Signal Fire escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 17
Altos e Baixos


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Como vocês estão?
Não vou mais pedir desculpas pela minha demora, porque teve uma causa absurdamente enorme por trás, dessa vez... Eu estava sem qualquer inspiração e não sabia como conseguir continuar a história.
Daí, eu fiquei doente e luxei um dedo da mão... E a inspiração veio! Olha que ironia? HAUASHUASHUASHUAS
Conversas à parte, esse capítulo foi profundamente inspirado no recente episódio de Glee. Sim e pelo título do capítulo, eu acho que vocês sabem o que os espera :X
Escutem as músicas desse episódio, mas, principalmente, escutem "Ordinary People" do John Legend. É a música que mais retrata esse capítulo.
Bem, boa leitura!



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Capítulo 17: Altos e Baixos

            - Você não pode destruir a vida de mais uma garota por causa de um erro estúpido do qual ela já assumiu as conseqüências! – Quinn esbravejou furiosa para Coach Sylvester, a treinadora inclinou-se para trás em um ato inconsciente de defesa.

            Os olhos verdes de Quinn Fabray estavam semicerrados e ameaçadores, dotados de um brilho intenso e incontrolável. Coach Sylvester compreendeu da onde vinha toda a fama de HBIC que Lucy Quinn Fabray carregou por anos no ensino médio. Quinn era ameaçadora, manipuladora e agora, parecia ser dona de uma força inabalável. Nenhuma outra líder de torcida fora como ela e nenhuma outra seria igual a ela.

            Sue Sylvester sabia que por mais que garimpasse Ohio inteiro atrás de uma líder de torcida parecida com ela, jamais encontraria uma que chegasse aos pés dela.

            - Christine é minha capitã, Fabray! Eu faço com ela o que quiser! – Coach Sylvester recuperou-se de seu breve flashback e contra-atacou com a frieza e o sarcasmo que lhe eram característicos. Quinn revirou os olhos e cruzou os braços em frente ao peito, antes de disparar irônica:

            - Mas a vida dela não é sua, Coach. Você não pode fazer com ela o que fez comigo.

            - É diferente, Fabray. Você assumiu a gravidez e teve o projetinho de gente, Christine abortou! Ela colocou a saúde em risco justamente porque teve medo de assumir as supostas conseqüências das quais, você fala! – Coach Sylvester esbravejou ofendida e ligeiramente incomodada com o rumo da conversa, talvez Quinn Fabray nunca soubesse, mas Sue Sylvester se amaldiçoava todos os dias por ter a expulsado do esquadrão há alguns anos... Era uma atitude da qual jamais se perdoaria.

            Os olhos de Quinn faiscaram compreensão. Coach Sylvester estava expulsando Christine não pela gravidez e sim, pelo aborto. Claro que poderia ser isso, Sue sempre pregara que suas garotas deveriam ser perfeitamente saudáveis e um exemplo a ser seguido e invejado no McKinley High. Mas mesmo assim, Quinn não aprovava a atitude. A professora continuou em pé e, ligeiramente mais calma, sibilou ameaçadora:

            - Se você expulsá-la do esquadrão, eu vou acabar com o histórico de suas cheerios. Sabe muito bem que dou todas as chances para que elas passem com méritos que não merecem, posso muito bem começar a complicar a vida de cada uma delas.

            - Você não seria louca de fazer isso, Fabray! – Sue esbravejou extremamente furiosa, a técnica colocou-se em pé e espalmou as mãos brancas sobre a mesa, inclinando o corpo para olhar Quinn Fabray. A ex-cheerio apenas deu de ombros, cruzou os braços sobre o peito e sorriu irônica, com o típico arquear da sobrancelha. Sue fechou os olhos, enfurecida.

            Do lado de fora da sala, Rachel parara em frente a porta e agora, escutava a conversa que ecoava no corredor. As duas mulheres lá dentro estavam chamando a atenção com os gritos e ameaças, duas cheerios se aproximaram de onde Rachel estava e inclinaram a cabeça, aguçando a audição para escutarem melhor.

            Rachel fez a maior cara repreensiva que pode, colocou as mãos na cintura e se aproximou autoritária das garotas. As duas cheerios perceberam e entreolharam-se com despreocupação, Rachel pigarreou e bronqueou:

            - Vocês não têm nada melhor para fazer não? Ficar escutando conversa alheia é feio, meninas.    

            - Pelo que podemos ver, Miss Berry... – Uma das garotas respondeu e Rachel notou a ironia no vocativo que ela proferira, as duas cheerios se entreolharam e deram sorrisinhos maldosos. – A senhorita está fazendo exatamente o mesmo.

            - Acho melhor saírem daqui, meninas. Miss Fabray está furiosa lá dentro dizendo que vai complicar a vida de vocês... Se eu fosse uma cheerio, hoje, ficaria longe das vistas dela. – Rachel aconselhou com sarcasmo, sem deixar-se atingir por aquelas duas que lhe traziam lembranças do colegial. As duas garotas engoliram em seco, abraçaram os fichários e saíram correndo dali, Rachel sorriu satisfeita.

            - Você não tem esse direito, Coach! Já não basta ter brincado com meu futuro, agora vai brincar com o futuro de Christine?

            Quando Rachel escutou a voz descontrolada de Quinn dentro da sala, resolveu ser totalmente deselegante e entrar no escritório de Sue Sylvester sem se apresentar. Entrou no exato instante que Quinn apontava o dedo para a técnica enquanto a mesma a olhava com desprezo e repreensão, Quinn abrira a boca para continuar a falar quando Sue vociferou:

            - Eu não brinquei com o seu futuro, Fabray! Foi você que o destruiu! Não me culpe de seus erros quando você bem sabe que eles foram frutos de sua imaturidade que, pelo visto, não mudou até hoje... Não venha defender uma garota tomando as dores dela, venha defendê-la quando não se tratar mais de você e sim, de Christine!

            Um silêncio pesado e desconfortável pairou entre as três mulheres da sala. Rachel percebeu quando os olhos esverdeados de Quinn foram tomados por grossas e pesadas lágrimas que logo escorreram por sua face. A loira deu as costas à antiga técnica e colocou a mão sobre a boca, sufocando o choro. Rachel aproximou-se relutante, ao mesmo tempo em que Sue Sylvester respirava com dificuldade e tinha uma expressão arrependida na face.

            As três mulheres naquela sala sabiam quanto o passado machucava. Rachel tocou a mão de Quinn com a ponta dos dedos e a apanhou pelos ombros, puxando-a para fora da sala. Estava chegando a porta quando a voz enérgica de Sue se fez ouvir, fria:

            - Aonde pensa que vai com ela, Barbra fracassada?

            - A um lugar onde suas palavras não possam atingi-la, Sylvester. – Rachel respondeu fria, olhando de esguelha por cima do ombro e saindo da sala, amparando uma Quinn debilitada e chorosa.

            A pergunta que pairava na cabeça das três mulheres era: quando é que o passado se tornada tão inesquecível a ponto de se entrelaçar com o presente...?

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            Julianne estava no quarto de hóspedes, analisando cuidadosamente aquele teclado que tanto instigara a sua curiosidade quando viu, pela primeira vez, Santana cantar. As pontas de seus dedos percorreram a superfície plástica e, ao chegar ao adesivo de unicórnio, refez seus contornos, suspirando.

            Independente de quem era aquela mulher, ela marcara a vida de Santana de uma forma tão intensa e desconcertante que fazia Santana lembrar-se dela até hoje. A latina andava calada nos últimos dias e Julianne tinha certeza de que, provavelmente, Santana encontrara a dona daquele adesivo em alguma parte de Lima. E aquele encontro destruíra o pouco do que Santana reconstruíra nos últimos dias.

            Julianne sentia-se impotente, parecia que jamais conseguiria enfrentar a sombra daquela mulher. Queria saber quem era ela, mas Santana era muito reservada sobre aquela mulher específica. Aliás, não podia exigir muito de Santana. Julianne não sabia onde se metera e não sabia o que poderia oferecer a latina.

            Julianne era fraca e temia que sua fraqueza resultasse em ainda mais sofrimento para Santana. Talvez, fosse a hora de fugir... De largar tudo, de enfrentar Michael sozinha e não mais se esconder atrás de pessoas de bom coração. Toda vez que fazia algo daquele tipo, alguém acabava sofrendo ou despedaçado. Julianne trazia desgraça, independente do lugar para o qual fosse.

            A ruiva sentou-se no banquinho em frente ao teclado de Santana e dedilhou as teclas, felizmente, esse estava desligado. Julianne fechou os olhos, tentando imaginar quantas lembranças aquelas notas traziam para Santana, quantos beijos foram trocados com aquele teclado como lembrança?

            Independente da resposta, Julianne sabia como aquilo tudo marcara Santana. A latina podia não dizer, mas conseguia enxergar nos olhos dela quanto aquela mulher fizera tudo mais intenso na vida da advogada. Julianne não se sentia no direito de se meter entre duas pessoas que pareciam ser feitas uma para outra.

            A ruiva viu-se em uma encruzilhada, inexplicavelmente, aquele quarto tornara-se pesado. Era como se aquelas paredes gritassem todas as verdades que Santana guardava dentro de si. Julianne colocou-se em pé e caminhou o mais rapidamente que pode para fora daquele quarto e assim que chegou a sala, a campainha tocou.

            Presa em seus pensamentos, Julianne abriu a porta sem checar o olho mágico. Quando ergueu os olhos da maçaneta, encontrou dois olhos negros dos quais queria somente esquecer. O sorriso sarcástico tomou os lábios circundados por aquela barba rala, Julianne escutou a risada rouca seguido do ar irônico:

            - Olá, meu amor.

            Michael Urie olhava para ela como se olhasse para uma presa. Julianne sentiu-se encolher, mas uma força desconhecida a empurrou para fora. A ruiva posicionou-se no corredor, cruzou os braços sobre o peito e encostou-se na porta. Sua expressão ainda mais debilitada do que antes. Julianne pigarreou e perguntou nervosa:

            - O que você quer, Michael?

            - Só vim ver se aquela vadia que você chama de advogada, está te tratando bem. – Michael sibilou malicioso, com o olhar faiscando maldade. Julianne respirou fundo e fechou a expressão para ele. – Vim ver se você estava sendo bem comida.

            - Não fale assim comigo! – Julianne esbravejou ofendida e apontando para o homem, os olhos cinzentos estavam ainda mais intensos agora. A ruiva empurrou Michael pelo ombro, ele apenas gargalhou friamente, achando graça da postura ameaçadora dela. – Eu não sou mais seu brinquedinho! Você não pode falar comigo dessa forma, muito menos, me ameaçar!

            - Eu não vim aqui te ameaçar, Julianne! – Michael contra-atacou com um olhar sádico que fez, novamente, Julianne se encolher de encontro a porta. O homem sorriu diante do medo entalhado na expressão assustada de sua ex-mulher. Michael aproximou-se sorrateiro e envolveu o rosto de Julianne com sua palma áspera, apertou-lhe o pulso rudemente quando ela tentou fugir. – Eu não vou fazer nada agora. Eu vou derrubar a sua mulher no tribunal e não vou me cansar enquanto não destruir a vida e a carreira dela.

            - Você não pode fazer nada contra ela! Seu problema é comigo! – Julianne gritou desesperada, lutando contra os braços do homem que pareciam envolvê-la ainda mais. Michael sorriu sarcasticamente e disso veio a cusparada que recebeu de Julianne.

            Imediatamente, a expressão do homem se tornou animalesca. Ele jogou o corpo de Julianne contra a parede, a ruiva gemeu de dor e quando conseguiu colocar-se em pé, recebeu um golpe na face esquerda que a derrubou. Julianne sentiu o gosto metálico de sangue enquanto, do chão, olhava Michael sorrir lunático e dizer:

            - Santana Lopez arrumou um imenso problema comigo quando resolveu se atracar com a minha mulher!

            Dizendo isso, Michael desapareceu pelo corredor do edifício e Julianne afundou a cabeça entre os joelhos. As lágrimas misturaram-se com seu sangue rapidamente e ela nunca soube quanto tempo ficara ali, sentindo uma dor emocional tomar-lhe toda aquela dor física.

            Mas quando, enfim, levantou... Julianne só o fez por duas coisas. Foi até o quarto, apanhou as poucas roupas que carregava consigo e rabiscou um bilhete em uma folha de recados. Pregou-a na geladeira e saiu porta a fora, sem olhar para trás.

            Não precisava mais ficar indecisa e debilitada, já tinha a resposta que procurava.

“Me desculpe, Dra. Lopez... Mas não posso mais fazer isso. – Julianne Urie”

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            Eram poucos os momentos capazes de calarem Rachel Berry. Mas aquele, com certeza, era um deles. Rachel não conseguia falar enquanto Quinn fungava e respirava com dificuldade. O melhor, então, que Rachel pode fazer, foi levá-la até a sala de professores e colocá-la sentada em uma das mesas enquanto pegava um copo de água. Sentiu os olhos verdes a encarando e quando se virou, pegou-os a estudá-la com afinco. Rachel engoliu em seco e perguntou sem jeito:

            - Mais calma?

            - Não tem como eu ficar mais calma enquanto Sue Sylvester destrói a vida de mais uma garota! – Quinn resmungou contida, mas a frieza em sua voz foi evidente, assim como a fúria que pairava em seus olhos. Rachel sentou-se ao lado dela e baixou a cabeça, observou quando Quinn levou o copo de água trêmulo a boca. – Ela me disse que tinha mudado e eu acreditei!

            - Quinn, veja bem... – Rachel pareceu escolher as palavras e quando os olhos de Quinn a vocalizaram, a morena respirou com dificuldade, estavam agressivos e prontos para contra-atacar. – Eu não estou dando razão a ela, mas Christine abortou. Tem noção do quão sério isso é?

            Quinn colocou as mãos sobre a mesa e, em seguida, fechou-as em punhos. Depois, lentamente, ergueu os olhos e Rachel sentiu-se atingida por uma fúria que há tempos não presenciava naqueles olhos esverdeados. Quinn continuou a olhar para a morena, enquanto a mesma abaixava a cabeça e procurava se lembrar de como respirar... O que fizera de errado agora? Já dissera que não estava defendendo ninguém, apenas queria expor os fatos para que Quinn voltasse a ser racional e coesa.

            Mas Quinn ignorou esse fato, aparentemente. Quando finalmente desviou seus olhos de Rachel (e a morena suspirou aliviada), Quinn levantou-se e caminhou até a janela da sala, ficando de costas para Rachel. A morena não se levantou, não queria provocar nada mais em Quinn, só queria que ela se acalmasse. A loira suspirou e fria, perguntou:

            - E você tem noção do que acabou de me perguntar, Berry?

            - Não use meu sobrenome como se não nos conhecêssemos. – Rachel bronqueou ofendida e dessa vez, colocando-se em pé. Os olhos chocolate estavam extremamente intensos agora, os punhos estavam fechados ao lado do corpo e a morena respirava com dificuldade graças ao súbito acesso de raiva que começara a tomar seu corpo por causa daquela atitude infantil de Quinn. – E não distorça as coisas, Christine pode estar sofrendo, mas isso não a redime da culpa que carrega.

            Quinn olhou incrédula para Rachel através do reflexo da janela, mas esta parecia impassível em sua postura e opinião. Os olhos escuros flamejavam a certeza que a morena tinha ao proferir aquelas palavras. Naquele instante, Quinn não reconheceu aquela mulher que estava a sua frente. Ou talvez, não a reconhecera por inteiro desde que ela chegara a Lima. Quinn virou-se abruptamente para ela e disse sarcástica:

            - A antiga Rachel entenderia, aliás, me esqueci que ela desapareceu em New York, justamente com seus sonhos despedaçados.

            Quinn não teve noção da força descomunal de suas palavras naquele exato instante. O olhar de Rachel fraquejou e as lágrimas embaçaram os olhos antes fortes e corajosos, os lábios tremeram e, com muito orgulho, Rachel deu as costas a Quinn e colocou a mão sobre a face, sufocando as próprias lágrimas provocadas por quem tanto amara e por quem tanto dera.

            Quinn, antes de mais ninguém, deveria saber o quanto aquelas palavras machucavam.

            A loira só foi perceber o que fizera quando observou Rachel apanhar suas coisas em cima da mesa da sala e dar-lhe as costas, sem dizer nada, apenas seus suspiros e sua respiração pesada preenchiam o local. A máscara de fúria de Quinn caiu e um lampejo de racionalidade passou por sua mente, o necessário para fazê-la perceber o quanto machucara a sua morena.

            - Onde você pensa que vai? – Quinn vociferou desesperada, sem nenhum resquício da frieza e da fúria que antes estavam em sua voz por um motivo que, agora, parecia fútil. Rachel não lhe respondeu, continuou a caminhar em direção a porta, sem olhar para trás e os suspiros, agora, tinham se transformados em soluços. Quinn correu até ela, apanhando-a pelo pulso. – Me desculpe, Rach. Eu não queria dizer aquilo, eu estava fora de controle.

            Mas Rachel não se virou, muito menos, ergueu os olhos. Com a cabeça ainda baixa e os olhos focados em seus sapatos, Rachel murmurou melancólica:

            - Eu vou para um lugar onde as suas palavras não possam me atingir mais.

            Quinn ficou parada, imóvel, enquanto observava Rachel sair pelos corredores, sem olhar para trás. Sua mente gritava alucinadamente o quão burra fora e suas lembranças recordavam como ela agira imaturamente, lembrando (e muito) a Quinn do ensino médio. Ali, naquele corredor deserto e observando as costas de Rachel deixarem-na, Quinn sentiu um aperto descomunal em seu peito. Indicando que, muito mais do que uma briga, aquela fora uma perda essencial em seu relacionamento.

            Os anos passavam, os tempos mudavam, mas Quinn Fabray continuava estupidamente boa em afastar as pessoas que amava.

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            Era a quinta chamada que Kurt recebia naquele dia. Quinn Fabray parecia realmente desesperada atrás dele. Mas o rapaz não tivera tempo de checar ou retornar suas ligações, o dia fora realmente cheio na construtora. Ele mal vira Karofsky. Kurt bufou irritado, sacando o celular e ligando para Quinn.

            Mas o celular da loira dera fora de área, provavelmente, estava disseminando a preocupação e ligando para mais alguém.

            Kurt continuou a caminhar pelo corredor, procurando as chaves em seu casaco ao mesmo tempo em que andava. Devido a falta de atenção, seu corpo trombou com outro no meio do corredor. Meio tonto com o golpe, Kurt murmurou dolorido:

            - Me desculpe, eu estava desatento.

            - Pare com a educação, K. Sei muito bem que você quer me matar! – Kurt não escutava aquela voz há alguns dias, aliás, há semanas. O decorador ergueu os olhos arregalados e incrédulos que encontraram um rapaz loiro sorridente, com o cabelo mais curto do que ele se lembrava e um sorriso que não estava lá da última vez que o vira.

            Sam Evans estava parado no corredor, em frente a porta do apartamento que dividia com Karofsky. Ele tinha uma caixa em uma das mãos e a aura que exalava dele em nada se comparava com aquela que ele deixara em Lima, sem dar notícias a ninguém de onde estava indo.

            Kurt estendeu a mão para apanhar a de Sam, mas antes de se levantar, bateu no braço do homem que se assustou e afastou-se, derrubando o decorador mais uma vez no chão. Sam olhou para ele e riu tão abertamente da situação que Kurt não conseguiu ficar bravo com ele. Por conta própria e com a melhor expressão severa que pode colocar em seu rosto, Kurt indagou:

            - Por onde você andou, Samuel Evans?

            - Olá para você também, senti sua falta K! – Sam murmurou sarcástico e revirando os olhos, Quinn estava nele naquela expressão e Santana, naquele tom. Kurt sorriu com a familiaridade. Aproximou-se, de guarda baixa, e abraçou o amigo com saudade. Sam envolveu o corpo dele e o ergueu brevemente. – Sério, senti falta de todos vocês.

            - Mas por onde andou? Achamos que os Na’vi tinham te abduzido e tinham te transformado em um Avatar! – Kurt exclamou falsamente horrorizado, tentando fazer uma piada que mais fez Sam rir das expressões do decorador do que da piada em si. Kurt corou diante do ar de tédio de Sam e virou-se para abrir a porta do apartamento. – Não fui muito feliz na piada não é?

            - Não, mas continue tentando! – Sam encorajou com aquele sorriso brilhante do qual Kurt ainda não se acostumara. O decorador arqueou a sobrancelha para Sam, perguntando mudamente o que acontecera, o empresário deu um sorriso caloroso que fez o coração de Kurt se aquecer. – As coisas melhoraram, só isso, Kurt.

            - Eu quero detalhes e você vai me dizê-los, nem que eu tenha que te embebedar! – Kurt disse animado e empurrando o rapaz para dentro do apartamento. Os dois rumaram para a cozinha e Kurt abriu a geladeira, apanhando uma garrafa de cerveja e jogando-a para Sam.

            O empresário a apanhou e a abriu, tomou um gole exagerado e olhou em volta, o sorriso ainda presente lá. Kurt sorriu diante da felicidade do amigo e concentrou-se em apanhar uma taça de vinho para si. Depois de ambos tomarem suas bebidas, trocaram olhares cúmplices, Kurt apoiou-se no balcão que os separava e disse sincero:

            - Mesmo que você jamais me conte o que aconteceu, estou realmente feliz por você.

            - Mesmo? Eu posso ter matado Mercedes ou Shane. Ou, quem sabe, os dois. – Sam respondeu com um falso tom conspiratório que só arrancou gargalhadas de Kurt. O decorador tomou mais um gole de seu vinho. Os dois homens escutaram a porta do apartamento se abrir.

            Instantes depois, Karofsky entrou na cozinha com uma expressão confusa, mas que logo se dissipou quando viu Sam sentado ao balcão. Karofsky aproximou-se eufórico e apanhou Sam em um abraço de urso, batendo nas costas do loiro e perguntando:

            - Por onde andou, loiro falso?

            - Vejo que todo mundo me ama demais por aqui. Já fui agredido e agora, praticamente moído por um abraço! – Sam murmurou dolorido, massageando os ombros enquanto observava Kurt e Karofsky rirem abertamente de suas palavras. Karofsky, nesse meio tempo, rodeou o balcão e trocou um selinho comportado com Kurt. O casal não percebera, mas Sam sorriu brevemente pelo que viu. Finalmente aqueles dois estavam juntos.

            - Antes de você chegar, Dave... Eu estava tentando arrancar a verdade de Sam, mas ele continua calado. – Kurt disse ofendido e olhando de esguelha para Karofsky, em busca de ajuda. O engenheiro escorou-se na geladeira, tomando um gole da própria cerveja e com a maior expressão ameaçadora que conseguiu fazer, disse:

            - Pode ser por bem ou por mal, Evans.

            - Você não me ameaçava nem na escola, Dave... Quanto mais agora, fica na sua! – Sam respondeu atrevido e Karofsky deu um sorriso de lado para Kurt, o decorador olhou de um para o outro e deu-se por vencido, tomando um longo gole de seu vinho.

            Os três homens terminaram suas bebidas, perdidos em seus próprios pensamentos, mas imensamente felizes por estarem reunidos de novo. Sam colocou sua garrafa de lado e respirou fundo, pronto para começar a falar por onde andara, quando o telefone de Kurt tocou e o rapaz fez um sinal para que os outros dois esperassem enquanto ele atendia o celular.

            Era uma mensagem.

            Kurt teve que piscar duas vezes para entender do que ela se tratava. O decorador voltou correndo para a cozinha, interrompendo uma discussão entre Karofsky e Sam a respeito do novo quaterback do Miami Dolphins. Os dois homens olharam confusos para a expressão desesperada de Kurt. Mas ele só conseguiu dizer:

            - Quinn e Rachel brigaram e agora, Rachel desapareceu e Quinn não consegue falar com ela. Precisamos ajudá-la.

            Kurt não precisou explicar muito mais, no segundo seguinte, Sam já estava correndo porta a fora. Sendo seguido por Kurt e Karofsky.

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            Rachel caminhava a esmo pelas ruas de Lima, não tinha motivos para voltar para o local que antes chamava de “casa”. Impossível chamar de casa um local que só a sufocara nos últimos dias. Não culpava Quinn de nada, desde o princípio, sabia que seria a que entregaria os pontos mais preciosos naquele relacionamento.

            Proteger Quinn não a incomodava, muito menos ser a força dela quando ela fraquejava diante dos pais ou diante do próprio McKinley High. Mas o que machucara, o que rasgara seu peito... Fora ver a sua realidade, a qual estava tão agradável e feliz, ser transformada em um cruel pesadelo ao ter seu fracasso jogado, mais uma vez, em sua cara.

            Rachel não precisava que ninguém a lembrasse do que acontecera em New York, seus sonhos destruídos estavam impressos em si, toda vez que acordava e se olhava no espelho. Jamais seria uma estrela da Broadway, jamais ganharia um Tony e jamais teria câmeras sobre si. Era só uma jovem com sonhos despedaçados, como tantas outras existiam pela América.

            Inconscientemente, derramou mais lágrimas. Rachel as secou rapidamente, com certa impaciência e ergueu os olhos... As pessoas passavam por ela e sequer reparavam em seus olhos vermelhos, só evidenciando ainda mais o quão “comum” ela era. Não haviam estrelas douradas no céu de Rachel Berry, ele parecia extremamente cinzento agora que tinha que lidar com seus fracassos sozinha.

            Parecia que nunca seria boa o bastante para algo. Não era boa para cantar, não era boa para ensinar e, aparentemente, não era boa o bastante para Quinn Fabray. De todas aquelas três realidades, impressionantemente, era a última que mais machucava. Rachel sorriu cruelmente para os próprios pés, sentindo-se boba e tremendamente infantil.

            Era claro que Quinn ia feri-la em algum momento, era da natureza dela afastar as pessoas quando sofria... Sempre soubera disso e seu pai Hiram a avisara. Isso não diminuía o que sentia por Quinn, mas a fazia pensar. Em tão pouco tempo, ela tivera que lidar com tantas crises que se perguntava quando teria um tempo para administrar seus próprios sentimentos e machucados.

            Rachel apressou o passo, tentando concentrar-se em não cair e afastar as ideias de término que surgiam em sua mente. Precisava de um tempo para si, precisava pensar por si novamente... Precisava que seu universo voltasse a rodar ao seu redor. Não queria Quinn fora da sua vida, mas, quem sabe, Quinn tivesse que se erguer com as próprias forças e a custa dos próprios sofrimentos para entender o valor de um amor.

            A ideia machucou, mas pareceu ser a mais plausível. Rachel caminhou mais um pouco, as lágrimas agora secas permitiram que ela reconhecesse onde estava. A rua era próxima a livraria de Charlie e decidida, caminhou até lá. Apenas para encontrá-la fechada. Diante disso e com uma expressão         preocupada no rosto, Rachel atravessou a rua até a confeitaria.

            Sentou-se diante do balcão e pediu uma dose de café, pensando em como proceder. Nunca fora boa em terminar as coisas, sempre deixava tudo ao ar. Parecia mais fácil antes, mas não podia deixar Quinn no escuro. Ela parecia estar arrependida, talvez, ela merecesse uma explicação. Rachel não sabia o que fazer e nunca um conselho paterno lhe fez tanta falta.

            - Rachel?

            A voz masculina gentil a chamou um pouco receosa. Rachel demorou a responder ao chamado, tentando regular sua respiração que agora estava fora de ritmo. A morena girou lentamente sobre o banquinho e encarou a figura masculina que lhe sorria de lado.

            Hiram Berry estava parado ao lado do marido, ambos segurando sacolas de supermercado e parecendo desconfortáveis com a distância da filha. Rachel olhou para os dois e o antigo vazio de seu coração pareceu menor agora que vira os dois, a pequena deu um sorriso de lado e fez um sinal para que eles se aproximassem.

            Os três Berry olharam-se sem graças, com um silêncio desconfortável pairando entre eles por minutos... Leroy, como se esperava, foi o primeiro que rompeu todo o desconforto entre os três. Ele sentou-se ao lado da filha, colocou as sacolas no chão e passou um dos braços negros musculosos sobre os ombros de Rachel. Imediatamente, a morena se aconchegou nele. Leroy beijou-lhe o topo da cabeça e disse:

            - Sentimos sua falta, estrelinha.

            - Sim, nós dois sentimos. – Hiram completou meio envergonhado e chamando a atenção de Rachel. Sobre o balcão, Rachel estendeu a mão e apanhou a do pai, Hiram arregalou os olhos rapidamente e, entre lágrimas, Rachel sorriu para ele e confessou:

            - Eu sei, papai... Eu também senti falta de vocês.

            - Oh querida... Não chore! – Hiram apressou-se a dizer desesperado, julgando que aquelas lágrimas fossem sua responsabilidade. Rachel apertou-lhe sua mão e escondeu-se no peito de Leroy que afagou seus cabelos, sem saber o que fazer. Os pais Berry se entreolharam preocupados. – Desculpe pela minha falta de tato, eu só queria te proteger.

            - Eu deveria ter escutado você, papai. – Rachel confessou, secando as lágrimas e ficando em pé, puxando os pais consigo. Leroy deixou uma nota de dez dólares em cima do balcão e perguntou:

            - O que aconteceu com você?

            - Eu e Quinn brigamos, nós duas vínhamos nos desgastando há semanas. Mas hoje, foi o golpe final, por assim dizer. – Rachel falou tão rapidamente que ambos os pais entenderam como aquilo a incomodava e o quanto ela queria colocar para fora. Leroy apertou a filha mais uma vez em um abraço que confortou Rachel. Sem saber muito que fazer e como se encaixar naquele momento, Hiram apertou o ombro da filha e disse sincero:

            - Não vamos lhe perguntar o que ela fez. Não precisa nos falar, nós não devemos nos meter na sua vida... Você é uma mulher feita.

            - Quer que te levamos até o apartamento dela? – Leroy perguntou baixinho, envolvido pelo corpo de sua filha e tentando passar um pouco de tranqüilidade para aquela figura que parecia tão indefesa em seus braços. Rachel saiu do abrigo protetor dos pais e disse decidida:

            - Eu preciso ir até lá, mas eu não vou ficar. Eu quero voltar com vocês, quero voltar para casa.

            Hiram, entre lágrimas, lhe sorriu condizente e foi envolvido por um abraço de Rachel. Leroy, mesmo diante da tristeza da filha, sorriu e os empurrou para fora da confeitaria.

            Quinn andava de um lado para o outro em seu apartamento, já era noite e Rachel ainda não voltara ou retornara suas ligações. A loira agarrava-se ao celular com força e parecia lutar com a ideia de sair porta a fora atrás de Rachel.

            Sabia que não deveria ter dito aquilo, sabia que tinha ferido Rachel quando a morena baixara as defesas para ser forte por ela... Quinn sabia da intensidade de suas ações, mas temia as consequências que viriam a seguir. A campainha do apartamento tocou, sobressaltando-a. Quinn correu até a porta e a abriu de supetão, apenas para encontrar Santana tão desesperada quanto ela.

            A latina tinha os olhos insensíveis, mas as mãos trêmulas que apertavam a bolsa com força revelavam todo seu nervosismo. As duas se olharam e a amizade entre elas reconheceu que ambas estavam em uma situação-limite. Quinn abriu caminho para Santana entrar sem questionar. Assim que pisou no apartamento, Santana anunciou:

            - Julianne desapareceu, ela está aqui?

            - Não, Rachel também sumiu... – Quinn respondeu levemente confusa e assustada, a loira passou a mão sobre a testa, jogando os cabelos para trás e tentando aplacar a enxaqueca que estava começando a incomodar. Santana virou-se para ela imediatamente, a expressão preocupada e tentando não parecer desesperada, respirou fundo e jogando-se na poltrona de leitura de Quinn, perguntou:

            - O que foi que você fez, Fabray?

            - Eu não fiz nada e... Calma, o que você tem a ver com isso?! Você veio atrás da Julianne! – Quinn respondeu na defensiva e olhando para Santana ofendida, a latina apenas deu um sorriso amargo e olhou de esguelha para a amiga, sem qualquer resquício de piedade. Sabia muito bem que Quinn tinha feito merda, estava escrito nos olhos dela. – Além do mais, o que te leva a crer que ela estaria aqui?

            - Ela e Rachel estão amiguinhas... Achei que Julianne viria aqui quando precisasse de ajuda. Apesar de que ela pareceu querer fugir de casa com aquele bilhete. – Santana respondeu pensativa, tentando encaixar os fatos de seus julgamentos. A verdade era que ela viera até ali apenas porque precisava de companhia para não surtar, mas percebera que surtaria mais ainda com Quinn tão fora de si quanto ela.

            A loira ao seu lado bufou e caminhou até a cozinha, voltando com um cigarro entre os dedos. Santana olhou surpresa para amiga, achara que ela tinha largado aquele hábito desde que deixara as Skanks. Quinn deu de ombros, acendeu o cigarro, deu uma longa tragada e em seguida, disse:

            - Eu preciso de nicotina quando fico nervosa.

            - Não estou te julgando, loira. – Santana respondeu com ar risonho que fez Quinn revirar os olhos e jogar-se no sofá, com o cigarro entre os dedos. As duas ficaram em silêncio por breves instantes, até que a campainha tornou a soar. Quinn saiu desabalada até a porta, jogando o cigarro no lixo a caminho do hall e arrumou o vestido floral que usava.

            Abriu a porta e pelo silêncio que se fez em seguida, Santana soube quem era.

            - Olá, Quinn. – A voz de Rachel Berry soou extremamente forte para quem, provavelmente, tinha discutido com Quinn Fabray mais cedo. A loira, por outro lado, não conseguiu responder. Rachel olhou por cima do ombro de Quinn e reparando quem estava na sala, suspirou. – Olá para você também, Santana.

            - Olá, Berry. – Santana respondeu desinteressada, acenando com a mão e indo até a cozinha, sabia que as duas precisavam de privacidade. Mas pelo canto dos olhos, Santana percebeu que Rachel não queria conversar ao ver que os pais a flanqueavam no portal.

            Rachel deu um passo seguro para dentro do apartamento e deu uma simples olhada ao redor, apenas para se recordar daquele local nas difíceis semanas que viriam a seguir. A morena virou-se para Quinn e aquele olhar perdido e desolado quase a fez voltar atrás... Mas ela tinha que permanecer forte se quisesse que as duas dessem certo. Rachel respirou fundo e murmurou:

            - Eu vou voltar para casa dos meus pais.

            - Mas o que...! – Quinn estava meio desesperada quando começou a falar, mas o olhar tranquilo e sereno de Rachel pareceu lhe acalmar também. Por trás da aparência calma de Rachel, um coração estava apertado dentro do peito. – Por que você está fazendo isso?

            - Fomos precipitadas quando eu vim para cá e você me aceitou. – Rachel disse resolvida, caminhando pelo corredor que conhecera tão bem. Ela entrou no quarto e ouviu quando Quinn preparou-se para responder, mas resolveu interromper. Escutar a voz da loira só tornaria as coisas mais difíceis. – Nós duas sabemos que isso é verdade, não estamos terminando, mas acho que estamos lidando como casadas sendo que mal começamos a nos relacionar.

            - E o que te faz pensar isso? O que aconteceu hoje no McKinley ou alguma coisa que seus pais falaram? – E lá estava, mais uma vez, aquele tom de voz frio e insensível que sempre machucara Rachel. A morena respirou fundo, tentando não perder o controle. Apanhou a mochila que estava esquecida dentro do armário e começou a juntar somente as suas coisas dentro do guarda-roupa, procurando concentrar-se em sua tarefa, justificou-se:

            - Meus pais não mudaram minha mente, eu os encontrei só depois quando fui atrás de Charlie... Eu já estava decidida antes.

            - Eu não acredito nisso, eu simplesmente não acredito nisso! – Quinn esbravejou desnorteada e puxando Rachel para lhe olhar, os olhos esverdeados a segurarem lágrimas cortaram seu coração. Mas a morena permaneceu, como sempre permaneceria, forte pelas duas. As mãos de Rachel tomaram os olhos de Quinn e séria, ela disse:

            - Por favor, não me siga. Estou fazendo isso por nós duas.

            Quinn observou Rachel terminar de guardar as roupas dentro de mochila, observou quando as costas da morena dobraram o corredor, mais uma vez, e sumiram de suas vistas. Mas não teve coragem de seguir quando ouviu Rachel despedir-se de Santana e sair de seu apartamento para sabe-se lá quando voltar.

            Tudo porque fora covarde, tudo porque descontara nela problemas que as duas deveriam ter resolvido juntas. Quinn não sabia dividir a sua vida e seus pesos com alguém, Quinn não sabia fraquejar e não sabia o que era ter alguém em quem se apoiar. E, ironicamente, fora por isso que Rachel saía pela porta de sua casa.

            Por breves segundos, parecia que tudo se calara.

            Na sala, Kurt entrava confuso pela porta da frente, acompanhado de Karofsky e Sam. O loiro, apenas por olhar para expressão atordoada da latina e por não enxergar Quinn em momento algum, correu pelo quarto e encontrou a amiga parada, atônita, a encarar a porta.

            Quinn piscou diversas vezes antes de correr e abraçar Sam. O rapaz a apertou em seus braços e confuso, sem saber o que fazer, disse o que já tinha se tornado um mantra eles:

            - Eu estou contigo, Quinn e vai ficar tudo bem...

###

            - Por que me trouxeram até aqui? – Rachel perguntou cansada a Arhur e Claire que olhavam amedrontados para ela. A morena estava cansada. Tivera muito trabalho em evitar Quinn durante todo o dia de aula e agora, estava sendo “forçada” a ficar ali com seus alunos do Glee em um dia que eles não tiveram qualquer prática ou ensaio por causa da situação envolvendo Christine.

            Claire e Arthur se entreolharam nervosos e Rachel notou que, pelo menos, a cumplicidade voltara a pairar entre os dois. Talvez, eles tivessem boas notícias, afinal. Ela precisava de algo bom depois de todo o turbilhão de passar a noite acordada e preocupada com Quinn.

            Claire estava prestes a responder quando a porta da sala do coral se abriu. Por ela entrou Christine, sendo praticamente carregada por Mellody e Nancy que tinham sorrisos vitoriosos nos lábios. Christine já estava sem o uniforme, mas as outras duas não. Nancy colocou Christine sentada ao lado de Rachel e, imediatamente, a ex-cheerio desculpou-se:

            - Eu não fiz nada dessa vez, Miss Berry.

            - Claro que não, nós quatro que as trouxemos aqui. Precisamos pedir desculpas pelo que aconteceu no Glee ontem. – Arthur anunciou decidido e com uma expressão obstinada nos olhos que fizeram Rachel dar um leve sorriso. Christine abriu a boca, surpresa. Rachel apanhou a mão dela, a aluna suspirou e abaixou a cabeça. Claire, relutante, se aproximou e corando, confessou:

            - Nós não podemos fazer isso sem você, Chris... Eu não posso ir lá e cantar um solo ou um dueto como se nada tivesse acontecido com você.

            Rachel olhou surpresa para Claire e, alguma coisa nos olhos daquela garota, a fez ficar confusa. Os olhos castanhos de Claire brilhavam e tinham uma energia que Rachel conhecia muito bem... A professora suspirou e olhou significativamente para Claire que apenas abaixou a cabeça e voltou para seu lugar ao lado dos demais.

            Bem, podia tudo dar errado... Mas Rachel tinha que admitir que tudo se tornara mais interessante agora.

            Rachel ainda sorria quando as primeiras notas do piano preencheram a sala. Mas o sorriso desapareceu quando Arthur entoou os primeiros versos e ela reconheceu a música. Tão familiar e se encaixando perfeitamente com o que ela estava vivendo...

Girl, I’m in love with you

This ain’t the honeymoon

Past the infatuation phase

Right in the thick of love

At the times we get sick of love

It seems like we argue everyday

            Christine, ao lado de Rachel, suspirou profundamente quando escutou os primeiros versos. Rachel fechou os olhos, tentando sufocar as lágrimas que ficaram caladas durante toda uma noite. A morena deixou-se levar pelas lembranças do dia anterior, ainda tão dolorosamente vívidas em sua mente. De volta a sala, Claire respirava fundo e entoava:

I know I misbehave

And you made your mistakes

And we both still got room left to grow

And though love sometimes hurts

I still put you first

And we’ll make this thing work

But I think we should take it slow

            Claire olhava profundamente para Christine, tentando passar em seu olhar exatamente aquilo que Rachel já desconfiara ter visto. Os demais na sala, fora Christine e Claire que permaneciam presas em seu mundo e Rachel, que permanecia de olhos fechados a se lembrar da expressão feroz e ferida de Quinn, não pareciam perceber a intensidade que aquela música possuía. Agora, o quarteto no centro da sala, entoava o refrão:

We’ve just ordinary people

We don’t know which way to go

Cuz we’re ordinary people

Maybe we should take it slow

This time we’ll take it slow

This time we’ll take it slow

            Rachel abriu os olhos quando se tornou insuportável lidar com as lembranças de uma Quinn despedaçada em seus olhos e, principalmente, com o afastamento entre as duas. Queria se convencer de que aquilo era o certo, mas seu peito apertava ainda mais e aquela música não estava ajudando em nada. Ao seu lado, Christine tinha os olhos lacrimejando, mas um sorriso brincava no canto de seus lábios. Claire aproximou-se dela e estendeu a mão para que ela se juntasse aos outros, a ex-cheerio sorriu e se levantou, entregando-se.

This ain't a movie no
No fairy tale conclusion ya'll
It gets more confusing everyday
Sometimes it's heaven sent
We head back to hell again
We kiss and we make up on the way

            Rachel sorriu ao ver seus alunos juntos, novamente. Arthur beijou Christine nos lábios e a ex-cheerio pendurou-se ao pescoço dele, sem perceber que outra pessoa, exatamente ao seu lado, desviava os olhos. Claire encarou Rachel com um sorriso triste e continuou a cantar:

I hang up you call
We rise and we fall
And we feel like just walking away
But as our love advances
We take second chances
Though it's not a fantasy
I still want you to stay

            Rachel sorriu compreensiva para ela e a garota respirou fundo, ficando no extremo oposto da apresentação, distante de Christine e Arthur que, agora, cantavam a harmonia um para o outro. Rachel respirou fundo, lutando com as emoções que a música estava motivando em si... Estava mais calma, mas as lágrimas continuavam a querer cair. Ela sentia tudo aquilo, ela vivia aquela música no seu relacionamento com Quinn e fazia a mesma pergunta que o eu lírico da música fazia, mesmo que indiretamente:

            Por que era tão difícil amar?

We're just ordinary people
We don't know which way to go
Cuz we're ordinary people
Maybe we should take it slow
This time we'll take it slow
This time we'll take it slow...

            Rachel levantou-se e aplaudiu seus alunos, mesmo que a música não tivesse acabado. O grupo sorriu para ela e então, a treinadora saiu rapidamente da sala e caminhou rapidamente para fora da escola. Nas arquibancadas, sentou-se, escondendo a cabeça entre os joelhos enquanto as lágrimas finalmente caíam e, apenas para si, ela entoava os versos mais doloridos da canção:

Take it slow

Maybe we'll live and learn

Maybe we'll crash and burn

Maybe you'll stay, maybe you'll leave,

Maybe you'll return

Maybe you'll never find

Maybe we won't survive

But maybe we'll grow

We never know baby you and I.


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Notas finais do capítulo

Podem me matar depois, eu acho...
Mas os leitores mais tranquilos entenderão porque nesse capítulo, as coisas procederam dessa forma.
Estamos falando de Quinn Fabray, fechada em seu mundo de auto-proteção, de crueldade e, de certa forma, imaturidade. E falamos de Rachel Berry, egoísta, altruísta e sempre dramática... Mas acho que, dessa vez, o drama tem a ver com a realidade de um casal, não é?
Espero que compreendam o lado de ambas e de todos os personagens incluídos nessa loucura que eu chamo de história.
Postem suas ameaças, as críticas, as reclamações e os possíveis elogios... Espero por reviews!
Beijos e até a próxima! (: