Diário de um Semideus 3 - A Última Filha escrita por H Lounie


Capítulo 6
O homem que queria ser rei




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Lyra


- Ei, vamos com calma, cowboy.

Na verdade, eu também não queria ir com calma, mas não era hora e nem o lugar.  Trouxe-nos para o Central Park, perto o suficiente de casa. Delicadamente, afastei Nico de perto dos meus lábios, por mais que minha vontade gritasse o contrario.

- Não pude deixar de notar, - disse ele, dando-me um beijo rápido e sorrindo malicioso – Seu ciúme lá na ilha. Você não me engana.

- Eu não quero te enganar, sabe disso – Sorri sem jeito – Só quero que entenda.

- Entender? Bem, eu até entendo. Mas sabe que ele não te respeita, não sabe? Por que então você não pode fazer o mesmo?

- Não ligo para o que Hermes faça, ela é bom para mim, às vezes. Eu só estou tentando me manter viva.

- Um filho dele acabou de nascer. Um garoto, se chama Peter, nasceu em Jacksonville, eu estive lá e...

- Está controlando ele agora? – Sorri com vontade, sentando-me em um banco vazio do parque.

Nico revirou os olhos, como se meu comentário fosse extremamente ofensivo. Sentou-se ao meu lado e tomou minha mão, como fazia antes, trazendo-me calorosas lembranças.

- Não é nada disso. Pode-se dizer que eu estava em Jacksonville e literalmente tropecei na mãe do garoto, simplesmente isso.

- O que quer dizer com literalmente?

- Isso é história, para outro dia, se você quiser – Piscou um olho, deixando claro suas intenções – Estive ansiando esse momento, queria vê-la, você sabe. Não aceitei a imortalidade para ser um maldito zero à esquerda.

- Eu sei, tenho estado de olho em você. Sei muito bem o que o senhor anda aprontando – Lancei um falso olhar de advertência, divertindo-me com sua expressão de cautela.

- Quer dizer que esteve me observando? – Parecia estar nervoso, quase irritado – Sabia onde eu estava e nem sequer me procurou?

- Achei que você tinha dito que entende. Nico, você sabe quais são meus sentimentos em relação a você, mas não posso simplesmente deixar tudo e te seguir, especialmente porque isso poria um furioso deus mensageiro em nosso encalço.

- Acha que não posso protegê-la? Se tem mesmo me observado, viu a que nível meus poderes chegaram. Eu estou complemente...

- Ressuscitando mortos? Percebi.

- Não era isso que eu ia dizer, mas se você sabe – Ele deu de ombros, aparentemente derrotado – O fato de ter trazido minha irmã de volta é pelas antigas profecias.

- Eu sei, Hazel é importante agora. Isso me preocupa, no entanto. E a terra agitando-se dessa maneira, não posso deixar de imaginar as coisas terríveis que virão, todas as variáveis parecem se combinar em um final trágico.

- Deveria vê-la. Deveria ver o acampamento todo, eles são terríveis, quero dizer, à maneira deles. Percy parecia incrivelmente deslocado na primeira vez que eu o vi lá, mas isso foi quando chegou.

- Sabe que eu não posso entrar – Falei desanimada.

Nico seguiu contando-me sobre o Acampamento da legião, o acampamento Júpiter. Depois de um longo monologo ele suspirou e me puxou para um abraço inesperado.

- A imortalidade não vale nada sem você. Pergunto-me como vou suportar tanto tempo sozinho.

Não respondi nada, apenas retribui seu abraço com vontade, ao mesmo tempo que um trovão sacudia o céu. Hermes estava em casa, e o incomodava o fato de eu não estar lá.

- Ele é um idiota, Lyra, por favor, venha comigo – Seus olhos negros pareciam derreter-se tristes – Nós podemos dar um jeito.

- Nico, escute. Por hora é melhor mantermos as coisas como estão, logo você vai entender. Depois, bem – Sorri para ele, vendo sua expressão de iluminar um pouco – Depois podemos pensar em algo que nos solucione, mas enquanto isso fique longe de Ogígia para o seu próprio bem, senhor Di Angelo.

Ele sorriu, tomando minhas mãos. Beijei-lhe os lábios uma ultima vez antes de desaparecer em névoa dourada e aparecer novamente no palácio de Afrodite.

- Mãe! – Berrei como uma adolescente que acabou de ser beijada pelo seu príncipe encantado – Você não sabe o que...

- Eu sei, seu pai sabe e Hermes também – Disse uma entediada Afrodite deitada em sua cama dourada.

- Droga, eu não consigo me acostumar com toda essa coisa de onisciência de vocês grandes.

Afrodite sorriu. Seus olhos verdes – azulados – levemente dourados com um brilho castanho (Entenda como quiser) me estudavam com certo orgulho.

- Você não tem jeito garota. Se parece tanto comigo.

- Um elogio, devo imaginar – Joguei-me na cama da deusa, perguntando-me o que a preocupava.

- O que pode estar perturbando a deusa do amor? – Falei sorrindo, ela lançou-me um olhar triste.

- A iminência de uma grande guerra, você sabe – Afrodite suspirou – E esses sete, e se eles falharem?

- Mãe, eles não irão falhar. Percy e Jason são os melhores...

- Melhores, não invencíveis.

- Mas isso não quer dizer que...

- LYRA! VENHA ATÉ AQUI IMEDIATAMENTE, OU AS COISAS VÃO FICAR REALMENTE RUINS PARA VOCÊ! UMA ILHA DESERTA NO ATLÂNTICO PELA ETERNIDADE ME PARECE UM BOM LUGAR PARA DEIXÁ-LA!   

Mamãe olhou preocupada pela janela, onde se podia ver Apolo gritando a plenos pulmões em frente ao palácio de pedra rosa.

Dionísio ria abertamente no jardim em frente ao palácio. Acho que o Sr. D ainda me via como uma semideusa/ escória do mundo.

- Droga. Apolo enlouqueceu de novo – Falei para Afrodite.

- EU OUVI ISSO MOCINHA! NÃO FINJA QUE NÃO ESTÁ ME OUVINDO! – O deus gritou lá fora, enquanto Dionísio soltava uma sonora gargalhada.

- Acho que ele tem isso a cada dois meses, mais ou menos – Afrodite deu de ombros.

- AFRODITE! É MELHOR PARAR DE ENVENENAR MINHA FILHA CONTRA MIM!

- Essa é a especialidade dela – Disse alguém, soando extremamente rancoroso. Provavelmente Artemis.

Afrodite deu de ombros, tentando parecer superior ao comentário, mas seu rosto mostrava linhas de ultraje.

- É melhor ir querida, isso certamente evitará uma briga maior.

- LYRA! EU AINDA ESTOU ESPERANDO! É FALTA DE EDUCAÇÃO DE SUA PARTE DEIXAR SEU PAI ESPERANDO E GRITANDO EM FRENTE AO PALÁCIO DE SUA MÃE! – Falou ele como se ter um pai gritando em frente ao palácio de uma mãe fosse uma coisa realmente comum. Quase acreditei que era mesmo falta de educação minha.

- Vou descer, nos vemos depois.

Afrodite soprou um beijo no ar e eu sumi de vista, correndo em direção ao meu exagero e escandaloso pai. Parei em sua frente, semicerrando os olhos e colocando as mãos na cintura, um gesto que havia pego de minha mãe.

- Pai.

- Lyra.

- Como você pôde? – Quase gritei. Ou realmente gritei – Não tinha o direito de trancafiá-lo lá!

- Esse não é o lugar para discutirmos isso.

- Falou o homem que berrava ainda agora.

- Ouça Lyra, você não entende as implicações disso? Hermes está furioso.

- Ah, eu imagino – Disse revirando os olhos.

- Não vê em que situação isso te coloca?

- Os deuses não podem me matar, não é? Sou imortal e tudo mais.

- Te matar eles não podem, mas se Hermes resolver que não te quer mais, e ele pode fazer isso – Acrescentou a ultima frase como quem quer assustar – Você pode ser castigada, como Calypso, como Atlas, como qualquer imortal. Tem noção disso? Um castigo eterno. Eu realmente não quero isso para você.

- Ótimo, então sou abrigada a aguentar as traições de Hermes por séculos a fio. Quieta no meu lugar. Você sabe que eu não sou assim.

- Eu sei, eu sei. Eu apenas estava tentando manter as coisas certas para você. Descobri que esse estúpido garoto estava tentando encontrá-lo, então resolvi tirá-lo de cena, só por precaução.

Sorri para a expressão sem jeito de Apolo.

- O senhor se supera cada vez mais, Lorde Apolo.

- Só protejo o que é meu – Ele sorriu, envolvendo-me em um abraço afetuoso.

- Se Hermes me disser qualquer coisa, vou chutá-lo daqui até Jacksonville, para que ele vá cuidar do filho dele.

- Tome cuidado querida. Realmente não acho que Hermes seja capaz de rejeitá-la, mas mesmo assim...

- Tudo bem pai. Hora de enfrentar a fera.

Despedi-me do deus do sol e segui para o palácio que mais parecia um mercado, Subi as escadas para o quarto suspirando, imaginando a discussão que teríamos.

- Er, oi.

Hermes estava jogado sobre a enorme cama. Seu rosto demonstrava estar calmo, mas ele sempre aparentava estar calmo, por mais irritado que estivesse. Seus olhos esverdeados focaram em mim. Ele parecia triste e preocupado, e tão incrivelmente lindo. Seus cabelos castanhos estavam mais desalinhados que o normal, como se ele tivesse corrido uma maratona, o que bem poderia ser verdade, tratando-se do deus dos ladrões.

- Olá querida – Sorriu meio sem vontade.

Parei no lugar. “Olá querida?” Eu esperava no mínimo um irônico “Teve um bom encontro?”. Tudo bem que Hermes não estava no lugar de exigir qualquer coisa, mas mesmo assim, aquilo me assustou.

- Venha. Senti sua falta.

O deus sentou na cama e estendeu as mãos, me convidando para um abraço. Lancei-me na cama ao seu lado, jogando os sapatos fora e me aninhando em seus braços.

- Tudo bem? – Perguntei a ele, meio insegura.

- Ótimo. Tudo ótimo. Um pouco cansado, você sabe.

- Imagino – Não pude conter o tom irônico nesse “Imagino” e Hermes percebeu isso. Eu realmente imaginava mil e um motivos para que ele estivesse cansado.

Um silêncio incomodo se instalou entre nós. Ficamos apenas abraçados, sem olhar nos olhos um do outro.

- Eu não sei mais o que fazer – Disse ele, de repente, depois de muito tempo em silêncio – Não sei o que fazer para ter toda a sua atenção e seu amor.

- Talvez se não estivesse tão ocupado em camas mortais, tivesse mais tempo para isso – Falei rude, me arrependendo no mesmo instante ao ver sua expressão.

- Me desculpe – ele disse, afagando os meus cabelos – Mas... Lyra você não gosta de mim. Eu sei que não, por meses tudo o que eu fiz foi por você e... nada. Não recebi nada em troca. Acho que você nem mesmo pensa em mim como sendo seu, sou apenas aquele que te manteve viva. Maldita profecia. Eu achei que quando crescesse se apaixonaria por mim e então tudo se transformaria e seriamos felizes, você minha rainha, eu seu rei. Mas não há espaço para mim em seu coração. Ele é apenas para Nico, Sky ou... Luke. Meu filho. – Ele balançou negativamente a cabeça, dando um soco na cama – Você não pode me exigir fidelidade, porque você nem ao menos gosta de mim. E já entendi que não posso exigir o mesmo de você, então...

Imagens de possíveis castigos eternos surgiram em minha mente. Não, Hermes não poderia, ele não poderia...

- Não, Hermes, por favor não me...

- Shh – Ele colocou um dedo sobre meus lábios – Eu amo você, ok? Não vou deixá-la, posso imaginar o que aconteceria. Só peço que seja mais discreta em suas ações, assim como eu serei.

Ele sorriu, dando-me um beijo no rosto.

- Eu acho que... Acho que se não gostasse de você não sentiria ciúmes – Admiti por fim, vendo-o sorrir.

- Acho que isso é bom.

 Passei as mãos por seu pescoço, enquanto ele iniciava um caloroso beijo e desabotoava minha blusa. Longa noite, pensei sorrindo.


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