Toc toc

“Entra.” Mal acabei de falar e já avisto a cabeleira loira da minha mãe na porta.

“Vim vê se você precisa de alguma coisa.” Falou olhando pra mim com uma carinha de dá dó. Ultimamente ela vem me tratando muito deferente do que antes, mais carinhosa não que ela não era antes mais agora chega a ser gostoso o modo dela de se preocupar sem ser ao extremo.

“Não obrigada. Tô aqui tentando me decidir qual roupa uso hoje à noite.”

Depois do drama no banheiro da escola, no qual Santana apareceu no banheiro dizendo que tinha se perdido de mim, o que é mentira já que na volta pra casa não proferiu nenhuma de seus dizeres mal humorados, sugeriu que saíssemos pra ter uma noite só de garotas.

“Vai sair?” depois que descobri a leucemia uma das minhas manias era sair de casa em um dia, e voltar no outro. Por isso não fiquei surpresa quando minha mãe se mostrou apreensiva mesmo tendo a certeza de que se eu fosse fazer isso ela não me impediria.

“Sim, eu e as meninas vamos fazer um programa simples com cinema e jantar.” Falei dando de cara com o sorriso cheio dela. Era bom vê esses pequenos resquícios de felicidade em um momento complicado como aquela.

“Que bom querida, faz tempo mesmo que você não saia com elas principalmente com a Santana.” Mamãe e sua tara por Santana. “Vai precisar de dinheiro?”

“Não, ainda tenho da ultima mesada.”

“Pois tá, mais se precisar de mais é só pedir. Agora vou indo qualquer coisa estou lá embaixo.”

Na volta da escola pra casa, no banco de trás do carro de Santana com Rachel do meu lado segurando minha mão esquerda entre as suas repassei a minha vida toda desde o momento da minha primeira memoria quando criança, até aquele. Lembro-me que um dos meus questionamentos era de onde tínhamos vindo e pra onde iríamos depois, sendo respondida pelo meu pai da seguinte forma “viemos do amor de nossos pais, vivemos pelo amor de nossos pares, retribuímos o amor dado pelos nossos pais e criamos nosso próprio amor, que nasce e continuamos a dar amor a esse ser, o qual quando cresce passa a nos dar amor depois de velhos e quando partimos eles choram e demonstram o amor que existe neles por nos, então chego à conclusão que viemos do amor, vivemos o amor e morremos pelo amor de Deus e nos encontramos com ele para vivermos uma nova vida e adquirirmos novas experiências e nosso ser se iluminar e aprender, só o ser humano pode aprender e diferenciar o amor, sentimento, a ira, o medo, a dor e só assim aprendera sobre sua existência nesse imenso universo”.

Mais essa resposta nunca foi o bastante na verdade o amor pra mim nunca foi o bastante, depois de um tempo as perguntas evoluíram. Deus ou ciência? Criacionismo ou evolucionismo? Big-Bang ou o Gênesis? Darwin ou Moisés? Só que dessas meu pai não tinha as respostas e nem elas se encaixavam naquela sobre o amor. Amor esse que eu não imaginava ser a causa da minha existência.

Agora aqui vestindo a roupa escolhida, nervosa e ansiosa pra vê a causa disso tudo, vejo que de onde ou pra onde não importa e sim com quem vamos estar esse tempo todo.

“Pronta?” Beth perguntou na soleira da porta de braços cruzados, sobrancelha arqueada, e o azul dos olhos brilhando, uma copia quase idêntica a minha pessoa.

“Sim.”

Quando saio da minha casa vejo a resposta de todas as minhas perguntas escorada no carro usando calça jeans e camiseta, trazendo no rosto um lindo sorriso e nos olhos um brilho de adoração que me fazia sentir a obra mais valiosa de todas e eu tenho certeza que eu a via do mesmo jeito. Rachel o sopro da minha ultima vida ou simplesmente a causa da minha humilde existência. Acho que meu pai estava certo.

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Gente chata essa que quer ser séria profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, porque fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins. No dia-a-dia, pelo amor de deus, seja idiota! Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente é ele, pobre dele! Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e ponto. Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselhos para tudo, soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?

Hahahaha. Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor ideia de como preencher as horas livres de um fim de semana? Quanto tempo faz que você não vai ao cinema? É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E dai, o que elas farão se já não têm porque se desesperar? Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não. Tudo o que é mais difícil é mais gostoso, mas... A realidade já é dura, piora se for densa. Dura, densa e bem ruim. Brincar é legal. Entendeu? Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteiras, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não tomar chuva. Pule corda! Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte. Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável. Teste a teoria. Uma semaninha, para começar. Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são: passageiras.

Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir... Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração! Alias, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora? "a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios" "por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche".

“Ok. Mais uma vez e eu espero que vocês me digam com exatidão o que querem assistir, antes que eu faço uma loucura sem me preocupar com as testemunhas que me colocaram na cadeia por matar três cadelas que não sabem escolher uma porra de um filme.” Nesse exato momento esqueci até do que estávamos falando só pra vê o movimentar da boca de Santana que não parava.

“Nossa que agressividade é essa Santana?” minha linda morena falou fazendo com que Beth risse.

Estávamos as quatro no cinema paradas nos letreiros dos filmes em sessão tentando decidir qual filme assistir.

“Deve ser por que a namoradinha dela não veio conosco.” Depois dessa da Beth a minha vontade era de eu mesma da uns tabefes nela pra parar de cutucar a onça com vara curta.

“Olha aqui sua filhote de tartaruga não se meta onde não é chamada, você está de penetra aqui e por que eu tenho um coração enorme e atendi ao pedido da Quinn de chamar você mesmo eu não entendendo o que ela vê nessa sua cara.” Santana não falou, ela gritou apontando o dedo na cara de Beth que não fazia nada além de gargalhar o que a deixava mais irritada.

A cena que se veio a seguir foi a mais ridícula e engraçada que eu já vi. Santana esperneando por que queria mostrar a Beth onde era Lima Heights, enquanto Beth se esquivava dela rindo, tanto que chegou a se ajoelhar no chão e no meio disso tudo Rachel linda como sempre agarrada a cintura de Santana impedindo que ela faça alguma loucura. E onde eu estou? No meio das pessoas que pararam pra observar a interação, não sei se rio ou ajudo Rachel. Decidi por ajudar, gosto muito da Beth pra que ela se machuque e de Santana pra vê ela ser presa por que era isso que aconteceria se eu não tivesse apartado.

“Já chega! Você vem comigo.” Agarrei a mão de Santana tão forte que a fez parar um momento. “E você se levante e se recomponha.” Até chorar Beth chorou. “Volto já.” Essa foi pra Rachel que me olhava agradecida.

Enquanto andávamos percebi que Santana não estava no normal dela. Quer dizer ela estava normal mais o que diferenciava era o olhar dela que no lugar do irônico ou divertido que sempre habituava o de agora era triste.

“O que houve San?” Perguntei assim que sentei em um dos muitos bancos do Shopping com Santana do meu lado fingindo vê uma vitrine.

“O que houve? O que houve foi essa sua amiguinha no qual você insiste em trazer para o nosso circulo social.”

“Por favor, Santana não insulte a minha inteligência eu mais do que ninguém te conheço e sei que Beth não tem nada a vê com isso. Se bem que eu não sei o que é isso.” falei segurando em sua mão pra mostrar que estava lá com ela.

Depois de um longo suspiro veio o desabafo de Santana Lopez.

“Acho que Britty está me traindo.”

Ok! Para tudo e volta à fita. Eu escutei o que escutei? Britty nossa Britty traindo Santana? Impossível.

“Impossível. Britty não faria isso.”

“Não faria mesmo se eu não tivesse sido tão burra em relação ao nosso relacionamento.”

Bom nisso eu tenho que concordar. Desde que as duas começaram a se relacionar só Britty namorava Santana.

“De onde você tirou essa ideia?”

“Algumas coisas que vem acontecendo com a gente. Tudo indica que é isso e você sabe que sei reconhecer esse tipo de coisa.” É verdade Santana sempre sabia dos segredos mais secretos de cada um daquela escola.

“Você já conversou com ela?”

“Não tenho coragem.” Tudo bem. Não é nada estranho ouvir Santana dizer que não tem coragem. Isso é normal.

“Olha você tem que conversar com ela. Primeiro pra ter certeza se isso é verdade por que tenho certeza se você chegar pra ela e perguntar ela vai contar e segundo pra vocês tentarem se entenderem de uma maneira decente. Por que além de tudo vocês são amigas.”

“Eu tenho medo dela escolher essa outra pessoa.” Agora entendi. Santana é a pessoa mais forte que eu conheço e não seria uma traição que a derrubaria, mais o fato da possibilidade de ser trocada a magoava.

“Ei não vai acontecer.” Agora eu estava triste, por mais que às vezes o jeito de Santana me irritava por um lado era o que conseguia me tirar da realidade e me levar pro seu mundo. E vê-la assim pra baixo me mostrava que se até ela era derrubada, imagina eu. Além de ela ser minha melhor amiga, depois de Beth. “E se acontecer eu quero que saiba que estarei aqui.”

“Obrigada.” Falou me fazendo rir e ela revirando os olhos. Eu sempre achei engraçado Santana Lopez dizendo as palavrinhas mágicas. “Agora vamos parar com essa melação, que eu vim aqui pra assistir filme e não ter uma consulta grátis com uma projeto de psicolouca.” É ela voltou. E nunca fiquei feliz por isso.

“Então mais calma Santana?” Rachel perguntou me envolvendo por trás o que me causou um susto. “Desculpa.” Ainda tinha que sussurrar no meu ouvido?

“Graças à doutora Fabray sim” falou enquanto fuzilava Beth, enquanto essa tentava segurar o riso fingindo estar interessada em um casal de velhinhos andando de mãos dadas.

“Bom acho melhor a gente escolher logo esse filme antes que fique tarde pro nosso jantar.” Beth se pronunciou pela primeira vez fazendo Santana bufar e eu e Rachel concordarmos.

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“Até amanhã Q. Tchau Rachel.” Beth falou indo pra casa, enquanto eu estava parada na porta de casa com Rachel.

Tínhamos finalmente depois daquela pequena interrupção escolhido o filme. Alvin e os esquilos 3 mesmo de um sorteio no qual por sorte como Santana disse eu ganhei. Depois veio o jantar no Breadsticks onde ocorreu o segundo atrito entre Santana e Beth. Ta certo que elas nunca se bicaram mais brigar por causa do verdadeiro sabor da sobremesa, isso já é demais eu hein.

Mais tirando isso posso dizer que nunca me divertir tanto nesses dois anos inteiros. E claro que as picuinhas das meninas tinham sua parcela, mais a responsável mesmo era ela a garota que agora me fitava como se tivesse em transe.

“Aceita jantar comigo amanhã? Só nos duas dessa vez?” Não tinha como resistir com ela me pedindo dessa forma, envergonhada.

“Claro.” E antes que pudesse receber meu beijo de boa noite a pessoa na qual antes senti falta falou.

“Olha se vocês quiserem posso arranjar uma cama pra vocês e colocar ai.” Santana falou de dentro do carro.

“Acho melhor eu ir.”

“Tudo bem.” E finalmente ganhei aquilo que esperei a noite toda. Não que não tivéssemos nos beijado, mais aquele beijo era diferente, mais apaixonado, mais entregue, nós duas se conhecendo mais e mais a boca uma da outra.

Depois de um dois e três beijos, o que por mim tinha aumentado Santana decidiu partir pra ação saindo do carro e praticamente arrastando Rachel. Eu ainda não entendo essa interação das duas, enquanto eu observava Santana falando alguma coisa como querer ir dormir e Rachel dizendo que ela se saiu uma tremenda de uma empata foda, percebi que às vezes as duas davam a perceber que se conhecem há muito tempo. Mais isso deve ser da minha cabeça já que quando Santana nos escreveu no club Glee disse que não falava com ninguém de lá.

“Tchau.” Rachel gritou me tirando do meu pequeno devaneio me jogando o beijo no ar, o que o peguei e beijei fazendo Santana virar os olhos e partir com o carro.

É deve ser coisa da minha cabeça.