Em Busca De Amor Em Hollywood escrita por ChatterBox


Capítulo 4
4 - Fracasso


Notas iniciais do capítulo

=D
Boa leitura.
Beijocas, Anonymous girl writer s2.



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Nunca pensei que algum dia me depararia com um dia como aquele. Nunca estive tão angustiada e ansiosa para que chegasse e agora que chegou. Estava com o coração nas mãos e não sabia o que esperar.

O telefone? Do meu lado. Sim, dois dias se passaram e eu receberia o resultado do teste. Um telefonema iria indicar o meu futuro, o que eu faria a seguir. Se seguiria com uma estreia impactante no tapete vermelho, ou teria de marchar à procura de outros testes em papéis medíocres para garantir experiência e quem sabe um dia conseguisse estrelar em um filme de verdade.

É, querendo ou não, aquele teste era o decisivo para o meu sucesso.

Enviara uma mensagem para todos os meus contatos: "Não liguem para meu telefone residencial durante 24 horas, obrigada.".

Onze horas já haviam se passado. Tamborilava com nevosismo meus dedos no criado-mudo ao lado do sofá, onde eu me sentava.

Finalmente o som do telefone tocando soou estridente no ar, atendi na metade da primeira chamada.

 - Alô??

Ofeguei. Meu coração palpitou no meu peito, minha respiração acelerou densa.

 - Jessica Mors?

 Um voz feminina perguntou do outro lado, num tom arrastado e preguiçoso. Como se fizesse aquela ligação sem o mínimo de vontade.

 - Eu mesma.

Afirmei.

 - Aqui é da gravadora de filmes New Vision, estou ligando para dar o resultado do teste que realizou dois dias atrás.

Sua voz era nasal.

 - Sim, sim. Pode falar.

Puxei o ar, arfando-o tentando me preparar para o momento decisivo.

 - Sinto muito, o seu teste foi negado.

Sua resposta caiu como uma rocha gigantesca no meu intestino grosso. Um grito abafou-se na minha garganta, uma onda de melancolia me invadiu, fazendo com que eu não conseguisse dizer nada.

 - Senhorita Mors?

A moça perguntou para saber se ainda estava na linha.

 - Sim...?

Respondi com a voz falha.

 - É só isso, obrigada.

 - De nada.

Click.

Fitei o nada com desilusão, flashes da minha antiga vida se repetiam, reproduzindo-se na minha memória. Tudo parecia vago de repente.

Sabia que parte daquela experiência seria o fracasso, mas não podia me acostumar com aquela sensação de perda. Me sentia uma perdedora.

Fui até o meu quarto de passos arrastados tentando me concentrar no comando de não chorar.

Abri o guarda-roupa procurando meu casaco. Amanhecera uma manhã chuvosa e eu iria até algum lugar, qualquer que fosse. Tudo para fugir daquela estranha emoção.

Quando uma lembrança frustrante me veio. Tinha me esquecido do casaco na New Vision. Sim, eu fui vestida com ele porque amanhecera nublado na manhã do teste e eles me obrigaram a deixa-lo na chapelaria.

Grunhi enravaida, enfurecida com a ideia de ter de voltar naquele lugar. Onde depositei toda a minha esperança que agora se esvaiu.

Mas eu tinha que voltar. Não tinha trazido muitos já que fora avisada de que aquele era um lugar onde predominava o calor e pancadas de chuva, de vários outros casacos, mas não eram tão quentes, precisava daquele.

Joguei um casaco fino qualquer no corpo junto com um suéter e saí. Seja o que for que acontecesse, chega. Tinha de me livrar disso, tinha de seguir em frente.

*************************

A passagem pela portaria, os corredores, as repartições, todos os escritórios e a sensação de profissionalismo em cada espaço. Tudo aquilo que acreditei que faria parte, tudo me invadia.

Puxei toda a coragem que ainda me restava para meus pulmões e fui até a chapelaria. Lá, um chapeleiro me recebeu. Tinha óculos de grau e cabelo alaranjado arrepiado.

 - Deseja deixar alguma coisa?

 Indagou de má vontade.

 - Não, esqueci meu casaco aqui.

 - Como ele é?

 - Azul-marinho, quente e grande.

 - Vou procurar, só um momento.

Entrou em uma sala atrás dele, uma vidraça possibilitava ver o que tinha dentro, milhares de prateleiras cheias das mais diversas coisas.

Espere impaciente batucando nervosa com os dedos no balcão. Não haviam sons ao meu redor. Só o chiado do ar-condicionado. A chapelaria ficava no fim de uma corredor de piso branco, esguio, assim como todos os corredores pareciam ser ali.

Nada pareceu me incomodar até que ouvi passos atrás de mim. Suspirei com impotência, quem quer que fosse, não se aproximou de mim num bom dia. Não me virei.

 - Bom dia.

A pessoa saudou educadamente, uma voz masculina, um tanto familiar. Por obrigação me virei para responder e me deparei com quem eu menos queria ver: Tom Fline.

 - Ah... - Pigarreei num gaguejo, fiquei nervosa automaticamente. - Bom dia.

Voltei-me para o balcão de novo, fugindo do olhar. Não conseguia mais olhar para ele. Era humilhante demais saber que ele provavelmente deve ter me iludido por pena ou algo semelhante, o fato é que ele me negou. Sabia que não era culpa dele, ele só tinha que fazer o trabalho dele e eu... Não fui o bastante. Talvez por isso a vergonha, me sentia insuficiente para estar na presença de alguém como ele. Tive vergonha de gastar seu tempo vendo meu desprezível teste.

Para minha surpresa, ele ainda se manifestou:

 - Ah, eu lembro de você. - Sorriu de lado. Desta vez, olhei para ele para ter certeza de que ouvi direito. Alguém como Tom, após milhares de testes, conseguia lembrar de mim? Ou eu fui inesquecível de tão boa, ou de tão ruim. - Não passou no teste, não foi?

Ah claro, precisava me lembrar disso.

 - Foi...

Respondi num fio de voz, tristemente e envergonhada.

 - Não precisa ficar envergonhada não, você ia ser escolhida, juro. - Revelou sorridente. Meu rosto se iluminou no mesmo segundo. - Você ia ser, mas fomos obrigados a escolher a Hillary, porque ela tinha experiência e você não. São as drogas de normas do ofício. Eu realmente não queria trabalhar com alguém como ela, mas...

Revirou os olhos com repulsa. Não consegui evitar de prender um riso num canto de boca. Ainda tinha sido negada, mas não era nada mal saber que fiquei em segundo lugar e só não fui escolhida por esse detalhe. Mas também era preocupante pensar que esse detalhe ainda me atrapalharia em outros testes que resolvesse fazer.

 - É bom saber que fui tão bem. Diminui a sensação de fracasso.

Admiti numa baforada derrotada. Tom pareceu meio desconcertado e encostou-se no balcão ao meu lado.

 - Você parece ter talento natural, garota. Era minha intenção promover você. Eu sei quando alguém é bom de verdade. - Disse-me meio que num cochicho. - Eu ainda posso te ajudar, perdeu o papel, mas pode ganhar experiência de outra maneira.

Sugeriu. Logo fiquei interessada, minha boca sorriu movida pelo entusiasmo da ideia. Tom Fline, além de dizer que eu tinha talento natural, me ofereceu ajuda!

 - O que pode ser? Aceito qualquer coisa se puder trabalhar com você.

 Perguntei cheia de animação.

 - Um estágio. Durante a gravação do filme. É considerado experiência em seu currículo. Pode aprender muito.

Ofereceu sugestivo. 

Estágio? Não consegui prender a minha leve careta de dúvida. Não era o que eu pretendia. Achava que ele me ofereceria algo como... Figurante, atriz substituta, qualquer coisa. Mas ser estagiária sempre foi um terror para mim. Pensava naquilo como o mais baixo dos trabalhos, o trabalho que todos os fracassados de Hollywood acabavam recorrendo e não queria me ver desse jeito, muito menos ser vista assim.

Mas por outro lado não era uma má ideia. Precisava de todo jeito experiência e tinha que começar de algum jeito. Teria a oportunidade de trabalhar ao lado de Tom, mesmo que longe, estaria presente em um set de gravação, conheceria a atmosfera, como funciona aquela grande máquina que sempre me fascinou.

Mas claro que certamente, teria de trabalhar como um cachorro, para lá e para cá e ganhando não muito bem. Contudo não eram todos que recebiam uma proposta de estágio pessoalmente de Tom Fline, e muitos dos grandes atores da atualidade passaram por poucas e boas até conseguir chegar ao topo, eu não estaria sendo diferente. Algo me dizia que tinha que levar essa experiência para meu histórico.

 - Eu aceito.

Respondi, depois de um longo tempo em silêncio, brigando com minha consciência. Tom sorriu amigável.

 - Ótimo, pode acertar tudo naquela sala. - Apontou para uma sala ali perto. - Vamos trabalhar bastante juntos.

 - É.

Sorri contente.

O chapeleiro voltou com meu casaco.

Eu fui até a tal sala fazer meu formulário. Tom teria de confirmar depois, mas confiava na sua palavra. Ele era um profisssional sério. Não bancava o superior fazendo falsas promessas.

As gravações começariam dali à duas semanas e eu não sabia se estava preparada ou não. De qualquer forma. Agora era definitivo. Eu tinha um trabalho em Hollywood,  e não era bem o que eu esperava ser.


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Notas finais do capítulo

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Beijocas, Anonymous girl writer s2.



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