Vento no Litoral escrita por Janine Moraes, Lady B


Capítulo 29
Capítulo 29 - Novos rumos


Notas iniciais do capítulo

Ta, serei morta depois desse capítulo. Mas ok...
A partir desse capítulo tudo muda, again. Na verdade, tudo muda no próximo. MAS ENFIM.
Ah, uns avisinhos antes. Mais pra merchan.
Pra quem lê To Dominate, a estou reescrevendo. Tenho até o capítulo 5 postado depois de ter sido reeditado. Ta ficando bem bacaninha, mudei o título e tudo. Agora é "Relato de uma menina feita de Cinzas''.
E eu to postando alguns textos e contos pessoais/fictícios no Nyah. O nome é "Sepulcro de Amores'. Quem quiser também dar uma passadinha... Agradeceria muito. Quem sabe vocês gostem. Pronto, cabou-se a propaganda. Desculpe.
Pois bem...
Boa leitura ;)



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O som de minhas palavras emudeceram o ambiente. Me desvencilhei de Victor abruptamente, que me olhava num misto de choque, incredulidade e irritação. Como se eu fosse uma criança mal criada, que acaba de aprontar em níveis catastróficos. Não suportei seu olhar. Nem daquelas pessoas. Sussurrei baixinho, minha voz se elevando a cada palavra.

– Estou cansada de vocês. De todos vocês!

Olhei para Victor e Igor com lágrimas nos olhos e percebi que agora todos na festa nos encaravam. Abaixei a cabeça, confusa e desorientada. Caminhando rapidamente para perto de Ceci.

– Tenho que ir embora. – sussurrei baixinho. Cecília me abraçou levemente. – Peça desculpa a Eduardo por mim.

– Está bem... – Ela também parecia meio desorientada. Saí porta afora do salão, o vento da rua assoprando meu rosto fortemente. Pisquei os olhos, tentando enxergar, ouvindo passos atrás de mim. Já sabia quem era. Victor... Igor não poderia simplesmente deixar Eduardo para trás e na verdade, eu não queria que ele fizesse.

– Malu! Espera! – Ele me segurou pelo braço e eu me desvencilhei novamente.

– O que foi?

– Eu te levo pra casa. É meio longe.

– Eu pego um ônibus.

– Por favor, Malu! – O tom de voz quase irritado de Victor me fez corar de surpresa, ele me conduziu até o estacionamento, seus gestos ríspidos. Era tão óbvio que ele sofria. Que ele estava magoado. Abri a porta do carro e me afundei no banco, afundando a cabeça entre minhas mãos. Victor manobrou com facilidade, dirigindo rapidamente.

– Porque fez aquilo? Do casamento.

– Será que você não entende, Malu? Temos que marcar a data do casamento! – Victor disse, apertando o volante.

–Victor... Acho que estamos nos precipitando com tudo isso. – Casar? Logo agora? Eu não me sentia preparada para isso. Se eu não me sentia antes, imagine com as atuais circunstâncias.

– É por causa dele não é?

– Já tínhamos combinado esperar.

– Sim, mas eu te amo, você me ama. – Ele sorriu levemente. – Porque esperar?

– Porque parece que você ta tentando usar o casamento pra provar que eu te amo!

– Talvez seja. – Ele disse entredentes. – Talvez eu tenha duvida.

– Talvez isso seja ridículo. Oh, não! – gesticulei enquanto falava. – Talvez não... Isso é absolutamente ridículo!

– Você ainda ama aquele cara... Você sorri pra ele como nunca sorri pra mim. Essas conversas... Você omite as coisas pra mim. E quando diz que me ama... Parece que... Que está no automático! Como se você estivesse acostumada a dizer isso. Como se fosse cômodo. Como espera que eu lide com isso, Malu? Fique feliz? – ele riu ironicamente. – Aceite? Acha que está sendo fácil? Saber que você beijou ele me corroí todos os dias. Mas eu prefiro isso a perder você! A que ponto cheguei, Malu? Perder uma mulher que nem sequer verdadeiramente me ama!

– Não é assim...

– Estou mentindo? Você sempre se envolve de novo com ele. Nem sequer foge. Vai pra praia, pro shopping, pro aniversário. E tem o trabalho. E agora estão cheio de intimidades. De amizades! Como se eu não soubesse que ele está tentando tirar você de mim.

– Era  aniversário do meu sobrinho – sussurrei.

– Sobrinho que você desejou a morte quando a sua irmã engravidou. – olhei-o, absolutamente chocada com suas palavras cruéis. Era isso que a mágoa fazia com as pessoas. Fazia que elas revidassem com essas palavras dolorosas?

– Eu nunca desejei isso! – cobri minha boca, tentando engolir o choro. Sentindo-me patética e descontrolada. Aquele não era o Victor que eu conhecia. Era outro, que havia se tornado isto por minha causa.

– Mentirosa.

– Para esse carro. – sussurrei.

– Malu... Não inventa.

– Por favor, para esse carro! – ele me ignorou. E eu comecei a tirar o cinto, desajeitadamente, as lágrimas correndo pelos meus olhos. Naquela ânsia de escapar daquele carro que parecia possuir o ar pesado de palavras cruéis e dolorosas, que me sufocavam. Como se tivessem criado mãos e apertassem minha traqueia.

– Malu! Já chega.

– PARA ESSE CARRO! – gritei, ameaçando abrir a porta.

– Para com isso, Maria! – ele gritou comigo, o que me deu ainda mais vontade de me afastar. – Para!

– Eu quero descer. Para esse carro! – ele freou o carro depois de alguns metros. E desajeitada e com lágrimas nos olhos, saltei do carro, numa Avenida vazia. Caminhando e deixando o carro de Victor para trás, sentindo as lágrimas caindo. O ar frio me fez tremer levemente.

– Entra nesse carro, Malu! – ele ordenou e eu parei, me abraçando.

– Vai embora! Eu vou sozinha.

– Porque não liga pro Igor? – disse ele, um tom sarcástico e mordaz. Senti a raiva borbulhar em meu peito.

– Talvez eu ligue!

– Quer saber de uma coisa? – ele parou, as mãos na cabeça. Sua expressão tensa, os músculos faciais rígidos num esgar de irritação. Um carro solitário passou por nós e eu senti frio. Muito frio. – Acho melhor pararmos com essa história por aqui.

– O que? – abri a boca, surpresa e melindrada. Não, não podia acontecer desse jeito. – Está enlouquecendo!

– SIM, EU ESTOU! – ele gritou. – E A CULPA É SUA!

– Por favor, por favor, não diz isso... – coloquei as mãos na cabeça, querendo assumir o controle. Que tudo se reestabelecesse.

– Vá amanhã comigo ao cartório marcar o casamento ou esqueça tudo.

Olhei-o assustada, tentando decifrar se ele estava sendo mesmo sincero. Se essas palavras absurdas eram mesmo verdade. Vi pelos seus olhos que ele estava realmente falando sério. Percebi no fundo de meu ser que não poderia fazer isso, me casar com Victor. Não dessa forma. Como uma válvula de escape. Algo apelativo. Senti meus olhos transbordarem. Murmurei friamente:

– Eu se fosse você... Nem iria ao tal cartório então.

– Pensa um pouco em tudo que temos antes de fazer isso. – ele chegou perto de mim. Segurando meus ombros, me dando uma leve sacudida. – Consegue fazer isso? Ou já desistiu de se preocupar comigo?

Ele me soltou depois de alguns segundos e voltou para o carro, ligando-o e partindo. Sabendo que eu precisava ficar sozinha. Senti o vento frio bagunçar meu cabelo. Soltei meus braços. Me sentindo meio apática. Observei que aquele vento não me satisfazia. Precisava do ar do mar, seu cheiro de maresia, aquela calmaria que seu som me causava. Talvez isso afugentasse o desespero, a mágoa e essa minha indecisão. Eu perdia Victor ou perdia a mim mesma?

Olhei ao redor e notei que estava próxima demais da praia. Caminhei, abraçando-me. O choro secando e me deixando leve, mas o coração pesado. Meu físico misturava-se com meu lado sentimental. E eu era uma mixórdia, uma tremenda bagunça. Uma miscigenação de sentimentos sem fim. Caminhei, parando perto de um banco. Queria andar até a praia, sentir a água do mar em meus dedos, mas me limitei a sentar. Ouvindo o mar indo e vindo. Levando e trazendo. E eu, sempre aqui, sempre. Alguns casais passavam por ali, olhavam-me curiosos por poucos instantes, mas logo voltavam a face para seu amor. Molhei os lábios, esperando. Alguém sentou-se ao meu lado, sorri de lado, só pela certeza de saber quem estava ao meu lado. Olhei para Igor que sorriu triste para mim. Perguntei-me quão horrível deveria estar.

– Você saiu da festa de Eduardo e veio para cá?

– Ele entendeu... – acenei positivamente, virando a cabeça pra o outro lado. Sentindo o bolo em minha garganta retornar. – A propósito, deu tudo certo com Mônica. Ele está bem feliz.

Sorri abertamente para o mar, limpando algumas lágrimas que caíram.

– Isso é ótimo.

– A briga com Victor foi tão ruim?

– Não quero falar disso agora. – sussurrei, olhei-o com o canto dos olhos. – Porque veio?

– Você sabe por quê. – Sim, eu sabia. Porque ele se preocupava mais comigo do que com seu orgulho.

– Sinto muito por isso. Seria tão mais fácil pra você se... – Se simplesmente não me amasse mais.

– Sim, seria. Mas não seria a mesma coisa. Eu não seria o mesmo. – mordi o lábio, me levantando. Passando a mão na nuca.

– Quem diria que iríamos parar assim depois de tanto tempo.

– Assim como?

– Destroçados. – expliquei, olhando-o. – A gente sempre se machuca, Igor. Sempre. Todas as vezes.

– Quer saber, Malu? Estou cansado de terminarmos assim e... – falou ele, respirando fundo. – Acho que devemos conversar. Devíamos ter feito isso há muito tempo.

– Aqui?

– E existe lugar melhor? Foi onde tudo começou. – ele olhou ao redor, para a praia. Meus momentos com Igor sempre tinham um ar litorâneo, um cheiro de mar, um balançar. Íamos e voltávamos. Eu nunca havia parado para pensar nisto. Em nossos sentimentos como um mar dentro de nós. Só que agora ele tudo destruía. Estava furioso. Só nos machucava. – Quer falar sobre... Mônica? Por eu ter omitido? Eu te explico.

– Não precisa. Pablo já me explicou, naquele mesmo dia. Entendi meses depois. Amigos de longa data. Foi difícil terminar. Você achou que tinha terminado mesmo, mas ela voltou a ligar e você ficou confuso. Lembro de como ficou esquisito aquela semana. Faz sentido. Não sinto raiva daquilo. – fiquei em silêncio por alguns instantes. – Fui boba de não ter ouvido. Conversado. Minha dor falou mais forte. Pensar em você me usando, como tantos já haviam feito. Foi horrível. Porque era você. Mas não importa mais. E você ter namorado a Ceci foi ainda pior. Era minha irmã! As brigas com ela. Ver você tocando-a, beijando-a, ela se dizendo apaixonada. Me feriu. Mas... quando vocês terminaram... E eu percebi que você ainda me amava. Quis ficar com você. – sorri de leve, lembrando da esperança, daquela felicidade. – Porque de alguma forma ficar sem você era muito pior. Eu podia... Lidar, competir, chame do que quiser, com seu relacionamento antigo com Mônica, com o de Ceci... Mas um filho? Um filho com a minha irmã! Era demais para mim. Ainda é demais pra mim. Meio que misturou-se com tudo. Com a minha desconfiança, mágoa e dor. E eram tantos sentimentos conflitantes. Eu não poderia ficar aqui vendo seu filho crescendo dentro da minha irmã mais velha. Era absurdo demais.

– Eu sei. Eu sinto tanto por isso. – Sua voz fervilhava, meio rouca e embargada. – Mas se você ficasse... nós... daríamos um jeito e....

– Já parou pra pensar como eu me sentiria no meio de vocês? – interrompi-o. – Se eu conseguiria?

– Muitas vezes. E todas as vezes que pensei, sempre tinha um... Passaríamos por isso. Juntos.

– Ceci é minha irmã! – explodi, olhando-o. Ainda me abraçando. – Eduardo é o meu sobrinho! Eu não conseguiria, Igor.

– Sabe? Eu tentei fazer Ceci, eu e Eduardo sermos uma família no começo. Cogitamos a ideia de ela deixar Alexandre. Um absurdo. – ele sorriu, sem me olhar, seus olhos voltados para o balanço do mar. – Não era a mim que Ceci amava. Ela ama Alexandre e ele também a ama. Ainda lembro-me de como ele pirou loucamente no início. Quase saímos no soco. Aí ele foi embora... Ceci ficou arrasada. Mas ele voltou dois meses depois. E ele entrou a fundo nessa história. Acho que ele não tinha tanta mágoa assim. E, eu admiro muito ele. Em nenhum momento ele tentou tomar o meu lugar como pai do Eduardo nesses anos todos. Ele só assumiu o lugar que pertencia a ele. O homem que amava Ceci e que ela amava também. Eu tento entender como ele aguentou eu e Ceci juntos, cuidando do nosso filho... Provavelmente ficamos insuportáveis. – ele balançou a cabeça, talvez lembrando. Mas agora seu tom de voz era mais conformado do que antes. Não parecia me convencer, só estava me dando as opções. – E pra falar a verdade, eu não entendo completamente. Só sei que ele a ama o suficiente pra ajudar no equilíbrio da coisa. Quantas vezes Alexandre não impediu eu e Ceci de nos matarmos? Ou ajudar Eduardo com coisas que não entendíamos? Ele, como amigo, junto com Pablo, me ajudou a não pirar. Pablo e Alexandre são da família. E Alexandre sempre será o padrasto do Eduardo e eu acho até bom. Eles são amigos. Eduardo adora o tio ‘Alê’. E agora, vendo Ceci e Alexandre prestes a se casar, vejo que somos meio que... uma família. Mesmo eu e Ceci brigando mais que o costume ultimamente e todas as desavenças, lembranças do passado, algumas coisas não vão mudar. Você também faz parte da família, querendo ou não. Só que você decide o lugar a qual pertencer. Entende o que quero dizer?

– Eu não sou Alexandre... Eu não aguentaria tudo! – balancei a cabeça, espantando as lágrimas. – Eu já aguentei muita coisa!

– Tem razão. Talvez você tenha passado por coisa demais... Talvez você não ame suficiente a mim, talvez nem me ame mais. – ele olhou para o repuxo do mar, pensativo. – Ou goste de ocupar seu lugar de tia e irmã. Não da mulher que eu amo.

– Pare de supor o que eu sinto! – Só a menção dele duvidar do meu sentimento fez meu coração doer. Lembrei-me de quantas vezes duvidei do que ele sentia. Do quanto eu o havia magoado com isso.

– Suposições são a única coisa que eu tenho. – ele voltou os olhos para mim, que me assustaram. – Porque você não diz, Malu! Não diz o que sente!

– Por que... Porque eu vou explodir, Igor. Eu não sei o que sinto em relação a nada! Só não gosto dessa situação. Eu não sei o que sentir! Está tudo errado... Eu não sei o que fazer. E todos me dizem o que fazer. Esqueça, Malu. Perdoe, Malu. Decida-se Malu. Não seja egoísta... Você está jogando sua vida fora... Você vai saber o que fazer. Mas eu não sei o que fazer! Eu não sei como agir ou o que fazer! Eu sou humana, entende? Eu só... – ele me puxou para um abraço, fraternal e carinhoso. E eu me afundei no cheiro da camisa dele, aspirando profundamente seu perfume e deixando as lágrimas caírem. Apertando-o de encontro a mim. – Só não quero perder tudo. Não sei se consigo recomeçar. Estou cansada de me resgatar, Igor. Porque eu sempre tenho que fazer isso sozinha. Não posso me perder de novo pra você. E se você me deixar? Eu não posso suportar isso...

– Me desculpa, Malu. A culpa é minha. Você estava tão bem com Victor. Na verdade, você ainda está. Ele ama você, não chega nem perto do que eu sinto por você, o amor que ele sente por você não se compara a uma partícula do que sinto. – arregalei os olhos e Igor continuou ronronando nos meus cabelos. – E eu estou estragando tudo. Vou deixar vocês. Vou deixar você em paz e você não vai mais ficar mal assim. Eu prometo.

– Não, por favor... – apertei-o o mais. Sufocando meu pânico em sua camiseta, molhando-a. – Não!

– Por quê?

– Eu sempre tentei colocar na minha cabeça que te amar só me fez sofrer. Que só me trouxe confusão e acabou comigo. Mas amar você, Igor... Quando eu pude amar você, foi como ser feliz de verdade. Como a coisa certa. – apertei meu rosto em seu peito e senti ele passando as mãos no meu cabelo, minha voz embargava mas eu não conseguia parar.– Eu me machucava quando não podia ter você, a confusão vinha quando eu tentava não amar você, acabou comigo ter que deixar de te amar. E sempre que você vai embora, Igor... Sempre... Eu me perco um pouquinho. Porque você é mais do que o homem que eu amo, você sempre vai ser meu primeiro amor, meu primeiro verdadeiro beijo, meu primeiro homem, meu primeiro de tantas formas... – Um soluço escapou do meu peito e Igor beijou meus cabelos, seus dedados acariciando minhas costas, fazendo-me estremecer. Afastei essas sensações, concentrando-me nas vozes em minha cabeça. – Mas parece tão errado por você ter Eduardo. E eu tenho o meu Victor. Eu o amo também, de uma forma diferente, entende? Eu te amo, Igor... muito. Mas isso não é suficiente. Não com tudo que passamos, com tudo que sinto, com tudo que posso perder.

– Você já sabe aonde pertence, não é? – ele me soltou de seu abraço, abaixando-se e olhando em meus olhos, segurando minhas mãos nas suas, acariciando-as. Segui seu olhar ao vê-lo encarando minha aliança. – Ao Victor, a pessoa que você escolheu. Que não foi imposta a você. Que faz bem a você...

– Você está fazendo tudo de novo... – sacudi a cabeça, fugindo ao seu olhar molhado, a certeza de que eles me mostravam. Ele ia desistir e eu me obrigaria a deixá-lo.

– Shh. Vai ficar tudo bem, pra você. Eu prometo. – Uma lágrima escorreu de seu olho e eu quase desmontei. O peso de sua dor me esbofeteando. Ele pigarreou. – Sei que você sempre vai pertencer a mim de alguma forma, mas agora não mais. Talvez no passado tivesse dado certo. Se eu não tivesse errado tanto.

– Eu errei também.

– Não, você só consertou tudo. Você me consertou, eu não seria esse homem que sou agora se não fosse por você. Se eu não tivesse amado você. – ele sorriu, seu dedão limpando uma lágrima traiçoeira. – Você é minha no passado e isso ninguém pode mudar. Mas não acho que você pertença a mim agora. Você pertence aquele magrelo irritante.

– Não... – fechei os olhos. Eu não pertencia a Victor. Eu só não sabia aonde pertencer.

– Porque você escolheu isso. E eu respeito você. Mesmo eu sendo infantil de tantas formas antes. Eu vou respeitar você. Sei que... Sou péssimo nisso. Eu nunca sei como agir em relação a consertar as coisas. Me desculpe.

– Igor, por favor... – engasguei no meu choro, mesmo sabendo que era isso que ele tinha que fazer. Que era isso que eu faria se estivesse no lugar dele. Mas mesmo querendo essas palavras, eu também não as queria. As rechaçava.

– Eu sempre vou ser seu amigo, quando você precisar de mim.

– Eu... – tentei segurar o choro, mas estava tão difícil.

– Não fica assim, Malu. Parte meu coração.

– Eu estou te perdendo de novo – cobri meus olhos, sentindo o choro dominar-me novamente. Igor agarrou me pelos ombros, voltando a fazer com que eu me prendesse ao seu olhar.

– Não! Nunca repita isso. Eu sempre vou ser seu. Não sou um cara de ter muitas certezas na vida, porque eu faço merdas que estragam tudo. Mas eu sei que sempre vou te pertencer. Igual quando o Eduardo diz naquela inocência que sempre vai amar Mônica, eu sei que sempre vou amar você. Pra sempre. Quando eu olho nos seus olhos e você sorri, sei que você sempre será a mulher que eu mais vou amar em todo o mundo. Espero encontrar um Victor... Não, não um Victor! Porque isso é repulsivo. Eca. Mas uma garota que seja como Victor pra mim. Que me ajude, tão bem quanto ele te ajudou. Eu não vou deixar você, Malu.

– Não quero que acabe desse jeito... Eu amo você.

– Eu também amo você...

– Não acho que eu consiga ficar com Victor... Não mais. Não se eu ainda amo você. Mas também não posso ficar com você, Igor. – mordi o lábio, fugindo rapidamente daquele seu olhar. – Eu não sei o que quero, ou o que preciso. Mas algo me diz que depois de tudo que fiz, mereço ficar sozinha. Pelo menos até o fim desta noite.

Ele sorriu triste e limpou algumas lágrimas minhas, os seus olhos inundados delas. Ele sofria e eu sofri por ele. Victor estava ali no apartamento, me esperando. Mas quando Igor se inclinou e beijou meus lábios castamente e depois minha testa, eu esqueci de tudo. Só lembrei que o amava. O amava mais do que amaria qualquer outra pessoa. E sabia também que ele ia me deixar de alguma forma. E eu senti a onda de soluços vindo.

Igor andou pro lado oposto da praia e o vazio que senti me atingiu como uma bofetada no estômago. O cheiro de maresia me tomou completamente e eu bambeei. Igor sempre teria cheiro do mar para mim. E eu amava. Deus, eu o amava. Não importa que dissessem que era errado, mesmo sendo errado. Eu o amava, mas ele seria só mais um amigo. E fora eu que decidira isto. Eu o veria dançar com loiras por algumas festas. E quando ele se casasse? Como eu lidaria com isso? Como ele poderia continuar perto de mim se eu estivesse casada com Victor? Meu erro foi ter voltado, pensei. Não, não o erro foi eu não ter permanecido. Há um bom tempo atrás. Como eu fui forte pra amadurecer e esquecer as mágoas. Eu podia ter sido forte para ajudar Igor. Mas não... Tudo fora tão diferente. E agora... Estava tudo errado. Tudo, tudo. E eu não sabia mais o que era o certo. Mas eu sabia que eu tinha que me resolver com Victor. Que a conversa que teríamos mudaria o rumo de minha vida. Ou simplesmente me daria um rumo.


Pov. Igor

Vi Malu voltar a se sentar no banco, continuei-a olhando de longe. Deixando as lágrimas escorrerem, sem vergonha e pudor. Deixei a dor me dominar levemente. Ela voltaria para aquele cara e eu não interferiria mais. Porque independente de tudo, o que eu sentia por ela ultrapassa meu desejo de tê-la somente para mim. Sua felicidade sempre seria minha prioridade. E vê-la dessa forma, tão magoada, foi absolutamente doloroso. É quase insuportável saber que o culpado da dor da pessoa que você ama é você mesmo.

Quando ela se levantou, algumas horas depois a segui. Não podia deixá-la ir embora sem proteção. Não conseguia descansar preocupado com sua segurança. Segui seus passos. Observei seus movimentos. Os cabelos caindo nos ombros em ondas suaves. O jeito como ela colocava o cabelo atrás da orelha quando estava triste. Seus passos. A curva das pernas que eu tanto amava. Coloquei as mãos nos braços, controlando-me para simplesmente não correr para ela e fazê-la ficar comigo para sempre. A vi entrar no seu apartamento em segurança, mais aliviado. Mas logo me abateu a certeza de que ela estaria com Victor agora. E ele sempre a teria. A tristeza me tomou completamente. Eu a perdi. Definitivamente. Não havia mais como lutar contra isto.

Sentei no sofá e liguei para Eduardo. A festa havia acabado pouco depois de termos ido embora. Eduardo já dormia, Ceci me avisou. Tirei os sapatos, em gestos ríspidos. O telefone tocou. Peguei-o maquinalmente.

– Alô?

– Igor? É a Daniela... Está tudo bem com você? – Fiquei em silêncio, sem poder respondê-la. Respirei fundo. – Você quer que eu vá aí?

– Não.

– Você parecer péssimo. Vou me arrumar e estou indo pra aí. – Ela avisou, parecendo se movimentar pela casa. Neguei sem forças:

– Não...

– Não seja teimoso. Já estou indo, ok? – Não consegui encontrar minha voz para negar e ela logo desligou. Caminhei desajeitadamente para a cozinha, abrindo uma garrafa de whisky antiga. Meu filho estava seguro e feliz. Malu estava segura e logo estaria bem novamente. E o que sobrava a mim? A culpa, o abandono, a solidão e umas garrafas de bebida soltas por aí. Bebi do gargalo e rápido demais ouvi a campainha tocar. Me desliguei, caminhando até a porta e a abrindo. Um sorriso preocupado, mas com um leve toque de malícia me recebeu. Tudo zumbia. De nada importava o que eu era neste momento. Deixei-a entrar.



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Notas finais do capítulo

N/A: MAS É HOJE QUE EU MORRO, AHAHAHAHAHA. ~chora
Fui dramática com Victor. Fui dramática com Igor, com Malu. Nossa, eu fui um nojo.
É, eu sei que foi dramáaaaaatico demais. Vocês tão cansadas disso e BLÁ BLÁ. Mas, seria pedir muito ... Pra vocês confiarem em mim? Só um pouquinho de paciência. É pedir muito, eu sei. Mas me esforço bagarai com essa fic. =( Vocês não tem noção. #draminha Sei que muitas de vocês acham que eu estou enrolando. Em certo ponto, faz sentido. Mas confiem em mim. Se estou fazendo isso agora é pra no futuro Igor e Malu terem futuros relacionamentos saudáveis, entre si ou não. Só um pouquinho de paciência, por favorzinho.
Sei lá, sinto que algumas leitoras me abandonaram =((( Isso é super triste, mas estou sendo fiel com a história. E ainda tenho esperança que elas voltem. É/
Enfim, espero que tenham 'gostado', e obrigada por lerem!
Até breve ;*