A Cura Do Meu Coração escrita por Rafa SF


Capítulo 5
Capítulo 5




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Capítulo 5

 

—-/-/Sesshoumaru/-/-

Pensava em nosso percurso, imaginando possíveis pontos de emboscadas ou locais para descanso. Aprendi ser necessário a partir do momento que tive Rin como companhia de viagem. Descobri cedo sua falta de aptidão para o voo e desde então, limitava esses momentos ao necessário. A criança sempre se mostrou forte e evitava reclamar, mas sua náusea era palpável em todas as vezes que prosseguimos viagem pelos céus.

De cima da árvore acompanho o movimento das duas humanas. Estavam agitadas ao explorar a trouxa amarela da Miko, conversando constantemente sobre assuntos que este não conhecia. Jaken havia feito seu trabalho rapidamente, retornando com os pertences da Miko, com o mínimo de eficiência que espero do mesmo. Um gesto de cortesia necessário, evitando outro deslocamento a uma vila atrás de roupas femininas. Degradante.

—Trouxe tudo?_ questiono ao youkai sapo, antes que o mesmo retorne o objeto a dona.

—Lie, meu senhor. Eu tentei ser discreto, como ordenou, porém fui interrompido pela miko mais velha.

—Hm. 

De fato, relembro da idosa que cuidava de Rin e morava no mesmo local que a jovem miko. Dei por encerrado. Era o suficiente, por enquanto, o importante era continuar a viagem até suas terras antes da lua minguante, dia que comemoramos os anos de Rin. Vejo Jaken ainda curvado para mim e lhe indico para sair e cuidar de suas coisas. Retorno meus sentidos ao ambiente, em busca de qualquer coisa que precise de atenção imediata, mas a floresta estava silenciosa. Voltei à lua cheia em meio ao breu celeste, guardando-lhe em mais uma noite. 

Hoje esfriaria novamente, pois, apesar do céu limpo, o inverno começou, prometendo ser incomparável esse ano.

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Outra noite chega. Descansamos numa clareira, comuns já que estamos no fim da floresta sulista. O clima estava frio como havia previsto, não de modo incômodo, fresco para mim. A fogueira brilhava, à frente das mulheres adormecidas, mas qualquer atenção que o grupo atraía era balanceada pelo meu youki, nem mesmo os animais comuns ousavam se aproximar de um predador. Mesmo assim, nem a fogueira estava quente o suficiente para manter a barulhenta miko aquecida, seus dentes rangiam audivelmente, irritando meus ouvidos com o som agudo. Rin pelo menos se acolheu em Arurun, aproveitando do calor que o dragão emanava naturalmente para satisfazer suas necessidades, minha criança era esperta.

Não demorou até os sons característicos e inconvenientes de sua vã tentativa em se esquentar, me tirarem o foco. Terei a certeza de fazer a sua presença menos necessária possível assim que Rin se tornar satisfeita com os cuidados da maior. Lembro-me do episódio de mais cedo, cuja Miko, numa falha tentativa de persuasão, indicou que poderia seguir viagem sozinha a partir daquele ponto, mas foi prontamente recusada por Rin e os argumentos da menor foram bem colocados ao ponto de que poderiam convencer até a mim a mudar a decisão, de fato, a pequena estava cada vez mais articulada. 

De certo modo, acompanhei seu raciocínio, não que Rin soubesse dos acontecimentos recentes, concordei com o ponto de que sou responsável temporariamente pela Miko debilitada. Pelo tempo que o meu youki estiver misturado ao seu reiki, seria como decretar a sua morte abandoná-la e por isso, garantiria esse curto período de sua existência, até não ser mais responsável por si. 

Escuto outro ranger de dentes da miko. Haveria motivos para Tenseiga decidir salvá-la? Não há motivos para termos objetivos em comum e nem consigo imaginar um futuro o qual isso é possível. Bem, não é de hoje que sou incapaz de compreender as atitudes dessa espada. 

A observo melhor, questionando-me novamente as razões do bastardo em largá-la após anos de proteção. Nunca entendeu o motivo para ambos se unirem inicialmente, mas sabia que sendo o filho de seu Chichiue, não eram necessários muitos motivos para associar-se com os humanos, ele mesmo detestava admitir, mas acolheu uma sob suas patas. 

Nada comparado ao seu meio-irmão, que se envolveu romanticamente com uma, com duas. Por anos, questionei-me os motivos do Hanyou querer protegê-la e até se dispor a envolver-se romanticamente. Tal como não compreende o masoquismo da mulher. Eram companheiros, sabia, mas seria isso o suficiente para arriscar sua vida por ele? 

O que ela teria de diferente? Seu cheiro? A contragosto admitia ser agradável, mas não foi o melhor que já sentiu, sua aparência seguia o mesmo. Apesar de possuir uma trindade única de contraste, azul, pérola e anil, tão raro que nunca antes tinha visto algo parecido em todos os seus anos. Seu corpo talvez? Concordava que era agradável à vista, certamente a sacerdotisa não tinha exageros, era elegante e silenciosa em sua forma de andar e era delicada o suficiente para chamar a atenção de muitos homens, mas bastava alguém despertar-lhe e se tornava falante, barulhenta ao extremo. O suficiente para acreditar que uma convivência demandaria de mais paciência do que estou disposto a ter.

Inclusive agora, enquanto dorme, seus sons incomodam o meu âmago. 

Suspirei com a decisão de acabar com o som, um único gesto de gentileza garantir que não congelasse esta noite e assim, receberia o doce silêncio que prezo. 

Ordeno mokomoko a esquentar seu tremido corpo, transmitindo um pouco de calor ao ser. Não foi difícil alcançar seu corpo pequeno, que foi coberto quase completamente por mokomoko. Observo como ela aconchega-se à minha pelagem naturalmente e a calmaria retorna ao ambiente. Pude, então, voltar a admirar o astro no céu.

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Pouco antes de amanhecer, minha atenção foi tirada pelo arrepio em choque que subiu minha coluna, a partir do ponto de união de mokomoko. No momento, a miko acordara e desvendava o manto felpudo ao seu redor, provavelmente sem entender as consequências que suas carícias me traziam. Curiosas até para mim. 

Num pulo eu a alcanço e tiro suas mãos de mim, de mokomoko, a vendo paralisar com meus atos. Os olhos arregalados pelo susto. Poderia até ter me divertido com sua expressão envergonhada, se não estivesse enfezado por sua atitude petulante. 

—Vejo que acordou, humana.

—Ses- sesshoumaru!_ Ouvi sua voz inquieta, porém não lhe dediquei atenção, simplesmente sai do local atrás de alguma fonte de água, me livraria do cheiro de jasmim.

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O percurso era simples, a longa estrada que indicava o início de meu território em poucas horas se fez presente à nossa frente. Em contraste com a noite, o silêncio era sempre vítima da animação das duas humanas durante o dia. 

Relendo de mais cedo, num descanso para a alimentação delas, eu me pus a ouvir a voz gentil da miko, cadenciada numa longa explicação acerca de si. Ensinava a Rin sobre sua visão de mundo e o valor que dava a cada coisa viva que encontrava. Uma flor, um lobo, um humano, segundo ela, todos teriam a mesma importância na visão de seu Deus. Era espantosa a sabedoria de suas palavras simples, escolhidas para a compreensão da menor, seu discurso sobre o equilíbrio necessário para a existência, completando-se como partes de um todo. Em todos os meus anos, poucos foram os seres tão jovens a ter tamanha compreensão das energias que regem nossa existência. 

Pela primeira vez, me surpreendo com a Miko, até que ouví-la não foi uma perda de tempo total e eu faria questão de acompanhar cada palavra dita. Percebo que sou foco de seus ânis, o que me fez torcer o rosto com a possibilidade dela saber que eu estava atento em si.   

Levanto-me e sumo num piscar para si.

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O primeiro vilarejo que visitamos fazia parte dos mais simples, nos extremos de minha terra. Alguns guardas me reconheceram e nos foi providenciado às pressas a casa do Chefe local como repouso durante essa madrugada. Uma simples hospedagem, rápida, para o bem deles, já que Rin não conseguia mais manter-se de pé, cansada.

Se fossemos continuar hoje, ainda restariam várias horas de viagem. Não havia pressa o suficiente para forçar-lhe tal esforço.

Rapidamente elas se organizaram no quarto disposto e dormiram compartilhando a grande cama. Optei por ficar na varanda do quarto, com vista para o jardim, sem nunca deixar de prestar atenção ao redor, não até estar dentro dos muros. Arurun acompanhava-me em guarda por eles, repousando levemente ao meu lado. 

Dentro do quarto, a agitação da mais velha chamou a atenção. Pareceu ter sonhos agitados, que a fazem mover espática e aleatoriamente, e por vezes, algumas palavras escapavam dos lábios rosados, indicando que seu maldito meio irmão preenchia o inconsciente da miko. 

Era odioso ouvir tantas vezes o motivo da vergonha de sua família, razão da morte de seu Chichiue. 

—Inu... Yasha_ o nome do bastardo sai noutro suspiro da miko e me pareceu o suficiente para dar um basta nessa odiosa companhia.

Se recusava a permanecer no ambiente e, optou por um banho, sabia que mesmo nos extremos do território, somente poucos demônios seriam tolos o suficiente para se aproximarem demais do grupo.  Aceno para o youkai dragão, mostrando-lhe a direção que iria, o youkai assente, entendendo os meus desejos, como sempre e se pôs de guarda por mim. 

Sabia da existência de uma queda d' água por perto e não exitei em fazer uso desta. Apesar de ter acesso ao luxo por tantos anos, nada se comparava para si com a conexão que sentia ao banhar-se ao ar livre. O frio nunca foi uma questão e não exitou em mergulhar o corpo inteiro na água, permanecendo assim até sentir-se limpo novamente. 

Deitado sob o líquido, me pus a observar a lua, bem acima do lugar. Acompanhando-me na noite, como sempre, me permiti admirar seu brilho até o fôlego faltar.

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Já era quase dia quando retornei, e mesmo assim, o sol se recusou a sair dentre as nuvens. Um dia nublado. Percebi, ao mesmo tempo em que escuto o ranger vindo da miko, de novo, ela estava a tremer enquanto dormia. Reparei na estrutura do quarto, inadequada para suportar o frio de um inverno mais bruto ou talvez, toda a sua movimentação noturna tenha dado fim à grossa coberta que a embalava, e agora, somente Rin dormia profundamente embalada nos lençois, acolhida.

Me ponho a observar o ser que ultimamente me intriga. 

Sua pele estava mais pálida, o que é estranho, imaginei que ela seria mais inteligente ao receber suas posses e que, depois da última noite fria, reforçaria sua cobertura ao invés de permanecer com a sua costumeira veste. De qualquer modo, não cabia a este se importar. 

Hoje, não seria eu quem lhe esquentaria, que sirva de lição.

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Pelos meus cálculos, após o almoço alcançaremos minha residência se mantivermos o ritmo. 

Tal como ontem, a Miko evitou contato visual ou verbal comigo, não que eu faça questão de transgredir esse acordo, era mútuo. Passo a manhã em silêncio, acompanhando a conversa das duas como um passatempo involuntário, pois em minhas terras não haveria perigo de um ataque surpresa. 

Rin conseguiu até mesmo arrancar duas respostas minhas em seu ânimo por finalmente estarmos perto da residência. Percebo talvez ter mimado a garota, no entanto, gosto de como ela interage, sempre esperta na escolha de suas palavras, uma criança incomparável. 

Sinto uma movimentação estranha ao redor, e de alguns quilômetros adiante, o odor característico se fez presente.

Hanyou.

 

—/-/Kagome/-/-

 

Senhor Sesshoumaru, por que paramos?_ Rin perguntou, desviando a minha atenção para o mais velho, ele havia parado de andar subitamente e se dirigiu para a raiz grossa da árvore perto de si, sentando nos galhos mais altos. Foi sua forma de alegar que iríamos ficar ali por hora e agradeci mentalmente. Mais um pouco e meu estômago se juntaria às costas! 

Deveria ser próximo do meio- dia, mas como o sol resolveu esconder-se, era difícil se guiar por ele. 

Pelo visto, ficaremos por aqui, Rin._ Falei. 

Sem precisar de ordens, cada um fez algo coerente, Jaken providenciou uma fogueira, pois mesmo sendo dia o vento frio nos castigava. Rin organizou a comida, Sesshoumaru sumiu e eu ofereci um casado para a criança, para que não sofresse com o vento gelado.

Ao retornar, o Daiyoukai trazia consigo dois coelhos e os entregou para Rin, que prontamente se pôs a organizá-los para o almoço. Lhe ofereci ajuda e mantemos uma agradável conversa, dessa vez, com a menor me ensinando tudo o que deveria saber para prover uma refeição. 

A energia sinistra se intensificou e olhei de rabo de olho para Sesshoumaru, estranhando. Ele estava liberando sua localização propositalmente, gritando sua presença no local e não entendi a atitude do youkai que sempre fora discreto, aliás, já deixei de entender o pouco que consegui decifrar nesses dias, suas atitudes contrastantes eram motivo constante de reflexão minha. 

Não seria agora que descobriria suas intenções, então continuei ajudando a menor. Comemos, descansamos e nada de Sesshoumaru indicar que sairia dali, mesmo sabendo que estávamos perto do destino final. 

Eu mantive o diálogo com Rin de forma automática, ainda tentando entender as ações do albino. Ele encarava uma direção fixamente, mas nada fazia, ficava sentado e emitia sua energia para os arredores. Também percebi que o youki não me atingia como antes, geralmente sentir tanto yang desbalanceado me faria ficar em alerta, nauseada, mas não, era como se ele somente deixasse claro que estava ali, sem irradiar seu miasma, imagino que para qualquer possível inimigo se afaste. 

Era estranho presenciar esse tipo de atitude protetora dele e ainda mais ser um dos alvos de sua atenção, de certa forma, ele estava protegendo o grupo. A mão direita repousava em Bakusaiga ameaçando desembainhar a arma mais letal que carregava consigo, caso ele mesmo não seja considerado como uma arsenal ambulante. O pensamento me fez estremecer ao relembrar o poder da espada na última luta com Naraku.

O sol estava quase se pondo até que Sesshoumaru se movesse novamente, era fim de tarde, mas ele fez questão de que continuássemos a viagem mesmo escurecendo, ele disse que estávamos perto o suficiente. Por isso, para garantir que chegaríamos hoje, Rin foi montada em Arurun, e eu caminhava ao seu lado, num ritmo acelerado. 

—Tem certeza que não quer subir também, Kah-chan? Podemos fazer Jaken lhe dar espaço, ele já descansou demais!_ Ela soltou emburrada, ameaçando o pequeno youkai sapo atrás de si. Gargalhei com a cena dele reclamando com ela sobre sua atitude.

—ne ne, sinto-me nova, Rin-chan, não se preocupe!_ Respondo espantando o cansaço, realmente as horas de caminhada não eram o meu momento favorito do dia, mas nada que me incomodasse tanto. Além disso, foi Jaken quem fez o favor de recuperar as minhas coisas por mim. Ele não sabe, mas por sua causa eu evitaria ter que encarar as pessoas que me magoaram. De certa forma, eu lhe devia esse momento de descanso. 

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Era tarde e pude ver luzes discretas se aproximando, ou melhor, o contrário, nós estávamos chegando num vilarejo médio, com mais casas do que o vilarejo de Kaede que estava acostumada. Estranhei a região, por achar que estávamos próximos da casa do albino, mas não questionei a decisão. Um teto quente me pareceu agradável o suficiente para aguentar mais uma noite de viagem. 

Não havia pessoas circulando e pela hora, dificilmente encontraríamos alguém. De certa forma era bom passarmos despercebidos, dificilmente aceitariam youkais caminhando tão naturalmente por aqui. Encarava as costas do youkai e percebi ainda procurar algo. 

Espero que decida continuar essa busca amanhã. 

—Para onde estamos indo, Sesshoumaru?_ Perguntei por fim, acabando com o gelo entre nós, disposta a ter uma conversa amigável, no mínimo. Mas ele logo tratou de me cortar:

—Descansar.

Ele virou-se bruscamente em direção a uma casa de estilo tradicional japonês, provavelmente uma pousada, e não exitou em entrar. Fiquei nervosa com um possível encontro com algum humano de mente fechada, mesmo nas terras do Oeste, o encontro não seria nada agradável já que Sesshoumaru não fazia o tipo que esconderia as suas origens simplesmente para ser atendido e sim, faria com que todos o obedecessem à força. Um cenário mil vezes pior na minha imaginação.

Então corri para alcançá-lo e observei uma pequena senhora, que repousava escorada numa espécie de recepção do local, ao ouvir o som da porta, a senhora acordou e lhes atendeu sonolenta.

—1 quarto_ Falou Sesshoumaru quase educado e fez questão de pagar adiantado para a mulher. 

Ela sorriu bangela com o peso das moedas e fez questão de indicar o aposento pessoalmente. Sesshoumaru carregava Rin em seus braços, já adormecida, Arurun havia ficado do lado de fora do lugar e Jaken o acompanhou. Assisto o youkai se dirigir ao futon principal e deitar a garota com o cuidado que só ela recebia.

A senhora logo tratou de trazer outro futon e retirando-se após. Era um colchão de casal, para mim e Sesshoumaru, uma interpretação equivocada, mas ninguém se importou em explicar. 

De qualquer modo, ele não dorme mesmo. 

E de fato, ele se encaminhou para a janela do local e sentou no parepeito, observando os arredores. Provavelmente de guarda, como observei ser o seu costume durante as noites. Não imagino o quão cansativo deve ser, mas com o sono que estava, nem me passou pela cabeça pedir para dividir a vigia, não iria perder meu tempo acordada com um futon fofo à minha espera!


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Notas finais do capítulo

Não sei se sentem o mesmo, mas para mim, Sesshoumaru é um personagem complexo e suas ações hora são lógicas e hora são intuitivas. As vezes me perco no conceito.
Até a Próxima, bjs bjs bye.



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