Voleur Sinderella escrita por Pequena em Paranoia


Capítulo 10
Capítulo 10 - Fluorescent Adolescent


Notas iniciais do capítulo

FLASH BACK *-* eu gosto de FlashBacks, sério mesmo. É muito divertido de escrever e imaginar. É uma pena que o Lucio, pai do Charlie, não aparece nesse... ("nesse", vai que eu escrevo outro HAUYSH). Enfim, boa leitura :D



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Auckland, Nova Zelândia. 05 de Junho. (Nove anos atrás).

A menina parou de saltitar quando chegou bem à frente da porta. Para seu tamanho a porta estava tão distante e tão próxima de si, quase a sufocando por seu cheiro de madeira de carvalho recém cortada e talhada de diversas maneiras.

– Ei. Por aqui! Venha logo! – o primeiro berrava por detrás de umas moitas.

– Príncipe! – a garota abriu um sorriso de orelha a orelha.

– Quieto, aquelas duas vão nos encontrar... Vem logo, garota! – falava outro garoto junto ao primeiro, agachando-se também rapidamente.

A menina olhou para todos os lados antes de encontrar um pouco longe de si os dois, abrindo um longo sorriso e correndo em sua direção com seu vestido azul, parecendo uma pequena princesa.

– Boa tarde, vocês dois. Estão se escondendo da dupla dinâmica novamente? – disse a menina se curvando para ficar com o rosto frente a frente dos dois moleques sentados no chão. Seus rostos estavam arranhados e pareciam ter cinco anos, correndo e brincando como bebês, exatamente por isso que ela não parava com os risos.

De repente o primeiro puxou a gola de seu vestido violentamente, fazendo com que caísse do lado deles. E enquanto ela se concentrava em sentir a dor de bater com a cabeça no chão, escutou uns gritinhos bobos, quase chiados de animais, vendo apenas duas meninas vestidas com plumas rosadas e com uma quantidade de enfeites que nem elas davam conta.

– Tem como ficar quieta só por um momento?! Não agüento mais aquelas duas correndo atrás da gente!

– Desculpe-me. – ela sorriu, deitando a cabeça na grama. – Espero que não tentem arruinar seu aniversário, querido.

O primeiro garoto olhou para cima e sorriu como ela, colocando a mão por baixo da dela e apertando ternamente. O segundo, entretanto, ficou com os olhos na porta de entrada da mansão, observando as pessoas que chegavam lentamente em seus mais diversos carros com choferes e criados.

– Não entendo porque seu pai quis fazer toda essa festa. – disse ele, se levantando e passando a visão em volta, na esperança de não ver as duas meninas problemáticas – Poxa, tenho certeza de que não conhece nem metade dos presentes.

– E nem quero. – respondeu outro com um brilho nos olhos, acompanhando o amigo em seu levantar – Para quê saber o nome de tantos bajuladores? Nem metade estará aqui se as ações da empresa caírem, não concorda, Nicolau?

O segundo fechou o cenho na mesma hora, enquanto o amigo levantava, balançando os cabelos amarelos e brilhantes à luz do sol.

– Eu já pedi que parasse de me chamar assim, Charles. – disse, franzindo a testa em sinal de desagrado.

– Deixa para lá, Ian... Não precisa se remoer por causa dessas coisas. – desta vez a menina falou, também se levantando, mas ainda segurando na mão do loiro – É o seu nome, não é, Ian? Ele não é pior que o segundo nome do Charlie, não é, príncipe?

– Dannika, não ouse pronunciá-lo!

– CHARLES ODÉLIO GARETH! – gritou de repente uma única voz como se parecesse um chiado de animal misturado com o vácuo ampliado bruscamente, quase matando os ouvidos dos três garotos.

Uma mulher grande apareceu na frente do loiro, tendo os cabelos castanhos estirados sobre ombros parecendo cobras da medusa de tanta raiva que tinha. Ela era robusta e tinha queixo firme, vestindo um vestido de marca bem caro e olhando fulminantemente para Charles.

O garoto fez menção de querer fugir dali, mas ela pegou seu braço fino e saiu quase o arrastando pelo jardim na frente da mansão.

– Charlie, querido, todos estão a sua procura... – ela disse abrindo um sorriso falso o máximo que podia, tendo o sinal abaixo de seu olho esquerdo quase pulsando para fora da pele.

Aquela era Maxine Oitava Gareth, madrasta do pobre Charles e mãe das duas meninas de quem ele e o amigo fugiam minutos atrás. Parecia ser o tipo de mulher de classe média/baixa que se tornou rica da noite para o dia.

Na verdade, aquilo foi o que aconteceu quando Lucio Gareth a pediu em casamento um ano atrás.

Charlie não era exatamente o melhor enteado de todos, e Maxine fazia o máximo para se “dar bem” com o garoto, matinha o sorriso e prendia a língua sempre que ia falar com ele, ainda por cima se fosse na frente do marido.

– Ah, diga que fugi para o porto. – ele riu-se, passando a mão pelos cabelos e arrancando um risinho da menina – Os amigos de meu pai não vieram por minha causa, não sentirão minha falta.

O sinal pulsou mais uma vez, chamando a atenção dos três para os fios de cabelo que tinham.

– Oh, querido, não são eles que chamam, seu pai quer saber onde esteve esse tempo todo senão recebendo os convidados. Hoje é seu aniversário de doze anos, não de seu pai.

– Pois é, bobão! – uma voz aguda veio por detrás de Maxine junto a dois corpos pequenos de garotinhas de apenas 9 anos de idade.

As duas eram Rose e Rhonda Oitava, duas pequenas garotas ruivas com as bochechas grandes e repletas de sardas. A primeira era baixinha comparada à outra, mas se vestiam da mesma maneira chamativa.

– Meninas, não sejam tão mal-criadas assim... – riu Maxine, segurando suas mãozinhas – E você, Charles, trate de voltar logo para a festa.

E assim as três saíram pelo jardim da frente para os fundos, onde estava ocorrendo a verdadeira festa de grã-finos.

– Não sei como você suporta essas três, que garotas chatas! – gargalhou Ian.

– Elas têm seus lados positivos – interrompeu a menina – só não descobrimos ainda quais são...

– Dannika, você sempre foi boa em encontrar o lado bom das pessoas. Essa sua uma qualidade sua realmente inegável. – suspirou Charles, beijando-lhe a testa como se estivesse apaixonado.

A garota enrubesceu e sentiu a pele formigar, parecia uma bobinha magricela se impressionando com aquilo, mas não negava ter seu lado louco pelo loiro.


Auckland, Nova Zelândia. 10 de Março. (Oito anos atrás).

Dias ruins aqueles. Durante três dias a mansão dos Gareth encheu-se de visitantes desejando os maiores pêsames ao jovem Charles e a viúva. Foram tristes os tempos e a chuva não parava desde a manhã daquele dia, deixando ainda mais cansativa a expectativa e a sensação que Charles tinha.

– Charles, não quer tomar uma água? – disse tio Wallace com doçura – Está aqui em pé desde mais cedo, vá descansar...

– Desculpe-me, tio Wallace... – a vida no rosto dele estava quase extinta, sua pele estava cada vez mais pálida e até mesmo seus olhos azuis cintilantes estavam opacos – Se essas pessoas querem falar comigo vou escutá-las, cada uma delas.

Aqueles que antes ele chamava de bajuladores começaram a adentrar a porta de sua casa desde o acidente, Maxine já tinha suas amizades e influências e começava a se tornar mais áspera com o jovem Charles, trancafiando o enteado em um mundo sozinho ao máximo que podia.

Entretanto, Charles já não comia direito e estava passando mal, náuseas entorpecidas e brutais que lhe reviravam a visão e os sentidos. Por um momento fez menção de desmaiar.

– Cuidado, você está caindo. – disse uma voz fina ao seu lado.

Charles virou-se e deu de cara com um menininho que não tinha mais que dez anos, pequeno e franzino com os olhos grandes o encarando como se fosse um rato assustado.

– Desculpe-me. – disse Charlie, segurando-se numa cadeira ao seu lado.

– Calma, não há porque pedir desculpas. – sorriu o magricela antes de estender a mão para o garoto loiro. – Meu nome é Jack, como vai?

Então Charles apertou sua mão firmemente e retribuiu o sorriso com outro.

– Meu nome é Charles... É um prazer conhecê-lo, Jack.


Auckland, Nova Zelândia. 01 de Julho. (Oito anos atrás).

Charles estava dormindo sentado. Estava acostumado a fazer isso desde o ano anterior a este, principalmente se as confortabilíssimas cadeiras do Hospital Geral estavam sempre a sua disposição depois do acidente. Tinham passado nada mais do que quatro meses e ele nem sequer tivera a chance de viver novamente após a perda de seu pai, Maxine trancou seus pertences no sótão o mais cedo que pode e esqueceu as roupas negras de luto para vestir suas roupas mais espalhafatosas e enfatizar a recém feita cirurgia plástica.

Ele pensou constantemente em abandonar tudo, mas Ian e Dannika o forçaram a continuar. E por isso estava ali novamente. Continuando por ela...

– Charlie? – uma enfermeira o acordou de seu sonho – A Sra. Jewel pediu que fosse ao quarto.

Levantou um pouco atordoado, mas acenou positivamente com um movimento de cabeça, acordando Ian, que estava ao seu lado, logo em seguida.

O quarto de Dannika estava repleto de flores e ursos de pelúcia e ao seu lado estava Tânia Wady e Helene Jewel com uma feição nada agradável, olhando para os dois que entravam. Helena era a mãe de Dannika, já Tânia tornara-se sua agente desde a penúltima primavera e os dois garotos a culpavam bastante pelo acontecimento.

– Como ela está? – murmurou Charles, não disfarçando o sono.

– Irá melhorar. – Tânia respondeu rispidamente – Contanto que não faça esforços por enquanto ela vai ficar bem melhor.

Ian baixou o olhar para o rosto da menina. Já tinha seus catorze anos e estava realmente alta, mas seus olhos estavam fundos e as olheiras se destacavam. Parecia que tinha morrido, mas continuava respirando.

– Desculpa por entrarmos assim de uma vez, estamos esperando que ela acorde desde que chegou aqui. – Ian riu-se, passando a mão sobre o manto que cobria as pernas dela.

– Ian, você poderia vir aqui comigo um instante? – perguntou Helene com um ar esquisito. Charlie já tinha idéia sobre o quê seria a conversa, provavelmente sobre o quadro de saúde da amiga, mas não gostava tanto dele quanto gostava de Ian e sempre lhe dirigia a palavra antes que a qualquer outro.

Os dois foram para o lado de fora do quarto, enquanto Charlie continuava a observar o rosto sereno de Dannika como se fosse a única pessoa no mundo, e Tânia via aquilo.

– Meu jovem, você é o enteado de Maxine, não é? – ela disse, chegando mais perto dele.

– Infelizmente.

– Acho que Nika irá melhorar. – continuou falando, desta vez chamando a atenção do garoto – Você parece ter uma grande afeição pela garota. – Charlie continuou calado, sentando-se ao pé da cama, deixando que os olhos se fechassem sozinhos por conta de seu cansaço. – Vocês são amigos desde criancinhas, não são? Não se preocupe, ela logo vai acordar, os medicamentos não eram tão fortes...

– Ela não estaria assim se você não os tivesse dado, não é? – ele balbuciou ansioso.

– Não daria se ela não os quisesse... – o menino franziu a testa, desagradado, mas ela o fitou de maneira objetiva e entretida – Não fale tudo que lhe vier em mente, garoto, existem horas em que precisa engolir a própria língua. E acho bom que se despeça rápido dela, nós logo iremos embora... Ela está acordada.

Assim, a mulher deu de costas, saindo lentamente do quarto e o deixando sozinho com o corpo de Dannika deitado sobre a cama. Ele sentou-se num pequeno canto do colchão e a observou por um rápido instante, antes de dizer:

– Dannika? Está acordada? – disse Charles, sacudindo levemente o braço da moça. Ela estava inerte, parecia estar dormindo serenamente, sonhando com tudo e nada ao mesmo tempo.

– Estou dormindo, silêncio... – Dannika soltou um risinho, mantendo os olhos fechados.

Charlie franziu a testa. Por que ela estava assim? O loiro passou os dedos pelos cabelos dela, cabelos incrivelmente lisos e sedosos, parecia um anjo daquela maneira. Ainda que fingisse estar dormindo.

Como estavam sozinhos ali, ninguém os notaria mesmo. Não havia nada nem ninguém que pudessem escutar, nada além da própria respiração e das batidas freqüentes do ar-condicionado defeituoso.

– Quando vai embora? – perguntou, acariciando-lhe os dedos.

– Estou dormindo, não pode ver? – e outro riso ela deu, antes de abrir os olhos azuis berrantes para encontro dos dele – Vou depois de amanhã. Espero que vá me deixar no aeroporto...

– Tentarei fugir de Maxine.

Dannika fechou a boca enraivecida.

– Você é um príncipe! Príncipes não fogem. Sua madrasta é uma bruxa, isso sim!

– Você não estava dormindo, boba? – ele riu, pondo a mão sobre sua cabeça para fechar seus olhos.

A pele de Dannika era macia, e quando ele passou a mão sobre sua testa sentiu o toque de seus cílios grandes e de sua delicadeza. A garota não evitou o frio na barriga, sequer a vontade de continuar ali, de olhos fechados ou não, estava feliz em ter Charlie sentado ao seu lado.

– Até quando quer que eu fique de olhos fechados? – ela murmurou, rindo.

– Até que eu te acorde...

Ele a beijou. Um beijo sereno, hesitante e tímido, quase temendo que seus lábios encostassem aos dela, tremendo numa paixão que tendia a sair por sua garganta. De certa forma aquela foi uma sensação dolorosa, não prazerosa.

Os olhos de Dannika se arregalaram no instante em que ele a soltou, fitando-o surpresa maravilhada.

– Charlie, eu-

– Dannika, espero que não sinta muito a minha falta. – ele disse, se levantando – Mas saiba que como príncipe eu tinha que acordar minha princesa o quanto antes, haha.



Auckland, Nova Zelândia. 30 de Julho. (Oito anos atrás).

Charlie engasgou.

– Ainda não consigo acreditar que você vai para a França. – piscou algumas vezes com o ar de incrédulo.

– Eu já disse, minha mãe que vai me levar, não é por minha culpa! – respondeu Ian, se recostando na parede do lado de fora da casa, revirando os olhos. Quando olhou novamente para Charles não evitou e tentou abafar o riso. – Da próxima vez que eu aparecer por aqui vou avisar, não quero te ver com esse avental ridículo novamente!

Charlie limpava o gazebo gigante que Maxine tinha mandado construir na semana passada àquela, vestido com um avental rosa ridículo e completamente sujo de todo tipo de produto.

– Ah, claro, facilitaria bastante e eu me sentiria menos ridículo se me avisasse da próxima. – bufou, derrubando a vassoura no chão e se encostando à coluna do gazebo como Ian – Primeiro a Dannika, agora você vai embora também... Não dão sequer tempo para que eu me acostume a sentir a falta de um ou do outro, não é?

– Eu já lhe ofertei, minha mãe permitiria que eu levasse você para onde quer que eu fosse. Estudaríamos juntos e poderíamos ver Dannika sempre!

– Infelizmente, minha moral não permite que eu faça uma coisa dessas. Nem Maxine, isso ela não permitiria jamais.

– Para um garoto que cresceu com todas as mordomias você se domesticou pra valer... – gargalhou Ian.

– Se algum dia eu quiser reaver meus direitos e a fortuna que meu pai deixou para trás vou ter que agüentar coisas como essa, sabe? – Charles respondeu, ríspido – Esse é o tipo da coisa que nos torna mais fortes...

Os dois soltaram longos suspiros como se tivessem sido programados, rindo logo em seguida.

– Você não sente falta dela, não? – perguntou Ian referindo-se a Dannika, logicamente.

– Ela não me chamava de príncipe? Como um verdadeiro príncipe, eu tive de deixá-la ir embora, senão eu ia me machucar de verdade... – ele sorriu, indo na direção de Ian e passando a mão sobre a cabeça dele como se fosse uma criança – Eu sei o que sente por ela, meu bom amigo. Cuide bem dela, certo?



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Notas finais do capítulo

Fluorescent adolescent é do Artic Monkeys LINDOS *-* espero que tenham gostado. Próximo capítulo vamos ver o que vai acontecer no reencontro da Dannika com o Charlie hohohoho.



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