Signal Fire escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 11
Omissão


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!
Antes de todos os avisos e comentários, gostaria de me desculpar pela demora de "Signal Fire". Tive uma semana agitada e estava sem a mínima ideia de como conduzir a história. Mas eis que, em um lampejo de inspiração, EU CONSEGUI! *-*
Bem, gostaria de agradecer os comentários e a paciência.
Gostaria de pedir, encarecidamente, que escutem a música desse capítulo enquanto rola a cena. Acho que fica ainda melhor.
Boa leitura!



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Santana procurava focalizar a câmera enquanto suas mãos tremiam sem controle, a latina respirou fundo e fechou os olhos. Não viu quando Julianne Urie deu um pequeno sorrisinho diante do nervosismo da sua advogada, a ruiva retomou a expressão séria enquanto Santana tirava uma foto das escoriações. Quando conseguiu tudo que queria e olhou o resultado na câmera digital, Santana se afastou e, imediatamente, Julianne sentiu falta da proximidade do corpo da outra. Não sabia o que estava acontecendo entre as duas.

- Acho que isso aqui é o necessário para começarmos. – Santana anunciou cansada enquanto conectava a câmera digital ao seu notebook e passava as fotos. A latina passou as mãos pela face e depois, olhou para a imensa janela de vidro de seu escritório, já anoitecia e ela passara a tarde toda discutindo o caso com Julianne. A ruiva levantou-se da mesa e sentou-se na cadeira a frente de Santana, pigarreou e perguntou:

- Necessário para o que?

- Amanhã entrarei com uma ordem judicial para que ele não se aproxime mais de você e usarei essas fotos como prova. Talvez você tenha que ir a delegacia, mas acho que isso é o necessário. – Santana reassumiu seu tom profissional, tentando ignorar toda a bagunça que aquela ruiva fazia em sua cabeça. Observou a expressão de Julianne sair da confusão para o desespero, a ruiva procurou se acalmar e mordeu o lábio, ansiosa. Depois, voltou os olhos esverdeados para Santana e murmurou suplicante:

- Por favor, não faça isso.

- Eu não vou tolerar que seja espancada novamente, Sra. Urie. – Santana dissera incrédula antes de se levantar e dar a volta na mesa, sentando-se ao lado de Julianne. A ruiva se encolheu diante da postura agressiva e repreensiva da outra, respirou fundo e tornou a pedir:

- Por favor, pode fazer qualquer coisa, mas não peça uma ordem judicial.

- Por que esse nervosismo, Sra. Urie? – Santana perguntou curiosa, enquanto uma expressão astuta tomava sua face. A testa da latina vincou-se ao observar Julianne baixar os olhos e brincar com o fecho da bolsa, inquieta. Santana não suportou aquele ato, ele refletia o medo e a angústia da mulher a sua frente, puxou a cadeira e colocou a mão sobre a de Julianne.

Era a primeira vez naquele dia que as duas se tocavam depois do “quase” beijo. Julianne ergueu os olhos no mesmo instante, mas Santana permaneceu observando a sua mão sobreposta a dela. O contraste da pele morena com a pele branca era bonito e Santana afagou a mão de Julianne com o polegar. A ruiva mordeu o lábio e esperou, pacientemente, os olhos escuros chegarem aos seus. E assim eles chegaram, escaldantes, defensivos, protetores... Santana sorriu triste e inclinou a cabeça, Julianne não teve escolha senão responder:

- Michael não pode saber que eu estou querendo me divorciar. Por mais que eu fique humilhada e destruída quando ele me bate, eu não posso deixar que ele saiba. Ele pode me matar por causa disso.

- Tem certeza que é só isso? Eu já trabalhei em muitos casos assim, Sra. Urie. Uma ordem de restrição é a primeira coisa que as mulheres costumam pedir. – Santana estava sendo cuidadosa com suas palavras, de uma forma que nunca tinha sido, nem mesmo com Brittany ela falara daquela forma. A latina sentia um instinto protetor que a empurrava para proteger Julianne, um instinto que parecia natural. Julianne engoliu e desviou os olhos de Santana, algumas lágrimas poluíram os olhos esverdeados e com a voz trêmula, ela respondeu:

- Eu não tenho onde ficar, não tenho a quem recorrer. Se você pedir uma ordem de restrição, eu só ficarei ainda mais vulnerável. Eu preciso estar na casa com ele, pelo menos até o dia da audiência.

Santana ficou calada, ela não tinha argumento contra aquelas palavras. Por mais que quisesse, não podia abrigar Julianne em sua casa. Dando-se por vencida, Santana ficou em pé e passou a caminhar pela sala, perdida em seus pensamentos. Não podia deixar Julianne sozinha, Puck teria que quebrar mais um galho para ela.

Julianne contemplou a mulher a sua frente e colocou-se em pé também. Santana Lopez intimidava e colocava medo em qualquer um, quando a viu montando o escritório, percebeu que ela era o que procurava. Santana era forte e incansável, lutaria até o fim e talvez, pudesse tirá-la daquele inferno. Julianne não sabia quando a sua vida tornara-se um inferno, mas estava disposta a acabar com aquilo e Santana podia lhe ajudar. Só que ela não esperava aqueles sentimentos rebaterem dentro de si, ela não esperava a confusão que se instalara em sua cabeça... Julianne não esperava sentir tanta coisa ao mesmo tempo.

Abruptamente, Julianne apanhou sua bolsa e caminhou até a porta. O som dos saltos de seus sapatos foi ouvido por Santana que saiu de seus devaneios e a acompanhou até a porta, a latina abriu educadamente e disse:

- Não devo te esperar, não é?

- Eu aparecerei dentro de 15 dias para continuarmos com o caso. – Julianne disse insegura, ela não sabia se estaria viva dali a alguns dias que dirá em 15 dias. Michael era surpreendente. Santana agitou a cabeça negativamente e passou os dedos lentamente pelo supercílio que agora, tinha o sangue estancado. Julianne fez uma careta de dor e olhou fundo nos olhos escuros. – Prometo que vou tentar aparecer.

- Se você demorar mais de 15 dias, eu disparo essa ordem de restrição. – Santana murmurou ameaçadora e séria, a verdade era que ela não queria que Julianne se aproximasse daquele Michael, ela queria que Julianne ficasse ao alcance dos seus olhos, onde pudesse protegê-la. Julianne deu um sorriso, corando em seguida. Santana sentiu seu coração quase sair pela boca. – Estou falando sério.

- Eu vou me manter viva até lá, prometo. – Julianne sibilou com um tom irônico e um humor negro na face que incomodaram Santana. A latina reassumiu uma carranca e o ar sério, ela fechou a porta atrás de si e ficou olhando para Julianne na escuridão do corredor. A ruiva percebeu a gafe e abaixou a cabeça. – É sério, Dra. Lopez. Michael só me agride quando chega frustrado do trabalho ou quando está bêbado, prometo que se ele levantar a mão para mim, eu corro para cá.

- Melhor, corra para meu apartamento. – Santana sugeriu rapidamente, se arrependendo no mesmo instante. Julianne conteve um sorriso e procurou olhar para qualquer outro lugar, fora a face de Santana. A latina apanhou um cartão dentro do bolso e escreveu o endereço no verso, entregou para Julianne com uma careta. – Eu falo sério, arrumarei onde você ficar.

- Obrigada, Dra. Lopez. – Julianne agradeceu com um sorriso totalmente diferente de todos os que Santana tinha visto, tinha esperança. Santana acabou sorrindo também, apesar de todo o cansaço e preocupação, ela respirou fundo e disse:

- Santana, por favor.

Julianne acenou com a cabeça e lhe deu as costas, caminhando rapidamente pelo corredor. Santana voltou a entrar em seu escritório com o ânimo renovado, foi até sua mesa e desligou o notebook. Depois, virou-se para a janela e observou quando Julianne atravessou a rua, sorriu porque poderia fazê-la feliz.

Seu coração tornou a desobedecer e martelou em seu peito. Santana colocou a mão ali e respirou fundo, ergueu os olhos para o teto em uma prece muda para que sua racionalidade falasse mais alto e que aquela confusão não fosse nada além de um sentimento protetor.

Santana estava pedindo para não amar.


###


- Sim, Mr. Schue... Rachel aceitou. – Quinn murmurou orgulhosa para o telefone enquanto olhava para Rachel que examinava a sua estante de filmes no momento. Mr. Schue agradeceu e despediu-se com uma risada. Quinn colocou o fone no gancho e voltou para a sala, com uma expressão que mesmo cansada, era da mais pura felicidade. Rachel desviou a atenção da estante quando ouviu os passos próximos, ela virou-se para Quinn e com um sorriso enorme, comentou sarcástica:

- Pelo visto, continua amando os dramas, não é Fabray?

Quinn deu uma sonora gargalhada e se aproximou ainda mais. Sua cintura foi envolvida pelos braços morenos e um beijo foi depositado em seu pescoço, Quinn segurou o rosto de Rachel com as duas mãos e beijou-lhe os lábios delicadamente antes de responder:

- Digamos que eu continuo apreciando a boa arte, Berry.

- Sabe muito bem que é muita pretensão sua acreditar que só os dramas são bons... Não é? – Rachel argumentou ligeiramente emburrada e com um beicinho, Quinn tornou a se aproximar dela com um sorriso e lhe roubou outro beijo. Rachel franziu a testa e esbofeteou os braços da loira de leve. – É sério, Quinn... Qual o problema das pessoas com os musicais?

- O meu problema não é com musicais e sim, com certa baixinha que me fez ver todas as obras da Broadway em seis meses. – Quinn murmurou irônica e recebendo beliscões de Rachel na cintura, ouvindo a gargalhada dela soar como melodia em seus ouvidos, a loira a apertou em um abraço carente e beijou-a de verdade dessa vez. Rachel mordeu seu lábio inferior e virou-se de costas para ela, Quinn enlaçou sua cintura, correndo os dedos pela base das costas e beijou-lhe a nuca enquanto Rachel começava a observar algumas fotos em cima da prateleira.

Os dedos de Rachel correram pelos porta-retratos com uma concentração e atenção hipnotizadas, ela parecia querer conhecer aquela Quinn Fabray que estivera fora da sua vida por sete anos. Os olhos castanhos estavam semicerrados e observavam todas as imagens ali, observavam e imaginavam as situações vividas por Quinn naqueles anos que separaram as duas. A maioria incluía Quinn com Kurt ou com Sam por Lima e algumas outras eram de lugares que Rachel não conhecia, como uma biblioteca e um museu. Mas uma lhe chamou a atenção, Rachel parou em uma fotografia de Quinn em plena Broadway, em frente ao cartaz da nova montagem de RENT.

- Você foi à Nova York? – Rachel perguntou surpresa e virando-se para olhar Quinn, o sorriso da loira morreu aos poucos e ela arqueou a sobrancelha, incomodada com as lembranças. Quinn puxou Rachel para o sofá e ambas se sentaram, Rachel ficou de joelhos enquanto Quinn escorava-se no apoiador de braço e respirava fundo. Os olhos castanho-esverdeados pareciam distantes, Quinn deu um sorrisinho triste e respondeu:

- Fui até lá, um ano após a nossa formatura.

- E por que não foi me ver? – Rachel perguntou incrédula e agora, parecia determinada a conseguir suas respostas. Quinn engoliu em seco e olhou para a morena, culpada. Rachel inclinou a cabeça e se aproximou, acariciando a bochecha da loira. Quinn respirou fundo, obtendo coragem com o carinho e tornou a responder:

- Na verdade... Eu fui te ver, esperei na frente do seu apartamento durante toda a noite até que você apareceu totalmente descabelada e com uma mulher a tira colo.

- Droga! – Rachel murmurou envergonhada, lembrando-se vagamente daquele dia. Se bem se recordava, fora a primeira vez que ficara com uma mulher em NYC, era uma colega da Julliard, da turma da música clássica. A morena corou e só saiu de seus devaneios quando ouviu as risadas de Quinn próximas de si. Quinn virou-se para ela e agora, enlaçava o corpo da morena com suas pernas, a ex-cheerio mordeu a bochecha de Rachel e perguntou ao pé do ouvido:

- Alguma coisa da qual se envergonha, Berry?

- Ahm... Sim, na verdade. – Rachel respondeu roucamente enquanto beliscava a nuca de Quinn para depois passar as unhas lentamente, Quinn se arrepiou em seus braços e a respiração dela fez-se sentir ofegante na pele exposta de seu colo. – Foi a minha primeira vez com uma mulher, digo... Dormimos juntas.

- Isso eu percebi. – Quinn comentou um pouco fria e Rachel se afastou daquele abraço desengonçado para observá-la com um ar risonho. Quinn parecia enciumada, os olhos estavam semicerrados e a postura tencionara levemente. Rachel se aproximou para um beijo e Quinn se afastou, com os lábios crispados. – Até porque, eu vi o beijo que vocês deram na portaria.

- Me desculpe por isso. – Rachel pediu preocupada, Quinn acenou de mal grado com a cabeça, mas a expressão continuou fechada. A morena quase riu daquela situação, nunca imaginaria que Quinn Fabray teria ciúmes de si. Rachel a puxou para perto de novo e encarou aqueles olhos castanho-esverdeados com intensidade, massageou o pescoço de Quinn e aplicou-lhe um selinho demorado nos lábios. – Eu acho que... Eu acho que estava procurando você em outras mulheres, ela me lembrava você justamente por causa do apreço pelos filmes dramáticos.

Os olhos de Quinn movimentaram-se a contragosto até a face morena e expressiva, Rachel tinha os olhos chocolate ansiosos e mordia o lábio inferior, nervosa. Quinn acabou dando um leve sorriso que fez Rachel se aproximar de novo e lhe dar mais uma sequência de beijos, Quinn estava feliz por ser lembrada desde sempre, de uma forma egoísta e até paranóica, ela sentia como se ela e Quinn pertencessem somente uma a outra e a necessidade de achar ocupantes para ambas naqueles sete anos não fora nada além da auto-preservação, da necessidade de mantê-las vivas na mente e no coração.

Rachel estava para se separar quando Quinn a puxou para perto e as duas deitaram-se sobre o sofá, sem nunca perder o contato visual. Rachel ficou por cima, sobre o colo de Quinn, olhando-a visivelmente interessada. Quinn beijou-lhe os cabelos castanhos e murmurou com um sorriso:

- Eu também procurava você em outras pessoas, aparentemente, nenhuma era tão insistente e fofa como você. Então acho que posso tolerar aquela mulherzinha que passou a noite com você.

- Ah é? O que quer dizer com isso, Fabray? Já gostava tanto assim de mim? – Rachel questionou convencida para depois morder a pele da barriga de Quinn por cima do tecido da blusa, a loira soltou sonoras gargalhadas roucas e a puxou pela nuca para que as bocas ficassem próximas. O cheiro doce de Rachel estava enlouquecendo-a, Quinn puxou os cabelos castanhos lentamente e aplicou um beijo sôfrego nos lábios carnudos. Rachel sorriu entre o beijo, parecendo ter a resposta de sua pergunta e estar satisfeita com ela. Mas Quinn a mordeu no queixo e murmurou:

- Sam tornou-se meu melhor amigo porque eu precisava ocupar seu lugar. Acabamos namorando porque minha relação com ele lembrava o que eu tinha com você. Não na mesma intensidade, mas me lembrava você de alguma forma...

Rachel sentiu as lágrimas chegarem aos olhos quando Quinn acabara de falar, ela respirou fundo e abriu o seu grande sorriso de 1000 watts que fez Quinn sorrir também. Rachel não esperava que fosse sentir-se necessária para Quinn. A morena se aproximou e beijou Quinn, depois, deixou-se ser levada por Quinn que a aconchegou em seus braços deitando sua cabeça no próprio peito. Ouvindo as batidas ritmadas do coração de Quinn, Rachel continuou melancólica:

- Nova York foi uma época difícil para mim. No começo, fingir que eu não tinha vindo de Lima e nem tinha conhecido você pareceram ótimas idéias. Mas eu comecei a ficar amargurada por não conseguir mais me lembrar de vocês quando chegava o fim do dia. Então, todos os meus problemas com o trabalho e a faculdade também apareceram...

Quinn percebeu que Rachel ficava fragilizada ao falar dos seus sonhos destruídos em Nova York, o tom da voz baixava cada vez mais e os movimentos em sua barriga ficavam mais ansiosos e rápidos. Quinn mordeu o lábio, amaldiçoando a própria covardia de não ter insistido mais há alguns anos, talvez os sonhos de Rachel ainda estivessem vivos. Aliás, Quinn se culpava tanto por ter destruído os sonhos de Rachel... A loira apertou Rachel em seus braços, beijando-lhe o topo da cabeça enquanto sentia as mãos dela dedilharem sua cintura. Quinn suspirou e disse calmamente:

- Se você quiser, podemos não falar sobre isso e ficarmos em silêncio.

- Eu preciso falar sobre isso com alguém, Q. – Rachel respondeu sincera enquanto erguia a cabeça para olhar os olhos de Quinn, a ex-cheerio sorriu para ela e Rachel pareceu sentir toda a confiança do mundo ali, naquele rosto tão perfeito. A morena apertou a cintura de Quinn. – Eu percebi dolorosamente que o talento pode não ser a única coisa importante. Eu não tinha um nome, não tinha contatos... Só o meu talento, percebi tarde demais que teria que fazer outras coisas caso quisesse entrar no circuito da Broadway.

Quinn engoliu em seco, diante do tom frio de Rachel, ela não tinha muita certeza se queria ouvir o que a morena queria dizer. Ainda mais quando Rachel estava contando todas as suas mágoas enquanto Quinn continuava a trancar os seus esqueletos no armário. Quinn apertou a pequena em seus braços e afagou-lhe os cabelos, encorajando-a a falar. Rachel ronronou satisfeita e continuou:

- Eu nunca me submeteria a um teste do sofá ou a outros favores sexuais. Mas havia gente na minha turma da Julliard que fazia isso, gente que não se esforçava nem metade do que eu me esforçava e estava saindo na frente, estrelando peças e gravando CDs. De alguma forma, eu fui sendo tomada por essa raiva que, ao somar com minhas saudades de casa, me fizeram ficar ainda mais amargurada.

Quinn não sabia o que dizer, ela abrira a boca nos últimos segundos na esperança de que as palavras pudessem sair de sua boca, mas elas nunca vieram. Quinn pode sentir alguma umidade em sua blusa e, ao baixar os olhos, percebeu que Rachel tentava segurar o choro. Quinn ergueu a face dela com um toque delicado em seu queixo e pediu:

- Por favor, não fale sobre isso se lhe machuca tanto.

- Eu preciso, Quinn. Se eu não falar sobre minhas dores, eu nunca vou conseguir cantar novamente. Eu não posso perder a fé em mim de novo. – Rachel respondeu corajosa e foi a vez dos olhos de Quinn se encherem de lágrimas. Ela observou aquela morena tão pequena aninhada ao seu corpo e viu arder nela uma coragem familiar, a mesma coragem que lutava por solos e que liderava o New Directions.

Rachel sempre fora moldada em meio à aversão e preconceito, sempre teve que lidar com problemas e rejeição. Mas ali estava ela, reerguendo-se pela décima vez, lutando para ser feliz de novo. Saindo de seu buraco e enfrentando o mundo... Voltando a brilhar. Os esqueletos no passado de Quinn começaram a ressuscitar e agora, já eram fantasmas incômodos no seu peito e mente. A verdade sobre aqueles sete anos ficou engasgada em sua garganta. Beth, faculdade, família Fabray...

Quinn não era tão corajosa, Quinn não sabia se conseguiria falar de seus próprios problemas.

- E quando eu consegui fazer um musical, ele foi boicotado no ano de estréia. Descobri que tinha sido passada para trás pelo meu suposto agente e que ele não estava fazendo nada por mim além de pegar mais da metade da minha mesada. – Rachel tinha um tom levemente irônico e frio naquele momento, Quinn não precisou olhar nos olhos dela para enxergar a fúria da morena. Rachel sentou-se olhando vagamente para a TV e Quinn permaneceu deitada próxima ao encosto do sofá, acariciando as costas dela, dando-lhe forças enquanto tentava esconder a própria fraqueza. – Frustrada, sem dinheiro e perdidamente apaixonada, tive que voltar para a Lima e eis que o destino coloca Quinn Fabray na minha vida de novo. Ironicamente, foi você quem me salvou dessa vez.

Rachel estava sorrindo dessa vez e Quinn não conteve as lágrimas, ela sentou-se de lado no sofá e beijou o ombro de Rachel. A morena sorriu e a puxou para perto, aninhando-se entre as pernas da loira e sorrindo, apesar das lágrimas que estavam escorrendo de seus olhos. Quinn acenou com a cabeça, limpando-lhe as lágrimas e disse orgulhosa:

- Realmente, eu posso ter esse poder de vez em quando. Era o mínimo que eu podia fazer depois de você me salvar daquele mundo de aparências e reputações.

Rachel abraçou-a pela cintura e beijou o pescoço de Quinn. As duas ficaram em silêncio enquanto Quinn a ninava e murmurava alguma melodia aleatória em seus ouvidos. Rachel respirou aquele perfume de rosas que sempre estivera em seus sonhos e que agora, era mais palpável que qualquer coisa naquela vida.

A melodia que Quinn murmurava não a assustava, pelo contrário, a música parecia ter voltado a sua vida. Na verdade, parecia nunca ter saído. O coração de Rachel acelerou e ela sorriu involuntariamente, sentiu os braços de Quinn a apertarem e se sentiu em casa. Quinn mordeu seu pescoço e perguntou rouca:

- Está melhor agora, pequena?

- Acho que sim. – Rachel murmurou preguiçosa e com um sorriso pelo apelido carinhoso, fechou e abriu os olhos lentamente enquanto uma expressão aliviada e em paz preenchia seu rosto. Quinn sentiu-se entre o mal e o bem. Mal porque estava escondendo coisas sobre seu passado, sobre Beth e sobre a faculdade por puro medo de ser julgada e bem porque presenciou ali que era uma espécie de porto seguro para a diva. Rachel apertou a camisa de Quinn entre os dedos e a mão da ex-cheerio desceu até a barra de sua blusa. Rachel abriu os olhos. – O que está pensando, Fabray?

- Talvez, eu queira é...! – Quinn estava envergonhada e corando, sentindo seus braços e mãos tomarem destinos que ela desconhecia, talvez pelo medo de ter sido pega escondendo-se ou por uma força desconhecida. Rachel sorriu maliciosa e virou-se de frente para ela, Quinn sentiu-se derreter diante do calor que a morena emanava agora. Rachel deslizou sobre ela, ficando por cima e colocou uma das mãos trêmulas de Quinn sobre a própria cintura, tirando a blusa do caminho.

O contato de pele com pele fez Quinn morder o lábio e sufocar um gemido involuntário, a expressão de Rachel ficou ainda mais maliciosa e ela movimentou o quadril. Rachel montou sobre a pelve de Quinn e puxou-a pela blusa, a loira estava ofegante e as pupilas extremamente dilatadas. Rachel enlaçou o pescoço de Quinn e exerceu um pouco de pressão sobre a pelve dela enquanto murmurava ao pé do ouvido da ex-cheerio:

- Você pode fazer o que quiser comigo, Quinn.

Quinn foi envolvida pelo clima de desejo e deslizou as mãos até a base das costas de Rachel, por baixo da blusa, ela arranhou a pele morena e a puxou para perto. Uma risada surpresa saiu dos lábios de Rachel quando sentiu o arrepio tomar sua pele, Quinn abocanhou sua boca com voracidade.

Os lábios eram mordidos, sugados, chupados... Enquanto as línguas já brincavam entre si e exploravam a boca uma da outra. As mãos de Rachel adentraram nos cabelos curtos enquanto a morena pressionava-se ainda mais de encontro a Quinn, a loira a apertava e quando o ar faltou, rumou para o pescoço, mordendo enquanto Rachel gemia em seus braços.

A sensação de poder envolveu Quinn e, com esforço, ela inverteu as posições. Rachel olhou para ela surpresa vendo-se por baixo, mas a puxou de volta enquanto descia as mãos lentamente por baixo da blusa, a pele pálida ficava levemente vermelha por causa dos apertões. A ex-cheerio saiu do sério quando sentiu as mãos de Rachel apertarem sua bunda. Quinn gemeu alto, teve até que parar de beijá-la para respirar. Rachel sorriu maliciosa e lambeu-lhe o pescoço exposto...

A cabeça de Quinn girou, nenhum homem tinha tocando-a daquela forma: tão sexy e, ao mesmo tempo, tão apaixonada.

Mas Quinn nunca achou que fosse odiar “Don’t Rain On My Parade” da forma que odiava naquele momento. A voz de Barbra nunca lhe pareceu mais cansativa e entediante, nem mesmo após as sessões de “Funny Girl” em sua adolescência.

- Não pode ser! – Rachel gritou frustrada enquanto tentava manter-se racional com Quinn executando leves movimentos sobre o seu quadril. A morena sufocou um gemido e Quinn tornou a beijá-la enquanto Barbra continuava a cantar e o celular vibrava em seu bolso. Rachel tentou se afastar, mas Quinn a puxou para perto de novo, quase a deixando sem ar. – Eu preciso ver quem quer falar comigo, Quinn!

A voz de Rachel soou sôfrega e impaciente ao empurrar Quinn com muito esforço. A loira soltou um muxoxo antes de morder-lhe o lábio e afastar-se. Rachel ergueu um pouco o corpo e sentou-se, puxando o celular do bolso. Quinn sentou-se atrás dela, envolvendo o corpo moreno com as pernas e mordendo-lhe o pescoço. Rachel revirou os olhos ao ver o número dos pais no identificador. Nem sequer atendeu, mas levantou-se rapidamente, deixando uma Quinn confusa e decepcionada a perguntar:

- O que aconteceu?

- Meus pais estão surtando por causa do horário. Nós brigamos pela manhã e eu preciso ir embora para casa. – Rachel murmurou tristemente, antes de calçar os tênis e levantar-se. Quinn a puxou pela cintura e Rachel caiu em seu colo. Quinn beijou a bochecha da morena com carinho, a ex-cheerio deixou Rachel se afastar e as duas se olharam entre lágrimas de riso. Quinn colocou uma mecha castanha atrás da orelha e sentenciou apaixonada:

- Estamos parecendo adolescentes por seus pais ligarem interrompendo nosso amasso do primeiro jantar.

- Talvez o tempo não tenha passado para nós, Q... Talvez, ficamos paradas no tempo para nos reencontrarmos. – Rachel respondeu meigamente e ganhando um sorriso emocionado antes de se levantar. As duas caminharam de mãos dadas até a porta e se despediram com vários beijinhos e murmúrios de “eu te ligo mais tarde”.

Quase correndo pelo corredor, sentindo seu coração acelerado e cantando a música interrompida de Barbra Streisand... Rachel viu que, realmente, o tempo não tinha passado entre elas.

Ainda eram as mesmas, ainda sentiam o mesmo.


###


Quinn Fabray arrastava os pés pela cozinha do apartamento. Rachel ligara algumas vezes naquela manhã a sua procura, mas a ex-cheerio estava recolhendo-se a sua vergonha e covardia e se isolando do mundo enquanto tomava um copo de suco de laranja.

A noite passada fora incrível, ela se sentia maravilhosamente bem por ter sido capaz de ajudar Rachel com todos os traumas de Nova York. Também se sentia leve por Rachel ter sido capaz de confiar nela e ter deixado que ela fosse curando as feridas aos poucos... As coisas estavam destinando-se a um final feliz para ambas.

Mas Quinn sabia que só seria realmente feliz quando começasse a ser sincera com Rachel, sabia mais do que ninguém que as coisas podiam sair do controle quando um dos elos da relação mentia. Quinn Fabray convivera a vida toda com aparências e mentiras, o casamento dos seus pais era um teatro que se sustentava até hoje, seus namoros de ensino médio foram marcados por omissões e traições das quais ela se envergonhava até hoje... Aprendera dolorosamente que mentiras não sustentavam as coisas por muito tempo e queria ser sincera com Rachel, era o mínimo que podia dar.

Era óbvio que Quinn se envergonhava. Seus problemas eram ínfimos perto do que Rachel passara em Nova York. Quinn perdera a família e a fé... Mas nada se comparava aos sonhos destruídos de Rachel. Então, por que era tão difícil falar? Quinn não gostava do rumo que seus pensamentos estavam tomando... Ela nunca falara com ninguém sobre o que sentira naqueles sete anos, Sam sabia de algo porque era bom em lê-la. Mas nunca tivera coragem, sempre remoia as coisas dentro de si e colocava uma máscara sorridente no rosto.

Parecia que, se falasse, doeria ainda mais. Traria todo o sofrimento de volta, ressuscitaria carmas e sensações que ela sabia que não seria capaz de lidar.

Quinn estava prestes a voltar a dormir para ignorar os chamados de seu telefone quando escutou uma batida forte na porta de seu apartamento. A ex-cheerio revirou os olhos e tomou o restante do copo de suco e saltou da mesa para o chão, arrastou os pés pela sala e abriu a porta, dando de cara com Puck segurando Sam pelo colarinho da camisa e Santana com os braços cruzados ao seu lado.

- O que está acontecendo aqui?

- Sam quase foi preso hoje. – Puck murmurou com a voz severa enquanto evitava olhar para Quinn. Existiam muitas coisas entre o policial e a ex-cheerio e talvez, a principal delas fosse Beth. Puck trocou de peso nos pés e Santana o empurrou juntamente com Sam para dentro. O loiro fez uma careta de dor e resmungou manhoso:

- Parem de gritar, minha cabeça está doendo!

- Claro que ia doer, Evans. Isso se chama ressaca e é a menor das conseqüências por passar a noite inteira bebendo com Kurt e Dave. – Santana bronqueou com o tom de voz elevado, o que fez Sam apertar os olhos, gemendo de dor. Quinn olhou autoritária para as pessoas em sua soleira, depois de alguns segundos, a ex-cheerio abriu caminho e os três entraram, Puck jogou Sam sem cerimônia em cima do sofá e foi até a cozinha, onde Quinn concentrava-se em preparar um café. Santana permaneceu na sala, rezando uma bronca para Sam que se encolhia a cada grito da latina.

Puck caminhou lentamente até Quinn, encontrando-a de costas e debruçada sobre a cafeteira. Foram poucas vezes que ele entrou no apartamento de Quinn. Na realidade, tinha sido apenas nos primeiros anos após a formatura de Quinn na faculdade, depois, a ex-cheerio desapareceu da sua vida e da vida de Beth, sem a menor explicação. O policial passou a mão pela cabeça, respirando fundo. Quinn ouviu os sons do antigo namorado, mas tentou não dar atenção e apoiou-se sobre a bancada, esperando a cafeteira realizar o trabalho. Puck percebeu que teria que dar o primeiro passo e perguntou:

- Como estão as coisas, Quinn?

- Boas, na verdade. Rachel voltou para Lima. – Quinn respondeu evasiva, concentrando-se na cafeteira e sentindo um leve mal-estar. Puck ali trazia todos os seus pensamentos a tona, todos seus medos e toda a culpa por ter sido covarde com Rachel na noite anterior. Quinn passou a mão sobre os olhos e suspirou, Puck se aproximou um pouco receoso e apanhou o pulso dela, forçando-a a se virar delicadamente.

Quinn abaixou os olhos, recolhendo-se aos seus medos e sufocando suas lágrimas. Puck ergueu a face dela com um toque no queixo e ele tinha aquele sorriso sincero que há muito Quinn não via e sentia falta. Puck afagou-lhe o pulso e pigarreou para dizer:

- Eu sei como você se sente. Rachel era um pedaço da sua vida importante demais para ser deixado de lado. Assim como você é um pedaço da vida de Beth que não deve ser esquecido, não é?

Quinn, primeiramente, ficou surpresa e depois, abriu um sorriso irônico. A expressão de Puck se tornou dura enquanto a loira pensava que ele havia, de fato, perdido toda a sutileza característica de sua juventude. Quinn se afastou dele e recolheu a própria mão, apertou-se contra a bancada e estava prestes a responder quando a cafeteira apitou, anunciando o café pronto. Quinn serviu o conteúdo em xícaras, ofereceu uma a Puck que apanhou e depois, passou por ele, indo até a sala.

Santana tomou um gole de café e depois, entregou a xícara fumegante para Sam que, mesmo recusando, foi obrigado a tomar quando a latina ameaçou jogar o conteúdo quente nele. Quinn sentou-se na poltrona de leitura em frente aos dois e encolheu as pernas, decidindo ignorar Puck dali em diante. Quinn tomou um gole de sua xícara e perguntou:

- O que aconteceu?

- Sam foi preso por desordem. Pelo que Puck me explicou, ele resolveu voltar no tempo e fazer um strip-tease no bar... Óbvio que Kurt e Dave não fizeram objeção. –Santana estava furiosa e Quinn compartilhou da emoção da amiga quando olhou decepcionada para Sam. Os olhos do loiro estavam vermelhos, os cabelos bagunçados e a camisa vestida pelo lado avesso. Quinn balançou a cabeça negativamente. – Eu consegui tirá-lo de lá porque era plantão do Puck, senão, eu o deixaria de bom grado passar uma noite no xadrez.

- Por que fez isso, Sammy? – Quinn perguntou melancólica, aproximando-se do sofá onde Sam estava jogado e afagando os cabelos dele. Sam, imediatamente, aceitou o abraço de Quinn e se aconchegou. Quinn afagou os cabelos do rapaz e beijou-lhe o topo da cabeça, Santana revirou os olhos e Puck fuzilou Quinn com o olhar. Sam suspirou pesado e respondeu envergonhado:

- Eu só estava me sentindo sozinho e a bebida pareceu ser uma boa ideia, Kurt e Dave prometeram cuidar de mim.

- O casal 20 gay vai tomar algumas lições sobre bebidas, companhias e amigos em crises platônicas. – Santana murmurou revoltada, batendo nas pernas e colocando-se em pé. Ela deu um olhar significativo para Quinn e saiu do apartamento, Quinn apoiou Sam e o levou até o quarto de hóspedes. Colocou-o deitado e deu um beijo na testa dele. Quando voltou a sala, Puck ainda estava escorado na parede, bebendo seu café.

- O que você ainda faz aqui, Puckerman?

- Você sabe que precisamos falar sobre Beth. – Puck respondeu um pouco incomodado, levando a xícara até a cozinha e a lavando. Quinn revirou os olhos e sorriu maldosa quando pensou que Shelby estava criando-o bem. A loira arqueou a sobrancelha e respondeu fria:

- Não tem o que falar sobre Beth, eu me afastei e ela tem uma boa família para cuidar dela.

- Nós dois sabemos muito bem que você não devia ter se afastado. – Puck anunciou cansado e olhando para a ex-amiga com uma expressão que mesclava a decepção e a raiva diante das atitudes dela. Quinn retribuiu o olhar com amargura, Puck não sabia o que ela fora obrigada a escutar de Beth, muito menos o que aconteceu em seguida, Puck não tinha direito de julgá-la. Quinn ia responder quando a campainha tocou e ela desviou de Puck, lançando um olhar mal-humorado para ele enquanto abria a porta.

- Bom dia, Quinn! – A voz animada de Rachel Berry encheu o ambiente, mas rapidamente a morena perdeu o sorriso quando seus olhos encontraram Noah Puckerman acenando com um sorriso de lado e a expressão assustada de Quinn Fabray a observá-la. Rachel remexeu-se incomodada na porta e Quinn, saindo de seus devaneios, abriu caminho e disse:

- Bom dia, Rach. Entre!

- Na verdade, Q... Eu te ligo depois, até mais! – Rachel murmurou rapidamente antes de dar um beijo na bochecha de Quinn e sair praticamente correndo dali, sentindo o seu ciúme vir à tona enquanto caminhava pelo corredor e ignorava os chamados de Quinn. A verdade era que existia muito mais do que ciúmes ali, era medo. Era a primeira vez que via Puck desde a sua chegada e o azar do rapaz foi que ela o viu com Quinn e Rachel sabia qual era a importância dele na vida da ex-cheerio. Sentindo o peito apertar e a insegurança preenchê-la, Rachel apressou o passo e fugiu dali, o mais rápido que pode.

Dentro do apartamento, Quinn virou-se furiosa para Puck que deu de ombros e apanhou o paletó. O rapaz passou por ela e aproveitou a porta aberta para sair, ao contrário de Rachel, ele se virou no corredor e disse:

- Acho bom você começar a repensar em suas prioridades, Fabray. Ou pode ser tarde demais.

Quinn revirou os olhos e bateu a porta na cara dele antes de virar-se e apertar a ponte entre os olhos. Ela caminhou até o quarto onde Sam estava deitado, o rapaz abriu os olhos e perguntou sonolento:

- Está tudo bem, Q?

- Eu sei que deveria cuidar de você, mas se importa de cuidar de mim de novo? – Quinn perguntou dengosa e com um sorriso triste, parada ao lado da porta. Sam sorriu para ela e abriu os braços, entendendo tudo que acontecera ali. Quinn deitou ao lado dele e se aconchegou no peito dele. – Ouvi a voz da Rachel, ela estava aqui?

- Ela veio me ver, mas Puck a assustou, aparentemente. – Quinn respondeu amarga e fechando os olhos, tentando dormir e ignorar o aperto em seu peito quando reviu a expressão desesperada e ligeiramente magoada de Rachel. Sam fez um som que lembrou e muito um resmungo, o rapaz afagou o braço de Quinn e disse astuto:

- Você sabe que, em algum momento, vai ter que começar a contar o que aconteceu com você... Não sabe?

- Eu devo estar muito mal para ouvir conselhos de um Sam Evans de ressaca. – Quinn murmurou brincalhona, tentando desviar do assunto. Sam deu alguns beliscões em seu braço e riu roucamente, no mesmo instante, sua cabeça latejou. O rapaz pigarreou e murmurou:

- Calada, Fabray. Vamos descansar.

Quinn deu um sorriso e respirou fundo antes de fechar os olhos, porém, Sam a apertou mais contra si e murmurou em seu ouvido:

- Mas você sabe que eu estou certo, Quinnie. As coisas só vão dar certo se você não cometer os mesmos erros de antes.

Quinn mordeu o lábio e abriu os olhos, Sam adormecera com um sorriso nos lábios e a apertando contra si. Quinn olhou para ele e sorriu, involuntariamente. Mesmo Sam cheirando a álcool, aquele corpo era familiar ao dela e ela adormeceu, ao som dos roncos de Sam e das suas próprias lágrimas.


Rachel esperava os carros pararem de passar na rua em frente ao prédio de Quinn, estava ofegante e com uma dificuldade imensa de respirar. E aquela falta de ar não podia vir do esforço físico, afinal, descera de elevador. Era óbvio que vinha do seu emocional.

A morena colocou a mão sobre o peito e tentou se acalmar, fechando os olhos e murmurando algum mantra... Mas seu ritual foi interrompido pela voz grossa de Noah Puckerman a dizer, animada:

- É bom te ver de novo, princesa judia.

- Olá Puck... Desculpa por agora pouco. – Rachel apressou-se a dizer insegura enquanto sentia Puck parar ao seu lado. A morena olhou para o antigo amigo, Noah estava com óculos Ray Ban Aviator nos olhos, a camisa social amassada e com as mangas dobradas até a altura dos cotovelos e a calça jeans ligeiramente folgada. Carregava um paletó apoiado nas costas e sorria aquele mesmo sorriso sedutor de anos atrás. Puck abraçou a morena pelos ombros e disse brincalhão:

- Pedir desculpas pelos seus surtos, princesa? O que NYC fez com você?

- Pare de me deixar envergonhada, Noah. – Rachel respondeu corando e abaixando a cabeça. Puck deu uma gargalhada rouca e apertou seus ombros, Rachel tornou a olhar para ele e dessa vez, o sorriso tinha desaparecido dos olhos dele. Puck olhou para o relógio e murmurou apressado:

- Me desculpe, estou atrasado para o trabalho.

- Tudo bem... – Rachel respondeu insegura e incapaz de manter a conversa por mais tempo. Puck lhe deu um beijo no rosto e fez menção de atravessar a rua, até que deu meia volta e um pouco desconfortável, disse:

- Já que está aqui, procure conversar com Quinn sobre Beth e Shelby? Acho que ela confia o bastante em você para isso.

Rachel acenou com a cabeça, mas seu interior parecia destruir-se. Quinn não falara nada sobre Beth e Shelby. Rachel se sentia traída.


###


Lentamente os dias se passaram. Quinn e Rachel não tornaram a se falar desde o episódio no apartamento envolvendo Puck e a menção a Beth e Shelby. Rachel estava magoada demais para fazer uma tentativa de conversa e mesmo com Quinn se esforçando para marcar alguma coisa, Rachel escapou de todas as tentativas dela com desculpas e fugas. Rachel não queria falar e mesmo deixando Quinn no escuro, não sentiu remorso por isso.

Estava no seu direito, Quinn omitira as coisas para ela e mesmo com a sua cabeça gritando que estava sendo exagerada, Rachel Berry raramente voltava atrás em suas decisões.

Talvez fosse esse pensamento orgulhoso que a fez sair de casa na manhã do primeiro dia de aula no McKinley High. Como rompera contato com Quinn, recebeu uma mensagem de Mr. Schue dizendo para ela ir à escola na manhã seguinte e aguardar na diretoria. Rachel acordou e demorou algum tempo para escolher a sua roupa, no fim, optou por uma combinação de jeans, camisa social e sapatilhas. Desceu as escadas enquanto amarrava o cabelo em um rabo de cavalo, Leroy sorriu para ela e disse animado:

- Bom dia, estrelinha... Pronta para brilhar?

Rachel riu da animação do pai e deu um abraço nele. Depois, sentou-se a mesa e tomou um gole de seu chá, respondendo em seguida:

- Na verdade, pronta para fazer alguns jovens brilhar.

- Mas se eles brilharem, você estará brilhando também, pequena! – Leroy respondeu otimista e servindo pão integral para a filha. Hiram apareceu na cozinha nesse momento, segurando o jaleco de médico veterinário em uma das mãos e beijando a filha na cabeça enquanto dizia:

- Bom dia, perfeitos. Rach, Quinn deu sinal de vida?

Rachel sabia que o pai estava fazendo aquilo de propósito, agora... Se ele estava querendo que a filha fosse atrás de Quinn ou se ele queria que as duas mantivessem distância, Rachel nunca saberia. Hiram podia ser bastante cruel quando queria e misterioso também. Por isso, Rachel fingiu não escutar e terminou o seu café-da-manhã enquanto podia ver Leroy ralhando silenciosamente com Hiram.

Rachel terminou o café e levantou-se, deu um beijo na bochecha de cada pai e saiu caminhando até o McKinley. Assim que fechou a porta, pode escutar uma discussão romper na mesa. Leroy seria um eterno defensor de Quinn Fabray, a ex-cheerio era outra aos olhos dele.

Enquanto caminhava, Rachel tentava não pensar em Quinn. Mas isso era impossível quando a loira era a razão pela qual levantara naquela amanhã, sem Quinn, não teria conseguido esse emprego e muito menos teria voltado para a música. Rachel sentiu-se culpada pela primeira vez desde toda aquela situação, ela gostava de Quinn mais do que gostara de Finn e perdoara tantas mancadas do ex... Por que estava sendo tão exigente com Quinn?

Jogando os pensamentos de lado, Rachel acelerou seus passos e rapidamente chegou em frente ao colégio. Algumas lembranças a incomodaram, mas não foram as ruins e sim, as boas e poucas lembranças. Enquanto entrava no colégio e recebia alguns olhares curiosos, Rachel conseguiu lembrar com clareza os seus dias de ensino médio. Era tudo mais fácil agora que o local estava cheio de vozes e ruídos adolescentes. Rachel sorriu quando viu algumas Cheerios passarem por ela e riu mais ainda quando alguns jogadores de futebol olharam duas vezes para ela.

Algumas coisas permaneciam, afinal.

Seus pés, familiarizados com o local, conduziram-na imediatamente para a diretoria. Uma mulher de meia idade estava sentada diante da mesa da secretária do diretor. Rachel pigarreou para chamar a atenção e ela a olhou gentilmente, Rachel sorriu e disse insegura:

- Mr. Schuester pediu que eu o esperasse aqui.

- Ah sim, claro... O diretor disse que você chegaria, a senhorita deve ser Rachel Berry. Certo? – A secretária respondeu com um sorriso e levantou-se para acompanhá-la até a outra porta, Rachel apenas acenou freneticamente porque ainda estava digerindo a palavra “diretor” ligada ao nome de Will Schuester, seu antigo treinador do Glee e fracassado professor de Espanhol.

Quando foi deixada na sala, Rachel foi recepcionada com aquele mesmo sorriso sincero e seguro de si. Mr. Schue tinha alguns cabelos brancos em meio a massa castanha enrolada. Algumas marcas de expressão estavam mais evidentes, mas fora isso, ele permanecia exatamente o mesmo. Rachel notou isso quando ele se aproximou dela e a envolveu em um abraço saudoso enquanto murmurava:

- Quanto tempo, Rachel Berry!

- Realmente, Mr. Schue. – Rachel respondeu a saudação com um pouco menos de excitação. Mr. Schue afastou-se dela e ofereceu a cadeira para que ela se sentasse, os dois olharam-se com reconhecimento, mas com um pouco de mágoa provocada pelos anos sem se falar. Rachel apertou a madeira da cadeira e tentou dar um sorriso. – Diretor, huh?

- Pois é, os tempos mudam, Rachel... O que não muda é o orçamento majoritário das Cheerios. – Mr. Schue respondeu em tom de piada, o que acabou provocando risos em Rachel, a morena sentiu-se mais confortável quando notou o olhar de admiração ainda presente nos olhos de William Schuester. Não precisava ter medo, estava em casa, afinal. Rachel respondeu mais a vontade:

- Achei que pudesse lidar com isso agora, Sr. Diretor... Mas pelo visto, terei que mendigar alguns dólares de patrocínio com o Clube Glee.

- Que isso, Rachel. – Mr. Schue disse um pouco incomodado, mas sorriu quando percebeu que Rachel Berry estava brincando com ele. O diretor deu um sorriso aliviado e respirou fundo, retornando ao semblante sério. – A realidade é que a missão a sua frente é bem mais difícil do que mendigar um pouco de dinheiro.

Antes que Rachel pudesse responder. A porta se abriu com um barulho seco e a morena viu Mr. Schue sorrir para o visitante. Ele se levantou para cumprimentar o recém-chegado e Rachel se virou, dando de cara com Quinn Fabray a sorrir para ele. Quinn cumprimentou o professor com um apertou de mãos e alisou as pregas de sua saia comportada antes de acenar para Rachel. A morena abriu a boca, mas acabou corando. Mr. Schue percebeu o clima e adiantou:

- Eu realmente gostaria de te manter informada sobre tudo que aconteceu por aqui, Rach... Mas Quinn vai te ajudar, ela conhece tudo tão bem quanto eu.

- Ah sim... – Rachel murmurou vagamente, ainda entorpecida em sua vergonha por encontrar Quinn de surpresa ali. Mr. Schue saiu da sala e Quinn a respeitou, mantendo-se calada e distante. O silêncio estava incomodando as duas, mas parecia confortável e plausível no momento.

O sino de entrada tocou e Quinn se remexeu, abrindo a porta e segurando-a para Rachel. A morena saiu por ela e a secretária sorriu para ambas, Quinn a cumprimentou e ambas estavam saindo quando a mulher adiantou:

- Miss Fabray, a sua próxima classe é daqui alguns minutos.

- Se importa de cuidar deles por mim? Eu só vou levar Rachel até a sala do Glee, ela é a nossa nova treinadora. – Quinn respondeu com um tom ligeiramente orgulhoso que fez Rachel corar e sorrir de lado. A secretária sorriu para ela e afirmou com a cabeça, Quinn agradeceu com uma mesura delicada que lhe era característica e as duas saíram dali. Rachel esperou chegarem a metade do corredor, observou alguns alunos atrasados correrem até a sala e perguntou:

- Miss Fabray?

- Eu sou a professora de Literatura do McKinley High, Rachel. – Quinn respondeu educadamente e virando no corredor, alguns alunos ficavam nas portas quando viam Miss Fabray caminhar pelo corredor. Quinn acenava para eles antes de mandá-los entrar para a sala com um ar gentil.

Quinn parecia tão confortável naquela profissão.

Mais uma vez, Rachel sentiu-se traída por ela... Como se Quinn escondesse ainda mais segredos dela. Devido a isso, a morena respirou fundo e perguntou com o tom de voz ligeiramente amargo:

- E quando pretendia me contar isso? Ou contar sobre Beth e Shelby?

- Talvez em algum momento nesses dias que você permaneceu sem falar comigo, Rachel. – Quinn estava na defensiva agora, a loira crispou os lábios e continuou a caminhar. Diante da resposta que a calou, Rachel Berry continuou a caminhar ao lado de uma Quinn altiva e imponente. As duas viraram mais um corredor quando uma figura pequena, morena e muito animada trombou com elas. A menina arregalou os olhos e perguntou eufórica:

- É ela mesma, Miss Fabray?

- Sim, é ela, Claire... Agora eu acho melhor você voltar para a sala, avise os outros que eu chego dentro de alguns minutos. – Quinn respondeu com um ar doce enquanto sorria diante da animação da pequena. Claire correu de volta para a sua sala que ficava em algum ponto de corredor. Quinn virou-se para Rachel que tinha uma expressão confusa, a loira deu uma curta risada. – Essa é a capitã do Glee Club atual.

- Céus, ela me lembra alguém. – Rachel comentou de mal grado e revirando os olhos, Quinn riu da sua atitude, o que fez Rachel se irritar ainda mais. As duas finalmente chegaram ao Glee Club. Quinn abriu a porta para Rachel que permaneceu parada. – Você não precisava vir até aqui, eu sabia o caminho.

- Mas você não fez objeção a minha companhia, Rachel. – Quinn respondeu rapidamente e dando um olhar superior a morena enquanto cruzava os braços em frente ao peito. Rachel apertou os punhos e permaneceu séria. – Aliás, queria saber o que eu fiz para você me ignorar nesses últimos dias.

- Talvez, você devesse começar a me contar as coisas, Quinn. – Rachel respondeu magoada e olhando para os olhos esverdeados diante de si, Quinn respirou fundo, sentindo-se brutalmente culpada. A loira tentou tocar Rachel, mas a morena se afastou. – Ou pelo menos, me deixar saber da sua vida. Eu fui sincera com você sobre o que aconteceu em NYC.

- Rachel, eu não me abro tão facilmente... Você sabe disso melhor do que ninguém. – Quinn tentou se defender, mas antes de terminar a frase, sabia que Rachel não iria ceder. A loira suspirou pesado e Rachel disparou irritada:

- Porra Q, eu sou sua... Foda-se, eu não sei o que eu sou sua, mas eu mereço um pouco de consideração.

- Nós não vamos discutir isso aqui, Rachel. Estamos no nosso local de trabalho. – Quinn respondeu entre dentes quando um monitor de corredor passou por elas, observando-as com visível interesse. Rachel entrou na sala e Quinn foi atrás dela, a morena virou-se abruptamente e questionou:

- Por que ainda não foi trabalhar, Fabray?

Diante do tom de Rachel e do uso do sobrenome, Quinn apertou os punhos e saiu da sala a passos firmes enquanto Rachel sentava-se em uma das cadeiras e apertava as têmporas. A morena fechou os olhos e tudo naquela sala a lembrou da loira que acabara de sair dali. Possessa de raiva, Rachel rabiscou um recado numa folha e colocou-o na porta da sala, antes de sair a passos rápidos para o auditório.


###


Do outro lado da cidade, Noah Puckerman massageava a testa enquanto observava uma Santana Lopez furiosa a andar de um lado para o outro em sua sala. A latina falava sem parar desde que chegava e o policial decidiu ignorá-la na segunda frase. Santana bateu na mesa diante dele e interrogou:

- Você colocou aquela viatura na ronda da casa dela?

- Claro que coloquei, Lopez. – Puck respondeu cansado, pela terceira ou quarta vez desde que a advogada entrara ali. Santana lançou um olhar frio para ele e serviu-se do quinto copo de água em meia hora, Puck torcia para que o organismo dela fizesse o trabalho e a latina saísse dali para ir ao banheiro. – E se você não parar de perguntar, eu vou aplicar a ordem de restrição contra você e não contra Michael Urie.

- Eu estou bem, ok? Só estou preocupada com ela, ela disse que aparecia em quinze dias. – Santana murmurou vacilante e tomando o conteúdo do copo em um gole só. Puck ergueu os olhos para ela e percebeu que, querendo ou não, Santana Lopez estava começando a se preocupar com Julianne Urie e quando Santana Lopez se preocupava com alguém... Isso sim era preocupante, no fim das contas.

Puck olhou cansado para ela e respirou fundo, o policial se levantou de sua cadeira e sentou-se na mesa, em frente a amiga. Santana ergueu os olhos astutos para ele e Puck assegurou:

- Acredite, S... Se Michael a matasse e escondesse o corpo, nós saberíamos.

- Eu só estou preocupada, ela precisa de mim. – Santana murmurou evasiva e Puck lançou um olhar desconfiado, porque ele começava a acreditar que a verdade era outra.

A verdade era que Santana estava começando a precisar de Julianne Urie de uma forma completamente anti-profissional.


###


O dia passou como um borrão e quando Quinn deu por si, o último sinal tocara. Seus alunos saíram satisfeitos com a breve introdução que ela fizera a Literatura Inglesa, partindo de Shakespeare até chegar a J.K. Rowling. A loira recolheu seus pertences sobre a mesa enquanto remoia seus pensamentos.

Rachel estava neles, com aquela expressão decepcionada e magoada. A sorte era que Quinn era profissional demais para se deixar abalar com aquilo. Mas a ex-cheerio precisava vê-la e por isso saiu apressada da sala, caminhando até a sala do Glee e deparando-se com um breve aviso.


“Auditório.”


Quinn não conteve um sorriso, aquilo era tão Rachel Berry...


- Bem, boa tarde a todos. – Rachel respondeu um pouco insegura enquanto observava a turma diferente a sua frente. Eram cerca de 15 alunos, para a sua surpresa, existiam alguns jogadores de futebol e algumas cheerios entre eles, mas a grande maioria ainda era composta pelos losers. A turma a contemplava entediada e apenas Claire a contemplava com admiração. – Sejam bem-vindos de volta, eu sou Rachel Berry e serei a treinadora de vocês esse ano... Espero que possamos nos conhecer melhor e...!

- Com licença, mas a senhora esteve mesmo em NYC? – Uma loira, cheerio e que em muito lembrava Quinn perguntou com o tom curioso. A voz dela era leve, mas Rachel percebeu que o tom de voz indicava um vocal rouco e contido, talvez pudesse fazer dela uma Santana Lopez com uma rouquidão poderosa. Rachel olhou para ela e mesmo com a cabeça estourando de dor, respondeu gentilmente:

- Estive em NYC, estudei em Julliard. Sou formada em Música.

- Por que voltou, então? – Um garoto negro perguntou em um canto da sala, ele era um jogador de futebol e mais uma vez, Rachel pegou-se avaliando a voz dele e gostou, uma voz vinda do soul era um diferencial. Rachel voltou-se para ele e amarga, respondeu:

- Bem, existem outras estrelas em NYC.

- Você fracassou, então... O que te faz pensar que pode nos levar a vitória? – Mais uma vez, a loira perguntou e dessa vez, o tom dela era arrogante e maldoso. Rachel revirou os olhos e ficou em pé, sobre o palco. Claire lançou um olhar fuzilante para a loira e respondeu:

- Só por que ela não é uma cheerio, não quer dizer que não tenha talento, Christine!

- Miss Fabray era uma cheerio e cantou no Glee Club por três anos... Ela contou numa das nossas aulas. – Um tímido rapaz de óculos fundo de garrafa murmurou inseguro. Rachel sorriu aliviada para ele e continuou:

- Quinn Fabray fazia parte do New Directions e nos ajudou a conquistar as Nacionais. Eu não sou o melhor exemplo de que a música nos leva ao sucesso, mas de uma coisa eu sei: eu fui muito feliz enquanto estivesse no Glee Club, são lembranças que nunca vão tirar de mim.

- Como podemos ser felizes se nunca ganhamos? – Christine perguntou com o tom irônico e provocando risadas nas 4 cheerios que a acompanhavam. Rachel sorriu sarcástica para ela e se aproximou das poltronas onde estavam sentadas, a morena manteve a expressão diabólica e disse autoritária:

- Uma vez, um professor me ensinou que o melhor não era vencer e sim, manter uma unidade. Se você está infeliz com isso, sugiro que carregue sua bunda branca daqui juntamente com suas três amiguinhas... Eu não preciso de mais pessimismo nessa sala. Eu sei como é estar na base da pirâmide alimentar desse colégio e sei como é difícil lidar com um “clube de fracassados”... Você não precisa fazer ninguém se sentir pior.

Christine calou a boca e arregalou os olhos, assim como os demais alunos. Rachel suspirou aliviada e contente por ter descontado sua frustração em alguém, ainda mais em alguém que lembrava tanto Quinn Fabray. A morena voltou a caminhar para o palco quando viu Christine se encolher na cadeira e permanecer calada. Rachel sorriu para o resto da turma e continuou:

- Estar no Glee é fazer parte de algo especial. Mas eu preciso que vocês se esforcem para isso, eu preciso que vocês queiram isso. Porque não vai ser fácil, não foi fácil para mim e não será para vocês.

- Mr. Schue te chamou aqui por que cansou de nós ou para você fazer terapia otimista conosco? – A pergunta veio de uma gótica cheia de piercings, ela seria uma punk se freqüentasse a escola no tempo de Rachel. A morena virou-se para ela e educadamente, respondeu:

- Eu não acho que vocês precisam de otimismo, vocês já estão derrubados por me observarem com essas caras desiludidas. Eu acho que vocês precisam se reerguer.

Ninguém entendeu as palavras de Rachel, mas a morena sorriu radiante e fez sinal para Brad, o pianista ainda continuava ali, mudo e nesse momento, sorrindo. Imediatamente, as luzes baixaram e o som das notas invadiram o ambiente.


Feeling broken

Barely holding on

But there's just something so strong

Some where inside me

And I am down

But I'll get up again

Don't count me out just yet


Rachel olhou para a turma que parecia entorpecida pela sua música. Claire olhava superior para os outros, como se não os perdoasse por duvidar de sua ídolo. Rachel sorriu entre as respirações e fechou os olhos, sentindo o ar familiar do auditório preenchê-la. Sentindo-se viva como nunca se sentira em um palco da Broadway.


I've been brought down to my knees
And I've been pushed way past the point of breaking
But I can take it
I'll be back
Back on my feet
This is far from over
You haven't seen the last of me
You haven't seen the last of me


A redenção da platéia veio nas notas altas do refrão. Quando a voz de Rachel ecoou pelas paredes do auditório, sem falhar e sequer desafinar... Todos confiaram naquela mulher. Porque se a música a inflamava daquela forma, aquele Glee Clube tinha certeza de que seria queimado na mesma intensidade.

They can say that
I won't stay around
But I'm gonna stand my ground
Your not gonna stop me
You don't know me
You don't know who I am
Don't count me out so fast


Os olhos castanhos se abriram e eles estavam escuros. Com o brilho da realização presente ali. Rachel focalizou Claire na platéia e ela estava quase debulhando-se em lágrimas, Christine olhava para ela incrédula juntamente com suas amigas e os demais pareciam entorpecidos. Talvez, eles nunca tivessem visto tamanha intensidade em uma interpretação.


I've been brought down to my knees
And I've been pushed way past the point of breaking
But I can take it
I'll be back
Back on my feet
This is far from over
You haven't seen the last of me


Rachel Berry era conhecida pela intensidade de suas apresentações. Mas havia muito mais do que intensidade em sua música naquele momento. Havia saudade. A música estava voltando a abraçá-la de bom grado enquanto sua garganta inflamava e proclamava as notas com uma perfeição que ela não tinha esquecido, mesmo diante de toda mágoa e de seus sonhos despedaçados...


There will be no?
This is not the end
I'm down now
But I’ll be standing tall again
Times are hard but
I was build though
I'm gonna show all what I'm made off


Os olhos dos alunos se arregalaram, Rachel sorriu para eles. A morena realmente estava se reerguendo e exorcizando todos os fantasmas do passado. Não havia mais mágoa ou medo. Eram só ela e a música, ela e o piano... Ela e o seu coração batendo descontrolado. Rachel sentiu-se com 18 anos novamente, entoando a música que a fizera conquistar as Nacionais daquele ano. Estava realizada, completamente.


I've been brought down to my knees
And I've been pushed way past the point of breaking
But I can take it
I'll be back
Back on my feet
This is far from over
I am far from over
You haven't seen the last of me

E não existia o mundo lá fora. Rachel Berry estava entorpecida novamente, olhou rindo para as próprias mãos que tremiam. Seus olhos enchiam de lágrimas... O seu coração já perdera o ritmo há muito tempo e alguma coisa dentro dela vibrava, alguma coisa renascia. Ela ainda estava viva, a sua voz ainda podia ser ouvida. Ela ainda era Rachel Berry, afinal.


No no
I'm not going nowhere
I'm staying right here
Right now
You won't send me?
I'm not taking my bow
Can't stop me
It's not the end
You haven't seen the last of me
Oh no
You haven't seen the last of me


Rachel ouviu aplausos, mas ela estava flutuando em uma realidade muito além da terrena. Apertou as mãos contra o peito, as notas foram silenciando e seu coração acalmando. O torpor emocional passara, mas a sensação ainda estava lá, provando-a que ela estava viva. Rachel olhou para platéia e entre lágrimas, sibilou a promessa que fazia com seus alunos a partir daquele momento:


Haven't seen the last of me...

Os aplausos e assovios vieram. Rachel olhou para todos eles que sorriam e aplaudiam e tinham até lágrimas nos olhos. Rachel agradeceu com uma mesura e sorriu para todos, dispensando-os e mandando-os voltar na próxima semana. Todos saíram animados e otimistas.

Perdida em seus sentimentos e no silêncio do auditório, Rachel não ouviu os suspiros pesados, os soluços e os aplausos silenciosos de Quinn Fabray. Muito menos viu o sorriso de realização nos lábios e muito menos ouviu quando Quinn conseguiu respirar e disse baixinho:

- É bom te ter de volta, Rachel...



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Notas finais do capítulo

Eu sei, Faberry em crise e Julianne desaparecida... Sem mencionar a tristeza de Sam e a relação Shelby/Beth/Quinn.
Muita coisa, não? KKKKKK
Mas acho que recompensei tudo com a cena final da Rachel, certo? Espero que tenham compreendido o valor dessa experiência para ela, foi uma espécie de exorcismo. Não acham?
Gostaram ou não?
Reviews, por favor! Beijos e até a próxima.