Novembro de 2014

“Hmmm... bonito, mas não é meu filhote.”

Marissa Benson passa o dedo pelo símbolo peitoral de Freddie, que desativa o disfarce facial.

“Ah, melhorou!”

“Gostou, mãe?”

“Sua ideia foi boa, filho. Eu sempre vou te apoiar. Mas, me diga... como esse uniforme aparece no seu corpo do nada, e como seu rosto muda tanto, fazendo você ficar até com o olho azul?”

“Tecnologia do meu planeta, mãe... o tecido deste uniforme é inteligente, ele se expande automaticamente quando eu pressiono a fivela do meu cinto. Já o rosto... é só uma ilusão, mas é bastante realista, fica perfeito até mesmo em vídeo. Basta eu apertar outro botão do meu cinto.”

“É... acho que é melhor do que você fingir usar óculos e passar gel no cabelo pra disfarçar...”

Freddie e sua mãe se sentam no sofá da sala dela, assistindo à TV.

Nas imagens trêmulas do vídeo amador, feito com um celular de um transeunte, um homem de aproximadamente 1,90 m, vestindo um uniforme azul com capa vermelha desce lentamente ao chão com um gato assustado em suas mãos.

“Prontinho. Só espero que esse garotão não resolva subir de novo onde não deve, hein?”

“O-obrigado, super-moço!”, diz uma menina de 8 anos, a quem ele havia dado o animal.

“De nada, querida. Tchau!”

O herói sorri, bagunça os cabelos da menina e alça voo.

O vídeo termina, mostrando em seguida a imagem de Carly Shay.

“Quem é o Superman? Esta é a pergunta que todos os cidadãos de Seattle, ou melhor, que todos os cidadãos do mundo têm feito, e que ainda está sem resposta. De onde vêm seus espantosos poderes? O que ele é?”

“Até o momento, não sabemos nada sobre o novo super-herói, a não ser que ele tem poderes extraordinários que incluem voo, força muito acima do normal e invulnerabilidade, que ele tem salvado e ajudado pessoas ao redor do mundo. Há relatos de ações suas no Brasil, Venezuela, Rússia, Alemanha, Botswana, África do Sul, China, Japão, Cuba, entre outros lugares.”

Freddie desliga a TV.

“Superman... um pouco... pomposo demais. Mas... até que eu gostei, é um nome simpático, deve cair bem pro público. Que coincidência do destino ter sido justamente a Carly quem me arrumou esse apelido...”

“É... engraçado mesmo.”

“O indutor funcionou perfeitamente, ela nem desconfiou que era eu... mas... será que outras pessoas que eu conheço também não me reconhecerão? Vou fazer um teste...”

o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

O bad boy Griffin Peterson, encostado em uma parede, fita um idoso sacando dinheiro de um caixa eletrônico, provavelmente os proventos de sua aposentadoria. Ao perceber que o valor era razoavelmente alto, o rapaz se aproxima sutilmente, enquanto o idoso acondicionava o dinheiro em uma sacola de papel.

Griffin corre, e, ao passar pelo idoso, pega bruscamente sua sacola.

“Socorro!!! Ladrão!!! Ladrão!!!”

Sam Puckett, vestida com uma jaqueta da cor azul escura que ostenta um distintivo da Polícia de Seattle, olha em direção ao idoso, correndo logo a seguir ao encontro dele.

“O senhor está bem?”

“Aquele bandido levou todo o dinheiro da minha aposentadoria!!!”, o senhor diz, apontando na direção aonde Griffin havia corrido.

“Fica aí, senhor. Eu vou pegar esse meliante!”

Sam imediatamente começa a correr atrás do marginal.

Griffin entra em um beco, sobe em uma grade e a pula, correndo para o outro lado do beco. Trinta segundos depois, Sam pula rapidamente a grade e continua a perseguição.

O rapaz moreno olha para trás e percebe que a loira está cada vez mais próxima, talvez ele tenha de lutar com essa policial. Para ele, não é de todo mal, dificilmente uma mulher teria chance contra ele numa luta mano-a-mano. Mal ele sabia que quem estava atrás dele era Sam Puckett, conhecida no Colégio Ridgeway por conseguir derrubar o quarto-zagueiro da equipe da escola.

Contudo, antes que ela o alcançasse, Griffin dá uma forte trombada de frente em algo extremamente duro, fazendo-o cair sentado e desorientado no chão. Ele leva alguns segundos para se recuperar, e, lentamente, percebe que uma figura azul e vermelha está em pé à sua frente.

A visão retorna e ele vê um rapaz mais ou menos da idade dele logo à sua frente, como braços cruzados à frente do peito, que ostenta um símbolo já conhecido na cidade. Era o Superman.

“Que coisa feia, hein, amigão? Roubando de um velhinho indefeso...”

Sam chega logo em seguida, colocando os braços de Griffin para trás e o algemando.

“Griffin?!? O que é isso, resolveu roubar pra comprar novos bichinhos de pelúcia, sua bicha louca? Bem, não preciso falar que você vai ser preso, né?”

O herói sorri ao ver sua velha amiga prendendo com competência Griffin, pensando na ironia que era uma transgressora adolescente como Sam virar uma agente da lei quando adulta. Mas essa era a verdade, ela era a recruta mais promissora de sua turma, aliando inteligência, agilidade e força.

“Policial... Puckett.” Ele finge ler a plaqueta com o nome da policial. “Prazer, espero ter ajudado!”, diz Superman, sorrindo simpaticamente para a policial, que não faz uma cara de melhores amigas.

“Ah, você é o tal do Superman... saiba que eu ia pegar esse otário você estando aqui ou não!”

“Sei disso, policial... só quis ajudar...”

“Sabe como você poderia ajudar realmente, mané?”, diz Sam exaltada, colocando o dedo indicador em riste à frente do rosto do herói, “Cursando a academia de polícia e virando um policial de verdade! Você vem aqui, vestido como um palhaço de circo, todo mundo só fala em você, enquanto nós, pessoas comuns que podem morrer quando levam tiro, mas que mesmo assim tentam colocar ordem nas coisas, somos ignorados pelo público!!!”

“Er... eu sei, não era minha intenção...”, Superman fica sem reação perante a agressividade da loira.

“Ah, fica quieto! Agora, Superbobo, se você me der licença, preciso levar esse malandro pra delegacia! Porque você sabe, né... agentes da lei de verdade precisam cuidar da papelada depois de pegar um bandido.”

Um policial fora de forma, ofegante e suando muito, chega para ajudá-la.

“Caramba, Turpin, que bosta de instrutor você é! Tive de pegar esse viadinho sozinha!”

“O-olha... olha... o respeito, Puckett. Sou eu quem está cuidando... arf... arf... do seu relatório de desempenho... Ei! Você é o Superman! Tem como você dar um autógrafo pra minha filha?”

O homem de aço sorri.

“Claro, senhor. Qual é o nome dela?”

“Catherine.”

Freddie pega o papel e caneta dados pelo policial e escreve uma dedicatória com seu símbolo.

O policial agradece efusivamente e corre atrás de Sam, que vai guiando de forma rude Griffin até a viatura, não sem antes devolver a sacola com o dinheiro ao velhinho, que a agradece de forma entusiasmada.

Freddie sorri. Sua amiga continuava igual, não tinha medo de encarar nem alguém que conseguia erguer mais de 1 milhão de toneladas. E o melhor de tudo é que desta vez ela estava do lado da lei.

Ele alça voo para voltar à sua Fortaleza feliz. Afinal de contas, além de ver novamente sua loira preferida, ele havia constatado que seu disfarce funcionava perfeitamente.