Signal Fire escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 6
Perdas e Danos


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Antes de tudo, queria desejar um feliz 2012 atrasado para vocês... Espero que esse ano seja bom para todos nós *-*
Bem, agradeço (e muito) aos comentários. Fico feliz de estar agradando com "Signal Fire", diante de tantas fanfics Faberry com temas variados, é muito bom ver que um velho drama ainda agrada kkkk
Não vou me prolongar mais, boa leitura!



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Quinn olhava para a porta aberta com um ar perdido e desolado. Sua mão direita massageou a própria nuca tentando aliviar a tensão que se instalara ali depois da saída de Rachel Berry para depois, abraçar a si mesma, tentando se acalmar. O gosto do beijo da morena ainda estava intacto em seus lábios. Em um surto de sobriedade, Quinn foi até a porta e a fechou, antes de caminhar até o banheiro e lavar o rosto diversas vezes.

Depois, a loira observou seu reflexo no espelho enquanto tentava recuperar a sua respiração que há muito estava sem compasso. Mas seu coração também parecia fora de controle enquanto martelava em seu peito. Suas mãos tremiam quando ela voltou à cozinha para beber água... O que tinha acontecido ali?

Quinn sentou-se na sua poltrona de leitura e afundou o rosto em suas mãos. O gosto do beijo ainda não se dissipara de seus lábios, assim como Quinn ainda conseguia sentir as unhas de Rachel deslizando por sua pele e arrepiando todo o seu corpo. Ainda conseguia sentir Rachel de uma forma tão intensa e tão real que não era semelhante a nenhum toque dos homens com os quais se relacionara.

Estava balançada pelo toque delicado e pelo beijo inebriante de Rachel Berry. Mas ao mesmo tempo, algo lhe dizia para pensar melhor naquilo tudo... Talvez fosse o espanto, a surpresa ou talvez, fosse a saudade. Quinn não podia confundir os sentimentos, precisava pensar no que estava sentindo de fato e no que era projeção de sua cabeça.

Ela precisava fazer aquilo ou acabaria magoando mais pessoas e quem ela não queria mais magoar era justamente Rachel Berry.

Levantando-se em um pulo, Quinn retomou sua postura e apanhou o casaco antes de sair do seu apartamento. Ainda tinha uma vida lá fora e precisava não pensar no que acabara de acontecer, pelo menos naquele momento, e nada melhor do que auxiliar Sam com as crianças no abrigo para se esquecer, por breves segundos, da intensa conversa entre ela e Rachel Berry.



Rachel Berry caminhava rapidamente pelas ruas de Lima que agora, estavam começando a se esvaziar. A noite ia caindo e o frio aumentava conforme os últimos compradores desapareciam, correndo do frio e da neve que ameaçava castigar mais uma noite de Lima. Mas Rachel continuava firme em sua caminhada para sabe-se lá onde.

Tinha um sorriso nos lábios, talvez, o primeiro que era verdadeiro desde que chegara a Lima há algumas semanas. Finalmente tinha conseguido provar os lábios de Quinn Fabray e mais, surpreendeu-se ao notar que tinha sido correspondida. Só que, mesmo diante de seu coração acelerado, sua respiração ofegante e seus olhos brilhantes... Ela sabia com quem estava lidando e sabia que Quinn era difícil quando se tratava de assuntos do coração.

O sorriso morreu em seus lábios quando ela virou a esquina e a idéia de ser desprezada para sempre invadiu sua mente, talvez tivesse sido melhor ficar com a amizade de Quinn. Mas ela era Rachel Berry, com ela, era tudo ou nada... Um feixe de luz vindo de um farol de carro tomou o seu pequeno corpo, mas Rachel não se virou para ver quem era e sim, apressou o passo. Por experiências em NYC, aprendeu que não se podia dar atenção a esse tipo de coisa.

O desespero de Rachel aumentou quando ela viu o carro diminuir a velocidade e começar a trafegar ao seu lado naquela rua. Rachel olhou a procura de alguém, mas não encontrou ninguém, a rua estava deserta e fria. O vidro do carro se abriu e Rachel recusou-se a olhar para ver quem era, até que uma voz conhecida ofereceu:

– Quer uma carona?

Rachel virou a cabeça tão rápido que quase quebrou o pescoço, Sam estava dirigindo um jipe vermelho e olhava preocupado para ela. A morena apressou o passo, sentiu o rosto corando de vergonha, afinal... Podia ter acabado de beijar a namorada do rapaz que lhe oferecia carona. Sam buzinou de leve e Rachel entendeu que aquela era a deixa para ela responder, ela deu um sorriso falso e respondeu:

– Não precisa disso, Sam... Eu vou caminhando.

– Para onde você está indo? – Sam tornou a questionar curioso, Rachel não podia ver, mas a expressão no rosto do rapaz estava preocupada. Quinn o mataria se soubesse que ele encontrou Rachel caminhando sozinha pela rua e nada fez, portanto, mesmo estando um pouco receoso em ajudá-la por tudo que ela estava fazendo com Quinn, ele tinha um coração bom, no fim das contas. Rachel não respondeu e Sam revirou os olhos, teria que começar a jogar baixo. – Eu sei da onde você está vindo, Berry. Se não quer encontrá-la agora, é melhor subir no meu carro, ela acabou de sair do condomínio.

Rachel parou abruptamente na calçada, olhando incrédula para Sam que agora, tinha um sorriso vitorioso nos lábios. O rapaz ficou sério quando percebeu que Rachel o fuzilava com os olhos castanhos, depois, acenou com a cabeça enquanto abria as travas do carro. Rachel contornou o automóvel e se jogou no banco do passageiro com uma careta emburrada, depois disse mal-educada:

– Você sabe onde fica a casa dos meus pais, Evans.

– Calminha, Berry! Eu não sou um táxi, educação é bom de vez em quando. – Sam murmurou ofendido enquanto dava seta no carro e saía pela rua. Ele olhou de esguelha para Rachel que estava focada na janela, mastigando o lábio de tanto nervosismo e irritação. – Você estava ali perto por que foi falar com ela, não é?

– Meio óbvio, né Evans? – Rachel estava na defensiva de novo e Sam bufou irritado, como uma pessoa podia mudar tanto em pouco tempo? O ex-jogador de futebol a observou quando pararam em um sinal. Por mais que o tempo tenha passado e ele tenha deixado de ser o nerd que amava Avatar e ela tivesse deixado de ser a diva do Glee Club, ele reconheceria aquela expressão magoada era a mesma que ela usava quando Finn a tratava mal. Alguma coisa tinha acontecido e Sam estava preocupado, não por Rachel Berry que se especializara em ferir aqueles que a amavam e sim, em Quinn que se especializara em ser ferida.

– Vamos lá, Berry... O que aconteceu entre vocês?

– Eu não me sinto confortável contando a você sobre o que se passa entre eu e Quinn. – Rachel foi dura em suas palavras e Sam teve que apertar os dedos no volante para não sair xingando a morena ali mesmo. Sam revirou os olhos e pisou no acelerador ao virar em uma rua. Rachel olhou preocupada de esguelha para ele e foi a vez de Sam comentar maldoso:

– Não se preocupe, Berry... Eu não vou te matar.

– Realmente, você anda convivendo muito com a Quinn. Está adquirindo parte do sarcasmo e da ironia dela. – Rachel respondeu com um ar sentido enquanto descruzava os braços e olhava repreensiva para o rapaz. Sam tornou a fazer outra curva e respirou fundo, arrependido, disse:

– Me desculpe, eu só não consigo vê-la sofrendo dessa forma e não fazer nada.

– Eu entendo o que você sente, você é o namorado dela, afinal. – Mesmo tentando conter a ironia em sua voz, Rachel acabou sendo um pouco ofensiva em suas palavras. Sam deu uma pequena gargalhada que irritou ainda mais a morena, Rachel olhou furiosa para ele e notando o olhar dela, Sam apressou-se a explicar as coisas com um ar de riso ainda impresso em suas palavras:

– Esse é o problema? Eu e a Quinn não namoramos, ela só é a minha vizinha.

– Ahm, é... – Rachel não conseguiu formular uma resposta audível para a resposta que recebera. Diante da nova e satisfatória informação, um tumulto iniciou-se em Rachel: seu coração acelerou, ela abriu um sorriso involuntário e um bocado de esperança renasceu em seu peito. Ela olhou para Sam em busca de palavras que pudessem derrubar essa sua felicidade momentânea, mas nada veio. Os dois ficaram em um silêncio confortável enquanto se aproximavam da casa de Rachel.

Sam observava Rachel com confusão. Claro que ele percebera o sorriso dela ao dizer que não namorava Quinn... Também percebera a mudança súbita na expressão do rosto de Rachel, a morena parecia mais tranqüila e mais leve agora. Sam voltou os olhos para o trânsito e sua mente finalmente entendeu o que se passava ali. Rachel não estava afastando Quinn de propósito, Rachel estava afastando Quinn porque era... Apaixonada por ela!

Involuntariamente, o rapaz pisou no acelerador e pode sentir um olhar questionador de Rachel. Sam engoliu em seco, indeciso entre contar ou não para sua amiga. O rapaz tornou a olhar de esguelha para Rachel quando parou na frente da casa dela, o pior era que ele desconfiava que Quinn gostava de Rachel, mesmo que sem perceber... Sam respirou fundo e destravou as portas do carro, Rachel saiu e com um sorriso amável, disse:

– Obrigada, Sam... Feliz Natal!

– De nada, Rachel e... – Sam olhou para o exterior através de sua janela, Rachel fechou a porta e esperou com a cabeça enfiada dentro da janela do carro. Sam abriu um sorriso derrotado, talvez a felicidade de Quinn estivesse com Rachel. - ... Acho que você deveria insistir com a Quinn, quem sabe, você é o que ela precisa para voltar a sorrir de verdade. Feliz Natal.

Rachel ficou imóvel, olhando o jipe vermelho de Sam soar furioso naquela noite fria em que a neve caía em seus cabelos. A morena respirou o ar frio quando entendeu as palavras do rapaz e vindo de alguém tão próximo a Quinn, pareceram sinceras e reais. Rachel observou até o carro virar a esquina quando se deu conta de que tinha esquecido suas compras no apartamento de Quinn.

É, talvez o destino estivesse conspirando ao seu favor.



Quinn surpreendeu-se quando Sam Evans apareceu atrasado no abrigo. A loira sorriu das atrapalhadas dele e riu ainda mais quando as crianças quase o derrubaram, vendo que o companheiro de brincadeiras tinha chegado. Quinn, que estava encarregada de ajudar na cozinha, recebeu um beijo do amigo no rosto enquanto ele pegava uma garotinha no colo. Sam deu um sorriso envergonhado e bagunçando os cabelos da amiga com a mão livre, disse em tom culpado:

– Tive alguns problemas no caminho, me desculpe.

– Não é comigo que você tem que se preocupar e sim, com a Treinadora. – Quinn disse com um ar risonho, carregando uma bandeja de frutas e apontando com a cabeça para onde Sue Sylvester olhava para Sam com ódio mortal nos olhos. O rapaz engoliu em seco e a garotinha em seu colo exclamou rindo:

– Tio Sam vai levar uma bronca da Tia Sue!

– Com certeza e sabe por que ele vai levar uma bronca, Sabrina? – Quinn voltou-se para garotinha com um ar gentil, a menininha acenou negativamente com a cabeça e Quinn fez cócegas nela enquanto Sam lhe apertava as bochechas, a garotinha ria. – Porque ele é um irresponsável e deixou a Tia Quinn trabalhando aqui sozinha.

– Que feio, Tio Sam! – Sabrina exclamou com um ar que pretendia ser repreensivo, mas que provocou risos em Quinn e Sam. O rapaz fez uma careta falsamente magoada enquanto carregava a menina e caminhava até a Treinadora Sylvester. Quinn observou quando ele levou uma bronca, mas logo depois, foi recebido com um sorriso compreensivo. Quando o olhar da loira encontrou-se com o da sua ex-treinadora, Sue acenou e Quinn retribuiu.

Desde o Natal de 2011, Quinn e Sam auxiliavam Sue Sylvester no Natal das crianças do abrigo de Lima. O que começara como um pequeno protesto contra o especial televisivo de Artie e do Glee, acabou se tornando a única fonte de felicidade para o Natal dos dois. Como a família de Sam ainda morava em Kentucky, ele sempre acompanhava Quinn até Lima para rever os amigos logo antes de ir para sua casa e ficou apaixonado com a devoção da amiga ao projeto de Sue Sylvester. Desde então, os três faziam a alegria das crianças com uma ceia e presentes às vésperas do Natal.

Quinn voltou ao salão e sorriu com as crianças correndo eufóricas em volta da mesa e da imensa árvore de Natal, infelizmente, naquele ano o Glee Club do McKinley High não pode participar. O que deixava a ex-cheerio muito aborrecida, mas ela sabia que os poucos integrantes do grupo merecia uma folga depois do fracasso nas Seletivas daquele ano.

– Espírito natalino existe e tomou conta da Treinadora, ela apenas me deu uma bronca para depois me dar um sorriso! – Sam murmurou com leve ironia provocando risos em Quinn, o rapaz apanhou a imensa pilha de presentes que ela trazia e os distribuiu embaixo da árvore. Quinn viu quando os olhos das crianças brilharam. A ex-cheerio esperou o amigo terminar o serviço e disse risonha:

– Para com isso, Sam... Você sabe que ela mudou com a gente depois de todos esses “Natais” juntos.

– Não posso fazer nada se a imagem que eu tenho do ensino médio me convence mais do que essa. – Sam respondeu sério e dando de ombros, Quinn empurrou o amigo e gargalhou do jeito dele. Alguém avisou que era hora da ceia e todas as crianças avançaram sobre a mesa, Quinn puxou Sam de lado para que pudessem cear depois. O rapaz passou os braços ao redor dos ombros da amiga e observou todas as reações dela.

Para olhos desconhecidos, Quinn escondia tudo por trás daquele sorriso bondoso e brilhante. Mas para Sam Evans, seu melhor amigo, tudo não passava de uma máscara onde ela escondia sempre que estava preocupada ou triste com alguma coisa. Sam apertou o abraço nela e Quinn sorriu triste para eles, Sam preferiu ficar calado a dizer alguma coisa... Aliás, ele não sabia como falar o que descobrira a ela.

Quinn, por sua vez, estava sentindo-se alheia a tudo que acontecia a sua volta. O abrigo trazia Rachel a sua mente, aquele Natal de 2011 fora o primeiro que elas passaram juntas sem brigas e discussões. Quinn lembrava-se de Rachel brigando com ela por causa da quantidade de carne do seu prato e também lembrava que as duas fugiram do resto do Glee para passarem a meia-noite juntas e sozinhas. Inevitavelmente, a loira sorriu com as recordações de sua adolescência, Sam percebeu e sorriu junto com ela antes de comentar:

– Espero que esse sorriso seja por minha causa.

– Não seja convencido, Evans. – Quinn murmurou risonha e separando-se do rapaz, Sam fez uma careta ofendida para ela e riu em seguida. A expressão de Quinn voltou a se fechar e ficar pensativa. – Estava me lembrando do Natal de 2012.

– Estava se lembrando dela, isso que quis dizer, não é? – Sam perguntou bondoso e roubando um copo de refrigerante de uma bandeja por perto. Quinn voltou a sorrir e o rapaz sorriu junto com ela quando ouviu a resposta brilhante e sincera dela:

– Sim, estava me lembrando de Rachel.

Sam Evans não precisava de mais nada, Rachel Berry podia estar sendo uma pessoa terrível nos últimos dias, mas ela era a única dona do sorriso sincero da sua melhor amiga e aquilo era o suficiente para ele.

###

Quinn Fabray acordou na manhã de Natal com uma dor nas costas insuportável. Mais uma vez, acabara adormecendo na sala em sua poltrona de leitura... Chegara tão cansada na noite anterior após a ceia no abrigo que mal conseguira caminhar até o quarto. O cansaço físico aliado ao cansaço emocional por ter Rachel Berry em sua cabeça só a deixavam em conflito.

A loira espreguiçou-se preguiçosamente enquanto ouvia suas articulações estralarem, Quinn levantou-se e caminhou até o banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes. Pela janela do corredor, viu que nevava e inevitavelmente, abriu um sorriso. Adorava o Natal e amava quando nevava. Quinn trocou de roupa e voltou para a cozinha, precisava tomar um café antes de arrumar alguma coisa para fazer naquele dia.

– Até que enfim a Bela Adormecida acordou, já estava achando que teria que te dar um beijo para você despertar! – Quinn levou tamanho susto que até derrubou a xícara que segurava, a voz arrastada e irônica era inconfundível. A loira colocou a mão sobre o peito tentando acalmar a própria respiração e coração. – Calma, Fabray... Não é como se tivesse um assassino na sua casa!

– O que você está fazendo aqui, Santana? – Quinn Fabray virou-se com todas as suas barreiras erguidas, o olhar estava frio e tinha a sobrancelha arqueada, os lábios estavam crispados e a expressão fechada. A loira correu os olhos por Santana que parecia não ter mudado muito: as feições tinham amadurecido e o cabelo estava um pouco mais curto, mas ela ainda carregava a postura arrogante e cheia de si, tinha um pesado sobretudo sobre os ombros e sorria zombeteira. Os olhos avelã chegaram a Sam Evans, encolhido ao lado da porta enquanto observava a troca de farpas entre as duas garotas. Quinn revirou os olhos. – Ou melhor, o que ela está fazendo aqui, Sam? Ela não ia chegar após o Natal?

– Não fale de mim como se eu não estivesse aqui, Fabray. – Santana retrucou incomodada e aparentemente magoada com a amiga antes de tirar o sobretudo e jogá-lo sobre a poltrona, Quinn tornou a olhar friamente para a latina que apenas deu de ombros e desviou o olhar. Santana se aproximou vacilante. – Posso ter demorar alguns anos para voltar, mas eu estou aqui agora.

– Alguns anos? Quatro anos, Lopez! Quatro anos sem nenhuma notícia sua! – Quinn explodiu com lágrimas de raiva, Sam pareceu sair de seu congelamento e posicionou-se ao lado da amiga sem saber muito bem o que fazer. Quinn repeliu qualquer tentativa de aproximação do rapaz, Santana, por sua vez, se aproximou ainda mais, ficando apenas há alguns centímetros da amiga. As duas continuaram a se fitar com saudade e também, agressividade.

Ninguém nunca entendera a amizade de Quinn Fabray e Santana Lopez. Por baixo de todas as brigas, palavras frias e tentativas de derrubar uma a outra, se escondia uma amizade que era sincera justamente por essas atitudes. Ambas podiam brigar sempre, mas sabiam que precisavam da outra para se recuperar das rasteiras que sofriam e que uma sempre estaria lá para consolar à outra. Quinn fora a única pessoa para qual Santana se abriu quando descobriu que gostava de Brittany, da mesma forma que Santana foi uma das poucas que ouviram Quinn quando a loira sentiu-se sozinha depois de Finn terminar com ela.

As duas podiam estar ali, brigando e se fuzilando com os olhos, mas havia uma amizade bem maior do que todo aquele aparente ódio que agora tomava o apartamento de Quinn. Sam tentou tocar no ombro da loira, mas ela se desvencilhou dele e olhou furiosa para o amigo. O rapaz engoliu em seco antes de virar-se para Santana e dizer:

– Eu disse que ela ia surtar, não deveria ter te dado a chave reserva do apartamento dela.

– Você deu a chave reserva para ela, Sam? – Quinn questionou incrédula e dessa vez, ela rompeu a camada de gelo que tinha lhe tomado e olhava com fúria para Sam, o rapaz não teve escolha senão se encolher e tirar o corpo fora daquela briga. Santana bufou extremamente alto e disparou autoritária:

– Para de brigar com os outros, Fabray. Seu problema é comigo e não com o boca de caçapa!

– Claro que meu problema é com você, Lopez! Você não pode chegar aqui depois de quatro anos e entrar na minha vida de novo, achando que está tudo bem e que o tempo não passou! – Quinn defendeu-se com um ar que em muito lembrava a antiga cheerio que ela fora no ensino médio, Santana revirou os olhos e cruzou os braços sobre o peito, depois respondeu entediada:

– Por que eu não posso? Ah sim, me esqueci que eu não sou a Berry.

Quinn ia responder, mas as palavras não chegaram a sua boca. A loira ficou de boca aberta, olhando de Sam para Santana com um ar ferido e desolado. As lembranças do dia anterior tornaram a invadir sua mente e ela desabou sobre o sofá. Quinn ficou respirando com dificuldade e de cabeça baixa, Sam fez menção de se aproximar, mas Santana o impediu com um olhar agressivo. A latina sorriu vitoriosa e continuou:

– Porque, pelo que eu sei, Berry tem te destruído nos últimos dias e você teve uma facilidade imensa em perdoá-la e até mesmo, correr atrás dela... Por que não pode fazer o mesmo comigo, Quinn?

Quinn fingiu que não ouviu, levantou-se bruscamente do sofá e foi até seu quarto trocar de roupa, trancou a porta no exato momento que Santana quase entrava por ela. A latina deu alguns murros e desistiu, Quinn apanhou uma roupa quente e calçou botas. Precisava sair dali o quanto antes, ainda não estava pronta para enfrentar a sinceridade de Santana Lopez.

Apanhou o casaco ao lado da porta enquanto Santana a xingava em espanhol, mas, sem que Quinn percebesse... Seus olhos encontraram os pacotes que Rachel esquecera ali na noite anterior, imediatamente, os orbes avelãs se arregalaram e ela paralisou com a mão na maçaneta, o destino estava querendo que ela se reencontrasse com Rachel depois de tudo. Santana revirou os olhos e comentou sarcástica ao entender o olhar da amiga:

– Ora, ora... Ela até veio dormir aqui, Fabray?

– Santana...! – Quinn voltou-se para Santana e deve ter sido bastante assustadora, porque os olhos da latina se arregalaram e ela deu um passo para trás quando Quinn marchou em sua direção. Quinn olhou decepcionada para Sam e respirou fundo, tentando acalmar a sua raiva. Apanhou as sacolas e deu as costas aos dois. – Só quero que, quando eu voltar, vocês dois tenham desaparecido do meu apartamento.

Quinn saiu batendo a porta, deixando Sam e Santana observando-a, surpresos. Mas a latina sorriu quando ouviu os pneus de carro cantarem na garagem do prédio, ela se virou para Sam e disse sorrindo vitoriosa:

– Ok, Trouty Mouth. Pelo que você me contou e pela reação dela, nós vamos ter muito que fazer por essas duas.

– Não devia ter te contado sobre isso. – Sam murmurou melancólico enquanto juntava os cacos da xícara de Quinn e jogava no lixo, depois ele varreu tudo enquanto era observado por uma Santana desgostosa. A latina revirou os olhos e respondeu mal-educada:

– Você não precisava nem ter contado, eu ia descobrir de qualquer jeito mesmo. Agora vamos, precisamos colocar essas duas para conversar.

Sam engoliu em seco, Santana era maluca.

###

Rachel ainda estava deitada, ela sabia que já tinha passado da hora de se levantar, mas algo a prendia a cama e ela sabia muito bem o que era. Rachel não queria se levantar naquela manhã de Natal, sua cabeça ainda estava entorpecida por tudo que acontecera naquela mágica véspera de Natal.

O gosto dos lábios de Quinn ainda parecia estar em si e cada vez que ela se lembrava das sensações que tomaram seu corpo naquele momento, um sorriso involuntário irrompia em sua boca e uma série de arrepios gostosos percorria sua pele. Ela tinha se esquecido como é bom estar apaixonada.

Rachel se sentou na cama com preguiça enquanto olhava para seu quarto, parecia que o beijo de Quinn tinha sido capaz de acordar um lado seu que ela achava ter morrido. A Rachel de sempre voltara a ocupar aquele corpo, os olhos brilhavam quando ela foi ao banheiro fazer sua higiene, assim como o sorriso voltara a brincar em seus lábios, a morena estava até cantarolando uma melodia qualquer enquanto arrumava sua cama...

Mesmo sabendo o quão difícil Quinn era quando se tratava de sentimentos, Rachel estava feliz porque sempre carregaria consigo a certeza de que fora correspondida naquele beijo. Ainda conseguia fechar os olhos e escutar os gemidos contidos de Quinn, assim como conseguia sentir a língua dela brincar com a sua...

A morena descia as escadas aos pulos, com certeza seria vítima de alguma piadinha dos pais, mas estava feliz demais para levá-los a sério. Quinn voltara para sua vida e os lábios dela pareciam capazes de trazer a música de volta para a voz de Rachel Berry. Porém, a morena ficou paralisada no meio da escada, Rachel sentou-se no degrau e apurou os ouvidos para escutar quem estava ali embaixo.

– Desculpa incomodá-los nessa manhã de Natal, mas Rachel esqueceu essas compras em meu apartamento ontem, acho que são os seus presentes de Natal. – Era a voz doce de Quinn que vinha do hall de entrada, Rachel colocou a mão sobre a boca e os olhos se arregalaram antes de levantar-se rapidamente e voltar ao quarto para tirar os pijamas.

Rachel desceu as escadas correndo e quase caiu nos últimos degraus. Imediatamente, a atenção de Quinn e seus pais se voltou para ela. A morena deu um sorriso de lado, envergonhado e cumprimentou os pais, Hiram deu um sorrisinho de quem entendera tudo e perguntou:

– Não quer almoçar conosco, Q? Rachel dormiu demais e tudo está atrasado por causa dela.

– Hey, eu ainda estou aqui! – Rachel respondeu com um ar sentido, dando uma gostosa gargalhada em seguida. Hiram e Leroy olharam surpresos para a filha, mas Rachel olhava para Quinn na esperança de que ela demonstrasse um pouco de interesse, porém, a loira estava com a cabeça baixa e corava. Pelo visto, não fora a única que pensara no beijo a noite toda. – E Quinn, almoce conosco... Eu bem sei que você não quer passar o Natal sem ninguém.

– Eu realmente agradeço... Mas Santana chegou à cidade, acho que eu e Sam vamos ficar com ela, hoje. – Quinn disse agradecida antes de acenar sem jeito e sair correndo de volta para o carro. Durante aquela curta conversa, Quinn não ergueu os olhos uma vez sequer para Rachel, o sorriso morrera nos lábios da morena e ela voltara com aquela postura melancólica e triste. Rachel separou-se dos pais e apanhou as sacolas que tinham sido deixadas ali. Enquanto Hiram fechava a porta e Leroy observava a filha, ela virou-se com um sorriso mecânico e anunciou:

– Bem, Quinn estragou a surpresa. Aqui estão os presentes, espero que gostem!

Hiram e Leroy apanharam os embrulhos com ares preocupados, mas Rachel tratou de sumir da vista dos dois e caminhou até a cozinha, apoiando-se na pia para recuperar o que tinha perdido há minutos quando Quinn saíra sem olhá-la nos olhos.

Era aquela sensação que Rachel temia. Ela acreditava que Quinn não fosse capaz de desprezá-la daquela forma, mas pelo visto, a loira achara melhor fingir que nada acontecera. Dentro do peito, seu coração bateu dolorido enquanto ela tentava segurar as lágrimas à muito custo. Rachel respirou fundo uma, duas, três vezes... Mas nada parecia acalmar o que se passava ali dentro.

Aprendera a conviver com a ausência de Quinn por sete anos, voltara à Lima derrotada e tentara sufocar todo e qualquer sentimento que pudesse ter por ela, até mesmo a amizade e quando estava lidando bem com a idéia de dar uma segunda chance a amizade das duas... Um ato impensado destruía a toda a relação das duas, assim como o pouco que ela conquistara tentando se reerguer.

Rachel dera tudo por um beijo e perdera tudo por causa dele.

A morena apertou as bordas da pia e novamente, aquela fúria desconhecida pareceu querer tomar seu pequeno corpo. Rachel fechou os olhos e procurou se acalmar, porém, foi um toque conhecido que apertou seus ombros. Leroy se aproximou silenciosamente e tocou levemente no ombro da filha, Rachel se virou para ele com a expressão fria já costumeira e ele perguntou preocupado:

– Quer explicar o que aconteceu há cinco minutos quando Quinn estava aqui?

– Eu queria falar sobre isso com alguém, mas não sei se seria capaz de chegar até o final... – Rachel resmungou com as palavras duras saindo de sua boca, suas mãos se fecharam em punhos e ela olhou cansada para o pai. Hiram se aproximou cauteloso e observou a filha, ele sabia o que acontecia ali, aliás... Ele sabia há sete anos, quando Rachel desabou no aeroporto ao saber que Quinn não se despediria.

– Somos seus pais, querida. Pode ter certeza que se você não conseguir chegar ao final, nós te reergueremos. – Leroy disse com um ar bondoso, apertando a pequena mão de Rachel entre as suas e puxando-a para sala. Rachel deixou-se levar pelo pai enquanto Hiram enchia um copo de água e depois, colocava em suas mãos. A morena sorriu triste e tomou um gole, antes de dizer:

– Eu e Quinn conversamos ontem à noite.

– Entre o que foi dito e feito, o que a fez sair daqui dessa forma, sem nem olhar em seus olhos? – Leroy questionou confuso, mas Hiram percebeu o tom duro na voz do marido. Quinn demoraria a reconquistar a confiança dele após magoar Rachel. A morena respirou fundo e tomou mais um gole de água antes de suspirar e olhar para o chão. Hiram olhou sofrido para a filha, Rachel era mulher, mas permanecia frágil como uma criança... Ele sentou-se ao lado da morena, de forma que ela ficou entre os pais, depois, ergueu a face de Rachel e secou algumas lágrimas teimosas que caíam ali. Hiram olhou significativamente para Rachel e a morena arregalou os olhos quando compreendeu que seu pai sabia o que acontecia, ele sorriu gentil e disse leve:

– Rachel finalmente deu voz aos seus sentimentos e não só voz, pelo que eu pude entender... O que você fez, querida?

– Eu... – Rachel travou nessa parte, sobre o curioso olhar de Leroy e o olhar sério de Hiram. Parecia que se tornara absolutamente difícil se lembrar do beijo de Quinn, parecia que a certeza de não tê-lo nunca mais a fazia esconder as sensações e as lembranças no local mais fundo de si, de forma que aquele momento nunca mais se perdesse. – Nós nos beijamos, ela me correspondeu!

Hiram deu um sorriso satisfeito, enquanto a boca de Leroy abria e fechava, sem som algum. Rachel afundou a cabeça nas mãos depois de ter deixado o copo sobre a mesinha do centro. Os pais se entreolharam, Leroy fez um sinal de que não sabia o que fazer, Hiram revirou os olhos e com um sorriso, aconselhou:

– Você sabe que colocou tudo a perder, não é querida?

– Claro que eu sei! Justo agora que as coisas estavam começando a dar certo... Ela tinha conseguido um emprego para mim, eu estava disposta a dar uma segunda chance a nossa amizade, mais uma vez eu estraguei tudo por causa da minha falta de noção! – Rachel explodiu frustrada e Hiram pode ver que algumas lágrimas estavam caindo com mais velocidade agora. Leroy apanhou a filha e ninou-a em seus braços, Hiram afagou os cabelos dela e perguntou:

– Mas valeu à pena colocar tudo a perder por causa de um beijo?

Rachel parou de soluçar e os suspiros pesados também cessaram, ela ergueu o rosto dos braços do pai, sem sair do colo de Leroy. A morena limpou as lágrimas com um pouco de esforço e olhou de um para o outro, depois respirou fundo e com um sorriso corajoso, disse:

– Valeu, pelo menos eu tenho uma lembrança do que eu poderia ter vivido.

Hiram sorriu e bagunçou os cabelos da filha, Rachel fez uma careta antes de Leroy gritar entusiasmado e sair correndo para abrir seu presente. Olhando os dois ao longe, Hiram teve a certeza de que aquilo não seria uma lembrança para Rachel, ele era bom em interpretar as pessoas e sempre teve certeza que Quinn Fabray amava a sua filha...


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Notas finais do capítulo

Santana cheeegou gente, o que acharam? kkk Creio que a maioria vai gostar né *-*
E bem, pelo que vocês puderam ver, ainda tem MUITA coisa entre a Rachel e a Quinn. Não é porque elas se beijaram que as coisas vão se resolver do nada, não é?
Espero que tenham gostado, comentem por favor... Os reviews são meu combustível para continuar a escrever.
Beijos e até mais (: