The Black Angel escrita por Beilschbitch


Capítulo 19
No qual vocês conhecem meu passado




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Comecei a lembrar de como conheci Liesel. O leitor também deve estar se perguntando a minha história de vida, meu passado. Contarei os pormenores a seguir

            Eu e Henri nascemos no dia dezenove de setembro, de manhã. De acordo com meu pai, algumas folhas começaram a cair. Meus pais escolheram nossos nomes por influência de outros nomes de nossa família. No meu caso, “Helena” veio de minha bisavó, avó de meu pai, e “Maria”, de minha mãe. Meu nome correto é: Helena Maria Lee Morgan III, mas odeio que incluam Maria. Por isso, ninguém me chama assim, a não ser para me deixar magoada. Já o de meu irmão, Henri, veio de nosso bisavô materno, e “Joshua” veio de um antepassado bem distante.

            Dois anos depois, nasce Matthew. Erámos uma família feliz até duas semanas depois de meu irmão caçula ter vindo ao mundo. Minha mãe morreu, não sei se foi complicações no parto ou uma doença que acabou adquirindo depois. Papai nunca nos contou, ao menos, para mim.

            Depois do falecimento de Augustine Maria, no caso, minha mãe, meu pai ficou bastante abalado, segundo o que disseram os meus familiares. Ainda não tinha um emprego sólido, morávamos com meus avós paternos em Soho. Como não podíamos ficar muito tempo, meu pai resolveu tomar grandes medidas: deixou-nos com vovó Helena, terminou a faculdade com notas brilhantes. Arranjou um emprego como vendedor numa livraria. Escrevera um livro, conseguiu um bom dinheiro com a venda. Certamente não ficou tão famoso, mas ganhou boas notas da crítica. Com o dinheiro ganho, comprou a casa onde moramos até hoje. Depois de certo tempo, o colégio onde estudamos aceitou seu currículo. Isso foi em quatro anos. Voltamos a morar com ele, e como já tínhamos idade, começamos a ir pra escola.

            Conheci Liesel pouco tempo depois. Ela, a mãe e o irmão mais velho fizeram a visita típica de boas-vindas à rua. Brincávamos muito juntas, mas só ficamos realmente amigas quando, Henri, em uma brincadeira cruel, de puxar meus cachinhos. Ela ficou furiosa e deus uns bons tapas nele.

           Com sete anos, fui para aula de ballet por influência de tia Marienne e de vovó Helena. Nunca admiti, mas dançava muito bem. Achava que ballet não combinava comigo. Parei de dançar quando descobri que minha mãe também gostava.

A verdade é que não gosto da minha mãe. Como você pode gostar de uma pessoa que nunca conheceu? Que não passa de uma foto no quarto do seu pai? Uma mulher que todos falam, com olhos brilhantes de lágrimas, cheios de saudades, que nunca vai voltar?

Não quero que faça isso com seus entes queridos. O meu caso é a parte. Um caso é você perder um parente que sempre amou. O outro é quem você jamais conheceu. E até hoje fico triste quando penso no meu irmão morto.

Por falar nele, meu pai evitou me contar sobre o caso. Disse que quando tudo se resolvesse, nos contaria.

Acho que meu pai quer me proteger até demais

O barulho de carro estacionando, no mais das vezes, pode gerar tranquilidade. Esse seria o caso, se Frank não estivesse gritando feito um louco na minha porta. Henri pulou do sofá e correu ligeiro para a porta. Abriu e gritou um “cala a boca, desgraçado”. No segundo seguinte, o mandei calar a boca. No segundo seguinte aquele, meu pai nos mandou calar a boca.

Papai, não me mande calar a boca diante de um Gerard estupefato, que está tentando acalmar um rapaz de vinte anos que tem mentalidade de cinco. Obrigada

Mikey não ousou sair de casa. Compreendi. Ao invés de cumprimentar meu anjo, tive que segurar o imbecil do meu irmão que tentava bater no Frank por não ficar quieto. Se cada um tem o gêmeo que merece, eu devo ter jogado meteoro na cruz.

Conseguimos fazer com que os dois parassem de brigar. Ficou combinado que Frank, meu pai e Henri fossem à polícia, e avisar Liesel mais tarde. Gerard, Mikey e eu ficamos em casa. O que aconteceu, era previsível. Quer dizer, a maior parte. Tão logo os indivíduos acima citados vazaram na Tucson preta, Gerard e eu entramos em casa. Mikey estava sentado no sofá, admirando o chão. Estava com a mão na boca, pensativo. Gerard, antes sem expressão, parecia agora nervoso, com raiva, eu diria. Fiquei aflita, pensando no que poderia acontecer. Uma briga, quem sabe? Mas Gerard pareceu não querer transformar minha sala num ringue de acusações.

Os irmãos Way ficaram em cada canto do sofá, um apreciando minhas cortinas e o outro vendo a beleza do meu piso. Fiquei no meio, esperando qualquer reação. Mas nada, aquelas duas criaturas se resignavam a admirar o nada com o olhar vazio. E chamá-los também não adiantou. Os dois responderam com resmungos indefinidos.

Não decidi se interviria ou não. Por fim, resolvi sim, querer dar uma força para meu cunhado. Perguntei a ele se gostaria de tomar alguma coisa.  Resmungou. Pensei em outra maneira de atrair a atenção de um deles. Lembrei que Gerard era meu “anjo da guarda”.  Ora, porque não tentar me machucar?

Fui calmamente para meu quarto, tentando não chamar a atenção. Peguei um estilete da minha caixa de artesanato. Corri silenciosamente até a cozinha. Nenhum de meus convidados se moveu. Tentei abrir a ferramenta de forma mais barulhenta possível. Deus me perdoe após o ato que fiz, mas encostei a lamina no meu pulso.

Mal trisquei e um solavanco na porta me deu susto de estremecer os joelhos. Gerard estava de olhos arregalados, parecia assustado. Óbvio, né?

- Larga... Isso... – ele disse pausadamente

Larguei.

- Então, para eu chamar sua atenção, eu tenho encostar uma droga de lamina?

-Bom...

-Então, quando eu falar com você, não resmungue.

-Vocês está abusando...

- De...?

- Do meu superpoder de saber quando minha namorada está em perigo. – ele sorriu

Geralmente alguém acharia isso fofo. Mas achei que não era hora. Mas quem pode resistir a um anjo de olhos brilhantes?

-Precisamos ter uma conversa séria.

- Sobre o quê?

- Sobre quem. Sobre a situação de seu irmão.

Novamente, sua expressão ficou afetada. Parecia que estava com raiva novamente.

- Gerard, sua atitude está errada. – falei convicta.

- Não está. Flagrei meu irmão devassando na sala.

- O que ele fez?

- Beijou aquela menina magrela devassa.

- Como? – apliquei uma censura a voz.

- No sofá. Aproveitaram o momento sozinhos e lascaram um beijo.

- Tá. E o que foi mesmo que você fez comigo no dia que descobri que meu irmão faleceu? – Cruzei os braços

Ele ficou calado.

- É diferente...

- Não é não.

Mais silêncio.

- É diferente, por que eu sou mais velho e...

- E eu tenho a mesma idade que ele. E então?

Ele começou a admirar minha pia.

- Fala com ele, Gerard... E se amanhã você não puder tê-lo mais?

Ele me olhou como se estivesse arrependido.

- Tudo bem... Vou lá.

Beijei a testa dele.

- Isso aí. Meu... Amor... – Corei. Ele sorriu.

Isso aí, Helena. Você acertou desta vez.


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