X – x Uma Semana Depois x – X

 Abri meus olhos para a escuridão, ainda não havia amanhecido. Olhei no rádio-relógio sobre a mesa de cabeceira, eram três e quarenta da manhã. Virei-me para o outro lado e só então percebi que me encontrava sozinha na cama.

 - Gee? – chamei, em vão, já que apenas eu estava naquele quarto.

 Levantei-me da cama e caminhei até a porta, abrindo-a lentamente. Andei até o quarto dos bebês, também não havia ninguém ali, os berços estavam vazios.

 Fechei a porta novamente e encaminhei-me até a sala, enquanto andava pelo corredor pude ver uma luz fraca, provavelmente dos abajures. Também podia ouvir uma música baixa.

 Cheguei até a sala e pude ver Gerard sentado em um dos sofás e Helie e Arth em seus carrinhos à sua frente. Gerard estava com um caderno sem linhas e um lápis, parecia desenhar algo. A música vinha do notebook que Gerard provavelmente ligara apenas para colocar a música, pude reconhecer a melodia de Cancer, uma de minhas preferidas.

 - Gerard? – chamei.

 Ele virou-se, aparentemente surpreso.

 - Ah, olá – ele sorriu, fechando o caderno de desenhos e o colocando de lado.

 - Sem sono? – perguntei, aproximando-me e sentado ao seu lado.

 - Sim – ele riu. – Eles acordaram e não queriam mais dormir, acabei perdendo o sono – ele explicou.

 - Podia ter me chamado – deitei minha cabeça em seu ombro.

 - Não precisei – ele respondeu, orgulhoso. – Eles pararam de chorar rapidamente, então aproveitei para desenhar um pouco.

 - Posso ver? – pedi.

 - Claro – ele respondeu, pegando o caderno novamente e abrindo-o, entregando-me logo depois.

 Ele encontrou a página onde se encontrava seu novo desenho, logo pude identificar do que se tratava.

 - Que lindo! – exclamei, surpresa.

 O desenho se tratava dos rostinhos de Helie e Arth, que agora dormiam a nossa frente. Era impressionante como Gerard conseguira expressar todos os traços de seus rostos, com exatidão.

 Suspirei, entregando o caderno novamente a Gerard, que o colocou de lado de novo.

 - O que será que eles sonham? – perguntei, olhando o sono tranquilo de Helie e Arth.

 - Hum... – ele pensou. – Talvez com um jardim de mamadeiras e chupetas?

 Rimos juntos dessa hipótese.

 - Talvez – concordei. – Dizem que alguns gêmeos têm sonhos iguais – comentei.

 - Como uma ligação cerebral? – Gerard riu.

 - Sim – respondi.

 - Deve ser legal – ele comentou. – Não, não deve ser legal... – ele mudou de ideia.

 - Por quê? – questionei.

 - Por que deve ser meio constrangedor ter um irmão que saiba com o que você sonhou na noite passada, nem isso pode ser um segredo – ele riu novamente.

 - Talvez tenha razão – sorri.

 Ficamos um pouco em silêncio, Helena parecia sonhar com algo, ela mexia uma de suas mãozinhas como se estivesse apertando algo.

 - Lay... – Gerard chamou, baixinho.

 - Hum? – murmurei.

 - Eu te amo – ele disse, seu tom de voz indicava-me que ele iria pedir algo.

 - Também amo você – respondi.

 - Que dia é hoje? – ele perguntou.

 - Dezessete de Junho – respondi, sem entender.

 Ele suspirou pesadamente.

 - Já faz uma semana que eu saí do hospital – ele comentou.

 - É... – concordei.

 - Nossa! Uma semana! – ele enfatizou.

 - Uma semana... – concordei novamente.

 Eu já havia entendido aonde ele queria chegar, mas queria rir um pouco.

 - Quais eram mesmo as recomendações médicas? – ele perguntou.

 - Em geral, apenas uma semana em repouso – dei de ombros.

 - Uma semana – ele voltou a repetir.

 - Vamos acabar logo com isso, Gerard – caí na gargalhada. – Vou levar os bebês para os berços, espere-me no quarto.

 Levantei-me e peguei os carrinhos, Gerard permaneceu sentado no sofá, encarando-me surpreso.

 - Sério? – ele perguntou.

 - Sim – sorri maliciosamente.

 Ele acompanhou-me nesse sorriso, levantando-se também e indo rapidamente até nosso quarto.

 Coloquei os bebês em seus berços e voltei à sala. Desliguei o notebook de Gerard e apaguei os abajures, indo então até nosso quarto.

 Entrei no quarto e fechei a porta, estava escuro, mas eu sabia que Gerard estava deitado em nossa cama.

 Fui obrigada a acender o interruptor, deparando-me com Gerard e seu sorriso malicioso, deitado sobre as cobertas.

 - Oi – falei, estranhamente aquela situação estava me deixando envergonhada.

 Ele riu, provavelmente eu estava vermelha de vergonha, não estava entendendo por que disso.

 - Não dê risada – sorri. – Eu estou envergonhada.

 - Uma menina pura que nunca fez nada parecido – ele ironizou.

 Gerard abriu os braços, como se me chamasse para mais perto. Sorri para ele, pegando impulso e correndo até a cama, pulando sobre suas pernas.

 - Cadê a menina pura? – ele riu, envolvendo seus braços em volta de minha cintura.

 - Não sei – respondi, entrelaçando minhas mãos em seus cabelos e selando nossos lábios.

 Passei minhas pernas em volta de sua cintura, tirando minha blusa rapidamente.

 Ao contrário de nossos outros beijos, este começou já urgente, afinal... eram três semanas sem... sem... sem nada.

 Deitei na cama, puxando Gerard para cima de mim. Nossas respirações ofegantes como sempre, sentia meu coração martelar em meus ouvidos.

 Gerard desceu seus lábios ao meu pescoço, levando-os até meu ombro esquerdo e depois indo até minha orelha, causando um grande arreio em minha nuca, sorri.

*

 Eu estava deitada sobre o peito de Gerard, ele afagava meu cabelo.

 - Uma semana... – ele riu.

 - Pois é... – ri também.

 O sol estava começando a aparecer, o sono estava começando a voltar, dei um bocejo.

 - Continuam iguais – Gerard comentou aleatoriamente.

 - O que? – fiquei confusa.

 - Eles – ele olhou-me maliciosamente, logo entendi.

 - Ainda quero meu silicone – revirei os olhos.

 - Juro que não entendo isso... – ele suspirou.

 - Eles vão ficar... melhores – insisti.

 Gerard ficou em silêncio, olhando para o vazio, depois de um longo suspiro falou:

 - Podemos ver isso na próxima semana.

 - Te amo! – eu ri.

 Acabamos dormindo novamente.

*

 Acordamos com o telefone tocando estridente, fui rapidamente atender, enrolada em uma das cobertas.

 - Alô? – atendi.

 - Sra. Way? – uma voz masculina e rouca falou.

 - Sim – respondi.

 - Sou o Delegado Marcus, encarregado de seu caso – ele respondeu. – Liguei para avisar que um corpo feminino foi encontrado carbonizado ao lado de uma moto, que aparentemente, seria da garota que está sendo procurada pela tentativa de homicídio contra seu marido e pelo sequestro de seus filhos.

 Arfei. Ela teria morrido?

 - Tem alguma prova de que seja ela? – perguntei.

 - Apenas a moto, já que tudo está carbonizado – ele respondeu. – Parece-nos que ela teria sofrido algum acidente, mas ainda não temos certeza.

 Terminei a conversa com o delegado e voltei ao quarto, Gerard estava coberto com um dos lençóis.

 - Malu está morta – falei.

 - Como assim? – ele assustou-se.

 - Encontraram um corpo carbonizado ao lado da moto dela, teria sofrido um acidente ou coisa assim – expliquei.

 - Bem, é triste isso, mas pelo menos não precisamos mais temer – ele sorriu torto.

 - Tem razão – concordei, sentando-me ao seu lado na cama.

 - Agora a senhora poderia me dar esse cobertor? – ele perguntou.

 - Por quê?

 - Por que eu quero ir tomar banho, e até chegar ao banheiro eu não quero expor o meu corpo sexy – ele riu.

 - Muito sexy – sorri, desenrolando-me do cobertor e entregando-o.

 - E a minha visão fica mais privilegiada assim – ele sorriu maliciosamente, enrolando-se no cobertor.

 - Besta – murmurei, cobrindo-me com o lençol.

 Gerard entrou no banheiro e eu liguei a televisão, estava passando desenho animado. Suspirei ao pensar que, finalmente, tudo havia acabado.