Dias chuvosos são na verdade bem românticos.

De cima da escola, eu podia ver Tom chegar, atrasado por ter se esquecido do caminho e por ter sua cabeça constantemente ocupada pela imagem pervertida de um certo Rato sem camisa no vestiário. O nível de apaixonado dele na verdade, caiu pra 6%, o apaixonado, enquanto não é amor, é algo bem volúvel. Os sentimentos de Jerry também decresceram em 1% e eu estava com problemas se os dois não se ajeitassem.

No meu celular, bem comportado no bolso do moletom vermelho, tocava “Have you ever seen the rain?” Afinal, nada como os clássicos. Jogue a primeira pedra quem nunca ouviu Thriller.

Tom percorria os corredores enquanto compactava o seu guarda chuva azul e o guardava ainda molhado, em uma sacola plástica e a deixava de lado e entrava na sala apressado. Verônica olhou pra ele com olhar de quem mataria um, especialmente Tom, e Jerry tinha esse mesmo olhar. Mas ninguém podia matar o Tom, não ainda, ele se dirigiu lentamente até a cadeira na frente de Jerry, e torcia pra que ele não lhe esfaqueasse pelas costas.

A chuva do lado de fora era hipnotizante e chamava a atenção de Tom mais do que os vários cálculos e formulas que se escreviam continuamente no quadro graças as habilidades de Verônica pra fazer qualquer coisa. Ela desenhou vários diagramas e gráficos no quadro. O som da chuva caindo no chão e batendo contra a janela de vidro era na verdade, muito bonito e me dava um pouco de sono enquanto eu me escorava em uma das mesas vazias. Não tinha medo das pessoas virem e acharem estranho a mesa se mexendo sozinha, afinal, já faz tempo que criei uma grande mentalidade de acreditar em fantasmas nessa cidade, desse jeito, ninguém acharia tão estranho as coisas se mexerem quando eu to por perto.

Eu me estiquei um pouco, procurando alguém que podia ser usado pra atiçar o Tom e o Jerry. Pensei em todas as ideias: Um belo professor particular tipo François de “O Menestrel” que vai “cuidar muito bem” do Jerry até o Tom se morder todo de ciúme? Uma gostosona que nem a Marine de “Sexy, Lovely and Nerd” se esfregando no Tom até o Jerry ficar verde?

Ai, são as opções semelhantes as do banquete de um rei! Mas eu tinha que escolher, e foi olhando em direção à janela, que eu tive uma das minhas melhores ideias. Chuva. Chuva podia ser tão romântica e podia criar um ótimo clima pra umas coisinhas bem românticas, tipo aquelas coisas de uma mulher correndo pra longe e o cara aparece, puxa ela pelo pulso, eles brigam, mas logo depois, ficam se pegando!

Seria tão doce que alguns dos leitores ficariam diabéticos!!

Eu, antes de tudo, tenho que dar um chá de sumiço no guarda-chuva do Jerry. Eu parei o tempo na sala, peguei u guarda-chuva na mochila dele e o atirei pela janela, obvio, eu podia ter feito isso sem ter nem saído da cadeira, mas eu acho muito divertido jogar coisas pela janela, ainda mais quando ah! Acerto a cabeça de alguém, pobre coitado.

Eu ri, me sentando de volta e deixando o tempo voltar a passar normalmente. Aliás, o único motivo pra eu não pular aquela aula era porque a Verônica estava especialmente sexy hoje. Com um short curto jeans e uma camiseta branca que fico molhada quando ela passo por aqui, agora ela vai se esfregar na mesa! Droga, eu lembrei, não posso deixar ela fazer isso, quer saber, vamos deixar tudo isso de lado, ok, quer saber, refaçamos toda essa merda, a Verônica estava com uma camisa vermelha, intacta, porque ela chegou aqui antes da chuva, estava com uma saia branca até os joelhos e sapatilhas vermelhas.

Desculpem eu ser um pervertido.

Mas dos dois jeitos, pulemos toda essa coisa pro que interessa: o fim da aula!

Caramba, isso é muito útil! Só apertar “Enter” algumas vezes e criamos um buraco no tempo e espaço pra ir direto a outra parte da história, é bem prático! Ok, vo fazer isso de novo, dessa vez eu vou pra 4 minutos no futuro!

Gente! Funciona! Ok, já chega disso. Eu fui até a entrada do colégio, todos já tinham ido, mas pelo sumiço do guarda-chuva de Jerry, ele tinha que esperar a chuva passar. Diante da grande porta de vidro, ele estava esperando apoiado na parede ouvindo calmamente alguma musica.

-Jerry? –Tom perguntou, se aproximando, com o guarda chuva na mão.

-Tom. –Respondeu, distante, não querendo conversar com o Gato.

Eles ficaram sozinhos ali, Tom queria dizer algo, mas não podia dizer nada, só a visão de Jerry lhe lembrava do que aconteceu na vez anterior, e isso o deixava excitado. Se estavam realmente sozinhos, a ideia de fazer sexo na sala de aula com Jerry só o deixava mais excitado, mas não queria assim, talvez pudesse ir devagar.

-Por que ainda não foi? –Tom perguntou, se pondo ao lado do outro.

-Perdi meu guarda-chuva. –Falou, mas por pura educação. –To esperando a chuva passar e dai eu vou embora.

-Quer ir comigo? –Perguntou, levantando o guarda chuva e sorrindo.

Jerry estava atrasado pra um compromisso que eu vou inventar quando ele chegar em casa. O menor suspirou e foi pra perto do outro que sorriu, enquanto abria o guarda chuva, os dois lentamente andaram, com o Gato sempre tentando conversar com o Rato, mas ele se recusava as vezes e respondia outras vezes. Mas não podia negar que era divertido. Eu mesmo estava com o meu próprio guarda chuva andando logo atrás deles, assistindo de perto o que acontecia ali.

-Você ta irritado comigo por causa de ontem? –Tom perguntou. Ok, senhoras e senhores, agora temos algo interessante!

-Como eu deveria me sentir? –Jerry entortou os lábios e olhou pro outro lado.

-Você devia se sentir honrado. –Tom sorriu. –Não é por qualquer um que eu fico assim logo de primeira. –Jerry levantou um canto da boca em um meio sorriso. –Desculpa, ta? Eu ainda não sei porquê eu fiz aquilo, mas eu fiz, e ficar emburrado assim não vai concertar muita coisa.

Eu não sei se era impressão minha, mas eu acho que o Jerry estava cogitando a ideia de realmente perdoá-lo. Ele quase riu da piada do outro, e isso era um bom sinal pra Tom, ele apenas não sabia o que fazer. Desistir do seu orgulho tão facilmente assim não era uma opção. Não queria perdoá-lo, mas ao mesmo tempo, seu coração estava acelerado e não sabia o que fazer ali. Fugir talvez? Eles não estavam longe uma estação de metro que podia dar direto na rua de sua casa e de lá, apenas se molhar um pouco não faria diferença. Mas mesmo que eu desse essa chance pra ele agora, eu não acho que ele correria, não daquele lugar, não naquele momento.

-Mas escuta, é sério, se fosse qualquer outra pessoa ali, eu acho que eu me seguraria bem melhor, mas eu não sei o que aconteceu. Eu me sentia como uma garota apaixonada na presença do ídolo dela. A única coisa que eu pude fazer foi me entregar aos meus instintos animais e o resto… você sabe o que aconteceu. –Tom continuou. Jerry estava começando a corar, virando o rosto sempre que Tom se preparava pra dizer algo bonito. –Possa você entender ou não, queira ou não, eu acho que posso estar sentindo algo por você.

Um silêncio pesado tocou o ar e se espalhou, as gotas de chuva faziam o único barulho entre os dois.

Jerry:

Sentimentos por Tom: Indeterminado, pendendo pra confusão

Sensação por Tom: Desconforto

Apaixonado: 3,5%

Tom:

Sentimentos por Jerry: Indeterminados

Sensação por Jerry: Conforto

Apaixonado: 7%

Apesar do nível de apaixonado do Jerry ter subido, de nada adianta se o do Tom não subir também. Eu nunca teria imaginado que algo assim aconteceria quando eu vi aquilo: Jerry segurou Tom pelas bochechas e o beijou.

O mais alto ficou sem saber o que fazer enquanto a língua do menor adentrava na boca dele e pedia espaço, sentindo-a. Mas logo depois, Tom largou o guarda chuva, deixando os dois molhados enquanto segurava ainda mais forte a cintura do outro e o puxava com força contra seu corpo. Uma vez que as leituras do nível de apaixonado do Tom continuam 7%, o Tom leva essa rodada.

Existia uma coisa: Se eles se apaixonarem mais antes de se pegarem, a rodada era minha, se for depois, é do Tom, se não houver mudança ou houver decréscimo, é do Jerry. Simples assim.

Bom, enquanto o Tom agora empurrava o Jerry contra um muro qualquer e o acariciava as pernas, Jerry começava a fazer carinho no cabelo de Tom, como se pedisse pra que ele fizesse mais e mais forte o que quer que estivesse fazendo com ele. Molhados, era muito mais fácil sentir o corpo um do outro. Tom apertou ainda mais a cintura de Jerry, o fazendo separar o beijo pra poder gemer, mas logo foi refeito, abafando os gemidos mais altos do garoto.

Parece que eu perdi mesmo e que essa rodada foi direto pro Tom. Tadinho de mim. Sortudo do Tom.

Acho que vou comer uns biscoitos agora, eu já perdi mesmo, vou deixar os dois se pegando, mas acho que se o celular do Jerry tocar agora, ele não vai se atrasar. Mesmo que, enquanto ele tenta falar no celular, o Tom continue espalhando chupões no pescoço dele.

O amor é lindo, você não acha?

Caramba, só 4 “Enter” e eu já to aqui num cafezinho refinado bem a lá Friends com biscoitos e um pouco de café. Isso é uma maravilha!