Vento no Litoral escrita por Janine Moraes, Lady B


Capítulo 30
Capítulo 30 - Adeus você


Notas iniciais do capítulo

Voltei, voltei, voooltei.
Então, não sei se alguém reparou é que tem co-autora na fic, mas na verdade sou eu mesma kkkkkk Eu coloquei porque... Mais uma vez bloquearam o meu email (SEMPRE fazem isso e eu não faço nada de errado =/), e eu uso esse tal email pra acessar aqui no Nyah e basicamente estou com um cagaço terrível de perder minha conta do Nyah. Então se eu perder acesso a essa conta ~chora desesperadamente~ eu consigo postar pela 'co-autora'. Mas se eu perder essa história, a chance de eu voltar a postar tudo de novo é nula. Então fiz outro perfil de paranoia. Pode ser que não dê em nada, mas ok kkk
Ah, esse capítlo é triste.



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Acordei, sentindo minha cabeça rodar. Eu havia chegado ao apartamento pouco depois da meia noite, absolutamente exausta. Simplesmente caminhara para o meu quarto, afundando-me na cama, atolada em pesar por Igor, e com a certeza que Victor provavelmente chegaria muito tarde e simplesmente dormiria no sofá. Pensando bem, eu sabia que ele não voltaria para dormir no meu apartamento novamente. Mas procurei não pensar nisto, a possibilidade parecia ser capaz de me por de joelhos. Olhei para a janela aberta, os raios de sol batendo em meu pé descalço. Deixei o sol me aquecer enquanto eu piscava, o quarto entrando em foco. Eu não podia protelar mais. Sentei na cama devagar, cada movimento calculado, esfregando o rosto distendendo as feições, procurando me manter acordada. Olhei o relógio. 15h Assustei-me com isto. Eu havia dormido tanto assim? Lembrei-me do cartório e estremeci levemente.

Caminhei desajeitadamente para o banheiro, lavando o rosto com água fria, vendo meu reflexo no espelho, mas eu ainda sentia calor, então entrei no banho gelado. A água arrepiando minha pele, mas ainda assim me deixando mais limpa e fresca. Lembrando-me da noite anterior, apoiei minha cabeça no azulejo quadriculado. Lembrando-me da voz de Igor. De seu olhar. De suas palavras... Suspirei. Voltando atenção ao meu banho. Depois de terminá-lo retornei ao quarto com passos lentos. Vesti um shorts antigo e uma camiseta antiga. Tentando voltar àquela minha rotina. Sabendo que isso era idiota e imaturo. Eu poderia vestir essas roupas. Fazer as mesmas coisas que eu costumava fazer de manhã. Acordar, fazer meu café, Victor já teria ido trabalhar, arrumar o apartamento de leve, ir trabalhar, afogar minhas lembranças no trabalho tedioso, voltar para casa, com Victor me esperando, pronto para me afundar em sua calma e tranquila rotina. Mas isso não era Porto Alegre. Meus domingos não seriam recheados com aquele falatório gaúcho, rápido e que fazia com que me desligasse. Eu não veria Victor se empoleirar no portão de casa com amigos enquanto tomava um chimarrão. Essas coisas tinham passado. Isso tinha ficado para trás e, de alguma forma, eu sabia que não voltaria. E eu sentia falta disso, mesmo antes de perder tais coisas.

Sentia falta de poder controlar o que sentia tão facilmente. Mas eu também sabia que a vida que eu tinha em Porto Alegre era apenas uma meia vida, eu me aprisionara. A saudade não seria por si tão intensa, eu nunca verdadeiramente vivera naquela cidade para simplesmente sentir falta de tudo aquilo. Amava a cidade, claro... Impossível não se apaixonar pelo céu azul, pelo tom acolhedor, pelo verde bordado em azul que era as arvores brincando de alcançar o sol. Mas eu amava poder esquecer tudo que assombrava. Por ficar tanto tempo me prendendo, não sabia como lidar com esta minha liberdade, com tudo que eu era. Eu não me conhecia mais. E era exatamente essa a raiz do problema. Caminhei para a sala, não surpresa em ver Victor sentado com uma xícara de café no sofá.

– Te esperei até às duas da tarde. – Ele disse sombriamente. – Foi tão idiota.

– Desculpe, eu devia ter ligado. – mordi o lábio, sem coragem de me encaminhar até perto dele.

– Não. – Ele se levantou, olhando para mim. – Eu quis dizer... Eu fui idiota. Me precipitei com aquela coisa do cartório.

Olhei pela primeira vez a porta. Havia duas malas ali. Engoli em seco, meu coração se comprimindo, apertei meu punho no peito, calando a dor súbita. Victor prosseguiu:

– Mas acho que a parte de terminar as coisas é a coisa certa.

– Está terminando comigo, Victor? – sorri, como que para rir de mim mesma. Sentindo a garganta arranjar.

– Eu acho que sim. – ficamos em silêncio por alguns segundos. – É, eu estou.

– Acho que eu já esperava isso... – comecei, tentando encontrar palavras. – Mas verdadeiramente não queria que fosse assim.

– Eu também não, mas eu... Não posso mais continuar com isso, Malu. Entende? Eu dediquei tanto tempo a você, me acomodei a isso. Sempre com medo de perder você... Sacrifiquei meu orgulho por você. – Ele levantou a cabeça, olhando diretamente para mim agora. – Na verdade, por mim. Pra não te perder. Não é isso que eu quero para um mim. Um relacionamento assim.

– O que você quer que eu faça pra mudar isso? – murmurei baixinho, olhando para o chão.

– Me ame! – voltei meus olhos para ele, que mantinha uma expressão quase sufocante.

– Mas eu já amo. Eu amo você...

– Realmente... Às vezes parece que você diz que me ama, como se estivesse no automático. – Ele disse baixinho. – Talvez esteja. Talvez tenha acostumado com os anos a dizer isso, involuntariamente. Talvez você não sinta mais.

– Não diz isso, Victor.

– É a verdade, Malu. E eu realmente quero que você me ame. Só que mais do que ama a ele. O suficiente pra você estar comigo e não pensar em mais ninguém. Você consegue fazer isso? – fiquei em silêncio, deixando as mentiras presas no fundo da minha garganta. Ele suspirou. – É, eu sabia. Sinceramente... Não acho que seja uma decisão entre mim e ele. Quem é o melhor. É o que é melhor pra você.

– Você é o melhor pra mim. – Ao menos, na maioria dos aspectos. Victor era seguro e fácil, era confortador, era rotina e segurança. Era o que eu já havia me acostumado. Também era o que eu amava. Eu sabia disto.

– Você acha que eu sou o melhor pra você. Talvez eu não seja. Talvez não seja o Igor. Talvez não seja nenhum de nós dois. – Ele deu de ombros. – Ou talvez eu também esteja mentindo pra mim porque assim não dói tanto. Você e Igor... É o certo. Talvez...

– Victor...

– Eu tenho 26 anos, Malu. Eu tive vários relacionamentos, bem sérios até, pra saber que... Quando uma garota tem dúvidas sobre dois caras, é que... Ou ela ama não ama demais os dois, ou ela anda se amando de menos. – ele levantou, se encaminhando para perto de mim, seus dedos passaram pela minha bochecha levemente. – Se ame um pouco mais e descubra isso.

– Me amar? – pensei nisto, confusa.

– Porque é tão difícil ver o quão você é magnífica? Ótima companheira, amiga, bem-humorada, linda, inteligente e outros milhões de adjetivos, mesmo com seus defeitos. – Ele sorriu tristemente para mim, seus dedos ainda acariciando a base de meu pescoço e bochecha. – Quando você se amar mais e valorizar tudo isso que você é... Você vai decidir o que é melhor pra você. Não pelo certo, pelo errado. Porque isso não importa quando a gente sabe o que quer. Mas pelo melhor pra você. Como isso melhora a sua vida.

Ele me deu aquele sorriso de despedida seu. Suas mãos abandonando meu rosto, mas ele logo me cingiu em um abraço forte e apertado. Dolorido. Um último abraço. Me apeguei aquele seu cheiro, o mesmo perfume... Por anos. Perfume este que eu lhe dera de aniversário. Talvez agora ele mudasse. Ele melhorasse. Mas eu não queria pensar nisto agora. Me foquei em seu abraço, sentindo a costumeira calmaria me varrer. Mas ele logo me soltou e senti o nó em minha garganta se intensificar, o choro ameaçando subir e me sufocar. Mas ainda consegui dizer com a voz quase firme:

– Você vai voltar?

– Acho que não. – ele caminhou para perto das malas, mas voltou-se sorrindo. – Quem sabe eu compre a passagem errada em um fim de semana prolongado qualquer da vida, acabe parando por aqui e derrubando um café em você.

– E aí eu vou te olhar com cara de brava. – Minha voz foi se firmando, o sorriso de Victor aumentando. – E você vai sorrir e me pagar outro, muito calmo, sem medo de se atrasar agora...

Sorri com a lembrança de como nos conhecemos. Victor apressado. Eu irritada com sua petulância. Seu jeito calmo e sincero. E absolutamente seguro de si. Talvez tenha sido isso que em atraíra em Victor. Toda sua segurança e calmaria, toda sua autoconfiança e aquele seu sorriso que sabia que podia ter tudo que quisesse. E ele me teve. Sem dúvidas, não totalmente, mas me teve.

– E eu vou falar que eu sempre vou te amar. Não estou desistindo de você, Malu. – Ele sorriu, os olhos se avermelhando. – Só estou voltando a lutar por mim e você tem que fazer isso por si mesma.

Acenei positivamente, colocando a mão no rosto. Não aguentando ver sua face tão diferente e quase infantil enquanto era tomada pelas lágrimas. Eu queria ir até lá e abraçá-lo, pedir para que ficasse, mas isso no final das contas seria pior para Victor. Se eu corresse para seu abraço isso apenas o machucaria ainda mais. A despedida dessa forma nos magoaria. E estávamos cansados disso. Absolutamente exaustos. Ele pigarreou de leve.

– Eu vou embalar suas coisas do apartamento quando eu chegar em casa e te mando...

– Ta certo. – Minha voz saiu embargada e tremida, mas não me importei. Fechei os olhos com mais força ainda.

– Adeus, Malu. – ouvi o barulho da sua chave reserva ser posto na mesinha de centro e então o clique da porta. O apartamento gritou-me seu silêncio. Levantei os olhos, descobrindo-os e dando de cara com o vazio que Victor deixara. Eu estava por conta própria. Mas simplesmente não conseguia me achar. Sentei no chão enquanto refletia.

Eu havia perdido Victor. Sua segurança. Ele fora bom demais para mim. Me dera a certeza de poder me descobrir sozinha. De decidir o que seria melhor para mim. Por conta própria. E eu não fugiria dessa vez. Teria que enfrentar meus sentimentos. Porque no final das contas, isto era minha vida. Não era um brinquedo, ou um filme. Seria a minha vida. E eu tinha que pensar um pouco por mim. Eu ter deixado, fugido, da escolha, de meus sentimentos... Me fizeram perder os dois. Quando eu não escolhera, a vida escolhera por mim. Queria ter dito algo mais para Victor. Ter dito que ele fora meu amigo. Que eu tivera sorte por tê-lo durante todos esses anos.

Levantei-me. Abri a porta, saindo descalça para o lado de fora. A porta de Igor estava aberta. Saindo de lá estava Daniela. Igor parecia convencê-la a ir embora, seu rosto tinha o ar de pura ressaca, os olhos semicerrados, a boca meio pálida e os vestígios de uma forte dor de cabeça pareciam visíveis em sua expressão. Continuei estática ao notar o detalhe mais importante de toda a cena. Como eu, Daniela também estava descalça. Em suas mãos saltos surpreendentemente altos. Engoli em seco quando ela me olhou, um sorriso satisfeito em seu rosto. Sorriu para Igor sem dizer uma só palavra.

Ele me encarou, parecendo levemente envergonhado. Tentei sentir raiva dele. Juro que tentei quando minha mente juntou todas as visíveis peças desse quebra-cabeça. Mas só o que senti foi um gosto amargo na minha boca. Ciúmes, pesar e insegurança. Em uma noite só, eu havia perdido dois homens maravilhosos. E não era isso que eu queria? Ficar sozinha? Tomar um tempo para mim mesma? Então porque a certeza de que agora eu estava por conta própria me deixou assim? Tão insuportavelmente infeliz?

– Malu, eu...

– Shhh... Não diz nada. – sussurrei. Preferia a suspeita e a minha semicerteza do que ouvir ele me falar o que fez. – Não me deve explicações.

– Eu não, eu juro que não...

– Shhh tudo bem. Por favor, não quero ouvir nada. – dei dois passos pra trás, alçando a porta do meu apartamento correndo. Fechei-a rapidamente. Sentindo agora a raiva tomar conta de mim. Raiva de Daniela. Raiva de mim. Raiva de tudo! De meus medos e inseguranças. Por tudo. Daniela não poderia roubar algo que deveria ter sido meu desde o primeiro instante. Mas Igor não era meu! Eu o tinha negado. Eu não tinha nada. Ninguém além de mim mesma. Sentei no sofá, as mãos no colo. Confusa, perdida e frustrada.

Ouvi a porta se abrir levemente. Edith colocou as sacolas no outro sofá, sempre me olhando curiosa e preocupada.

– O que houve?

– Victor foi embora. – respondi baixinho. Ela não me disse nada. Somente me abraçou. E fiquei grata por isto. Completei a frase devagarzinho. – Vi Daniela saindo da casa de Igor.

Ela me apertou mais forte.

– O que você vai fazer agora?

– Agora? Tomar sorvete. – Sabia que Edith estava sorrindo antes que eu a olhasse.

– E depois?

– Pensar num jeito de arrancar os cabelos de Daniela.

– É um bom plano. – Ela se encaminhou para as sacolas rindo baixinho, pegando um pote de sorvete. Foi até a cozinha me trazendo uma colher. Sentando ao meu lado. Eu havia perdido Igor. Um noivo. E qualquer resquício de algo amigável com Daniela. Eram muitas perdas, embora a terceira eu nem fizesse tanta questão de manter, se mantinha era apenas para não enlouquecer de irritação. Coloquei um pouco de sorvete nos lábios maquinalmente. Olhei minha aliança, eu não tinha a devolvido afinal. Tirei-a, me sentindo subitamente vazia. Não tinha mais nada a que me apegar a Victor. Eu não o tinha mais. Coloquei a aliança na mesinha. E quanto a Igor... Eu o havido repelido. E mesmo que ele fosse meu, sentia como se estivesse perdendo ele para outra pessoa. Mesmo tentando sentir raiva ou qualquer coisa semelhantes a isto. Só o que eu conseguia pensar era no adeus que parecia me seguir a cada expirar lento.



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Notas finais do capítulo

Victor foi emboooooooooooooora. Esse capítulo estava escrito há séculos atrás, haha. Mas ainda fico triste quando releio =(((((( Nah irá me matar, mas ok kk
Sério, eu gosto mt do Victor apesar de tudo. Ele fez mt bem a Malu e etc, mas ele teve que ir embora =/
Vacaela... ADOREI esse apelido. Ai ai...
DEFINITIVAMENTE a fic está chegando na fase final e a Malu vai começar a agir ao invés de deixar a maré a levar ~le eu soltando quase-spoiler~. Já estou no capítulo 30! Ah cara, isso é tão... incrível. Mas não sei quantos capítulos mais ou menos. Enfim.
Espero que tenham gostado. Inté ;*