POV. Taylor

  Era horrível, essa sensação.

  A sensação de que algo ruim iria acontecer, sensação de que iria perder alguém muito importante na sua vida.

  Essa sensação que eu tive quando papai morreu, que me persegue parece que desde sempre.

  Eu não podia perdê-lo. Zacky tinha que entender que não era minha culpa, eu estava sendo chantageada!

  Eu tentava me agarrar ao ultimo fio de coragem que eu tinha. Estava sentada no sofá da sala, olhando para a porta a qual iria se abrir daqui a algum tempo. Esperava a hora chegar, a hora de tentar me explicar.

  Tinha tomado banho, mas não tive nem a vontade de pentear o cabelo. Lá estavam eles, molhados e embaraçados, mostrando me total desleixo juntamente com a maquiagem a qual eu não tinha tirado. Escutava claramente o tic tac do relógio no meu pulso, em pleno silencio da sala.

  Eu só queria arranjar uma maneira de pedir desculpas sem que começasse a chorar.

                        ...

  Zacky não podia acreditar que tinha mandado um cara para o hospital. Por mais que Kid merecesse, ele se sentia terrível por ter feito algo que se comprara ao que ele faz com os outros.

  Saiu do pub há uma hora. Andava por a com um olhar distante, vago, procurando pelo nada. Outro pub serviria, talvez; mas ele sabia que isso era só ele tentando enrolar para não ir pra casa. Não olhar para Taylor e rever a cena que o levou a quase deformar um cara de Kid.

                        ...

  Zacky estava demorando demais para Taylor. já tinha ruído todas as unhas, não sairia do sofá para nada, muito menos desgrudava os olhos da porta. A única diferença na cena de alguns minutos atrás, era que Jimmy, Johnny e Matt estavam no mesmo cômodo. Não pareciam prestar muita atenção ao jogo de baseball que passava no mudo na TV; assim como Taylor, estavam todos muito tensos esperando por noticias de Zacky. Preocupados com seu irmão. Um irmão que alias estava por aí, provavelmente bêbado e magoado. Isso nunca dava numa mistura boa.

  Até Brian tinha saído do quarto quando descobriu que Zacky tinha sumido.

  Estava no canto, em pé, de braços cruzados, mas todos sabiam e viam a preocupação com o melhor amigo estampada na cara do guitarrista.

-Alguém teve noticias?

  Perguntou, vindo da cozinha com um copo de água na mão.

  Ninguém se pronunciou, fazendo-o suspirar.

  O celular de alguém de repente tocou. Os meninos direcionaram sua visão ao dono do mesmo, que não poderia ser ninguém menos que Jimmy.

-É ele.

  Jimmy disse, e depois olhou para Taylor, que continuava encarando o chão, os ouvidos captando todas as palavras ditas por Rev.

-Ei, cara. Você está aonde?

-Na esquina da nossa antiga casa, eu acho.

  Zacky não ficava completamente bêbado nem quando queria. Era realmente muito difícil ele ficar tão chapado a ponto de não reconhecer o lugar onde estava, por exemplo, ou não saber seu próprio nome, como Brian e os demais.

-Rev, você... Você pode vir aqui?

  Zacky disse, respirando fundo, sentindo o vento bater em sua cara.

  Hora de voltar pra casa.

                        ...

  Rev tinha saído a quase quinze minutos.

  Tempo suficiente para Taylor surtar.

-Ele provavelmente não quer nem olhar na minha cara, Valary.

  Disse, choramingando, andando de um lado para o outro de seu quarto, onde Val estava sentada, tentando fazê-la tomar um copo com água.

-Val, pelo amor de Deus, o que eu faço?

  Taylor virou para a loira, os olhos lacrimejando, pálida e morta de medo. Val se levantou e abraçou a menina, falando:

-Só tenta contar o que realmente aconteceu, Taylor. Ele vai ter escutar.

  A mulher a soltou, abrindo um mínimo sorriso.

-Ele vai gritar comigo.

  Taylor disse, sua voz falhando na metade da frase.

-Tay, larga de ser boba. Zacky ama você, acha que ele faria isso? Ele só está magoado.

  Valary passou a mão pelos cabelos da menina, tentando ajudá-la.

-Você só precisa ir com calma.

-E se ele não quiser mais falar comigo?

  Val riu, revirando os olhos, achando graça na preocupação da menina. Taylor poderia ter problemas em ver o que Val e todos os outros enxergavam: um Zacky loucamente apaixonado, que ama tanto essa Taylor que até assusta os outros. Era algo lindo de se ver.

-Ok, se isso acontecer, você vai fazer o seguinte...

  Enquanto erguia o copo a ela, Valary continuou:

-Vai dar um tempo a ele. Zacky vai ver que tudo foi um mal entendido. E se ele não vir, fique calma, ele não vive muito tempo sem você.

  A loira sorriu novamente, e as duas escutaram um barulho de porta abrindo. A mão de Taylor tremeu tanto que Valary achou até melhor tomar o copo de sua mão. A morena olhou alarmada para a garota, pedindo ajuda com os olhos, em silencio.

-Vou tirar Matt e Johnny daqui, ok?

-Val...

-Relaxa, Tay. Me ligue amanhã.

  Val pegou o casaco em cima da mesinha, dando um beijo na testa de Taylor e saindo do cômodo.

-Quando você ia me contar?

  De repente ele perguntou, estridente, seus olhos fixos ao chão. Tinha o maxilar rígido, algo que não dava um ar feliz a ele.

  Taylor se virou para ele, sentindo-se suar frio.

  A expressão de Zacky, sem vida, a matava por dentro. Saber que ela era a responsável por isso a deixava ainda pior.

-Zacky, eu... Eu não podia contar.

-Era por isso que você saia de só chegava no outro dia? Você passava a noite com ele?
  Sua voz saiu fria e gélida, fazendo a espinha de Taylor se arrepiar. Engoliu a seco, o coração palpitando.

-Não desse jeito, agente não fez nada. Tente entender, Zacky, por favor...

  As mãos de Taylor tremiam de medo.

-NÃO. NÃO VOU.

-Zacky, eu não podia fazer nada, Kid estava me chantageando!

-Eu passei noites em claro... Taylor, você poderia ter morrido!

-Mas eu não morri, eu estou aqui, Zacky, e-eu...

-CALA A BOCA, TAYLOR!

  Berrou, ficando vermelho, assustando Taylor, que estremeceu. Zacky abaixou a cabeça, dando as costas à ela, passando as mãos nos cabelos. Taylor, parada encarando em choque Zacky, sentiu lagrimas caírem de seus olhos.

  Sabia que essa discussão chegaria a um ponto inevitável.

-Zacky, é isso que ele quer, quer nos separar, não podemos...

-BOM, ELE ESTÁ CONSEGUINDO.

  Esbravejou novamente, olhando para ela.

  Soltou novamente o ar preso nos pulmões, falando:

-Ver você beijando ele foi a coisa mais repugnante que eu vi na minha vida, Taylor. Eu me senti perder você, ali, bem ali, naquele instante. Rápido. E certeiro.

  Zacky olhava bem no fundo dos olhos dela, penetrando na alma conturbada da menina.

  Taylor era a única que conseguia detectar uma fibra de dor na voz firme dele. Sabia que perdera a confiança de Zacky não contando a ele que estava sendo ameaçada por Kid; mas ela não tinha outra escolha.

  Zacky soltou uma risadinha baixa, a pele branca agora vermelha de algumas lágrimas.

-Eu sou fraco demais, não é?

  Zacky deu outra risadinha breve, ficando em silencio em seguida.

  Pegou um travesseiro e nem se quer olhou para ela.

-Você pode dormir na sala. Pode até dormir com o Brian, eu não me importo.

  Tacou o travesseiro nela, que o agarrou por reflexo.

-Não, Zacky.

-O que? Pensou que eu ia ceder o meu quarto a você?

  Ele riu de desdém, dessa vez.

-Eu parei de ser gentil, agora.

  A fuzilou com o olhar, gesticulando para que saísse. Taylor arfou por ar, se engasgando com as lagrimas. Deu um passo para traz, saindo do quarto, e escutando a porta bater atrás de si.

  Olhou para o estreito corredor, que dava para uma porta; o quarto de Brian. Abraçada com o travesseiro e chorando, no completo silencio do apartamento, caminhou até o mesmo.

  Bateu três vezes na porta.

  Depois de um tempo, Brian abriu.

-Eu estou perdendo todos, Brian.

  Choramingou, ficando vermelha.