Lua De Sangue escrita por JhesyAckles


Capítulo 18
Capítulo 18




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- Onde você estava? - Lucas perguntou assim que entrei em casa.

- Caçando. - dei de ombros. 

- De novo, Lana? - Marcus falou. 

- Ué, eu estava com fome. 

- Lana, você caçou duas noites atrás, com fome eu tenho certeza que você não estava. - Lucas disse fingindo um tom paciente.

- É claro que estava. 

- Querida. - Marcus me olhava com olhar de pai preocupado. - Eu não sou o maior observador que existe no mundo mas, não pude deixar de notar, você passa a maior parte do tempo rasgando gargantas... Você nunca foi assim antes, e se não se importa que eu diga... - ele ponderou as palavras me examinando. - Você já não se preocupa mais com seu corpo. Isso não faz parte de você, Lana. 

- Eu sei disso Marcus, mas ultimamente tenho sentido mais fome, nunca foi assim antes e eu também nunca vivi tanto sob pressão. Isso está me enlouquecendo. - não sei de onde tirei aquela desculpa mas foi uma boa saída. 

- É amor, mas isso precisa mudar. - Lucas disse. - Isso já está se tornando um problema. 

- Problema? - Que era um problema eu sabia, o que não sabia era como isso se encaixava a eles. - Porque um problema?

- Porque... - Marcus foi até a cozinha e voltou com um jornal nas mãos. - Os moradores estão começando a reparar o alto indice de mortes na floresta. - ele me entregou o jornal. 

Comecei a ler a primeira página. 

" Pescador local brutalmente assassinado. O pescador Charlie ( 29 anos ) foi encontrado esta manhã morto na floresta, seu corpo estava abandonado próximo ao lago totalmente massacrado. Médicos começam a descartar ataque animal, o corpo ferido do rapaz estava totalmente seco, não havia sequer uma gota de sangue. Charlie não é o primeiro a ser encontrado na floresta dessa forma, em um raio de 20km provavelmente mais 10, entre homens e mulheres, caçadores, campistas ou pescadores estão sendo assassinados. A policia acredita ser obra de algum novo assassino em série pelo fato dos corpos serem desovados sem sangue. Policiais começaram a investigar os casos."

- Entende, agora? - Marcus disse enquanto eu levantava os olhos do jornal. - Isso arrisca nos expor. 

- Entendo... Vou diminuir, prometo... - ou pelo menos tentar completei em pensamento.

- Assim será melhor, ainda podemos ficar por aqui mais algum tempo antes de ter de procurar outro lugar para viver.

- E como foi com sua mãe, Lucas? - eu o olhei desesperada por uma mudança de assunto.  

- Não muito bem. - Marcus respondeu por ele. 

- Não quero falar sobre isso agora... Só vim pegar umas coisas, vou ficar com ela. 

- Tudo bem... - eu respondi.

Lucas foi até meu quarto e em poucos minutos voltou com suas coisas. 

- Eu volto logo... - ele falou.

Marcus e eu assentimos.

Ele veio até mim e me deu um beijo, aquele beijo fez com que eu me sentisse estranha. Não sei como explicar.

- Precisamos conversar. - Marcus me disse poucos minutos depois que Lucas saiu.

- Claro, sobre o que? 

- Sei que lhe disse que passaria a liderança a você depois da batalha, mas ainda preciso fazer algumas coisas.. 

- Sem problemas.  - falei simplesmente. 

- Sério? 

- Claro. - dei de ombros. - Marcus, eu não me importo realmente com isso... Só quero te pedir uma unica coisa, ok?

- Ok. - ele disse sem entender. 

- Bem... - Eu suspirei. - Não dê continuidade aos ataques... Não precisamos realmente disso...

- Lana, eu preciso. Preciso vingar as três de uma vez por todas...

- Eu sei disso, acredite, eu sei, mas... - eu mordi o labio. - Nós não precisamos perder mais ninguém...

- Eu sei que as coisas não sairam como planejamos, mas... Eu ainda não estou satisfeito... Quero matar o assassino.  - eu estremeci. 

- Marcus, será que já não foi suficiente? Matamos metade deles, eles perderam familia, assim como nós. Eles estão sentindo a dor que sentimos, e isso pra mim já basta, mas, os nossos também choram agora, Marcus, nós sentenciamos os vampiros a morte. 

- Você tem razão... - ele parecia ponderar meu pedido. - Olhe, não posso te prometer nada, sim? Confesso que eu ainda quero um novo ataque, mas você está certa, não precisamos de mais nenhum de nós morto. Sendo assim, não vou te prometer parar com tudo, mas posso te dar minha palavra de que irei pensar no assunto e não farei nada sem que você saiba, você é minha sucessora, já está na hora de participar das decisões referentes ao bando. 

Eu assenti.

- Obrigada, Marcus. Agora, se não se importa vou subir, preciso ficar um pouco só... 

- Tudo bem, pode ir... 

Eu me virei para ir em direção ao meu quarto.

- Só me responda uma coisa antes?

- Sim? - eu me virei. 

- Essa sua decisão de não ataca-los mais, é por causa dele? É por causa do assassino? - eu engoli em seco. 

- Não, é claro que não. - Dei a resposta que ele e eu queriamos ouvir.

Marcus assentiu e eu fui para o quarto.

A verdade? Eu queria me convencer de que ele não tinha nada com isso, mas a verdade é que eu ainda não o tinha esquecido completamente... 

As semanas pareceram voar.

O mês passou e eu quase não percebi que tinha se ido.

Eu passava a maior parte do tempo em casa com Marcus, isso quando eu não estava caçando, eu consegui dar uma freada mas ainda assim caçava muito, eu sabia que isso preocupava Marcus, mas ele não tocou no assunto em momento algum. 

Depois de algumas semanas Lucas voltou a vir passar o tempo comigo, mas não como antes, e eu fiquei grata por isso.

Marcus e eu conversamos muito sobre tudo o que havia acontecido e eu consegui convence-lo de que um novo ataque não seria a melhor opção, Lucas por outro lado, queria faze-lo de todas as formas ver que eu estava certa mas que ainda deviamos matar Daniel, eu suspeitava que parte dessa obseção era pessoal. 

Depois de muito tempo resolvi ir até o lago, só mesmo para sair um pouco de casa.

Cheguei no lago e me sentei em uma das pedras na beira da agua, aquele lugar me transmitia uma calma sem igual, eu me sentia como se não houvessem problemas por serem resolvidos e ao mesmo tempo podia pensar mais claramente nas soluções e decisões que eu precisava descobrir, contraditorio? Talvez um pouco, mas era assim que eu me sentia. 

Fiquei olhando para a superficie do lago, hoje muito calma, e pensando... e lembrando... Lembrar o que vivi ali me deu uma certa nostalgia e fez meu coração apertar dolorido.  

A ferida ainda existia, ainda estava aberta, e lembrar me fazia sentir como se jogassem sal em cima...

Eu não gostava daquela sensação.

Eu senti uma lágrima quente brotar em meus olhos e escorregar teimosamente por meu rosto.

E ali eu fiquei por algum tempo... 

Não sei por quanto tempo fiquei ali pensando, mas então algo aconteceu, algo que me fez voltar a realidade.

Eu, de alguma forma,já sabia que cedo ou tarde isso aconteceria, de alguma maneira sabia que era questão de tempo para isso vir, tinha essa certeza porque, ainda  que tentasse me convencer de que não era verdade, eu sabia o estado em que me encontrava, e, ainda que não fosse realmente necessário,  eu esperava por isso como uma confirmação de algo que já tinha certeza.

Comecei a sentir algo estranho dentro de mim. 

Como se algo se movesse dentro do meu corpo, e eu sabia, algo de fato se movia, e não era algo, era alguém.

Eu nunca havia sentido algo parecido antes, mas tinha certeza do que se tratava.

Algo muito pequeno parecia querer chamar minha atenção, e eu podia senti-lo, podia senti-lo me empurrar e me chutar de dentro para fora. 

Já não haviam mais duvidas, já não havia mais o que negar ou o que tentar mudar. Já não haviam mais motivos para ter esperanças de estar enganada, ou motivos para tentar me convencer de que o obvio era impossivel. 

E a verdade é que o que eu senti naquele momento foi totalmente contrario ao que eu esperei sentir, na verdade nem eu mesma sei o que esperei sentir, raiva? medo? desespero?  angustia? Sinceramente,  não sei, mas tenho certeza que foi totalmente diferente de qualquer coisa que eu pudesse esperar. 

Uma felicidade indescritivel me tomou e quando me dei por mim estava chorando. 

O que estava acontecendo comigo?  

Nem eu mesma sei dizer, eu nunca fora emotiva, nunca chorei por simplesmente estar emocionada, e agora estava ali, uma boba derramando lágrimas.

Aquilo novo em mim me assustava e ao mesmo tempo era como se me pertencesse desde sempre. 

Minhas mãos desceram automaticamente e pousaram protetoras sobre meu ventre e eu sorri com aquela certeza.

Aquele era meu filho, dando seus primeiros sinais de vida dentro de mim. Se antes eu queria que isso fosse mentira tudo mudou no momento em que senti seu primeiro chute. Eu não queria acreditar nos sinais mesmo eles sendo tão pateticamente obvios, as frequentes caçadas, o fato de começar a comer carne crua, o fato de estar engordando...

Eles sempre estiveram ali, e por mais que eu os ignorasse eu sabia o que significavam, eu talvez não quisesse admitir por medo, ou por magoa...

Honestamente não sei, mas nesse momento tudo pareceu muito fácil, muito simples... Por alguns momentos apenas vivi aquilo e pude esquecer o quão errado aquilo podia ser. 

Fiquei curtindo aquele momento por algum tempo, eu pensava no que faria quando meu pequeno nascesse, pensava em como seria maravilhoso ve-lo crescer, ensina-lo a andar, ensina-lo a falar, ensina-lo a caçar... Mas pensar só nisso seria estupidez da minha parte, eu tinha que pensar no outro lado também... Eu não podia esquecer aquele que ele chamaria de pai, eu não podia esquecer o que aconteceria quando Marcus descobrisse, quando Lucas descobrisse....  Esses eram assuntos que eu preferia não pensar, o melhor era esperar pra ver. Eu sabia que o quanto antes precisaria encara-los, eu estava ciente disto,  assim que chegassem em casa falaria com Marcus.

Respirei fundo com esse pensamento. 

Fiquei por mais alguns minutos ali, pensando em meu filho e apenas nele, enquanto acariciava o lugar onde o sentira pela primeira vez, foi ai então que senti um cheiro, um cheiro que me era tão dolorosamente familiar.

Daniel estava se aproximando.

Eu fiquei quieta escutando os passos dele se aproximarem e então pararem alguns metros atras de mim.

Ele parou silencioso, estava perto.

Eu sentia seu cheiro e ouvia sua respiração. 

- Espionar as pessoas não é muito educado, Daniel. - eu falei sem me virar deixando as mãos cairem em meu colo. 

- Não estou espionando ninguém. - Aquela voz fez meu coração bater dolorosamente contra meu peito.

- Ah, não? - eu me virei e me pus de pé, falei tentando manter minha voz o mais firme possivel. - Ficar parado ai, escondido entre as arvores, agora tem outro nome? 

- Eu estava apenas passando. - ele disse dando de ombros e caminhando em minha direção. 

Agora que eu o olhava eu podia ver algumas mudanças, ele estava diferente, havia deixado o cabelo a barba loura crescer em seu rosto, ele estava com um ar adulto, era como se ele tivesse perdido aquele rosto de garoto de 19 anos que eu conheci, mas eu sabia, o garoto estava escondido sob a barba e os cabelos que haviam crescido. De todas as formas ele estava indiscutivelmente perfeito. 

- Hum, só passando? - eu falei sarcastica. 

- É. - ele agora estava há somente alguns passos de mim. - Quanto tempo... - eu assenti.

- Muito tempo... - eu não conseguia deixar de olha-lo. - Você... está diferente...

- Você também... - ele me olhou de cima a baixo devagar, se demorando um pouco com o olhar em minha barriga, eu a cobri cruzando os braços então ele voltou para o meu rosto. - está diferente. Está mais bonita. - eu fiquei sem graça. 

- Obrigada. - eu tentei manter a voz no mesmo tom.

Preferi não retribuir o elogio. 

- E então, como tem passado? - ele falou. 

- Bem, bem. - apenas respondi. 

- Fico feliz com isso. - Ele sorriu, mas não era o sorriso de que eu me lembrava. - E você e Lucas, como estão?

- Daniel, o que você pretende com tudo isso? - eu perguntei desconfiada. 

- Como assim o que eu pretendo?

- Você entendeu. Porque pergunta sobre mim e o Lucas? 

- Curiosidade, talvez. - ele deu de ombros.

- Estamos muito bem, obrigada, agora eu preciso ir. - falei e comecei a andar. 

- Espera. - ele segurou meu braço e isso me fez parar.

- Daniel - eu respirei fundo. - Eu preciso ir.

- Primeiro me diga. 

- Dizer oque? - eu o olhei confusa. 

- Sei que há algo que você quer me contar, e já tem muito tempo, estou certo? - eu vacilei. 

- É claro que não, de onde você tirou essa ideia?

- Não finja que não sabe, Lana, ambos sabemos que algo está acontecendo com você.

- Se te deixa satisfeito, sim, há algo acontecendo comigo. - como ele sabe? - Mas isso não lhe diz respeito. 

- Tem certeza? 

- Absoluta. Agora você pode me soltar? - eu falei olhando para sua mão apertando meu braço. - Eu preciso ir, o sol já está nascendo e eu não quero virar torrada.  - ele me olhou fixamente por uns instantes.

- Tudo bem. - falou respirando fundo e me soltou. - Não vou te obrigar a me contar nada, na hora certa você irá me procurar, tenho certeza disso.

- Adeus, Daniel. 

Eu falei e comecei a correr rápido, eu podia sentir seus olhos me acompanhando até que virei entre algumas arvores e sai de seu campo de visão. 

Entrei em casa nervosa.

Ele sabia, mas como? Eram as perguntas que não saiam da minha cabeça.

Como ele sabia? 

Haviam muitas coisas em Daniel que eu desconhecia, havia algo nele que me assustava, havia um lado dele que eu tinha medo de conhecer.

Marcus estava na sala assistindo televisão, antes que eu terminasse de entrar ele já falou comigo.

- Caçando de novo, Lana? - ele me olhou. 

- Não, Marcus, estava no lago, fui lá pensar um pouco, clarear as idéias. - eu suspirei e me sentei ao seu lado no sofá. 

- E conseguiu?

- Mais ou menos, Marcus, precisamos conversar... - eu o olhei séria. 

- Claro, Lana, sobre o que? - ele me deu aquele olhar de pai preocupado. 

- Bem, tem a ver com as caçadas... - eu mordi o lábio. 

- Sim? - ele me incentivou a continuar com o olhar ainda preocupado.

- Marcus... - eu mordi o lábio. - Eu estou grávida.

- Mas isso é... isso é otimo! - ele falou feliz. - Lucas já sabe da novidade?

- Não! - eu me apressei. - E nem quero que ele saiba, pelo menos não agora.

- Mas porque não Lana? Ele vai adorar a noticia, eu tenho certeza. 

- Não, Marcus, ele não vai adorar isso. - eu suspirei. - Você não está entendendo Marcus. 

- Lana, não me diga que... - ele não se atreveu a terminar a frase.

- É, Marcus, é isso mesmo. Lucas não é o pai, o pai da criança é o Daniel.


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