Never Means Forever escrita por Shiori McQueen


Capítulo 1
Capítulo 1 - Desaparecido




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Havia uma estranha luz amarelada de fim de tarde infiltrando-se sem muita cerimônia pelas cortinas grossas do escritório enquanto Chase inclinava com paciência dolorosa a poltrona alaranjada para trás, pouco se importando se isso acabaria ou não com os pés de suporte.

Os dedos cheios de sangue sob as unhas comprimiam o couro falso do móvel. Os dentes, imersos no gosto de ferrugem, mordiam com vontade o lábio inferior inchado. Seu rosto estava uma bagunça de hematomas e arranhões, e seu olho direito com certeza ficaria recoberto de uma cor arroxeada tão logo o diretor voltasse à sala com uma compressa de gelo.

O corpo doía horrivelmente e o mal-estar enredado na boca do estômago era impossível de ser ignorado. Era a típica sensação de quando se tem absoluta certeza de estar completamente perdido, à espera da sentença tardia. No caso de Chase, essa sentença viria na forma de um telefonema. Vinte minutos mais tarde, talvez, um laço estaria apertado firme em torno de seu pescoço.

O pior da situação era a injustiça porque, até onde Chase estava vendo – e estava vendo muito bem mesmo –, não havia uma segunda pessoa naquela sala dividindo a espera agonizante com ele. Até onde sabia também, não havia participado de uma briga sozinho e golpeado a si mesmo. Parecia justo que esperasse na companhia daquele que era tão ou mais merecedor de estar ali, mas Chase continuava encarando o papel de parede desbotado tendo como companhia única a dor latejante em seu rosto.

Mesmo pensando que seus pais arranjariam centenas de milhares de formas de torturá-lo, e refletindo sobre todas as ameaças que, com sorte, não seriam cumpridas, não conseguia arrepender-se de ter perdido o controle durante a infinidade daquele momento.

Estavam na fila do refeitório há quase quinze minutos completos, parados porque alguns veteranos engraçadinhos achavam divertido passar na frente dos novatos apenas para demonstrar uma espécie de soberania deturpada.

– A maioria desses caras nem toca na comida – Skip apontou para os pratos deixados sobre as mesas – Isso é doença.

Skip e Chase haviam se conhecido no primário.

Durante uma muito instrutiva aula de ciências onde a sala toda se mobilizara para a construção de um terrário, Skip dera a Chase um balde com um punhado de minhocas trêmulas e débeis agitando-se contra o sol mais quente do ano. Chase jogara-lhe as minhocas na cabeça. Fora quase como um decreto de amizade eterna.

Agora, no colegial, o tal decreto ainda provava-se válido. Skip era um cara estranho, com seu corpo esguio e esbranquiçado lembrando muito a alguém permanentemente doente, mas Chase não era nenhum exemplo de normalidade também.

Haviam sido bons amigos e orgulhavam-se de serem tão bons um para o outro como foram na primeira série, marcando uma amizade com minhocas.

– Aham, Skip, aham – Chase encerrou o assunto por ali, arrastando os pés quando a fila andou consideráveis milímetros.

– Ei, cara de fuinha!

Chase soube na hora que o apelido não se referia a ele.

Desde que saíram da elementar, Skip era alvo de piadas e gozações de caras que se achavam no direito de humilhar outras pessoas pelo simples fato de poderem fazer isso, com sua relativa boa posição dentro da hierarquia colegial.

Esse era o caso de Jeff Day, um troglodita do time de futebol, que só não reprovara vezes o bastante para que a barba crescesse e se tornasse branca porque o pai era influente e podia pagar pelas notas falsas do filho.

Jeff Day tinha um prazer sádico em amolar Skip.

– Como é que vai a vadia da sua irmã? – Ele cantarolou aproximando-se, com o blusão do time de futebol trazendo consigo um bolo de bajuladores – Ainda engordando como uma porca?

Skip tinha uma irmã gêmea chamada Ruth, que lhe era dois minutos mais nova.

Ruth, na opinião de Chase, era uma coitada, com seus óculos redondos e seu cabelo cheio, sua inteligência acima da média e sua habilidade assustadora em Counter-Strike. Ela era irritante, falava demais e tinha uma risada muito alta. Chase não gostava nem desgostava dela, apenas suportava sua presença quando estava por perto.

O problema era que, de uns tempos para cá, Ruth estava engordando sem parar, o que foi diagnosticado como disfunção hormonal. Talvez ela sempre houvesse tido algum problema endócrino adormecido como uma bomba, que apenas ativou-se no momento em que passou a tomar anticoncepcionais sem prescrição médica.

E, nos últimos meses, Ruth estivera tomando anticoncepcionais por causa de Jeff Day.

– Minha irmã não é uma vadia – Skip argumentou com a voz sumida.

– Não, claro que não. Só geme como uma.

A única coisa que a estrela do futebol sentiu foi um punho explodindo-lhe o nariz.

Ele nem teve tempo de sentir a dor em toda sua extensão, antes de voltar-se como um touro furioso na direção da figura pequena e irada que Chase era agora, erguendo os punhos comprimidos para ele, como uma caricatura desfigurada de Davi.

Jeff voou para cima dele, prejudicado pela falta de agilidade do próprio corpo perto da de Chase, que se esquivava como um gato. O nariz, formando um rio escarlate pelo seu peito, também não o estava ajudando.

Chase podia ter corrido, é claro.

Se houvesse socado Jeff no rosto e disparado por aquele corredor, jamais teria sido pego ou acabado com um único arranhão que fosse. Mas não correra. Queria machucar demais para correr, e apenas um nariz quebrado não parecia o bastante. Se quisesse correr agora, bem, seria impossível, com o cerco de alunos tão fechado daquela forma. Teria que enfrentar Jeff Day com seus quase dois metros de altura e seus noventa quilos, adicionados à fúria do nariz fraturado.

Quando acabou escorregando na trilha vermelha que o nariz de Jeff estava deixando por todo lugar, este último não perdeu tempo em agarrá-lo pelo pescoço, jogando-o contra a parede. Chase tentou desviar do punho gigantesco que viera na direção do seu rosto, mas moveu-se rápido o suficiente apenas para que seu olho não fosse completamente esmagado.

Doeu como o diabo.

Sua reação, depois que a tontura inicial dissipou-se um pouco, foi a de cravar-lhe fundo as unhas no rosto e, quando o estúpido se aproximou demais, tentou arrancar-lhe a orelha. Com os dentes.

Não aplicara força o suficiente na mordida pelo visto, já que Jeff se afastara gritando palavrões, cobrindo a orelha com as mãos, indeciso entre a dor e a raiva. Chase tentou respirar propriamente enquanto massageava o pescoço, mas um único olhar para a expressão assassina do outro o fez entender que, se algum milagre não acontecesse, ele morreria naquele corredor mesmo.

Jeff projetara-se para ele uma vez mais, mas, assim como Chase, escorregara no próprio sangue. A diferença foi que seus quase dois metros de altura ofereceram uma queda certa – queda esta que Chase não desperdiçou. Não tinha força para imobilizar alguém do tamanho de Jeff Day, mas alguns chutes na costela deveriam retardá-lo.

A gritaria naquele corredor era infernal e, mais cedo ou mais tarde, alguém apareceria para saber o motivo da balbúrdia. Para o completo azar de Chase, esse alguém foi o treinador Albright, do time de futebol e, bem, o que ele viu foi um garotinho de meio metro chutando as costelas de seu jogador favorito. Do ângulo que o treinador via a coisa, Jeff Day era a vítima e Chase seu algoz.

Você tem exatos três segundos para explicar o que significa isso.

Incrível como as pessoas têm a capacidade de desaparecer em momentos como este.

O bolo de alunos, que até meio minuto atrás gritava incentivos e disparates, havia agora se difundido pelos muitos corredores do colégio, sumindo das vistas do treinador irado.

As únicas três figuras sob os olhos inquisidores de Frank Albright eram Jeff Day, Chase Mastriani e Skip Abromowitz, mas esse último era completamente ignorado diante dos outros dois.

Logicamente, não foi Chase quem falou primeiro.

– Ele me acertou no nariz! – Jeff levantou-se com alguma dificuldade, fugindo para trás do treinador como uma criancinha para a barra da saia da mãe – Estava chutando minha costela!

– Estou vendo, estou vendo – O treinador ponderou com as sobrancelhas sisudas.

– Eu não teria batido nele se não fosse um idiota! – Chase ainda estava visivelmente enfurecido. – Foi ele quem começou!

– Calado! – Berrou Albright – Não me lembro de ter perguntado quem começou isso ou não. Você agrediu um aluno dentro do colégio, Mastriani. Sabe que isso é inadmissível.

– Mas treina-

– Calado, já disse! Vai me acompanhar até a direção.

Chase não tentou mais protestar, sabendo que o treinador permaneceria irredutível em sua visão manchada de favoritismo. Trilhou então o caminho tão conhecido da diretoria a seu lado, sem dizer nem mais meia palavra.

Depois que o treinador explicara toda a situação ao diretor, elucidando a inocência de Jeff e a barbárie de Chase, Albright retirara-se com uma carranca no rosto cansado que dizia claramente ao garoto que, independentemente da punição que o diretor lhe atribuísse, ele ainda teria de permanecer alerta durante as aulas de Educação Física, só para o caso dele querer usá-lo de alvo durante os jogos.

O diretor estava muito ocupado. Não eram apenas assuntos relacionados à escola, mas também assuntos particulares, o que fez com que pedisse licença à Chase mais de uma vez para atender ao celular. Disse algo sobre conversarem depois e buscar uma compressa antes de sair, quinze minutos atrás, o que nos traz de volta à atual situação: Chase encarando o papel de parede desbotado – e de muito mau gosto – pensando ainda sobre a injustiça da coisa toda.

– Chase? – A voz paterna do diretor flutuou até seus ouvidos, seguida do clique da porta – Desculpe a demora, hoje está sendo um dia corrido.

– Não, tudo bem. – Colocou a poltrona de volta no lugar, afundando-se nela – Não estou mesmo com pressa para que ligue pros meus pais.

Dave Goodhart, Chase sabia, era uma boa pessoa. Um pouco lerdo talvez, não tão perceptivo quanto seria preciso, mas ainda assim um bom homem. Tão justo quanto se pode ser em uma cidade pequena, sem ser tentado pelas inúmeras oportunidades de dinheiro fácil. Chase gostava dele e por isso não se importava muito com as inúmeras visitas que fazia àquela sala. O diretor, no entanto, preocupava-se. O garoto vira mesmo o brilho paterno em seus olhos ao passar-lhe a compressa de gelo. Chase apertou-a contra o olho direito, sibilando baixo de dor.

– É a terceira vez esse mês, Chase.

– Eu sei.

– Sabe que fui negligente das outras vezes, não sabe?

– Sim, eu sei – Pressionou a compressa, soltando mais algumas exclamações de dor – Sei que agora vai precisar dar aquele telefonema. Sei que vou ser suspenso. Já sei de tudo isso.

– Estou preocupado com você – Goodhart afundou-se em sua própria poltrona, sustentando o queixo sobre as mãos entrelaçadas – Talvez eu devesse encaminhá-lo a um psicólogo ou algo assim. Posso conversar com seus pais sobre isso. Ou podemos pensar em alguma atividade que o ajude com o controle da raiva. Porque, veja, simplesmente não é normal que viva metido em brigas com garotos com o triplo do seu tamanho. Algum dia você vai se machucar de verdade.

Percebendo que estava falando mais para si do que para o outro, e que de qualquer modo não teria resposta, resolveu continuar.

– Por que foi a briga dessa vez?

– Skip – Resmungou.

– O que tem Skip?

– Jeff ofendeu a irmã dele.

– E não era Skip quem deveria ter batido nele, nesse caso?

– Skip não bateria em alguém nem se chamasse sua mãe de prostituta feia – O diretor revirou os olhos, mas deixou que Chase continuasse como se não tivesse ouvido – Jeff estava mexendo com algo importante pro meu melhor amigo, e é um panaca. Se fosse agora, eu quebraria o nariz dele de novo.

– Não dá para se resolver todos os problemas do mundo com os punhos, Chase.

– Mas alguns sim, então porque não?

– Chase...

Fosse lá o que o diretor houvesse pensado em dizer, foi interrompido pelo barulho da porta sendo aberta. Chase e o diretor viraram a cabeça imediatamente na direção do som para encarar a figura de um garoto alto, de cabelos compridos, usando uma roupa que o fazia lembrar um peão de boiadeiro.

Só faltava o chapéu.

– Com licença – Ele começou sem saber se devia entrar na sala ou não.

– Sim, Rob?

O diretor indicou a poltrona ao lado da de Chase, mas Rob Wilkins entrou na sala e postou-se atrás desta sem se sentar. Pelo visto não demoraria.

– Queria conversar sobre as detenções.

– Já falamos sobre isso. Sei que tem que trabalhar com o seu pai, mas não posso simplesmente dispensá-lo. Seria passar por cima da autoridade dos seus professores.

– Não, não. É diferente agora. Eu... – Por um momento ele não soube como continuar.

– O que foi?

– Meu irmão mais novo desapareceu.

Mesmo Chase se viu segurando o ar.

– E eu preciso ajudar o meu pai a procurar por ele depois do horário.

Havia uma pergunta muda no ar que dizia "Você entende, não é?" e era óbvio que o diretor entendia. Ele tinha filhos. Se um deles desaparecesse, sua vida se transformaria em um pesadelo e num vórtice caótico que o tragaria à insanidade. A espera, a dúvida, o medo e as hipóteses encheriam cada um dos segundos do seu tempo e cada ínfima parcela do seu tempo seria empreendida na busca. Não sossegaria até poder vê-los outra vez.

Dave entendia.

Não podia ocupar o tempo daquele garoto com uma besteira como detenção.

– Está liberado – Sua voz surgiu engrolada, porque sua mente estava cheia de visões de cartazes de "Desaparecido" e fotos dos próprios filhos.

Rob agradeceu com um meneio de cabeça e saiu, deixando o ar ainda mais carregado do que já estava inicialmente.

Se Chase estava se sentindo mal antes, agora era como se nuvens carregadas houvessem se formado magicamente em torno da sua cabeça. Se o diretor Dave estava pensando nos filhos, Chase estava pensando nos irmãos. Só de imaginar a lacuna que qualquer um deles deixaria, sua mente dava voltas e mais voltas como em um chapéu mexicano.

– Chase?

A voz de Goodhart estava tão distante que parecia vir do outro lado do país.

– Sim? – Sobressaltou-se.

– Pode ir agora.

– O quê?

– Vou ligar para seus pais amanhã. Pode ir agora. – Ele foi bem enfático quanto à última frase.

Chase levantou-se com vagareza, tentando entender o que havia acontecido ali. Resolveu então que se havia sido decidido que sua briga com Jeff Day já não tinha mais tanta importância diante dos fatos atuais, tanto melhor. Talvez no dia seguinte o diretor sequer se lembrasse de dar aquele telefonema.

Despediu-se e saiu para os corredores com pressa, onde Skip o esperava.

– Chase, você não precisava ter feito aquilo – Ele disse muito rápido, andando ainda mais depressa para acompanhar o passo do amigo.

– Eu sei, mas eu quis – Deu de ombros – Jeff é um idiota. E a sua irmã não é uma vadia, mas vamos concordar que é muito burra.

– É – Skip disse a contragosto – Não sei como ela pode ter feito isso. Ela sabia que tipo de cara o Day era.

– Jeff quis foder ela. Ponto. – Chase revirou os olhos como se fosse muito óbvio.

Ruth não era bonita e, bem, não era desejada. O primeiro idiota que apareceu com uma conversa fácil foi também o primeiro idiota com quem ela foi para cama.

– Eu só esperava que ela fosse mais inteligente e percebe-se.

Skip ficou quieto. Não havia nenhuma boa resposta que ele pudesse dar.

Ali, na portaria do Ernest Pyle, havia inúmeros cartazes de "Desaparecido" e, entre eles, figurava a foto de Frederik Wilkins, com seu sorriso de criança feito de janelas.

Chase deteve seus olhos naquela figura por vários instantes, imaginando que Rob a colara ali tão logo deixara a diretoria, depois deu de ombros e saiu com Skip do colégio.

Havia uma caminhonete velha esperando-os do lado de fora. Seu motor sonoro rugia, engasgando de fumaça e, ao volante surgia a figura miúda do pai de Skip, procurando com os olhos meios cegos os garotos que viera buscar. Ruth não havia vindo para a escola aquele dia.

– Ei garotos, aqui! – Ele gritou, pondo a cabeça para fora da janela, buzinando como um garotinho.

Chase revirou os olhos e Skip tentou inutilmente esconder-se atrás do amigo. Voltar de carro com seu pai era mais humilhante do que ter de voltar de ônibus, junto com os novatos e rejeitados socialmente que, como eles, não tinham dinheiro para comprar um carro ou tirar carteira.

– Ei pai – Skip disse rápido, subindo na caminhonete.

– Ei – Chase jogou-se junto do amigo.

– Mastriani! Sua cara está uma bagunça. Você foi o quê? Pisoteado por um touro? – Riu um pouco do próprio senso de humor, guiando a caminhonete pela estrada de terra.

– Mais ou menos isso.

– Ele caiu no colégio hoje.

– Hm – O Sr. Abromowitz ponderou a afirmação do filho por um momento – Você tem caído bastante no colégio, não é Chase?

– É. Algo assim – Chase soltou antes de cutucar Skip com força nas costelas, para que percebesse a péssima desculpa que havia arranjado.

Permaneceram quietos por longos momentos enquanto o cenário sempre igual da aridez desértica da estrada descortinava-se ao redor deles. Estavam próximos do limite da cidade quando o pai de Skip resolveu retomar a conversa.

– Parece que vai chover hoje. Nossa, foi bom ter vindo buscar vocês. Só Deus sabe o que pode acontecer nessas estradas com chuva.

A chuva, em parte, tinha culpa dos dois não poderem mais voltar de ônibus, preservando o mínimo de vida social dentro da escola.

Há dois meses exatos, quando voltavam de ônibus para casa, caíra a maior tempestade registrada na década. As estradas que ligavam a área urbana até os limites próximos ao colégio Ernest Pyle ficaram completamente intransponíveis, visto que a minoria delas havia sido asfaltada. A terra corria com a água, criando sulcos e buracos enlameados, tornando as estradas escorregadias. O ônibus tombara. Chase passara três semanas completas no hospital.

Desde então, mesmo com sol alto e temperaturas febris, tanto seus pais como os de Skip revezavam-se para buscá-los no colégio.

Chase achava aquilo uma besteira.

O Sr. Abromowitz deixou-o em casa bem quando as nuvens se aglomeravam sobre suas cabeças em um bolo cinzento. O garoto encarou a porta da frente por um momento, ignorou-a e entrou pela dos fundos.

A cozinha estava vazia.

Seus pais estavam na sala, assistindo ao noticiário e seus irmãos, com toda certeza, estavam no quarto de Douglas, espiando Claire Lippman trocar de roupa com a janela aberta.

Ninguém viu Chase subir as escadas com o rosto inchado feito batata.

Ao atingir o topo das escadas, ouviu os primeiros pingos de chuva tamborilando contra o vidro frio da janela. A chuva, ao que tudo indicava, ia ser fina, fria e duraria a noite toda. Apressou o passo, entrou no quarto, tirou os sapatos e jogou-se na cama. Nem bem caiu, apagou, e a noite toda foi enredada em uma ânsia de pesadelo.

O vento que assobiava sobre o telhado e a chuva que engrossara consideravelmente nas últimas horas encobriam sua respiração sofrida, saindo em haustos altos cortados de nomes que Chase chamava dormindo. Ele rolava pela cama, com a testa manchada de suor, as mãos crispadas repuxando o lençol, as pernas chutando as cobertas.

Acordou de supetão, pondo-se sentado num reflexo, respirando como se houvesse sido salvo de um afogamento. Agarrou-se aos lençóis como se tentasse se proteger, encolhido sobre os joelhos, sufocando soluços no escuro do quarto. Quando se percebeu seguro na própria cama, passou a tremer convulsivamente, tomado por uma dor de cabeça terrível.

Não conseguiria voltar a dormir.

Frederik Wilkins estava morto.


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