Diário de um Semideus 3 - A Última Filha escrita por H Lounie


Capítulo 7
Admirável mundo novo




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Neo


- Porque aqui tempo e espaço colidem, senhor.

Droga, eu não queria chamá-lo de pai, simplesmente porque isso soava completamente estranho. Primeiro porque ele tinha aquele rosto hipnótico, que ficava mudando, me deixando tonta e bem... Deixando-me meio assustada também. Segundo, eu não gostava de pensar nele como meu pai, porque ele era a droga de um deus.

- Eu sei, - respondeu-me ele – Estou apenas checando o quanto você sabe.

Ele sorriu. Sua forma tremeluziu, mostrando dois ou três tipos de sorrisos diferentes. Ele era a maior bagunça, como o mais louco dos sonhos.

- Bem Nara, eu...

- É Neo – Quase gritei. Detestava o nome Nara, me trazia recordações ruins.

- Muito bem, Neo então. Não acha que está na hora de sair? Quero dizer, é admirável o mundo que construiu aqui, quase perfeito à sua maneira. Mas... Não faz bem pra vocês mortais viver sonhando e se esquecer de viver a realidade.

Insípida realidade? Ok, eu passo essa papai. A realidade não me trazia segurança, nem conforto, nem um pingo da sensação de estar em casa que o mundo dos sonhos trazia. Tudo bem que eu havia vivido momentos bem desagradáveis aqui, mas qualquer coisa era melhor que aquele mundo que na verdade jamais poderia ser meu, não como este aqui, quero dizer.

- Eu não acho – Respondi por fim, limitando-me a apenas isso.

- Já está aqui há séculos! – Disse ele, revirando os olhos.

- Se com séculos você quer dizer três anos, por mim tudo bem.

O deus bateu o pé no chão, seu rosto mostrando diferentes expressões com o mesmo tipo de sentimento: raiva.

- Ouça bem, sei que está magoada. Comigo, com a vida, com sua mãe e com como as coisas são e acontecem para você. Muito bem, eu entendo. Mas está na hora de você perceber que a vida não obedece a lógica humana, querida. Nem mesmo a divina, às vezes, se quer saber. O que importa agora é que saiba que tem coisas importantes a fazer.

- Que tipo de coisas? – Perguntei, pela primeira vez parecendo levemente interessada.

- Tudo a seu tempo, mas a primeira delas é ir ao acampamento meio sangue. Uma vez lá você saberá o que fazer.

- Tudo bem, digamos que eu vá a esse tal acampamento. O que exatamente encontrarei lá?

- Pessoas como você – Respondeu o deus prontamente – Heróis que sofreram com todo o tipo de experiência ruim que a vida de batalhas pode oferecer. Jovens que perderam tudo, e não se importaram em começar tudo outra vez, jovens que não tem um mundo próprio para se esconder.

As palavras dele me atingiram com força inimaginável, me fazendo sentir o ser humano mais covarde de todos os tempos. Talvez eu fosse mesmo, só que pela primeira vez isso me incomodou, coisa que nunca havia acontecido.

- Eu entendo você Neo, mas pense um pouco, até quando vai continuar com isso? Imagino que seja ruim deixar para trás tudo isso que construiu aqui – Ele fez um gesto amplo com as mãos, mostrando o “meu mundo” – Mas aposto que tudo que você precisa é de uma boa dose de realidade, de companhia, quem sabe até uma paixão, hum?

Revirei os olhos para seu comentário, mas não pude evitar sorrir.

- Talvez você possa construir lá fora o que construiu aqui. Acho que você dará uma excelente arquiteta. Apenas pondere a questão.

Olhei para seu rosto fantasmagórico com todos aqueles sorrisos encorajadores. Uma visão realmente perturbadora.

- Vou poder voltar se não me adaptar?

Ele suspirou, prendendo-me em um meio abraço.

- Acho que vai se adaptar perfeitamente bem, mas se isso não acontecer, poderá voltar quando quiser, afinal, tudo isso é seu.

A imagem tremeluziu e nos aparecemos no topo de uma colina.

- O acampamento meio sangue – Ele mostrou, fazendo novamente o gesto com as mãos – Bem, seguindo a mais lógica das definições, todos aqui são humanos e por isso, sujeitos a erros. Mas quando se leva em conta as dimensões que tomam os erros cometidos por pessoas como vocês dá para se ter uma noção de como é necessário estar preparado e saber bem o que faz, ter a noção de que carrega um mundo de responsabilidade nas costas.

- Nossa, agora estou mesmo empolgada para entrar – Murmurei.

- Nara, você é importante, mais do que imagina. Você será grande, a primeira descendente minha que será grande. Espero me redimir com os demais deuses através de seus atos.

- Redimir? O que você fez?

- Recentemente apoiei o lado errado na guerra.

Seu olhar vago indicava que não iria haver outro comentário sobre o assunto.

- Tudo bem, eu acho que posso brincar de heroína por uns tempos – disse, fazendo uma careta. O deus sorriu.

- Ótimo, espero que realmente aproveite a brincadeira. As parcas têm grandes planos para você. Você será grande querida, uma das maiores heroínas deste século. Preparada para o chute?

Papai sorriu divertido, enquanto eu fazia uma careta. Segundo depois, eu realmente senti o “chute” e despertei com um garoto com o rosto cheio de espinhas dando-me leves tapas no rosto.

- Ei, enfim você acordou.

Senti-a me tonta, tonta como uma pessoa que dormiu por três anos.

- O que é você? – Perguntei meio grogue, tentando me sentar na cama, certamente ele não era humano.

- Eu sou Joff, o sátiro, bela adormecida. Caramba, você é bem difícil de acordar, cheguei até a pensar que estivesse morta ou que teria que beijá-la.

Fiz uma careta de desagrado e ele sorriu, revelando dentes surpreendentemente brancos e alinhados. Seus cabelos encaracolados estavam parcialmente ocultos por uma espécie de gorro, ou sei lá, algo repleto de cores.

- Seu cheiro me atraiu, - Continuou ele, como se falasse com uma velha conhecida - Seja lá quem for ser pai ou mãe, ele obviamente queria que você fosse encontrada, sorte que fui eu e não um monstro, isso poderia ter sido bem desagradável, se é que me entende. Então, posso saber seu nome? – Concluiu, ainda sorrindo.

- Eu sou Neo, filha de Morfeus. Pode me levar ao tal acampamento meio sangue?


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