– você está realmente bem? – Edward perguntou mais uma vez.

– não - fui sincera, não conseguiria esconder a mentira nem se eu quisesse – acho que vou vomitar novamente, com licença – afastei-me rapidamente e me encurvei atrás de uma árvore para que mais um pouco de sangue tossindo violentamente depois.

– o que está acontecendo com você?! – Jasper perguntou sem acreditar. – achei que você fosse imune a esse negócio de doenças.

– a doenças eu sou imune, mas é isso que, normalmente, a gravidez faz com uma mulher – dei uma leve risada fazendo humor com o meu estado. Parei de achar graça quando vi a expressão dos outros, eles estavam cogitando o que eu havia dito como verdade. – meu deus, vocês estão loucos?! Não estou grávida não – dei outra risada, mas eles não se convenceram. – É sério. Eu não estou grávida. Você não vai se livrar de mim tão cedo, não se preocupe. – disse quando Edward se aproximou de mim.

– acho que você precisa descansar. – ele finalmente disse sustentando parte do meu peso.

– me diga que não acreditou nisso, foi apenas uma brincadeira. – disse incrédula. Ele negou com a cabeça abrindo um sorriso fraco.

– confio em você, mas mesmo assim precisa descansar, parece que irá desmaiar a qualquer momento e mesmo que não vá prefiro que não faça esforço até descobrirmos o que há com você.

– antes eu quero ver o Jake… e o Seth – completei quando eu vi uma careta se formar em seu rosto.

– Carlisle ainda terá de examiná-los, você tem que fingir estar em uma viagem de compras – Alice intercedeu por Edward. – seu pai estava na reserva, ele viu o Jacob machucado. Tudo o que tem a fazer é chegar em casa guardar suas sacolas e, então, ir ver o cachorro. – Edward soltou um longo suspiro.

– ok – concordei a contra-gosto – vamos interpretar nossos papéis Alice. – chamei-a e comecei a andar para casa dela.

– Bella! – Jasper me chamou assim que eu pisei em falso e quase cai, digo quase, pois Edward me pegou antes que eu tivesse a chance de recuperar meu equilíbrio. Olhei para ele imediatamente. – você anda seguindo a dieta não? – ele estreitou os olhos ao falar.

– oh meu deus, não fale naquilo – disse com nojo – sinto meu estômago embrulhar só de pensar nisso. Mas sim, infelizmente tenho seguido tudo certinho, inclusive a fonte – chacoalhei minha cabeça tentando espantar o pensamento do gosto do sangue ou da sensação que era ter ele descendo pela minha garganta.

– ok, mais alguns segundos disso e eu nunca mais bebo sangue em minha eternidade, Edward, leve-a logo antes que eu fique enjoado.

– você acha que aguenta chega até em casa sem passar mal se eu te carregar? – afirmei levemente com a cabeça e então ele me colocou em suas costas. Escondi meu rosto em sua blusa e esperei para que aquilo acabasse.

Alice me encheu com sacolas de compras após passar algumas camadas de maquiagem em meu rosto para esconder toda a palidez e a cara de morto vivo. A história seria que eu e Alice havíamos acabado de voltar de um cansativo dia no shopping enquanto Carlisle recebera uma chamada urgente que fez com que ele voltasse antecipadamente com o resto de sua família para Forks. Edward avisara Alice que por consequência me avisara e assim que eu interpretasse meu papel a Charlie sairia correndo - infelizmente, não literalmente - para a reserva.

– soube o que aconteceu com o Jake? – Charlie perguntou depois das boas vindas.

– uhum – murmurei – Edward ligou para Alice dizendo que estava voltando para casa mais cedo por causa disso. Daqui a pouco ele passa aqui para me pegar. Não se importaria se eu fosse visitá-lo, não?

– pode ir Bella, Jacob é seu amigo e precisa de você… na verdade, nos poucos momentos que eu o vi ele, dentre muitos palavrões, estava perguntando por você.

– Jake será sempre o Jake – dei uma leve risada – vou guardar minhas compras e me arrumar… pai? – chamei-o novamente – Cadê o Blunt? Já era para ele ter voltado do show.

– ele não apareceu aqui ainda, deve ter conhecido alguem ou decidido dormir até muito tarde. – acenei agradecendo meu pai e voltei ao meu caminho.

Fui para o meu quarto e deixei todas as sacolas em cima da cama, não queria nem saber o que havia ali dentro. Alice era tão… Alice. Fui para o meu closet e troquei novamente de roupa apesar de ter o feito antes de sair da casa de Edward. Abri meu frigobar como de costume, havia lido que em casos como meu onde havia vômito frequente era sempre bom manter algo no estômago. Peguei com muita coragem uma garrafa de sangue e outra de veneno e misturei os dois conteúdos em uma taça. Bebi um gole arrependendo-me instantaneamente enquanto corria para o banheiro vomitar, mas assim que voltei o líquido não parecia tão repugnante assim. Ouvi a campainha tocar e desci correndo com apenas uma pequena garrafa contendo a mistura de antes, não me separaria daquilo tão cedo.

– olá – Edward disse quando atendi a porta e me deu um grande abraço como se estivesse com saudades.

– como foi a viagem? – perguntei juntando levemente meus lábios aos seus. Ele franziu o cenho ficando pensativo por alguns instantes.

– muito prestativa – ele deu um sorriso malicioso fora da vista de Charlie. – já está pronta? Alice me deixou aqui na frente, então iremos com o seu carro – afirmei com a cabeça e me voltei para meu pai.

– provavelmente voltarei tarde, não se preocupe comigo. – disse a Charlie e fechei a porta atrás de mim.

– recebi permissão hoje para entrar na reserva devido suas condições e ao trabalho de Carlisle, então, te deixarei na frente da casa dos Black, deixarei seu carro também, mas não hesite em me ligar quando for embora, em questão de segundos estarei ao seu lado.

– não precisa se preocupar comigo, eu estou bem – ele me olhou com o canto do olho sem nem mesmo cojitar minha afirmação. Não podia culpá-lo, eu não estava bem, mas sabia que não era nada que um pouco de tempo e algumas doses de sangue não recuperassem. – ok não estou, mas vou ficar.

– o que está segurando?

– meu coquetel de vitaminas, pensei que ele pudesse me ajudar a melhorar, mas acho que estou enganada, não consigo nem engolir isso daqui.

– isso é sangue humano e, ainda por cima, gelado. – eu sabia que sangue gelado não era tão apetitoso ao olfato dos vampiros por isso não me preocupei quanto a Edward e o sangue de minha garrafa.

– e o que eu disse? – brinquei com um sorriso nos meus lábios.

– tem certeza que não quer se consultar com Carlisle? Talvez ele posse te ajudar de algum modo.

– além de médico de humanos, vampiros e, recetemente, de lobisomens ele também é médico de aberrações da natureza? Desculpe-me – desdenhei sua oferta, mas me desculpei assim que vi sua expressão, ele só estava oferecendo-me ajuda e eu lhe dando patadas… como sempre. – Não queria ofender Carlisle nem desmerecer sua oferta. Só não acho que ele poderá me ajudar, mas, se isso lhe fizer feliz, posso aceitar sua ajuda, quer dizer, pior do que está não dá para ficar. – ele abriu um sorriso radiante e acelerou em direção a reserva.

– oi Jake – disse encostada no batente da porta.

– oi – ele disse rouco – fico feliz por te ver, achei que iria morrer hoje com toda aquela dor – ele deu uma leve risada. – bem a dor do final quando o sanguessuga pai veio ver meu estado, ele teve que quebrar meus ossos novamente, pois todos já haviam se calcificado de maneira errada.

– desculpe por não estar aqui para segurar a sua mão. – disse brincando.

– bem, acho que tem a parte ruim de ser um lobisomem. Mas o estranho mesmo foi que no começo, logo que aquele desgraçado, que eu espero que tenha tido uma morte lenta e dolorosa, quebrou meus ossos, eu não senti dor, apenas nos primeiros segundos e depois tudo tinha sumido, como se eu estivesse drogado ou algo assim – ele me olhou acusador.

– culpada – dei uma leve risada prendendo uma tosse que veria em seguida e me aproximei para sentar-me no chão ao seu lado apoiando-me na cama. – mas desculpe-me pelo recém criado, sabe como é eu estava meio sem cabeça na hora, querendo me matar por ter deixado isso passar, então, eu meio que descontei nele… também estava com um pouco de pressa. Seth foi atacado logo depois de você, tive de ir salvá-lo.

– o que aconteceu com ele? – Jake perguntou exasperado fazendo menção de se levantar da cama.

– não se mova. – disse pousando levemente minha mão em seu peito, sabia que qualquer movimento exagerado o causaria dor. – Não se preocupe, o Seth está bem, eu cheguei a tempo para ajudá-lo.

– a que preço? – ele retrucou. – não me parece que você esteja bem. Está mais parecida com um humano que não dorme a anos, a você mesma.

– não irei discordar de você, acho que a culpa na verdade é de vocês – Jacob fez uma cara interrogativa. – do seu sangue. Sangue de lobisomem é a última coisa que eu voltarei a colocar em minha boca. Deixe me terminar – completei assim que vi sua cara de reprovação. – como eu disse: eu salvei o Seth, esse era o único modo. Ele havia sido mordido, estava prestes a morrer pelo veneno, imaginei que, como sugar o veneno funciona com humanos sem deixar sequelas não haveria porque com vocês ser diferente. Mas acho que o efeito muda quando se trata da minha pessoa.

– sem ofenças, mas você parece mesmo horrível.

– eu me sinto horrível, como se eu tivesse sido atingida por um caminhão, tacada de um penhasco e para finalizar servido de comida para piranhas extremamente famintas. Sabe quando eu já me senti assim na vida? – olhei para ele sem esperar um resposta – nunca. Como eu iria saber que o sangue de lobisomem é venenoso pra mim? A cinco minutos atrás eu não parava de vomitar, eu tentei me alimentar e não suportei o gosto daquilo. – completei com uma careta por lembrar-me do cheiro que a minha garrafa emanava.

– é… parece que fui eu quem estava com sorte hoje – ele fez piada –

– acho que sim – disse cansada recostando minha cabeça na borda do colchão.

– mas se servir de consolo eu também acho seu alimento repugnante – ele riu, entretanto eu não o acompanhei, estava preocupada demais com isso para fazer piada. – vamos mudar de assunto, parar de falar sobre nossos problemas por um instante. – ele fez uma pausa. – fiquei sabendo que você vai casar! Emocionante não? – percebi o esforço em sua voz para mantê-la animada.

– Jake – reclamei – pare de ser masoquista.

– nada de mudar de assunto, esse foi o verdadeiro motivo de eu ter te chamado aqui, queria saber o que realmente iria acontecer depois, com a gente, se você vai ter que – ele engoliu seco.

– bem dependendo de mim, nossa amizade continuará a mesma. Na verdade – corrigi-me – não sei nem se eu vou chegar a casar – passei a mão pelo meu cabelo irritada.

– como é? – seu tom transpareceu uma animação maior do que deveria. – desculpe-me, mas por quê? Quer dizer, você está pensando em dar para trás ou algo assim?

– não, não é nada disso. Faz tempo que Edward vem me pedindo em casamento, eu venho adiando, colocando barreiras e condições, só que infelizmente ele por fim aceitou minha última condição e, então, eu fiquei noiva – revirei os olhos. – Mas não é como se ele soubesse de todo meu segredo ainda. – fechei os olhos, cansada, nem sabia por que estava discutindo isso.

– você não contou tudo a ele?

– ia contar depois da luta, não queria que ele fosse estúpido como você foi e ameaçasse se matar ou algo do tipo. Eu também ia te contar depois da luta se quer saber. Enfim, acho que depois que eu contar sobre tudo o que eu sou capaz, não duvido que ele saia correndo de mim, gritando que eu sou um monstro ou algo assim.

– bem, se isso acontecer, eu estarei bem aqui nessa cama. Meu corpo se recupera incrivelmente rápido, mas ninguém parece acreditar nisso. Sinto que poderia sair pulando por ai – ele bocejou no meio da frase me fazendo rir. – bem, talvez, depois de tirar um cochilo.

– pode dormir, se não se importa ficarei aqui por mais algum tempo, sinto que, ao contrário de você, se eu me levantar irei despencar no segundo seguinte.

– só espero que, se caso tudo der certo, você não me chame para padrinho ou algo assim.

– tarde de mais, querido, meu segundo padrinho, seu lugar já está reservado.

– agora eu me senti ofendido, segundo padrinho? Além de estar me convidando para o seu casamento com um sanguessuga eu fico como segundo padrinho.

– desculpe-me o cargo de padrinho eu prometi a uma pessoa desde a minha infância – disse melancólica olhando para baixo.

– para o… eu não deveria ter dito isso, eu sou um idiota. Desculpe-me Bella, eu não imaginava, você tem todo o direito de colocar quem você quiser como padrinho e também tem todo o direito de me bater por ter dito isso.

– fica quieto Jake não vou te bater não, mas você não ia tirar um cochilo? Depois eu te ajudo com sua fuga ou algo assim.

– a senhorita que manda. – ele ficou um tempo em silêncio. Encostei na borda da cama feita de madeira e fechei os olhos, quem sabe algum tempo parada apenas relaxando não tivesse o efeito que eu queria. Não foi com esforço que a escuridão me levou.