. Jade era baixinha – não tanto quanto Frank –, tinha cabelos loiros na raiz e roxos nas pontas – sim, ela era um pouco pirada –, tinha pele clara e olhos castanhos claros, assim que nos viu abriu um sorriso imenso.

 - Frank! Gerard! – ela veio em nossa direção, largando alguns papéis sobre o balcão que ali havia e nos abraçando. – Há quanto tempo, não é?

 - Eu vim aqui no mês passado, Jade – Frank lembrou-a.

 - Claro, não me esqueci disso – ela riu. – Refiro-me a Gerard, que nunca visitou-me.

 - Desculpe – sorri sem jeito.

 Digamos que eu precisei dos serviços dela algumas vezes – poucas, mas precisei. Jade era cabeleireira, havia montado um salão há dois anos e eu nunca fora visitá-la ali, mesmo tendo prometido o fazer quando ela deixou seus serviços como “cabeleireira particular não oficial” do My Chemical Romance. Ela sempre cortara nossos cabelos e os pintara – no meu caso essa última parte fora apenas na época de The Black Parade –, era algo que ela fazia como “demonstração de sua amizade”, como ela mesma dizia, mas depois resolveu montar seu próprio negócio, Frank e Mikey iam ali de vez em quando, mas nenhum deles nunca convidou-me para ir junto.

 - Estranhei quando Frank ligou-me hoje para marcar uma hora para você – ela riu novamente. – O que o trás aqui?

 - Bem... – pensei um pouco. – Existe um período na vida de um homem que o faz sofrer muito... Coisas acontecem de repente e o causam muito “sofrimento” – fiz as aspas no ar – e eu estou passando por isso agora...

 - Crise de meia-idade?- ela simplificou.

 Encarei-a sem reação, eu não gostava dessa expressão, fazia-me me sentir ainda mais velho com aqueles malditos cabelos brancos que teimavam em aparecer.

 - Eu prefiro chamar de “Renovação” – corrigi, sorrindo.

 - Entendo – ela revirou os olhos. – Deixe-me pensar... Você encontrou cabelos brancos?

 - Sim – admiti.

 - E você quer pintar o cabelo? – ela deduziu.

 - Sim – repeti.

 Ela sorriu largamente.

 - Acompanhem-me – disse Jade.

 Seguimos ela até uma outra porta de vidro, que dava entrada à parte dedicada a cabelos no salão.

 - Sente-se aqui, Gerard... – ela pediu, gesticulando para uma cadeira, daquelas que todo salão de beleza tem.

 - Que tal raspar tudo? – Frank zombou.

 - Nossa, muito engraçado – ironizei.

 - As fãs iriam adorar... – ele riu.

 Jade colocou em mim uma capa para que a tintura não sujasse minha roupa.

 - Quer retocar a raiz? – ela perguntou, já indo em direção às tintas pretas.

 - Não – falei.

 Ela parou, virando-se para mim sem entender.

 - Então...? – questionou ela.

 - Quero pintar de outra cor – sorri.

 - Okay, ele pirou? – Frank riu.

 - Hum... De qual cor quer pintar então? – Jade perguntou-me.

 - Não faço ideia... – ri.

 - Pinta de Vermelho Cereja – Frank ironizou.

 Não sei por que, mas essa ideia pareceu-me muito agradável.

 - Isso – disse apenas.

 - Hum? – Jade não entendeu.

 - Quero pintar de Vermelho Cereja – falei, decidido.

 Todos encararam-me sem expressão, como se eu estivesse louco.

 - Eu estava apenas brincando – Frank lembrou-me.

 - Eu sei, mas gostei desta ideia e quero pintar dessa cor – expliquei.

 - Tem certeza? – Jade perguntou.

 - Sim – confirmei.

 - Layla não vai gostar... – Frank comentou.

 - Eu sei – revirei os olhos. – Mas ela se acostuma...

 - Layla é sua mulher, certo? – Jade quis saber.

 - Uhum – respondi. – Ela vai pirar quando ver isso, mas estou preparado...

 - Bem, é você quem sabe... – ela deu de ombros.

 - Não me culpe depois – Frank avisou.

 - Pode deixar – sorri.

 Jade suspirou, indo até as tintas novamente e pegando uma caixa que explicava diversas coisas sobre a tinta.

 - Bom... Vamos começar – ela riu, colocando luvas e preparando a tintura.

 Eu estava animado... Me livraria dos cabelos brancos e mudaria de visual radicalmente, ia ser incrível! Confesso que estava com um grande medo da reação de Layla quando visse meu novo cabelo, mas preferi não pensar muito nisso.

*

 - Vamos bater uma foto desse momento histórico? – Frank riu, enquanto eu estava com a tintura no cabelo.

 - Faça-me o favor – revirei os olhos, rindo.

 Frank pegou o celular rapidamente, neguei-me a olhar para ele.

 - Você me acordou cedo para vir até aqui, é obrigado a bater uma foto! – ele bufou.

 Frank estava realmente birrento hoje!

 Contra minha vontade, olhei para ele. Forcei um sorriso para a câmera de seu celular, ele bateu a foto rapidamente e guardou o celular sem nem mostrar-me a foto.

 - Acho que já podemos lavar – Jade sorriu, voltando a por as luvas.

 - É... Agora não tem mais volta – Frank riu.

 - Tanto faz – sorri.

 - Layla vai castrar você – ele comentou aleatoriamente.

 Um arrepio passou por minha coluna, estranhamente eu imaginei a sensação. Balancei minha cabeça para afastar o pensamente horrível que Frank causara-me.

 Logo Jade começou a lavar meu cabelo, tirando a tintura. Eu estava realmente ansioso para ver como ficaria meu cabelo depois disso.