Signal Fire escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 25
Entradas e Retiradas I


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, leitores!

Finalmente consegui postar um capítulo no horário normal de vida Hahahaha Chega de postar de madrugada! *-*

Desimportâncias à parte, aqui estou eu com mais um capítulo de "Signal Fire" e já adianto que esse capítulo é um dos mais intensos e, ao mesmo tempo, delicados de toda a fanfic. Foi muito complicado escrevê-lo e ainda conseguir passar tudo que eu queria apenas com palavras... Ele foi dividido em duas partes, pois são dois dias cruciais para a fanfic.

Também, com medo de que minhas palavras não bastassem, selecionei três músicas para vocês escutarem enquanto leem o capítulo, são elas:
La Petite Mort, Coeur De Pirate
Feels Like Home, Edwina Hayes
You, Keaton Henson
Eu tenho certeza que vocês relacionarão as músicas às cenas.

Espero que gostem, boa leitura!



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– Você conseguiu moer seus dedos no rosto de Sam... - Quinn comentou divertida enquanto segurava a mão direita de Rachel entre as suas e examinava o inchaço e o roxo que, lentamente, começavam a deformar os dedos delicados da morena. Um gemido de dor foi feito por Rachel quando Quinn apertou sua mão com um pouquinho de força, Quinn olhou preocupada para ela e Rachel, dolorida, respondeu de mal grado:

– Provavelmente, foi a cara de pau dele que quebrou meus dedos!

– Não fale assim dele, sabe que ele não fez por mal. - Quinn murmurou repreensiva e um pouco apreensiva pela resposta da morena, Rachel apenas bufou irritada e Quinn ergueu os olhos para o rosto moreno. As duas se olharam, Quinn notou o leve franzir da pele ao redor dos lábios de Rachel diante do bico emburrado que se formara e também, notou que os olhos estavam mais escuros e distantes. Quinn sorriu e aplicou um selinho bem dado nos lábios carnudos. - E eu não estou brigando contigo, desfaça essa carinha emburrada agora!

Rachel demorou a ceder, mas Quinn soltou sua mão devagar e ficou em pé, empurrando-se de encontro ao seu corpo que estava sentado sobre o balcão da cozinha e, inevitavelmente, Rachel suspirou pesado. A loira deu um sorriso vitorioso e segurou a face de Rachel, beijando-a delicadamente nos lábios e passando, carinhosamente, o nariz por sua bochecha. Rachel sorriu, derrotada e, imersa no carinho que era dedicado ao seu rosto, disse de olhos fechados:

– Você tem que parar de ganhar tudo na base da sedução!

– E você tem que parar de ser tão facilmente seduzível... - Quinn retrucou brincalhona, se afastando entre risos para observar Rachel ficar emburrada e contrariada mais uma vez. Quinn tornou a envolver a mão dela entre as suas e a enfaixou firmemente com uma atadura. - Eu não tenho absolutamente culpa alguma se você fica irresistível quando está emburrada. Eu simplesmente não resisto e preciso te beijar.

– E o que a senhorita está fazendo, me torturando com essa atadura, enquanto poderia estar me beijando? - Rachel perguntou manhosa, fazendo uma careta para sua mão que ainda estava dolorida, mesmo envolvida pela cuidadosa imobilização que Quinn havia feito. A loira deu mais um daqueles sorrisos doces, aqueles que hipnotizavam Rachel e faziam com que ela se sentisse acima de qualquer coisa na Terra.

Lentamente, com toques delicados, Quinn apertou-se ainda mais entre as longas pernas torneadas da morena e afagou o rosto de Rachel com a mão esquerda e segurou, cuidadosamente, a mão esquerda machucada de Rachel com a sua direita. Olhou-a terna, apaixonada e inebriada naqueles sentimentos que carregavam seu coração. Rachel inclinou o rosto, procurando sentir ainda mais o calor que emanava da palma da mão de Quinn, aquele calor que parecia lhe pertencer agora.

Foi a morena quem inclinou a coluna para frente e segurou o rosto de Quinn com sua mão sadia, trazendo mais uma vez os lábios róseos de encontro aos seus carnudos. Um encostar de lábios e, no instante seguinte, a chama cresceu e acomodou-se entre elas. As pernas de Rachel envolveram a cintura de Quinn no exato momento em que uma mão da loira apertou a base de sua coluna e os dedos da outra se enroscaram nos longos fios castanhos.

Rachel separou os lábios por alguns seguintes e ofegou quando sentiu a boca de Quinn desencontrar a sua e partir em direção a sua mandíbula. Os olhos de Rachel estavam escuros e semicerrados, a respiração entrecortada denotava quão envolvida a morena estava nos carinhos que lhe eram ofertados... Rachel abriu um sorriso, realizada e perdida nas sensações quentes e sensuais que tomavam cada pedaço de seu corpo que Quinn tocava com a ponta dos dedos.

Mesmo antes, quando ainda não provara daqueles toques, Rachel já sabia que ninguém a tocaria como Quinn pudesse tocar. Mesmo os abraços que as duas trocavam ainda quando eram amigas já era o bastante para que a morena se sentisse segura, aberta e acolhida.

Era mágico como cada pelo de seu corpo arrepiava-se com o resvalar dos dedos de Quinn em sua pele, era impressionante como a boca de Quinn sabia exatamente onde marcar a sua pele e era ainda mais inexplicável o que a boca de Quinn fazia com a sua... Isso sem mencionar as unhas, as mãos, o próprio ar que a loira respirava e exalava em seus poros...

Rachel não se lembrava de sentir aquilo com nenhum dos homens e mulheres que passaram por sua cama, nem em Lima, muito menos em New York. Não havia sentimento em nenhuma das noites em que dormiu acompanhada, perdida entre seus sonhos despedaçados. Rachel só conseguia dormir quando pensava em Quinn. Sempre foi ela, sempre seria ela... Quinn era o fogo que jamais se apagou no interior do seu coração, era o que lhe esquentava nas noites frias e a inflamava quando ela precisava brilhar.

Rachel nascera para ser amada por Quinn.

E aqueles toques, aquele olhar, aqueles batimentos cardíacos que quase a impediam de respirar eram a prova de que sempre existiu muito mais do que, na época do colégio, elas ousaram explorar. O que elas sempre tiveram era inexplicável, era caótico, era amargo... Mas era agridoce, era sensual e, principalmente, apaixonado.

Rachel sentiu Quinn afastar a mão de sua coxa bruscamente, o aperto em sua cintura também desapareceu. Assim como a boca que não mais beijava a sua e sim, beijava sua testa, os lábios estavam trêmulos e inseguros. A morena observou Quinn materializar-se a sua frente, corada, ofegante e com os lábios inchados sorrindo grandemente. Rachel fez uma pequena careta e, confusa, perguntou:

– Por que paramos, mesmo?

– Você está com a mão machucada e eu não quero lhe causar dor, meu amor... - Quinn respondeu envergonhada, escondendo o rosto no meio dos cabelos castanhos. Rachel riu roucamente, mas achou extremamente fofa a preocupação de Quinn em relação a sua mão. Quinn sentiu as bochechas esquentarem ainda mais quando escutou a risada de Rachel. - E eu não estou querendo dizer que estou preocupada apenas com a sua mão. Estou preocupada com todo o seu corpo.

– Eu disse que você jamais esqueceria a magia que eu faço com meus dedos depois que a experimentasse, Fabray! - Rachel respondeu maliciosa e com um sorrisinho egocêntrico nos lábios, o tom de voz dela fez Quinn se afastar novamente e revirar os olhos, estava excitada e frustrada e a morena não estava ajudando em nada. Rachel lhe deu um selinho que terminou com um sorriso de ambas. Quinn separou-se dela e suspirou longamente, um pequeno sorriso de lado brotou em seu rosto e gentil, disse:

– Venha, eu vou preparar a banheira para você.

– Não acho justo desfrutar dessa banheira sozinha, Quinn! - Rachel comentou contrariada enquanto observava as espumas começarem a irromper lentamente na superfície translúcida da água morna da banheira. Quinn riu dela e continuou seu trabalho, acendendo algumas velas e colocando Coeur De Pirate para tocar no equipamento de som do quarto. As teclas do piano tomaram a cena no exato momento em que ela virou-se para Rachel.

Depois de muita discussão, muitos beijos e muitas mordidas, Quinn finalmente conseguira fazer Rachel despir-se e vestir o seu quimono vermelho para esperar até que a banheira atingisse o ideal. Parecia uma boa ideia que Rachel relaxasse, mas estava sendo complicado não olhar para as pernas morenas parcialmente cobertas. As velas, a meia luz do banheiro, o espelho levemente embaçado, a banheira morna... Quinn criara uma aura sexual sem sequer ter noção do que fazia. Naquele momento, Sam estava esquecido no fundo de sua cabeça.

– Quinn? Você me escutou? - Rachel perguntou ligeiramente emburrada, cruzando os braços na frente do corpo e arrependendo-se logo em seguida com uma careta dolorida, a mão machucada doera. Quinn piscou os olhos, Rachel entrou em foco, aparentemente, perdera um dos seus monólogos.

Pele morena, ligeiramente dourada por razão das chamas das velas aromáticas. Os fios morenos enrolados em um coque solto, com algumas mechas descendo pelos locais certos de seu pescoço e seus ombros. A expressão de testa franzida e lábios crispados. O pé direito batendo impaciente... Quinn precisou respirar algumas vezes para responder embaraçada:

– É melhor não arriscarmos um banho juntas, ainda mais agora.

– Você também merece relaxar, meu amor... - Rachel murmurou lentamente, caminhando em direção a Quinn. A loira recuou vários passos até sentir suas costas atingirem a bancada da banheira, Quinn sentou-se derrotada e esperou Rachel chegar até ela e sentar em seu colo. Rachel sorriu e acariciou seu pescoço, colocou seus cabelos para trás com um carinho das mãos e beijou a sua bochecha delicada, arrancando um sorriso da loira. - Eu não vou deixar que você cansada e esgotada, cuide de mim. Eu me machuquei, mas também posso cuidar de você hoje.

– O ato de cuidar não está em discussão aqui. O problema é o que vamos fazer para “cuidarmos” uma da outra, pequena... - Quinn respondeu com os olhos verdes intensos, brilhando dourados em meio à luz das velas. Rachel sorriu para ela inocentemente e Quinn beijou os lábios carnudos com os resquícios do sorriso ainda em sua boca. Separaram-se já sem ar, as mãos de ambas não conseguiam ficar somente no pescoço ou na cintura da outra, e Quinn fechou os olhos, respirando fundo e acariciando a bochecha da morena com seu nariz. Rachel arranhou a sua nuca e suplicou roucamente:

– Eu só estou pedindo para que você entre na banheira comigo.

– Justamente porque você não sabe como é irresistível para mim... Eu não vou conseguir me controlar. - Quinn resmungou ligeiramente frustrada e escondendo-se no pescoço moreno, sentindo o aroma doce de Rachel inflamar ainda mais o desejo em seu corpo e ela apertou a morena ainda mais junto a si. Rachel revirou os olhos, discretamente, diante da teimosia de sua amada e lutou contra ela para ficar em pé.

Deu um passo para longe de Quinn que ficou a observá-la em silêncio, a loira tinha uma expressão curiosa no rosto... Rugas discretas na testa, os olhos verdes encobertos pela aura de desejo, a boca levemente crispada e a sobrancelha direita arqueada... Rachel sorriu. Se ela era irresistível, Quinn era a deusa da sedução, mesmo quando não queria. Lentamente, Rachel desatou o nó do quimono em sua cintura, segurou o tecido que contornava o seu corpo e deixou Quinn morder os lábios, interessada e excitada. De súbito, abriu o quimono e observou Quinn respirar com dificuldade. Rachel deixou o quimono escorregar por seus ombros e virou-se de costas, segura de si. Sexy. Sedutora.

Olhou por cima dos ombros e viu Quinn apertar as bordas da bancada da banheira procurando se controlar. Caminhou até ela e, no último momento, desviou seu rumo, colocando a perna direita na banheira. A água morna tocou seu tornozelo e ela sorriu, anestesiada antes de colocar todo o corpo na água e sorrir inocentemente para Quinn.

Enquanto isso, a loira apertava as mãos e fechava os olhos, suspirando pesado. A imagem de Rachel perfeitamente visível em sua cabeça, aquele corpo nu que só vira em uma noite, mas que as sensações provocadas por ele estavam impressas não em seu próprio corpo, mas em sua alma. Sentiu seu sexo apertar e cruzou as pernas... Sentia os dedos de Rachel dentro de si, sentia as mordidas dela em seu corpo, sentia os lábios dela acariciando sua pele... Olhou para a banheira e Rachel arqueou a sobrancelha para ela, sexy, a morena disse:

– Eu realmente estou te esperando, Quinn. Eu confio em você. Sei que não vamos nos machucar... E se tiver que acontecer alguma coisa hoje, vai acontecer, nós duas sabemos que não existe forma de controlar certas coisas. No mais, eu só quero algumas horas na banheira contigo.

Quinn observou a verdade nos olhos escuros e talvez, isso a impulsionou para frente e a fez se levantar. Rachel observou Quinn sair do banheiro para voltar, minutos depois, envolta em um quimono azul marinho e com a cartela de cigarros mentolados e o isqueiro a tira colo. Envergonhada, corada, exposta... Quinn deixou o quimono cair por seus ombros e entrou na banheira, sentando-se no lado oposto a Rachel.

Mesmo diante de toda rapidez nos movimentos tímidos de Quinn, Rachel mordeu o lábio, desejosa, quando viu aquela pele branca e tão perfeita exposta. Observou Quinn acender o cigarro e tragá-lo, trêmula. Rachel riu dela e reclamou maliciosa:

– Você não está ajudando nada ao tragar esse cigarro!

– Eu só estou nervosa e preciso de nicotina quando fico assim. - Quinn respondeu sorrindo de lado e arqueando a sobrancelha, lembrando muito a cheerio que fora no colégio, parecia predadora agora. Rachel riu novamente e sentiu seu interior inflamar quando viu a expressão ligeiramente animalesca no rosto de Quinn, deslizou até ela, Quinn se espremeu de encontro à parede da banheira, ainda suscetível ao seu nervosismo. Mas nada disso adiantou.

Rachel estava sentada entre as pernas brancas dobradas em ângulo reto. A morena recostou-se no corpo pálido, gemendo satisfeita quando sentiu o calor da outra encontrar o seu. Puxou o braço de Quinn com sua mão sadia e envolveu seu quadril com o mesmo, inclinou a cabeça para o lado e, olhando para a loira, respondeu:

– Não gosto de cigarros, não gosto do que fazem à saúde e, principalmente, à voz... Mas alguma coisa em você fumando é absolutamente sexy.

Quinn gargalhou e tragou mais uma vez, expeliu a fumaça , relaxada. Olhou para Rachel mais uma vez, esta estava olhando-a com adoração, Quinn suspirou e finalmente desistiu de lutar contra seus desejos. Ela queria Rachel naquela noite e resistir a essa verdade incontestável só faria as coisas saírem de controle. E Rachel confiava nela, sabia que ela ia ser cuidadosa... Quinn finalmente deixou-se levar, aproximou-se de Rachel e beijou-a profundamente. A morena apertou a sua coxa e respirou pesado quando os beijos tomaram o rumo de sua orelha, inebriada pelo cheiro mentolado que agora vinha do hálito da loira. Quinn mordeu sua orelha levemente e arranhou o ponto de pulso com os dentes, arrastando-os até o queixo. Rachel suspirou pesadamente e Quinn comentou excitada:

– Eu realmente estou perdendo o controle aqui.

– Eu não me lembro de ter pedido para você controlar-se. - Rachel murmurou sôfrega, sentindo as unhas de Quinn arranhando a sua barriga e passarem lentamente por seu sexo, rejeitando-o e chegando as suas coxas. Quinn ajeitou o cigarro no canto dos lábios e sorriu para ela, cheia de segundas intenções.

Era aquele sorriso que Rachel esperara a noite toda.

As carícias continuaram, até que Rachel foi surpreendida com os dedos, indicador e médio, de Quinn acariciando o seu clitóris. O ponto pulsante já estava endurecido e ela se contorceu entre as pernas de Quinn, a loira a manteve no lugar, chupando dolorosamente o ponto de pulso de seu pescoço. Quinn continuou a estimulá-la vagarosamente, aproveitando o quanto podia da sua imobilidade. Surpreendendo-se com o fato de que, quanto mais a estimulava, mais o corpo moreno respondia sensitivamente aos seus toques. Quinn se sentia no controle de tudo naquele momento.

Quinn parou, bruscamente, para dar mais uma tragada no cigarro e Rachel a observou, em um misto de hipnose e descrença, Quinn sorriu maligna para ela e terminou o cigarro. Assim que suas mãos voltaram para o corpo da morena, ela a penetrou sem aviso prévio e escutou Rachel gemer seu nome, para todo o prédio escutar.

A mão esquerda de Quinn subiu arranhando todo o caminho entre a barriga de Rachel e seu seio, onde passou a acariciar ao mesmo tempo em que a penetrava. Uma, duas, três vezes... Mais um dedo fora adicionado, a pedido da própria Rachel que gemia e remexia-se sem controle algum, totalmente entregue, de olhos fechados.

Quinn observava as reações da morena, totalmente absorta no corpo daquela pequena. Sentindo o prazer dela ecoar em dobro em seu próprio corpo, seu sexo estava excitado e ela nem sequer se tocara. Passou a penetrá-la com mais força e Rachel correspondeu, rebolando de encontro aos seus dedos. Quinn mordeu-lhe o ombro, sôfrega e sentiu a mão de Rachel agarrar e puxar seus fios de cabelo.

Rachel continuou a ditar os movimentos com o quadril até que, subitamente, caiu para frente, trêmula, agitando toda a água ao seu redor... O orgasmo mais intenso de sua vida também fora o mais silencioso e mais íntimo. De olhos fechados, ainda sentindo as contrações deliciosas em todo seu corpo, sentiu beijos em seus ombros e nuca e braços carinhosos envolvendo-a por baixo da água. Deixou-se levar para o corpo de Quinn e agradeceu o carinho que agora, recebia.

Quinn, por sua vez, tivera seu primeiro orgasmo sem tocar em uma parte sequer de seu corpo. Seu coração estava acelerado e seu corpo estava exausto pelo prazer que proporcionara a Rachel. Observava a morena, de olhos fechados e expressão em paz e resolveu-se entregar a essa sensação também. Respirou profundamente e expeliu o ar antes de, roucamente, sibilar:

La petite mort...

– Não é uma boa ideia falar francês comigo agora. Eu mal estou conseguindo sentir minhas pernas... E só sei que isso tem a ver com um orgasmo poderoso. - Rachel sibilou com um sorriso preguiçoso, abrindo os olhos vagarosamente. Quinn riu roucamente em seu ouvido e apertou-a ainda mais em seus braços, respondendo:

– Sim, é um eufemismo para a sensação de inconsciência pós-orgasmo.

– Você fica muito sexy quando banca a professora. - Rachel retrucou preguiçosa, virando-se de frente para Quinn e encaixando-a em um abraço sensual. A loira abriu os olhos, o verde claro estava límpido agora, sem a nuvem de desejo encobrindo-o. Rachel achou aquele tom de verde ainda mais lindo, ainda mais Quinn... A loira aproximou-se e beijou-lhe os lábios levemente, encostou as testas de ambas e confessou baixinho:

– E você fica absurdamente linda depois de um orgasmo.

Rachel deixou que as lágrimas chegassem sorrateiras aos seus olhos, puxou Quinn pelo pescoço e enlaçou-a em um abraço apertado e necessitado. Silenciosamente, Rachel chorou no pescoço suado de Quinn, sentindo o cheiro amadeirado que vinha da transpiração da loira e, naquele local tão quente e familiar, confessou também:

– Eu quis me entregar para você durante todo esse tempo e agora, eu estou sem reação alguma.

– Não precisa fazer nada... Só me deixe fazer uma coisa... - Quinn disse emocionada, pedindo permissão enquanto se afastava da morena. Rachel olhou confusa a ela e Quinn sorriu, as bochechas corando. - Só me deixe continuar a te amar.

– Eu te amo. - Rachel retrucou com um sorriso frágil que logo fez Quinn se aproximar novamente, apertando-a em seus braços e murmurando baixinho em seu ouvido:

– Eu também, meu amor. Eu também, sempre te amei...

***

A dor em seu queixo estava realmente começando a incomodar. Sam Evans ajeitou a bolsa de gelo, mas sem conseguir alívio para a dor. Também sentira que sua mandíbula estava inchada. Seus olhos estavam turvos por causa da quantidade de analgésicos que consumira no desespero de aplacar a sua dor. Ou talvez, Sam acreditava piamente que os remédios pudessem derrubá-lo em um sono sem sonhos.

Sam fechou os olhos e, subitamente, no silêncio de seu apartamento, rompeu-se uma gargalhada fria e sem sentimentos. O loiro, em seguida, esmurrou o encosto do sofá com fúria... Sentia-se idiota. Quem era ele para questionar o que Rachel e Quinn sentiam? Ele jamais vivera algo do tipo, era ele quem vivera anos em função de um amor não correspondido. De um desejo que, quando era aplacado, era dispensado. Mercedes só vinha até ele quando Shane não mais a fazia feliz. E quando o marido dela voltava... Ela pertencia a ele.

Sam sempre fora, desde o começo, a distração. A saída que ela tinha de sua vida tão entediante. Sam nunca se enxergara como um substituto, mas era isso que era. Aliás, parecia que isso era uma tendência em sua vida. Fora o quaterback reserva de Finn, fora o namorado de Quinn na faculdade colocado na opção de melhor amigo, era aquele a quem todos recorriam... Mas que ninguém cuidava.

Sam sentiu uma vontade intensa para beber. Mas não era burro o bastante para fazer aquilo. Pararia no hospital se misturasse álcool com analgésicos. Portanto, contentou-se em fechar os olhos e tentar dormir... Ignorando a dor em seu queixo que era muito mais fraca que a dor que apertava em seu coração. Também procurou ignorar as lágrimas que, em silêncio e sem aviso prévio, banharam seu rosto. O rapaz respirou profundamente e quebrou-se em um choro desesperado e silencioso.

Nunca se sentira tão sozinho como estava agora. Sentiu falta dos seus pais já falecidos, dos seus irmãos que, nesse momento, estavam terminando a faculdade em algum lugar do país... Sentiu falta de Quinn. Deixara seu porto seguro afundar por causa de uma besteira, de excesso de proteção. Quinn o deixara viver a sua história com Mercedes sem opinar e ele não retribuíra da mesma forma. Pelo contrário, só a magoou e magoou Rachel. Justo ele que, no Natal do ano passado, queria que as duas se aproximassem.

Sam sentiu-se ingrato.

As batidas na porta interromperam seu raciocínio. O rapaz pulou no sofá, assustado e levantou-se, caminhou até a porta gemendo de dor e se arrastando pelo apartamento escuro. Não teve paciência para olhar no olho mágico da porta, jogou a bolsa de gelo em qualquer lugar e, impaciente, abriu a porta.

Nem teve tempo para ver quem era.

– OH MEU DEUS, SAMUEL! O QUE FIZERAM COM SEU ROSTO? - A voz esganiçada de Kurt tornou-se ainda mais aguda quando ele perguntou gritando o que tinha acontecido com seu rosto. Sam desviou-se das mãos do decorador e do olhar preocupado de Karofsky, entrando novamente em seu apartamento e olhando-se no espelho do banheiro.

Assustou-se. Seu lábio inferior estava cortado e a região que compreendia sua bochecha direita e seu queixo estava inchada e tornando-se ligeiramente roxa, desfigurando o rosto do rapaz. Sam não agüentou, parecia derrotado o bastante e começou a rir no banheiro. Karofsky apareceu atrás dele e, rudemente, o levou até a sala. O apartamento estava claro agora, Sam piscou incomodado para as luzes enquanto era jogado sem cerimônias no sofá. Seu rosto esbarrou no encosto e doeu.

– Dave, você já pode ser um pouco mais gentil com ele! - Kurt bronqueou irritado enquanto sentava-se ao lado de Sam com uma nova bolsa de gelo e a depositava cuidadosamente no ferimento do rapaz. Karofsky bufou um pouco incomodado e retrucou:

– Sempre que viemos aqui, Sam está em um estado deplorável. Hoje, parece que brigou com uma gangue! Eu não consigo ser gentil diante de tamanha irresponsabilidade!

– Na verdade, foi só uma pessoa. - Sam respondeu ligeiramente envergonhado, sentindo o calor percorrer seu pescoço e chegar em suas bochechas. O rapaz segurou a bolsa de gelo no lugar, fazendo uma careta de dor quando ela apertou um ponto altamente dolorido do seu rosto. Kurt afagou seu ombro preocupado, Sam encolheu-se, aquela noite estava sendo muito pior do que imaginava que seria. - E vocês jamais acreditariam se eu dissesse quem foi.

– Depois de você ser stripper e viver por anos como amante de Mercedes, eu acho que nada mais me surpreende. - Kurt comentou sincero e até rindo de lado, Sam o acompanhou com um sorriso tristonho e Karofsky bufou para, em seguida, lançar um olhar de advertência para Kurt que se encolheu, calado.

Sam suspirou e fechou os olhos, a dor realmente estava intensa. Ele não tinha vergonha de dizer que Rachel Berry partira a sua cara em duas, na verdade, estava preocupado com a mão da morena. Porém, tinha vergonha do que fizera e sabia que o casal que estava em seu apartamento lhe bronquearia até a sua última geração. Só que não era do feitio de Sam Evans esconder seus erros, ele era honesto e gentil e era aquilo que o fazia dele o melhor amigo de Quinn Fabray e Santana Lopez. Ele era, de certa forma, o equilíbrio entre a fúria de Santana e a fragilidade de Quinn... Por isso, ele suspirou e respondeu dolorido:

– Rachel fez isso.

– E quando foi que Rachel resolveu ser pugilista?! - Kurt perguntou chocado dramaticamente, Sam riu de lado, sentindo a dor incomodar novamente suas ações. Abriu os olhos e Karofsky sorria divertido, o grandalhão sentou-se ao lado de Sam no sofá e abraçou pelos ombros. Sam sentiu-se estranho quando percebeu quão paternal era aquela atitude. Karofsky olhou para ele e perguntou preocupado:

– O que você disse para ela?

– Como sabe que eu disse alguma coisa?! - Sam perguntou alarmado, os olhos verdes estavam arregalados e ele agora tremia de medo pelo seu erro. Kurt arqueou a sobrancelha e disse sensato, segurando-lhe a mão:

– Rachel passou muito tempo longe de nós, mas eu fui amigo dela por boa parte do tempo e sei que ela seria incapaz de machucar alguém... A não ser se realmente a ferissem.

Sam engoliu em seco e tentou não olhar para os dois homens a sua frente. Precisava se concentrar e reunir, dentro do seu corpo, uma coragem que ele não precisava usar há bastante tempo. Por sua sorte, a vergonha de manter suas atitudes somente para si o fez falar inseguro:

– Eu realmente a machuquei... Eu disse a ela que ela não amava Quinn.

– Agora eu entendi a razão do soco. - Karofsky comentou preocupado, coçando o queixo e olhando de esguelha para o companheiro, esperando Kurt explodir a qualquer momento. O decorador abriu e fechou a boca várias vezes, enquanto Sam suspirava aliviado... Porém, assim que se colocou em pé, Kurt puxou Sam do sofá com o máximo de força que possuía e esbravejou:

– Nós vamos ao médico só para eu ter o prazer de ver a sua cara recém-consertada ser, novamente, quebrada pela Rachel!

Sam engoliu em seco deixando-se ser arrastado para fora do apartamento.

O trio chegou ao Hospital de Lima arrancando olhares curiosos. Kurt caminhava a frente rapidamente, o queixo erguido e o nariz empinado, mantendo Karofsky e Sam afastados somente por essa postura afetada. Karofsky ajudava Sam a caminhar, abraçando-o pelos ombros. Sam caminhava de cabeça baixa e, no momento, evitava pensar em qualquer coisa que não envolvesse o ato de segurar a bolsa de gelo.

Kurt parou na recepção e bateu as unhas impaciente no balcão. A enfermeira-chefe caminhou até ele, lentamente e entediada. O rapaz olhou para ela de cima a baixo e disse autoritário:

– Meu amigo levou um soco no final da tarde e eu acho que ele fraturou a mandíbula.

– Se levou o soco à tarde, por que demorou tanto a vir ao hospital? - A enfermeira perguntou rabugenta, lançando um olhar inquieto para o trio. Karofsky franziu a testa, indignado e Kurt bufou, Sam revirou os olhos e respondeu de mal grado:

– Sua função aqui não é bisbilhotar a vida alheia. Eu estou com muita dor e se a senhorita não arrumar algum analgésico nesse exato momento, eu tenho uma amiga advogada que adoraria processar o hospital por descaso aos pacientes da emergência.

A enfermeira arregalou os olhos e assumiu uma postura ofendida. Em passos duros e rápidos, ela saiu de trás do balcão e o trio a seguiu até a enfermaria. O local estava silencioso e vazio, Lima registrava poucas emergências e quando as registrava, a maioria era encaminhada para as cidades maiores com hospitais melhores equipados do que aquele.

Sam sentou-se na maca e respirou fundo. Kurt mal chegara e saiu vociferando que precisava de cafeína para suportas as pessoas que estavam ao seu redor, Karofsky sorriu derrotado e deu de ombros, antes de acompanhar o companheiro. Sam permitiu-se rir da interação dos dois para, depois, recolher-se a mais um silêncio solitário.

O rapaz deitou-se sobre a maca e fechou os olhos, finalmente estava sonolento. Porém, os analgésicos o deixaram com sono, mas não aplacaram a dor. Sentiu seu queixo reclamar dolorido diante da mudança do eixo de gravidade, mas tentou ignorar e procurou se entregar aos braços de Morfeu...

Escutou passos leves que, com certeza, não pertenciam a mesma enfermeira que os recepcionara. Escutou alguns barulhos metálicos, seguido de rodas a se arrastarem pelo chão. Depois, Sam sentiu o calor de um corpo próximo do seu. Em seguida, escutou uma voz risonha dizer:

– Tenho certeza que ficar deitado não é a melhor opção agora.

Havia algo de familiar naquela voz que fez Sam abrir os olhos abruptamente. Seus olhos verdes encontraram uma figura feminina alta, de olhos azuis generosos, pele clara e cabelos castanho-escuros lisos que caíam perfeitamente sobre o tecido rosa do uniforme das enfermeiras. A boca bem desenhada abriu um sorriso divertido.

Sam hipnotizou-se, instantaneamente, por eles. O rapaz colocou-se sentado abruptamente, fazendo uma careta de dor quando todo o sangue do seu corpo pareceu ir para seu queixo. Sentiu duas mãos pequenas segurarem seus ombros, para depois, habilidosamente, ajeitar os travesseiros em suas costas. Sam foi empurrado gentilmente em direção à maciez dos travesseiros e pode, novamente, olhar para a enfermeira que cuidava dele.

– Marley? - Sam perguntou inseguro à enfermeira que sorriu ainda mais para ele, virando-se para a bancada de instrumentais. Os dois tornaram a se olhar quando Marley tirou a bolsa de gelo do seu queixo e fez uma careta divertida para o seu ferimento. A enfermeira suspirou e disse calmamente:

– Bem, vamos precisar de uma radiografia. Mas eu acho que, talvez, você possa ter trincado alguns ossos.

– O que raios você está fazendo aqui? - Sam perguntou confuso, seu coração remexeu-se inquieto em seu peito, deixando-o ainda mais confuso. Marley riu para ele, saindo de seu campo de visão para voltar com uma cadeira de rodas. Ela não respondeu nada até que Sam sentasse e ela o conduzisse pelos corredores silenciosos do hospital. Os dois já haviam chego à sala de raio-x quando ela disse divertida:

– É uma longa história, Sam.

– Você não queria cantar? - Sam perguntou indelicado, sentindo a curiosidade chegar a superfície de seu corpo. Marley baixou os olhos, mas o sorriso não desapareceu de sua boca. A enfermeira ajudou-o a se levantar e Sam foi colocado sobre uma nova maca, com um enorme cilindro sobre seu rosto. Marley debruçou-se sobre ele, ajeitando o aparelho, os cabelos caindo sobre seus ombros e espalhando um cheiro doce na sala escura. Sam respirou profundamente e fechou os olhos, escutando Marley responder tranquilamente, com resquícios de amargura na voz:

– E você queria ser quaterback, Sam... Nem todo mundo realizou seus sonhos depois do colegial.

Sam ia concordar com ela, mas percebeu que estava sozinho. A porta se fechara e um clique anunciou que o raio-x havia sido tirado. Marley voltou a sala e Sam sentou-se novamente na cadeira, o percurso até a enfermaria foi feito em silêncio. Enquanto sentava, novamente, na maca, Sam observou Marley trabalhar, percorrendo o local em busca de instrumentos, medicamentos e ataduras.

Ela parecia familiarizada com todo aquele ambiente e, aos olhos de Sam, parecia ser uma boa enfermeira. Observava os movimentos dela em um misto de curiosidade e certa felicidade... Estudara com Marley apenas um ano e já se apegara a ela. Marley era deslocada no colegial e, como a maioria no Glee Club, virava outra pessoa quando estava no palco. Era ela talentosa, não como Rachel, tinha sonhos e Sam realmente acreditava que ela fosse sair de Lima.

Alguma coisa em Marley, desde o começo, o encantara. Ele não se apaixonara por ela, ainda pensava muito em Mercedes na época, mas a delicadeza e, de certa forma, a insegurança e fragilidade dela o encantavam. Ela lembrava Quinn, ás vezes. E enquanto esteve com ela no McKinley, ele se lembrava da loira. Até que os dois se encontraram na faculdade e namoraram. Depois que se formara, nunca mais soubera de Marley e agora, se perguntara como nunca a vira na Universidade de Ohio.

Marley aproximou-se dele e fez sinal para que ele se sentasse. Nesse instante, Kurt chegou ao quarto com um envelope pardo na mão que Sam deduziu que fosse o seu raio-x. Marley sorriu e cumprimentou Kurt educadamente, depois, apanhou o envelope e tirou o negativo de lá de dentro, indo até o negatoscópio. Acendeu-o e Sam viu seus ossos craniais expostos por algum tempo na luz, até que ela voltou a ele com um sorriso satisfeito no rosto e disse tranqüila:

– Você só trincou uma das suturas, mas foi bem leve... Por isso o inchaço e a dor, seu corpo está cuidando disso. Só vou pedir alguns antiinflamatórios na farmácia e assegurar que você descanse nessa noite.

– Ele vai ter que passar a noite no hospital? - Kurt perguntou preocupado, ele parecia bem mais tranqüilo e Sam se perguntava o que Karofsky havia feito para acalmá-lo... Marley acenou afirmativamente com a cabeça e tranqüilizou Kurt:

– Não é nada sério, a pessoa que o atingiu não sabia lutar, provavelmente. Do contrário, a força de um soco bem dado poderia ter feito um estrago maior. Sam está bem, você e Dave podem descansar, eu fico aqui. O Hospital de Lima não tem um histórico movimentado na madrugada.

Kurt sorriu de lado e agradeceu a ela, depois, acenou de cara fechada para Sam que retribuiu envergonhado, sabia que a conversa séria ainda estava por vir. O decorador saiu da enfermaria e Sam esperou Marley voltar instantes depois, com um comprimido em mãos e um copo de água. A enfermeira ofereceu a ele, ainda exalando meiguice e gentileza em todas as atitudes, e explicou:

– Sei que já tomou alguns analgésicos, você está dopado o bastante. Mas esse é um comprimido de Advil, vai diminuir o inchaço e a dor. Quem sabe, amanhã você já estará pronto para ir para casa.

Sam engoliu o comprimido, sentindo-o arranhar sua garganta, mesmo com um longo gole de água. Marley ia sair da enfermaria quando, na iminência de ficar sozinho, Sam perguntou:

– Você não disse que ia ficar aqui?

– Eu disse, Sam... - Marley respondeu envergonhada, com um tom róseo ocupando suas bochechas, ela abaixou a cabeça e ajeitou os cabelos escuros. Olhou novamente para ele e os olhos azuis esperançosos encontraram os verdes vazios, um choque de realidades que trouxe um pouco de paz para ambos, naquele momento. Sam sentiu o ritmo de seu corpo diminuir... Talvez fosse o remédio fazendo efeito, afinal. - Mas eu só preciso preencher a papelada da sua entrada no hospital.

– Ok, eu vou te esperar... - Sam murmurou debilmente antes de deitar a cabeça no travesseiro e apagar, ao som das risadas divertidas de Marley.

***

– Dra. Lopez, a liberdade finalmente foi concedida a sua client...!. - Caroline entrou na sala de interrogatório com um sorriso satisfeito, mas parando bruscamente ao entender a cena que estava desenrolando-se minutos antes de sua chegada.

Santana soltou as mãos de Kathryn rapidamente e colocou-se em pé, procurando ajeitar a camisa social que usava. A latina corou furiosamente quando viu a expressão chocada de Caroline transformar-se em um sorriso malicioso, a promotora pigarreou fazendo Kathryn abaixar a cabeça e sorrir, envergonhada. Santana lançou um olhar agressivo para Caroline e disse desconfortável:

– Achei que não ia existir tanta burocracia, o juiz assegurou que ela sairia no final da tarde.

– Sempre impaciente, não é Dra. Lopez? Sempre se esquecendo que a paciência é uma grande virtude em nós do Judiciário. - Caroline comentou cheia de escárnio, com uma expressão irônica que fez Santana revirar os olhos. A Promotora Vellini conhecia muito sobre a sua vida, não tanto quanto Quinn saberia naquele momento, mas o bastante para poder lhe atacar e rir de sua fúria, como fazia agora. Santana apertou os punhos e respirou fundo. Kathryn ainda controlava a risada. - E eu tenho a ligeira impressão que esse tempo todo foi bom à senhorita. Estreitou a relação com a sua cliente, suponho?

Santana caminhou até a promotora, corada, e arrancou o papel das mãos dela, Caroline ainda ria e trocou um olhar divertido com Kathryn. A latina leu, brevemente, o papel e depois, apanhou sua pasta e fez sinal para que a ruiva se levantasse. Kathryn a obedeceu e as duas, acompanhadas da Promotora Vellini, saíram da sala de interrogatório. Charlie e Puck as esperavam com sorrisos nos rostos. Puck ajeitou o cinto e a arma na cintura e disse profissional:

– Vou escoltá-los até a saída.

– Somente eles, Sargento Puckerman. Meu táxi ainda demorará... - Caroline disse com um ar sério, mas Santana percebeu o rubor chegar às bochechas da colega, a latina perguntava-se o que acontecera no gabinete de Puck desde que saíra de lá. Santana abriu um sorriso malicioso e olhou para Puck que estava sorrindo de orelha a orelha, a advogada revirou os olhos para os dois e entregou sua pasta ao policial, jogando-a em seu peito. Puck olhou indignado para ela e o quarteto caminhou pelo corredor até a entrada.

Santana deixou-se ficar para trás, fechando o cortejo. Kathryn caminhava a sua frente, lado a lado com Charlie e conversava animada com ele, gesticulando e sorrindo bastante. A advogada não estava atenta ao que falavam, estava mais ocupada observando cada atitude e expressão de Kathryn.

Quando ela virava de lado, para responder Charlie, ela nunca desviava os olhos cinzentos dos dele. O cabelo ruivo caía de lado em seus ombros, mas sem, jamais, tirar de Santana a visão dos belos traços da ruiva. A forma como os lábios dela se movia enquanto ela falava era hipnotizante, eles eram cheios e repletos de vida. Em meio a sua fala, uma gargalhada interrompia seu raciocínio e a expressão facial tornava-se mais leve e ainda assim mais bela.

Discretamente, os olhares de ambas se encontraram. No curto espaço de tempo composto por segundos, o olhar cinzento de Kathryn encontrou os olhos escuros de Santana e, mesmo diante da frieza e da apatia das cores das íris envolvidas, ambas sentiram-se mais quentes e mais próximas. Santana entendeu tudo que Kathryn queria que ela entendesse: todo o agradecimento, o perdão consentido e a busca por justiça... E Kathryn recebeu de volta apenas uma coisa, porém, mais importante do que tudo que queria: o amor. Ninguém percebeu a interação, exceto elas. Haviam passado do ponto onde palavras eram necessárias.

Chegaram ao hall da delegacia e, pelo vidro espelhado das portas de entrada, conseguiram observar que havia vários fotógrafos do lado de fora. Santana murmurou uma série de xingamentos em espanhol e colocou-se ao lado de Puck, procurando uma solução para seu problema. Imediatamente, uma luz acendeu-se em seu cérebro e, afoita, perguntou para Puck:

– A delegacia tem uma saída para funcionários?

– Sim, fica do outro lado do prédio... Por quê? - Puck perguntou distraído, organizando alguns policiais para que barrassem a entrada de alguns jornalistas que estavam conseguindo espremer-se contra as portas. Santana revirou os olhos e disparou exaltada:

– De verdade, Puckerman?! Pense um pouco! Onde está seu carro?

– Por que você está gritando, Lopez? - Puck retrucou ofendido, virando-se para a amiga com o olhar ferido. Santana vasculhou os bolsos do rapaz e encontrou a chave, segurando-a em suas mãos. Charlie e Kathryn olhavam para os dois, intrigados com a interação, mas não ousando se meterem. Diante do olhar agressivo de Santana, Puck não conseguiu ficar quieto. - Meu carro está próximo a essa saída.

– Ótimo, tenho a solução para o nosso problema! - Santana anunciou com um sorriso. Caminhou pelo hall e encontrou um sobretudo escuro sobre o balcão da recepção, jogou-o na direção de Puck e depois, puxou Kathryn pela mão. O encontro das duas peles fez com que uma corrente elétrica passasse entre elas. Puck olhou confuso para Santana e a morena revirou os olhos, mais uma vez. - Envolva o Sr. Thomas nesse sobretudo e saia com ele pela entrada da frente, eu vou sair com Kathryn pela saída dos funcionários. Evite qualquer pergunta e apenas caminhe em direção ao táxi.

Puck acenou em concordância e Santana observou-o ir em direção à porta, até que o policial parou e voltou. Ele olhou para a latina com um sorriso brincalhão nos lábios e disse:

– Meu carro é o Buick Roadmaster vermelho, 1994. Está estacionado próximo a uma picape.

– Carro de tira, que péssimo gosto, Puckerman! - Santana rebateu com uma risada antes de ela mesma dar ás costas a dupla de homens e puxar Kathryn pelo corredor. As duas caminharam por alguns minutos, sem separarem-se e enfim encontraram a porta. Santana a abriu e foi recebida pela noite fresca de Lima.

A advogada segurou Kathryn dentro do prédio, observando o estacionamento escuro a sua frente. O carro de Puck estava a poucos metros e o local, deserto. Puxou Kathryn e as duas caminharam rapidamente em silêncio, Santana tinha a mão na cintura e a ruiva suspeitava que ela segurava o cabo da pistola, pronta para sacá-la e usá-la se fosse o caso...

Com os corações acelerados e as respirações descompassadas, as duas chegaram ao carro e Santana o destravou, colocando primeiro Kathryn dentro dele e depois entrando. Quando sentiu o cheiro de fast-food e de colônia barata do interior do carro, Santana respirou aliviada antes de ligá-lo e conduzi-lo para a saída do estacionamento.

Santana conduzia o carro pela rua adjacente à delegacia com as mãos apertando o volante. Kathryn a observava, preocupada e, relutante, tocou-lhe a mão direita que esmagava o câmbio de marcha. Santana relaxou a postura e até mesmo sua respiração, Kathryn afagou a tez morena e disse tranqüila:

– Estamos seguras. Pode ficar calma.

– Eu não vou me acalmar enquanto não te colocar em um local que ele não saiba. - Santana respondeu dura, fazendo uma curva para direita e engatando a segunda marcha no carro. Kathryn não conteve o sorriso pequeno que brotou em seus lábios ao escutar aquilo, a ruiva ajeitou-se no banco e olhou para frente, procurando dar um pouco de privacidade à advogada. - O problema é que eu não sei onde eu encontrarei um local seguro para passarmos à noite... Meu escritório e meu apartamento estão fora de opção!

O tom de voz aflito e preocupado de Santana fez com que o interior de Kathryn respondesse ao discreto carinho impresso naquela frase. Santana se preocupava com ela de uma forma que nenhuma pessoa se preocupara em toda a vida. Santana a tirara de uma situação da qual ela achava que nunca fosse se libertar e, agora, só queria sua segurança acima de qualquer outra vitória no tribunal. Algo, no fundo da mente de Kathryn, não cansava de dizer que aquilo tudo fora predestinado... Por isso ela fora tão decidida procurar a advogada e por isso voltara para ela depois da discussão com Joaquin.

Depois de tanta luta, não havia nada que pudesse desdizer o que as duas estavam vivendo... Era amor. Daqueles loucos e inconseqüentes que lutavam contra todos os obstáculos que surgiam. Kathryn sabia que Santana jamais a abandonaria e também sabia que seria capaz de dar a vida pela latina. As duas estavam em pé de igualdade, com o mesmo sentimento habitando seus corações.

Novamente, Kathryn segurou a mão de Santana entre as suas. As duas estavam paradas em um sinal vermelho e Santana pode olhar para ela, os orbes escuros brilhando pela adrenalina e pelo silencioso desespero. Kathryn se aproximou dela e aplicou um beijo longo nos lábios de Santana, manteve-as próximas, pelo juntar de suas testas e murmurou baixinho:

– Eu ainda tenho a chave do apartamento que fica no andar de cima da “Letters, Love and Dreams”... Podemos passar a noite lá, ninguém sabia que eu trabalhei com Charlie nesse tempo todo.

Santana beijou-a de volta, acatando a sugestão e, no instante seguinte, as duas tomaram o caminho para o centro de Lima.

O caminho até a livraria foi relativamente tranqüilo, aparentemente, a estratégia de Santana conseguira despistar quase todos os repórteres. As poucas vans de emissoras de TV que as duas encontraram ao longo do caminho não conseguiram enxergá-las através do insul-film do carro de Puck.

Por isso, vinte minutos depois, Kathryn abria a porta do apartamento. Procurou acender o interruptor, mas a mão de Santana pousou sobre as suas e ela disse taciturna:

– Não vamos acender as luzes, podem desconfiar do movimento nesse quarto depois de tanto tempo...

Kathryn acenou involuntariamente, já que Santana não podia enxergá-la. A ruiva, conhecendo o apartamento, foi até a cozinha e serviu-se de um copo de água. Santana ficou na sala e procurou o celular nos bolsos do blazer, encontrando-o descarregado. A latina, auxiliada pela luz da rua, conseguiu encontrar uma tomada para o carregador e conectou-o, observando a luz verde acender no aparelho.

Kathryn estranhou o silêncio e retornou à sala, encontrando Santana a observar a rua através das persianas que cobriam as janelas. Os lábios franzidos e a expressão concentrada, quase intocável e inatingível. A ruiva caminhou lentamente até ela e abraçou-a pelas costas, aplicando um beijo na região cervical de sua coluna, sentiu o corpo de Santana relaxar em seus braços. Sorriu e murmurou baixinho:

– Se você tem que esperar, pode esperar em meus braços, na cama...

Santana virou-se para ela e observou apenas os contornos do rosto que já conhecia de cor. O brilho dos olhos acinzentados guiou seus lábios de encontro aos lábios de Kathryn e ela os beijou, sofregamente, do jeito que queria ter beijado na delegacia. A ruiva apertou a camisa de Santana entre os dedos, antes de removê-la de dentro da calça com um puxão. Inexplicavelmente, Santana parou o beijo e se afastou.

Kathryn não precisava das luzes acesas para saber que a latina estava com a expressão desconcertada. As respirações ofegantes de ambas foram o que ocuparam o ambiente quando o silêncio entre elas fez-se mais fortes, depois de alguns minutos, o choro débil de Santana tomou o apartamento. Kathryn, sem saber o que fazer, envolveu-a em seus braços e murmurou abalada:

– E se você tiver que chorar, não chore sozinha...

Santana soluçou e continuou a chorar. Seu peito apertava e ela não conseguia explicar para Kathryn a sensação ruim que a invadia. Era um gosto amargo que chegava a sua garganta e quase a fazia vomitar. Sua intuição também estava abalada. Ela sabia que alguma coisa aconteceria. E sabia que seria uma coisa ruim e ela temia que fosse perder a ruiva mais uma vez...

Kathryn conseguiu guiar Santana até sua cama e as duas deitaram-se ali. A ruiva colocou a cabeça morena em seu peito e ninou-a em seus braços, lentamente, o choro de Santana se calou, porém, a respiração continuava pesada... A latina, por fim, apertou a cintura da ruiva e subiu o rosto, encontrando Kathryn observando-a aflita. Santana colocou uma mecha ruiva atrás da orelha e murmurou desolada:

– Se alguma de nós duas morrer no meio disso tudo, eu quero que você saiba que você foi a melhor parte da minha vida.

Kathryn rendeu-se às lágrimas enquanto sentia Santana aproximar-se e tentar fazer aquele beijo valer como se fosse o último. A preocupação foi transferida a ela e ela sentiu... Ela também sabia que alguma coisa aconteceria.

E Kathryn só queria ter tempo o bastante para amar Santana com a intensidade que desejava. Independente do que acontecesse.

***


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Notas finais do capítulo

Acho que foram muitas emoções, certo?

Segunda vez de Rachel e Quinn, FINALMENTE o Sam começa a desvencilhar do passado e Santana e Kathryn com o problemão que se tornou a relação das duas... O que acharam de tudo? Eu temi não conseguir passar todos os sentimentos para vocês e não fiquei contente com muitas partes do capítulo, mas eu dependo exclusivamente da opinião de vocês, ok?

Comentem, por favor!
(E também deem uma passadinha na minha oneshot chamada "Perfume", espero que gostem dela também)

Até a próxima,
FerRedfield