Fazia quase uma semana que Jimmy havia falecido. O que mais parecia ontem.

Eu tentanva adiar de todas as formas a conversa que teria que ter com Brian e Mia adiava o encontro entre Matt e Nick, mas eu sabia que no fundo ela queria muito esfregar as semelhanças entre eles na cara de Matthew.

A estadia no hotel duraria apenas uma semana e se quissésemos ficar mais tempo teríamos que procurar um novo lugar pra morar. Eu sabia que queria ficar aqui mas as coisas não estavam lá muito favoráveis.

Pra começar Syn estava muito estranho. De uma hora para outra ele havia deixado a tristeza em torno de Jimmy de lado e havia ficado muito agressivo. É, agressivo. E eu suspeitava de que ele estivesse usando umas coisinhas, se é que vocês me entendem.

Também tinha o fato de Sean estar no Brasil. Eu realmente gostava dele e não queria magoá-lo, ele era uma ótima pessoa e sempre havia me apoiado quando eu precisei. Era muito injusto deixá-lo sem nenhuma explicação.

Peguei meus chinelos e um vestido leve. Hoje iria para a praia.

Queria sentir novo aquela coisa que só as praias de Huntington Beach tinham. A brisa fresca e a tranquilidade que não se via nas praias do Rio, por exemplo. O calor excessivo do Brasil sempre as deixavam cheias.

Andei calmamente até o meu destino, parando ás vezes para analisar uma vitrine ou outra. O sol brilhava forte mas a temperatura não estava muito alta.

Crianças brincavam em um parquinho ali perto, despreocupadas. Alguns caminhavam e outros corriam pela orla da praia, parando uma vez ou outra para se alongar ou beber água. Um dia calmo e típico de HB.

Fui até uma parte mais afastada da praia e meus pés tocaram a areia fina e branca. Era muito bom ter a sensação de calma que ela passava e sentir a brisa do mar te tocando. Apesar de não saber nadar e ter um trauma horrível de água, eu gostava do mar. Gostava de olhar para aquela imensidão azul.

Caminhei um pouco mais a frente segurando meus chinelos na mão e só parei quando vi uma figura muito conhecida sentada na areia. Aquele tronco era quase inconfundível...

Involuntariamente, eu parecia ser puxada para mais perto de Syn. Ele estava com a cabeça baixa e eu andei pé ante pé para não fazer barulho. Me assustei quando vi o que ele estava fazendo e então ele notou minha presença.

Guardou rapidamente as cápsulas de cocaína enquanto eu o olhava intimidadora.

–Cocaína não vai te ajudar a esquecer o que aconteceu.

–Não era pra você estar aqui - disse em tom de lamento.

–Então tá, se você quiser eu vou embora e te deixo destruindo a sua vida por besteira - respondi tentando soar firme.

–Você não entende.

She seemed dressed in all of me stretched across my shame

All the torment and the pain

Leaked through and covered me

I'd do anything to have her to myself

Just to have her for myself

Now I don't know what to do,

I don't know what to do

When she makes me sad

Me sentei ao seu lado e o analisei melhor. Os olhos vermelhos condenavam que ele estava usando a droga e o cansaço repentino também.

–Syn, eu sei que você está muito triste pelo que aconteceu com Jimmy e todos estão. Mas isso não vai te ajudar em nada ok? A sensação ali na hora pode te aliviar um pouco mas depois tudo volta e cada vez pior. Eu não quero que você morra também...

Ele se virou instantaneamente e ficou me encarando por um momento. Parecia que a consciência havia voltado e ele fez uma careta.

–Eu sei Lily. Mas tudo está um inferno ultimamente...meu melhor amigo morre, eu estou me sentindo um lixo e não pense que eu não vi essa aliança no seu dedo. - disse num estalo e se levantou, o rosto beirando a raiva.

Olhei o anel prateado. Eu sabia que uma hora ou outra um de nós teria que acabar tocando nesse assunto e não seria nada agradável falar sobre isso.

She is everything to me

The unrequited dream

A song that no one sings

The unattainable

She's a myth that I have to believe in

All I need to make it real is one more reason

And I don't know what to do,

I don't know what to do when she makes me sad.

–Estou esperando. Vai me explicar ou não?

–Vou - tomei coragem e respondi. - Olha, Sean é um amigo de infância, eu praticamente vivi minha vida toda com ele. E quando eu voltei ao Brasil ele fez de tudo pra me ajudar quando precisei e pra me animar. Acho que em algum momento ele acabou confundindo as coisas entre nós e me pediu em namoro. Eu aceitei porque achava que iria consguir te esquecer.

Ele ainda matinha a expressão fria e de ciúmes sobre o rosto. Um leve arrepio passou sobre meu corpo e eu prossegui.

–Eu estava pronta para terminar com ele quando Zacky me ligou. Acabei vindo pra cá correndo e não resolvi nada.

–Ah é claro! - respondeu sarcasticamente - E como eu fico nessa história toda Lily? Como o ex-namorado traidor não é?

–Claro que não, para de agir feito criança! Você sabe que eu continuo amando você. Não é uma coisa que eu possa controlar mas você me magoou e doeu sabia? Você fala como se fosse muito fácil esquecer aquilo que eu vi, ainda mais depois de você ter ficado comigo na noite anterior. - a essa hora eu já estava levantada e um pouco alterada.

–Mas eu implorei o seu perdão! O que mais você quer que eu faça? - perguntou exausto.

–Quero que você pare de ser tão irracional e pare de jogar sua vida no lixo como estava fazendo assim que eu cheguei!

–Cala a sua boca! - disse alto e eu me surpreendi com a agressividade.

But I won't let this build up inside of me

I won't let this build up inside of me

I won't let this build up inside of me

I won't let this build up inside of me

A catch in my throat

Choke,

Torn into pieces

I won't, no

I don't want to be this

As lágrimas se acumularam rapidamente em meus olhos e algumas acabaram escapando, escorrendo livremente pelo meu rosto.

–Lily, desculpa... - ele pediu segurando meu braço quando eu tentei me afastar - Desculpa! Eu não queria falar assim com você...eu não sei o que esta acontecendo comigo.

Então eu o abracei. Eu sabia que Syn não era assim e nunca falaria uma coisa daquelas. Ele realmente precisava de ajuda...

–Tudo bem - eu disse sentindo ele relaxar - Mas me promete uma coisa...

–Diz

–Nunca mais volte a usar essas porcarias ok? - pedi - Por mim e pelo Jimmy...

–Ok. - respondeu mais aliviado e eu sorri. - Mas não prometo que não vou quebrar a cara do seu namorado caso eu o veja.

–Syn...

–Estou falando muito sério.

–Eu sei que está. E quanto a isso, eu ainda não sei o que fazer.

–É muito simples. Terminar com ele e voltar comigo. - respondeu como se fosse óbvio.

Eu me afastei um pouco olhando o mar. Parecia perfeito fazer isso, mas ainda assim alguma coisa me impedia. Eu tinha muito medo de magoar Sean ou de quebrar a cara novamente.

–Eu não sei - respondi - Eu gosto dele.

I won't let this build up inside of me

I won't let this build up inside of me

I won't let this build up inside of me

She isn't real

I can't make her real

She isn't real

I can't make her real

Seus músculos rapidamente ficaram rígidos e ele me olhava acusador, como se eu estivesse dizendo a pior barbaridade do mundo.

–Mas você me ama.

–Oh, pare de ser tão convencido! Eu não vou magoar Sean, isso é a última coisa que eu quero. Porque quando eu precisei de alguém para me ajudar era ele quem estava lá ok? - eu senti que iríamos começar tudo de novo.

–É claro que ele estava lá! Enquanto eu estava aqui plantado com um bilhetinho no travesseiro e chorando que nem idiota. - respondeu jogando as coisas em minha cara.

–Eu achei que fosse o melhor pra nós dois, Brian! Eu achei que com o tempo você pudesse esquecer...

–Engano seu! Pelo contrário, cada dia foi terrivelmente torturante pra mim, porque eu queria voltar á Dezembro o tempo inteiro. Mas parece que não foi o mesmo pra você. Tanto é que deve ter jogado o papel que coloquei em seu bolso no lixo.

–Eu não fiz isso! Eu..é..foi você mesmo quem escreveu aquilo? - perguntei algo que me intrigava á tempo.

–Foi.

Ficamos em um silêncio agradável por alguns instantes. Eu tentava formular algo para dizer mas nada parecia querer sair. Syn pegou a garrafa de whisky do chão e tomou um gole, nervoso. Tirei a garrafa de sua mão e a joguei no chão novamente, fazendo com que ela se espatifasse.

–Ei, aquela garrafa me custou caro!

–Não me importa. Você é um metido, arrogante, egoísta, orgulhoso e prepotente!

–Mas quantos elogios - riu sarcástico - Estou lisonjeado em ouvir isso de você. Logo você que é tão chata, fingida e esnobe! E é claro, tem um metro e meio á propósito...

Dei um tapa em seu braço que não fez nem cócegas e ele riu escandalosamente da minha cara enfurecida.

–Resolveu me fazer uma massagem? Continue, por favor - disse em meio aos risos e eu voltei a estapeá-lo.

–Idiota! Não sei como eu posso ama... - parei de falar subitamente e no mesmo instante suas risadas cessaram.

–Não sabe como pode o que? - disse levantando uma das sombrancelhas de um jeito que só ele conseguia fazer.

–Não sei de nada - me fiz de desentendida.

–Mas eu sei de uma coisa. Uma coisa que eu quero fazer á muito e muito tempo - disse se aproximando e segurando minha cintura possesivamente.

–O que? - perguntei ofegante e me lembrei da minha última noite aqui antes de ir para o Brasil.

Seus lábios se colaram aos meus com força. Ah, como era bom sentir o gosto de Syn novamente! Era como se eu houvesse esperado por aquilo todo esse tempo...esperado para senti-lo novamente.

Apronfundei ainda mais o beijo e agarrei sua nuca na tentiva de trazê-lo mais pra perto. Eu sabia que o que eu estava fazendo não era lá muito correto mas minha sanidade parecia ter se esvaído quando ele mordeu meu lábio inferior levemente e arfou um pouco. Beijou meu pescoço e apertou ainda mais as mãos em minha cintura, tudo estava terrivelmente quente. Muito quente.

E eu só sabia de uma coisa: eu estava verdadeiramente ferrada!