- Alec! – gritei.

Pela terceira noite consecutiva, eu tinha os mesmos sonhos. O garotinho loiro, Derek a ensiná-lo a jogar football. Os olhinhos azuis brilhando ao ver a habilidade d irmão. Sorri. Alec devia ter sido um garotinho doce.

Os passos se aproximaram de um lugar não muito longe do amontoado de pessoas que dormiam amontoadas, apertadas no pouco espaço do túnel de gelo.

Alguns murmúrios reclamões eram ouvidos. Frio demais, apertado demais, sujo demais. Estavam todos certos.

Derek se ajoelhou ao meu lado, o azul ainda mais brilhante estava repleto de preocupação.

- Está tudo bem? – sua voz saía como um sussurro, mas ecoava na caverna gelada.

Me levantei, apoiando todo o peso de meu corpo no braço direito e abrindo o sorriso mais convincente que podia.

- Está sim! – respondi, mas ele franziu o cenho.

- Não minta.

Foi inevitável. Eu tinha de obedecê-lo.

- Tem dormido bem? – foi tudo o que eu consegui disfarçar. Ele assentiu.

- Melhor do que nunca. – soltei mais um sorriso fraco e me deitei. – Cassie... Me fala. Tem a ver com o que você fez... Há pouco tempo?

- Boa noite, Garotão. Bons sonhos.

A imagem de Alec voltou a minha mente nos mesmos pesadelos de sempre.

“Eu não estava na cena. Não realmente. Era apenas uma lembrança, aliás, uma lembrança que não me pertencia, mas eu estava ali assim mesmo. O belo lago de Austin refletia a luz do luar enquanto os dois estavam ali na borda, esperando.

Esperando o que? Por mais incrível que parecesse, eu sabia. Me aproximei alguns passos.

- Você tem mesmo de ir? – ouvi a vozinha que parecia de um adolescente, uma voz que pendia entre o grosso e o fino demais.

- Ah, Alec! – exclamou o humano a quem eu tanto me apegara. – Você sabe que sim.

O garotinho suspirou, derrotado.

- Tudo bem então. – respondeu. – Mas... nos vemos depois, não é?

- Eu vou trazer chocolate!”

Senti meus olhos se abrirem novamente. “Derek, você não vai ver ele de novo! Não vai ter chocolate!”, eu queria gritar, mas as lágrimas que irromperam de meus olhos me impediram. Eu estava emocionada.

“- Derek! Por favor! Me ensina! – pedia o menininho, segurando a bola oval.

- Alec! Eu saio daqui a pouco!

- Por favoooor! – os olhinhos claros brilhavam no estilo ‘cachorrinho que caiu da mudança’. Mas Derek apenas virou de costas, pegando a mochila e começando a andar na direção oposta.

- Adeus, Alec.

Algumas lágrimas apareceram no rosto do garoto. Ele esperava que o irmão ao menos o ajudasse com o football que tanto amava, mas tinha dificuldades.”

Eu sabia que era daquela cena que Derek mais se arrependia. A última vez que viu o irmão sem nem dar um adeus descente. Levei os olhos em sua direção.

“Pelo menos agora ele podia dormir em paz.”