Signal Fire escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 3
Retomada


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores!
Aqui estou eu com mais um capítulo de "Signal Fire".
Este tem como objetivo mostrar um pouco mais da Rachel, já que vimos somente o lado da Quinn. E também terão alguns gleeks que reaparecerão na vida das duas.
Portanto, boa leitura!



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Dezembro de 2019 – Casa dos Berry, Lima, Ohio.

            Rachel olhava para os pais com um misto de vergonha e tristeza nos olhos castanhos. Leroy estava de braços cruzados, sem nenhuma piedade em seu rosto enquanto Hiram estava com uma expressão amena e preocupada. E Rachel permanecia encolhida no centro do sofá, perdida entre o cheiro de rosas que Quinn deixara na sala e no beijo dela em sua testa.

            A pequena diva esperava que as lembranças ressuscitassem em si emoções que ela achava estarem esquecidas, mas não esperava toda aquela intensidade. Não esperava que o toque de Quinn continuasse a lhe transmitir paz e tranqüilidade e também, não esperava que o olhar irritado de Leroy ainda lhe prejudicasse tanto. Seu lugar era ali, em Lima e não na imensa New York... Rachel Berry sempre seria uma garota talentosa de uma cidade no interior de Ohio. Mas, subitamente, estar presa em Lima não parecia mais tão assustador, era algo como... Estar em casa.

            - Não vai se explicar, Rachel? – Leroy tinha um quê de exigência na voz, mas tinha um tom de preocupação que ele não conseguiu esconder. A verdade era que aquele homem com cara de mal estava ansioso para abraçar a filha, mas seu papel de pai ali impedia que ele fizesse isso. Hiram olhou de esguelha para ele e contrariando todos os olhares do marido, sentou-se ao lado da filha e apanhou a mão dela entre as suas.

            - Acho que Rachel não merece uma bronca agora, ela acabou de chegar, Leroy. – Hiram pediu, massageando a testa e respirando fundo. Leroy olhou ofendido para ele e bufou irritado. Rachel observou os dois e quase sorriu diante daquilo, ela bem sabia que eles iam acabar se entendendo depois. Mas a morena também se surpreendeu em notar como seus pais tinham envelhecido, a cabeça negra de Leroy estava começando a ser tomada pelos cabelos grisalhos enquanto as entradas de Hiram pareciam ter aumentado... Haviam se passado sete ou dez anos, afinal?

            - Ela acabou de chegar, mas isso não tira o fato de que sumiu por sete anos, Hiram. – Leroy sibilou entre dentes e Rachel abaixou os olhos, suspirando. Ela não precisava olhar para o pai para saber o quanto ele estava magoado. Hiram tentou pedir para o marido pegar leve com o olhar, mas Leroy não lhe deu atenção. – Você viu o estado em que Quinn saiu daqui? Ela mal conseguia olhar para Rachel.

            - Eu vi, sei que Quinn passou por muita coisa e que a volta inesperada de Rachel fez com que ela se lembrasse de coisas que estava aprendendo a esquecer... – Hiram concordou com uma expressão amena e tranqüila, ele tornou a ficar em pé. Leroy olhou para ele frio, mas levemente tocado. – Mas o que importa é que a nossa filha está aqui, sentada conosco e novamente, somos uma família.

            Rachel olhou Leroy abrir e fechar a boca por não encontrar as palavras que queria para justificar o seu ponto, a morena baixou os olhos e sorriu, porque ela mesma vivia fazendo aquilo quando perdia uma discussão. Mais uma vez, o inevitável sentimento de estar em casa lhe invadiu. Porém, seus pais iniciaram uma discussão e o pior, discutiam por sua causa.

            - Sete anos de curtos e-mails, telefonemas sem muita informação e nenhuma visita. Eu não vou tolerar isso, Hiram!

            - Ela estava seguindo o sonho dela, Leroy!

            - Mas isso não significava que ela podia esquecer os pais e Quinn!

            Mais uma vez, a menção do nome de Quinn naquela sala fez com que um silêncio pesado e incômodo pesasse na sala. Rachel engoliu em seco e massageou suas têmporas, colocando-se em pé junto aos pais. Eles olharam para ela como se ela tivesse acabado de chegar, ela respirou fundo e disse melancólica:

            - Eu sei que passaram sete anos discutindo dessa forma, mas não comecem achando que eu não estou aqui.

            - Ah claro, você está aqui. Depois de sete anos sem nos ver, chega em casa dormindo no carro de sua amiga esquecida... – Leroy retrucou com uma expressão ávida por respostas e principalmente, por uma atitude. Ele queria a sua estrelinha de volta e não, aquele clone apagado e sem brilho. Hiram suspirou. – Espera ela sair daqui para, só então, nos enfrentar. Sendo que a pessoa que deveria estar aqui lhe exigindo respostas era Quinn e não nós!

            - Pare de falar sobre Quinn! – Rachel, por fim, explodiu. Os pais olharam impressionados para ela, mas a morena tornou a sentar e agora, tinha as mãos trêmulas de nervoso. A verdade era que, falar sobre Quinn, lhe machucava. Rachel estava impressionada com a ex-amiga, a forma como ela continuava a mesma e ao mesmo tempo, parecia ter amadurecido tanto lhe assustava... Quinn Fabray a amedrontava, ou melhor, as lembranças que a envolviam, lhe deixavam fora de si.

            Rachel Berry não precisou de muito tempo afastada de Quinn Fabray para entender o que, de fato, regia a amizade delas. Quinn lhe pegou quando todos pareciam ter fugido dela, melhor, Rachel era sozinha no Glee e no meio daquela solidão, Quinn lhe encontrou, tão perdida quanto ela. E de uma forma desconcertante e inesperada, Rachel se apaixonou por Quinn.

            Talvez, o fato de ter tido pais gays favoreceu o surgimento daquele sentimento, Rachel não sabia da existência dele até encontrar-se sozinha em New York. Quinn não passara em Yale e ela acabou sozinha naquela cidade, desejando que a amiga estivesse junto com ela e principalmente, desejando a presença física mais do que tudo. Aos poucos, aquele sentimento de ausência lhe consumiu e revelou o que estava mais escondido em sua alma: Rachel amava Quinn e não era da forma fraternal.

            Rachel passou a procurar Quinn em outras pessoas e talvez fosse esse o motivo de sua popularidade na faculdade, mesmo não estando em NYADA, ela encontrou garotas interessantes em Julliard. Mas nenhuma tinha a beleza, a inteligência e o humor que Quinn Fabray tinha. Ela encontrou aquilo separado nas pessoas e fez muitos colegas, mas nenhuma amizade.

            O cúmulo chegou quando Rachel lembrou a data das Regionais de 2012. Cúmulo porque, naquele dia, ela foi pega por um abraço na sacada do hotel. E não foi um abraço qualquer, foi um abraço que significou muito para ela. Porque Quinn não costumava abraçá-la daquela forma, os braços de Quinn nunca envolveram sua cintura como naquele dia. E, inexplicavelmente, Rachel se lembrou daquilo como se fosse a melhor lembrança que tinha e de fato, era.

            Naquela noite, em seu dormitório, Rachel chorou. Não por saudade e sim, por perceber que nutria, pela única amiga que fizera na vida (fora Kurt), um amor que ela sabia não ser correspondido. E fora aquilo que lhe afastara de Lima, fora a vergonha de ter pertencido àquela cidade quando todos em New York pareciam ter vindo de locais menos piores que a pequena cidade de Ohio.

            Leroy e Hiram entreolharam-se com entendimento, antes de olharem preocupados para a filha. Finalmente, a máscara de frieza de Leroy se rompeu e ele se aproximou a passos pesados. Rachel ergueu os olhos surpresa, mas não fez nenhum movimento. A deixa para o abraço veio do pai e quando a morena sentiu os braços fortes e enormes dele envolvê-la, ela desabou.

            Rachel deixou-se levar pelas lágrimas contidas por sete anos e ao derramá-las, sentia como se toda a sua alma se lavasse. Hiram deu um sorriso triste e quase no mesmo instante, as lágrimas chegaram aos olhos do homem. Hiram se aproximou do marido e da filha e passou seus braços magros em volta dos dois.

            A casa dos Berry pareceu mais alegre quando eles se separaram, após cinco minutos. As lágrimas de Rachel se cessaram e ela olhou para os pais com vergonha, ela deu um sorriso molhado pelas lágrimas e disse:

            - É isso, meu sonho acabou.

            - Mas sua vida não e não vamos perguntar o que aconteceu, Rachel... – Hiram disse tudo com um sorriso gentil e Rachel abaixou a cabeça com um sorriso que lembrava aquele de 1000 watts que tanto lhe caracterizava, Leroy apertou seus ombros com um sorriso molhado. – Está na hora de procurar novos sonhos e continuar a viver, Rachel.

            Ela sorriu para os pais e afirmou com a cabeça. Lima tinha um efeito apaziguador que ela se esquecera... A morena acenou para os pais enquanto eles deixavam a sala e lhe mandavam ir dormir em seu quarto. Rachel gargalhou, sentindo-se com 18 anos novamente.

            Na verdade, ela gargalhou porque tinha finalmente percebido: voltara para casa e não pode conter o alívio e felicidade em seu peito.      

###

            Quinn dirigiu de volta para casa envolvida em lembranças e sentimentos que ela achava superados e que, agora, se provavam ainda mais fortes do que antes. Rachel voltara para Lima, mas por outro lado, não parecia ser a mesma Rachel que deixara a cidade sete anos atrás...

            Quinn daria tudo para saber o que tinha acontecido em New York, a loira daria tudo para voltar no tempo e ter insistido em Yale por mais um ano, ela daria tudo para saber o que tinha tirado o brilho de Rachel Berry... Quinn apertou o volante com força e suspirou pesadamente, ela sabia que as lágrimas não tardariam a cair quando chegasse ao seu apartamento.

            A loira dirigiu por mais quinze minutos até que estacionou na garagem de seu prédio. Trancou o carro e apanhou a sacola parda com o livro, distraída. Ela subiu as escadas do edifício velho e de aparência colonial enquanto amargurava seus pensamentos e suas lembranças... O que mais machucava não era o ar defensivo de Rachel, o que mais machucava era a inexistência da ambição e da insistência naqueles olhos castanhos.

            Quinn deu mais um suspiro quando parou em frente a porta de seu apartamento, o 4A no fim do corredor. Ouviu uma porta se abrir atrás de si assim que girou a chave na fechadura, a voz contagiante e máscula de Sam Evans soou um porto seguro no meio de toda aquela ressaca:

            - Isso são horas, Fabray? Eu já estava preocupado com você!

            - Sam! – Quinn repetiu incrédula e com uma careta impressionada, ela largou o que carregava no chão e correu para os braços do ex-namorado e ex-companheiro de Glee Club. Sam gargalhou enquanto a apanhava em um abraço e a girava consigo, até as risadas da loira sumirem e ele colocá-la no chão.

            Os dois se olharam com sorrisos no rosto, mas Quinn não conseguia esconder a tristeza em seus olhos. A mulher deu um sorriso triste para os pés e apertou a bochecha de Sam, o rapaz olhou preocupado para ela, mas nada disse. Anos como vizinho de Quinn Fabray o fizeram entender que ela só falava sobre algo quando se sentia confortável e forte para aquilo. Fora assim até que ambos estabelecessem uma amizade na faculdade.

            Um silêncio perdurou entre eles, Sam aproximou-se e abraçou-a mais uma vez antes de beijar-lhe a testa e lhe sorrir novamente. Quinn se apertou de encontro a ele, afundando a cabeça no peito dele, tentando encontrar ali, uma solução para todas aquelas sensações ruins que se passavam dentro dela. Sam lhe afagou os cabelos e disse brincalhão:

            - Algo muito ruim deve ter acontecido para eu não ter ganhado nem um beijinho de boas-vindas...

            - Seu bobo! – Quinn deu um murro no peito do rapaz e beijou a bochecha dele com um sorriso. Ela e Sam tinham estudados juntos na faculdade de Ohio e se enganara quem achasse que tinham namorado, pelo contrário, Sam a ajudou num dos momentos mais difíceis de sua vida. Sam tinha sido sua força quando Rachel Berry saíra de Lima. – Quando chegou?

            - Há algumas horas, depois de ser praticamente expulso por Mercedes... – Sam disse com um ar tristonho e coçando a nuca. Ele e Quinn se olharam e a loira não precisou de muito para entender que, mais uma vez, seu melhor amigo tinha sido rejeitado por Mercedes Jones. – Acredita que ela ainda namora aquele troglodita?

            - Sam, aquele troglodita está se revelando um astro do futebol americano. Portanto, eu acredito que Mercedes ainda está com ele. – Quinn disse sincera, abrindo a porta do próprio apartamento e segurando-a para que Sam entrasse carregando seu pacote e sentasse num dos bancos próximos ao balcão da cozinha. A loira foi até a geladeira e apanhou uma garrafa de cerveja para ele (ela não bebia cerveja, mas sempre tinha uma disponível para Sam) e foi atrás de uma garrafa de vinho na pequena adega.

            - Mercedes não é interesseira, se você está sugerindo isso... – Sam murmurou incomodado e Quinn ouviu um barulho indicando que a garrafa de cerveja tinha sido aberta. Ela achou uma garrafa pela metade de um tinto francês e serviu uma taça, sentando-se ao lado de Sam. – Ela só não sabe que me ama, ainda.

            - Sam, faz sete anos... Não acho que ela mude de idéia, se duvidar, os dois até se casaram. – Quinn amadurecera e mentiras tinham sido excluídas de seu vocabulário, Sam adorava quando ela lhe dava um golpe de realidade. Mas naquele momento, os olhos do rapaz se encheram de lágrimas, Quinn afagou a face dele e deu um sorriso triste. Sam pigarreou e tomou um gole da cerveja antes de perguntar:

            - Eu devia desistir dela, não é?

            - Deveria, mas te digo isso há 4 anos... Sei muito bem que, ano que vem, você irá atrás dela de novo. – Quinn tinha um leve tom de ironia que não mais machucava ninguém, Sam deu uma gargalhada rouca e apertou a mão da amiga. Quinn tomou um gole de sua taça e olhou preocupada para ele, Sam percebeu e brincalhão, disse:

            - Vamos fazer um trato: eu desistirei de Mercedes se você desistir de Rachel.

            Quinn arregalou os olhos amendoados e engoliu em seco, uma sensação indescritível invadiu seu peito novamente. Ela evitou olhar para Sam que agora, observava com preocupação. Quinn tomou um longo gole de sua taça e respirou fundo, estava difícil se manter calma diante daquele turbilhão de emoções. Rachel Berry, em Lima, ainda lhe assustava.

            - Ela voltou Sam e eu... – Quinn não conseguia continuar, as lágrimas voltaram aos seus olhos e ela apoiou o cotovelo na bancada, colocando a mão sobre os olhos e respirando com dificuldade. ─ ... e a encontrei próximo ao aeroporto e ela não... Parecia que eu estava na frente de outra pessoa, ela não parecia a Rachel.

            - Vocês se falaram, ao menos? – Sam perguntou cuidadoso e aproximando-se da amiga, ele estava tão acabado quanto ela, mas seria a força dela caso Quinn voltasse a entrar naquele espiral de tristeza e decepção. Algo nasceu no peito do rapaz, um sentimento que rugia para que ele protegesse Quinn de Rachel. Quinn agitou a cabeça e deu um sorriso que mais pareceu uma careta ao dizer:

            - Nos falamos, mas eu preferia não ter dirigido a palavra a ela. Ela me tratou tão mal, Sam... Mas não foi isso que mais doeu, foi ver que aquela não era mais a minha melhor amiga.

            - Shiii... – Sam a puxou para um abraço e afagou seus cabelos enquanto murmurava que tudo ia ficar bem. Diante de seu melhor amigo, Quinn permitiu-se desabar e quando começou, as lágrimas caíam sem cerimônia, molhando a bela camisa pólo de Sam. O rapaz não se incomodou. Sam lidara, por noites a fio, com uma Quinn inconsolável e sentindo-se culpada pela partida da amiga. Ele se acostumara a ter sua camisa molhada pelas lágrimas delas.

            - Eu só... Eu queria voltar no tempo, Sam. Eu não queria ter a ferido por todos aqueles anos, eu queria ter reconhecido antes que ela era uma boa pessoa. – Quinn murmurou debilmente e finalmente, erguendo os olhos da camisa de Sam. O rapaz odiava ver os orbes amendoados vermelhos e inchados, ele odiava ter que se recordar daquela Quinn perdida nos primeiros anos de faculdade... Parecia que ele voltava a ver e sentir a tristeza de Quinn, Rachel sequer imaginava como era importante.

            - Eu também queria voltar no tempo e mudar muitas coisas, Quinn... Mas a gente não pode e nem deve, arrependimentos existem para a gente aprender com eles. – Sam murmurou sabiamente enquanto encarava a amiga com uma expressão gentil, Quinn deu um leve sorriso triste para ele e acenou com a cabeça. – E você aprendeu com esse arrependimento, você sabe muito bem do que se arrepende e eu tenho certeza que vai fazer o certo dessa vez.

            - Acha mesmo? Será que eu não vou ferrar tudo de novo? – Quinn questionou melancólica, secando as lágrimas com impaciência e bebendo o que restava na taça de um só gole. Sam agitou a cabeça negativamente, ele odiava ver a amiga daquela forma. ─ Afinal, você foi o único que me restou porque é bom demais para me perdoar...

            - Eu fui o único que restei porque eu acredito em você e também, amo você, Fabray. – Sam respondeu sério e com aquelas palavras, ele calou os soluços e suspiros de Quinn. A loira olhou em devoção para ele e ele continuou com a expressão fechada. – Agora, você seque essas lágrimas e vá fazer o que faz melhor.

            - O que? Eu sou boa em consertar as coisas? – Quinn sibilou com ironia antes de se levantar do banco e servir-se de mais uma taça de vinho. Sam revirou os olhos, aquela era uma mania adquirida de Quinn. O rapaz sorriu e levantou-se do banco, entregou o pacote pardo para Quinn e sibilou maldoso:

            - Eu estava me referindo ao fato de você ser boa em se enfurnar na sua poltrona e devorar um livro em uma noite, Fabray.

            - Tudo bem, Evans... Você já ajudou demais. – Quinn respondeu com uma gargalhada e indo empurrar Sam para fora do seu apartamento. Quando os dois pararam na soleira da porta, as risadas cessaram-se. Quinn olhou com admiração para o amigo e abriu um sorriso sincero, triste, mas sincero. – Obrigada, mais uma vez.

            - Disponha sempre, Q. – Sam disse com um sorriso antes de bagunçar os cabelos curtos da amiga e dar-lhe um abraço de urso. Quinn retribuiu de bom grado antes de acenar para ele e fechar a porta. Quando viu-se sozinha, Quinn encostou a cabeça na madeira fria e olhou para os próprios pés.

            Mas em meio a palavras que não foram ditas, lembranças que machucavam e lágrimas contidas por anos... Quinn resolveu fazer o que Sam disse e isolou-se nas páginas amareladas daquele livro.

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            Rachel Berry acordou cedo na manhã seguinte, seu tradicional despertador da época do colégio tocou às 7 da manhã e ela quase foi para o elíptico. Até que se lembrou que o tinha vendido antes de sair da cidade. Há 7 anos, Rachel se levantaria naquele mesmo horário e esperaria Finn e Kurt passarem para buscarem-na enquanto ela contava os minutos para a aula do Glee Club.

            A morena sentou-se na cama, chutando as cobertas enquanto um sorriso enorme povoava seu rosto. Ela sabia que, aos poucos, a mágoa e a dor por ter os sonhos despedaçados desapareciam, dando lugar as boas lembranças que ela tinha. Afinal, Lima era seu lar agora e o que ela mais tinha em relação a cidade não era tristeza ou arrependimentos e sim... Bons momentos.

            Inevitavelmente, ela lembrou-se de Quinn. É claro que o sorriso desapareceu instantaneamente e ela resolveu tirar a ex-melhor amiga e paixão platônica da cabeça com um banho gelado e uma escovada nos dentes. Mas é ainda mais evidente que ela não conseguiu. Rapidamente, a expressão de Rachel tornou a se fechar enquanto ela descia as escadas.

            Ela começava a se arrepender da amizade cultivada no último ano.

            - Bom dia, pequena! – Leroy Berry se fez ouvir entre os pensamentos mais obscuros de Rachel, ele aproximou-se da filha de braços abertos e a pegou em um abraço forte e descontrolado, girando-a pela cozinha enquanto Hiram bronqueava e Rachel só conseguia rir.

            - Hey pai, chega! Estou sendo esmagada aqui! – Rachel protestou com um ar risonho, Leroy a soltou com uma expressão falsamente ofendida que arrancou ainda mais risadas da filha. Hiram sorriu gentil para ela e erguendo a tigela na qual comia, ofereceu:

            - Temos salada de frutas, quer um pouco?

            - Sim e algumas torradas também cairiam bem! – Rachel respondeu animada enquanto corria para ocupar seu lugar tradicional na mesa dos Berry, a frente dos pais. Leroy sorriu aliviado para o marido e comentou feliz:

            - Vejo que temos alguém animada hoje!

            - Eu andei pensando, melhor... Parece que meu cérebro andou pensando durante a noite no que papai me disse e realmente, eu preciso ir atrás de novos sonhos. Por mais que doa, eu tenho que voltar a viver de alguma forma. E nada melhor do que sair a procura de um trabalho! Todos nós sabemos que é muito bom ocupar a cabeça, assim eu evito pensar em besteiras... – Rachel respondeu rapidamente e lembrando, em muito, a Rachel Berry diva e afobada que freqüentava aquela casa há 7 anos. Os senhores Berry se entreolharam surpresos, mas foi Hiram que exclamou bem-humorado:

            - Veja só, ela até começou os monólogos!

            - Papai! – Rachel bronqueou entre gargalhadas e Hiram remexeu em seus cabelos, colocando uma enorme tigela de salada de frutas e um prato de torradas na frente da filha. Leroy observou a cena com alívio, ele podia começar a ver a sua estrelinha renascer aos poucos. Leroy serviu-se de mais café enquanto perguntava curioso:

            - Pensa em alguma coisa relacionada à música?

            - Ah não, na verdade... Quero me manter distante da música, do canto e dos palcos, ao menos por enquanto. – Rachel respondeu incomodada e deixando os resquícios do sorriso desaparecerem de seu rosto, Hiram olhou feio para Leroy que baixou os olhos, observando a filha remexer na salada de frutas com um sorriso. Hiram pareceu pensar por alguns segundos antes de dizer animado:

            - Acho que sei onde você pode trabalhar, querida.

            - Por favor, não me chame para te ajudar na clínica... Bem sabe que eu morro de medo de ter algum animal morrendo em meus braços! – Rachel exclamou horrorizada e em tom de súplica para Hiram, Leroy conteve uma gargalhada com um acesso de tosse enquanto o marido olhava ofendido para a filha, ele era veterinário. Rachel deu um sorrisinho culpado e voltou a concentrar-se na sua salada de frutas enquanto ouvia Hiram dizer:

            - Na verdade, estava pensando se você gostaria de trabalhar na livraria do Sr. Thomas... Desde que Q... – Hiram recebeu um olhar urgente do marido e rapidamente arregalou os olhos, ficando mudo. Não era hora de voltar a mencionar Quinn naquela conversa. Rachel não demonstrou nenhuma atitude, parecia concentrada no que comia. – Bem, desde que a ajudante dele se formou... Ele não tem tido ajuda por lá, quem sabe, você podia começar por ele.

            - Eu nunca fui boa em literatura! – Rachel protestou desanimada e erguendo os olhos da tigela de salada de frutas parcialmente devorada. Leroy deu um sorriso para a filha e apanhou a mão dela entre as suas enquanto dizia:

            - Charlie é um homem bondoso, ele ficará mais do que contente em te ensinar tudo que sabe.

            - Ok então, eu começarei por lá! – Rachel concordou animada, antes de comer a última colherada da salada e ir até a pia lavá-la. Leroy e Hiram entreolharam-se com sorrisos, não fazia mal nenhum antecipar o encontro das duas, não é?

            Do outro lado da cidade, Quinn Fabray espreguiçava-se com dificuldade. Os pés estavam encolhidos na poltrona e mais uma vez, ela acabou dormindo ali. As costas da loira doíam e a claridade vinda da janela a cegou brevemente. Quinn esticou as pernas, sentindo um pouco de dor e colocou-se em pé.

            Deixou a cafeteira preparando um café enquanto ia para o banheiro, tomava um banho e escovava os dentes. Em seguida, foi até o quarto de hóspedes que ela usava como escritório e apanhou uma pilha de livros surrados. Hoje, tinha que passar na livraria do Sr. Thomas e realmente precisava fazer compras.

            Ela deixou os livros na mesinha ao lado da porta e voltou para a cozinha. O cheiro de café fez com que ela sorrisse, aquela nova Quinn Fabray era capaz de carregar um sorriso bondoso, por mais magoada que estivesse. Os pensamentos dela voaram quase que instantaneamente para Rachel, a loira suspirou e sentiu um familiar aperto no peito enquanto mordia os lábios. Ela precisava fazer alguma coisa, não perderia Rachel de novo.

            A campainha soou e Quinn não precisou de muito para saber que Sam estava do outro lado, ela abriu a porta sem sequer olhar quem era no olho mágico. O rapaz entrou e olhou enojado para a pilha de livros ao lado da porta, em seguida, murmurou sarcástico:

            - Não vai dar bom dia, Fabray?

            - Ai bebê... – Quinn murmurou infantil, virando-se para Sam novamente e o beijando no rosto. Sam fez uma careta, ele odiava quando a amiga o chamava daquela forma. – Bom dia!

            - Bom dia, chata. Está melhor? – Sam perguntou com um sorriso dessa vez, ele adiantou-se a Quinn e começou a fritar os ovos e o bacon. Os dois tinham se acostumado a tomar café juntos de vez em quando, principalmente quando Sam voltava de suas viagens, ele era representante comercial de uma loja de materiais esportivos e cursara Administração na faculdade de Ohio.

            - Sim, Sam... Obrigada. Quer café? – Quinn ofereceu enquanto servia-se de uma xícara. Sam acenou negativamente e continuou a revirar os ovos e o bacon na frigideira. Ele ofereceu o que fazia para a amiga com um gesto da espátula que usava, Quinn negou com um sorriso enquanto sentava-se sobre o balcão. Sam pigarreou e comentou:

            - Recebi um e-mail da Santana ontem.

            - Céus, ela ainda existe? – Quinn comentou com sarcasmo e um pouco de melancolia, bebeu um enorme gole de café e amaldiçoou-se depois disso, pois o líquido desceu fumegante pela sua garganta. Santana tinha se afastado de Quinn após o término da escola, cada uma foi para o seu lado e a última coisa que sabia a respeito da latina, era que ela cursava Direito na Universidade de Geórgia, fora isso... Nunca mais ouviu falar nela.

            - Sim, ela existe e está voltando para Lima. Formou-se há dois anos e vai abrir um escritório de advocacia aqui. – Sam respondeu orgulhoso, ele gostava de Santana e mesmo ela sendo uma bitch com ele e com Quinn, Sam sabia que ela era sincera no que sentia. Quinn revirou os olhos e disse amargurada:

            - E que bom que ela lembrou que os amigos existem, não é?

            - Quinn, poucos de nós mantiveram contato depois do McKinley. Se eu e você não nos encontrássemos no campus da Universidade de Ohio, provavelmente não teríamos nos falado também. – Sam fora incisivo e sério em suas palavras, Quinn ergueu os olhos da xícara e eles estavam marejando. Tinha que se segurar. Estava sentindo-se ridícula por chorar por tudo ultimamente. A loira saltou do balcão e roubou um pedaço do bacon de Sam enquanto dizia:

            - Eu só estou confusa, Rachel voltou ontem e Santana está chegando à cidade... Quem mais vai aparecer e me matar do coração? Finn? Mike? Tina?

            - Eu não sei qual o seu problema com o Glee, Q... Puck ainda está aqui e sai com a gente quando pode, Artie sempre aparece no McKinley e Kurt nunca deixou de te visitar. – Sam respondeu de boca cheia para Quinn, a loira olhou feio para ele e ele engoliu o que mastigava. – E você sabe que Finn não vai aparecer, ele tem alguns jogos da temporada para fazer e agora, ele joga pelos Patriots. Mike deve estar dançando com a Beyoncé por aí e Tina está em New York. Somos os únicos aqui e sinceramente? Que bom que S e Rach voltaram.

            - Sam, nós estamos falando de Santana e Rachel. – Quinn foi dura em suas palavras, ela colocou a xícara na pia e virou-se de braços cruzados para o amigo. Sam a observava com preocupação enquanto devorava seu prato de bacon e ovos. – Santana que sumiu da minha vida há 4 anos e Rachel que eu não via há 7 anos... Você sabe como as duas eram importantes para mim e eu achava que era importante para as duas. Eu não sei se quero vê-las de novo depois de anos sem notícias.

            - Você quer e você vai vê-las... Do que você tem medo, Quinnie? – Sam perguntou gentil e dando aquele sorriso bonito e sincero que só ele tinha, Quinn abandonou a expressão carrancuda diante do apelido e sorriu para ele. Ela respirou fundo e respondeu:

            - Eu mudei, Sam. Disso que eu tenho medo.

            - Eu não teria medo, se fosse você, Q. Se me permite, você está ainda mais linda do que antes... – Sam terminou o seu prato e colocou-o na pia, lavando a xícara de Quinn junto. Ele ergueu os olhos para a amiga e sorriu quando reparou que Quinn corara diante do elogio. – Você está mais linda justamente porque mudou. Está mais madura, mais sincera, mais inteligente... Você é uma mulher agora, elas também são e talvez, algumas coisas do passado fiquem no passado. Dê uma chance a elas.

            - Tudo bem, o que você não me pede com um sorriso que eu não aceito com outro? – Quinn respondeu animada e dando um beijo na bochecha de Sam, foi a vez de Sam corar, ele abraçou a amiga ainda com as mãos molhadas, arrancando xingamentos de Quinn. Os dois riram antes de Sam sair, dizendo que precisava ir ao banco.

            Quinn fechou os olhos e massageou as têmporas. Como se não bastasse, ainda tinha Santana para acabar com sua vida naquele ano.

###

            Rachel se surpreendeu com o Sr. Thomas. Ele não fez muitas perguntas quando soube quem eram seus pais e para surpresa da morena, ele não ligou para o fato da família Berry ser composta pelos dois homens e sua filha. Rachel estava sentada com ele, os dois partilhavam copos de café, o Sr. Thomas deu um sorriso bondoso e avisou:

            - Eu não posso pagar muito, Srta. Berry... Tem certeza que quer trabalhar aqui?

            - Eu não me importo com dinheiro, Sr. Thomas... Tudo que eu preciso é de algo para distrair meus pensamentos, ficarei muito feliz em trabalhar para o senhor. – Rachel respondeu com um sorriso radiante, mas que ainda não era o seu famoso sorriso de 1000 watts. O Sr. Thomas suspirou satisfeito e fez um gesto com a mão antes de dizer gentil:

            - Você trabalha comigo, Srta. Berry e não para mim.

            - Tudo bem, Sr. Thomas... Ficarei feliz em trabalhar com o senhor. – Rachel consertou sua resposta com um ar divertido e arrancando uma gargalhada rouca do homem. O senhor tomou gole de seu copo e olhou para a vitrine de sua livraria enquanto Rachel ocupou-se em observá-lo, ele parecia ser tão experiente e tão generoso que a morena deu um sorriso involuntário, feliz por ter alguém como ele como patrão.

            O Sr. Thomas voltou o olhar para Rachel Berry e sua expressão ficou levemente triste. Ele sabia da história daquela garota, ele sabia que ela tinha voltado para Lima, fracassada e ele só queria ajudá-la a se reerguer. Por isso, o Sr. Thomas estava lhe dando o emprego, claro que o fato dela ser filha de Leroy e Hiram Berry contribuía, mas ele só queria ajudá-la. Da mesma forma que ajudara Quinn Fabray, há dois anos quando ela voltou à cidade depois de formada.

            - Entenda, Rachel... Você será a minha “faz-tudo”, algumas vezes me ajudará na organização dos livros, ás vezes irá ao banco e em outras, será até caixa. – O Sr. Thomas murmurou cuidadoso. Quando ele explicava a natureza do serviço, muitos jovens negavam-se a trabalhar para ele. Mas Rachel Berry pareceu animar-se ainda mais, os olhos dela brilharam e ela respondeu:

            - Não se preocupe, Sr. Thomas... Eu posso fazer tudo isso.

            - Só me chame de Charlie, querida... Já sou velho o bastante para alguém me chamar de senhor. – O Sr. Thomas tinha um sorriso divertido ao se levantar e ir para os fundos da livraria apanhar alguns exemplares deixados por clientes folgados. Rachel apanhou os copos de café e os jogou no lixo, indo até o caixa e guardando alguns livros que estavam jogados por ali.

            Ela olhou de relance para o Sr. Thomas que voltava para o caixa e suspirou, trabalhar estava se revelando uma experiência incrível.

            Quinn Fabray estava, como sempre, atrapalhada com as sacolas de supermercado. A loira nunca foi muito boa para lidar com listas de alimentos e produtos de limpeza, aquele era o resultado de 18 anos vivendo à custa de empregados. Quinn bufou impaciente ao esbarrar em alguém enquanto caminhava até seu sedan, ela colocou os sacos pardos contendo os alimentos no carro e apanhou os livros, rumando para a livraria do Sr. Thomas.

            Algumas pessoas a cumprimentaram, afinal, era comum a loira passar por ali, suas visitas a Charlie eram freqüentes e mesmo odiando admitir, o dono da livraria era o que mais se aproximava de uma figura paterna para ela. Quinn empurrou a velha porta de madeira e o sininho pode ser ouvido, ela sorriu quando seus olhos amendoados encontraram os olhos azuis do senhor, ele deu um sorriso bondoso e cumprimentou:

            - Bom dia, Quinn.

            - Bom dia, Charlie... Como vão as coisas por aqui? – Quinn perguntou bondosamente, colocando os livros sobre o balcão e ajudando o senhor a separá-los por gênero e autor. Charlie olhou com interesse para os livros antes de responder:

            - Estão muito bem, acho que, finalmente, encontrei alguém para te substituir!

            - Sério e quem é essa pessoa sortuda? – Quinn perguntou divertida enquanto acompanhava o senhor, Charlie estava caminhando entre as estantes atrás de algum livro para Quinn, ele adorava fazer isso, Quinn era uma espécie de filha para ele. O senhor acenou com a mão e antes que pudesse responder, uma figura pequena de cabelos castanhos e ondulados materializou-se entre os corredores e perguntou excitada:

            - Charlie, eu não encontrei onde estão os outros exemplares de “Harry Potter”... Procurei na sessão de autores britânicos e na de fantasia e não os encontrei.

            - A série “Harry Potter” está em uma sessão especial, onde ficam os maiores best-sellers da história, Rachel. – Não foi Charlie Thomas quem respondeu e sim, Quinn Fabray. Rachel, que estava de costas para a loira, fez uma careta e virou-se incomodada para a loira. Quinn, por sua vez, lhe sorria gentil. A loira apanhou os três primeiros livros que a morena segurava e caminhou entre as estantes. – Eu levo você até lá.

            - O que você está fazendo, Quinn? – Rachel perguntou irritada enquanto esforçava-se para acompanhar os passos rápidos e silenciosos de Quinn Fabray, ela pode escutar uma risadinha vinda do Sr. Thomas e vislumbrou um sorriso no rosto de Quinn quando ela virou entre as estantes. A loira parou abruptamente diante de uma estante como qualquer outra e colocou os livros ali, depois se virou para Rachel e respondeu:

            - Eu trabalhei com Charlie por dois anos, Rachel... E estou surpresa por te encontrar aqui.

            - Acho que eu ia ficar presa aos meus sonhos para sempre? – Rachel perguntou irônica enquanto dava um sorrisinho da mesma natureza. Ao colocar os seus livros na estante, notou que suas mãos tremiam. Quinn também pareceu notar, mas fingiu não ver e continuou:

            - Não, só achei que você fosse procurar alguma coisa relacionada à música.

            - Pelo visto, você realmente não me conhece, Fabray. – Rachel respondeu fria e virando-se abruptamente para Quinn. A morena arrependeu-se logo em seguida, porque aqueles olhos amendoados lhe fitavam com silenciosa dor e ela quase se perdeu em suas palavras duras. – Bem sabe que eu costumo evitar aquilo que me faz infeliz. 

            - Ah claro, então eu realmente ficou feliz em saber que eu te faço infeliz, Berry. – Quinn murmurou sarcástica e arqueando a sobrancelha daquele jeito que Rachel temia e a morena notou que o ar de cheerio malvada estava de volta na loira e que, aparentemente, aquilo já não combinava com sua aparência. – Porque você realmente parece estar me evitando.

            - Talvez eu esteja, Fabray. – Rachel respondeu teimosa e aproximando-se de Quinn com os olhos faiscando irritação, a morena colocou as mãos na cintura e começou a bater o pé direito em um ato extremamente infantil. Quinn revirou os olhos para ela e bufou, impaciente. A loira deu as costas para Rachel e antes de sumir entre as estantes, disparou:

            - E talvez, eu esteja cansada de esperar, Berry.

            Rachel engoliu em seco, suas pernas cederam e ela sentou-se no chão da pequena livraria com algumas lágrimas corajosamente contidas em seus olhos. Ela observou Quinn desaparecer entre as estantes e um aperto no peito descomunal lhe preencheu.

            Ela não queria fazer aquilo, ela não queria ver Quinn daquele jeito... Mas ela não estava pronta para lidar com a loira, pelo menos não naquele momento. Rachel Berry estava fugindo dos seus sentimentos, pela primeira vez em sua vida, por quê? Nem mesmo ela sabia, talvez fosse porque se tratava de Quinn ou talvez, porque a intensidade daquilo lhe assustava.

            Rachel não ousava nominar o que sentia por Quinn. Afinal, o que não era sufocado em sete anos, era forte o bastante para ser chamado de amor, certo? A morena engoliu em seco e colocou-se em pé, alisou a blusa que usava e levantou o nariz. Ela caminhou até o Sr. Thomas e ignorou quando ele perguntou se ela estava bem. Quinn ainda estava com ele quando ela reapareceu, mas a loira não levantou os olhos.

            E Rachel teve certeza que viu, ao menos, uma ou duas lágrimas caírem antes de Quinn sair rapidamente da livraria.

###

            Sam Evans chegou tarde em casa naquele dia, ele pensou em passar no apartamento de Quinn e fazer companhia a ela, podia ver que ela estava sentindo-se solitária... Mas se surpreendeu quando achou um pequeno bilhete amarelo em sua porta:

Por favor, eu preciso ficar sozinha. Não fique preocupado, não é nada de mais... Só preciso pensar em uma ou duas coisas e na resolução para elas. E preciso fazer isso sozinha. Prometo dar notícias amanhã de manhã. Durma bem, Quinn.

            Sam vincou a testa, preocupado. Ele olhou para a porta da amiga e até se aproximou para tentar um contato, mas Quinn o respeitara quando ele quis ficar sozinho depois do fora de Mercedes no baile de formatura há 7 anos... O mínimo que ele podia fazer no momento, era deixá-la sozinha também. Foi contra a sua vontade que Sam arrancou o bilhete colado em sua porta e entrou em seu apartamento.

            Enquanto isso, no apartamento em frente, Quinn olhava para o telefone com uma expressão indecisa. Ela segurava um papel na mão enquanto mordia o lábio inferior, nervosa. Por fim, ela pareceu ter certeza de sua decisão e rompeu a distância entre sua poltrona e o telefone, quando discou os números, sua mão tremia.

            - Casa dos Schuester, quem gostaria? – Uma voz masculina atendeu em um tom de voz formal. Quinn deu um pequeno sorriso quando a já conhecida saudosa chegou aos seus ouvidos, a loira pigarreou e disse:

            - Olá, Mr. Schue... Sou eu, Quinn.

            - Eu já te disse que sou só o William agora, Q... – Mr. Schue respondeu com um ar divertido, Quinn pode ver o sorriso dele do outro lado da linha. – O que você quer de mim a essa hora, hein Fabray?

            - Acredito que encontrei quem pode te substituir no comando do Glee Club. – Quinn disse tudo tão rápido, como se quisesse tirar aquela idéia de si o quanto antes. Ouviu um choro do outro lado da linha e Quinn lembrou-se, por breves instantes, de Beth e Shelby. Mr. Schue pigarreou e perguntou surpreso:

            - E quem seria, Quinn?

            - Rachel Berry, ela voltou à cidade. – Quinn respondeu com um sorriso satisfeito enquanto Mr. Schue soltava uma sonora gargalhada do outro lado da linha.


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Notas finais do capítulo

Eu não sei, mas eu acho Fabrevans uma fofura *-*
Nunca achei que fosse dizer isso, mas inevitavelmente, o Sam foi o melhor homem que passou pela vida da Q...
Enfim, o que acharam da amizade dos dois? E a Rachel trabalhando no mesmo lugar que a Quinn já trabalhou um dia... Seria o destino? KKKK
E eu acho que todo mundo entendeu o que a Quinn pensa a respeito da Rachel e o que está disposta a fazer por ela... Não são duas fofas? *-*
Mas então... Quero reviews, viu? Sei que tem muitas Faberry por aqui, mas percam um tempinho e me façam feliz, tá? xD
Beijos e até o próximo capítulo! (:
PS: Música para escutar com o capítulo - Theory of a Deadman, Wait For Me.