Lua De Sangue escrita por JhesyAckles


Capítulo 17
Capítulo 17




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Assim que anoiteceu Marcus e Lucas sairam para falar com a mãe de Lucas, eu usei a desculpa de que precisava caçar para não acompanha-los. Eles provavelmente demorariam por lá, mas nunca se sabe, no meio da madrugada sai de casa, queria dar um tempo no lago antes de ir até a caverna, queria respirar um pouco e colocar as ideias no lugar. 

Quando cheguei no lago encontrei um pescador, estava sozinho sentado em uma pedra com sua vara dentro d'agua.

Eu fiquei observando, esperando que ele fosse embora para poder me sentar a beira, então algo fisgou em sua linha e ele a puxou, era um peixe enorme e o rapaz quase não conseguiu tira-lo de dentro do lago, com dificuldade o peixe foi posto na terra ao lado do pescador, o animal se debatia desesperadamente, eu pude ver uma isca artificial saindo de sua boca, isca que parecia aqueles brincos horriveis que as garotas compram em alguma dessas lojas baratas e acham que estão lindas. 

Então foi ai que ele cometeu o pior erro de sua vida, o peixe se debatia alucinadamente com sua isca ainda presa a boca, ele tinha dificuldades em controla-lo, o pescador pegou um canivete e tentou retirar o objeto de sua boca, mas em meio a confusão recebeu um grande e profundo corte em sua mão esquerda.

O sangue dele jorrou e o cheiro me inundou.

Uma fome que eu não sabia que estava em mim me tomou.

Eu já não pensava racionalmente, eu já não pensava, o desejo por sangue me dominou quando dei por mim meus dentes já estavam cravados em sua garganta e seu olhar tinha uma expressão de medo e confusão.

Em poucos minutos ele já estava sem uma gota de sangue e com ferimentos enormes onde eu o havia mordido e arrancado pedaços de sua carne. 

Minha intenção não era caçar essa noite, eu havia feito isso duas noites atras, mas ele não me deixou escolha.

Ele não precisava ter morrido essa noite. 

Andei até a caverna com a sensação de que iria explodir. 

Virei o túneo e fiquei observando o lugar sendo corroída por lembranças, desejos e sonhos...

Fiquei ali por horas parada pensando. 

Ali eu o conheci, ali me apoixonei por ele, ali tivemos noites maravilhosas... Essas coisas pareciam estar em um passado tão distante, como se tivessem acontecido séculos atras, o que não era verdade, meses antes elas aconteciam.

Ali eu prometi fugir com ele, esse pensamento me fez rir nevorsamente. 

Passei horas ali pensando em tudo, e quanto mais eu pensava mais me sentia uma tonta...

Como pude confiar nele tão cegamente?

Como pude me entregar pra ele de corpo e alma tão rápido?

Será que se eu o tivesse matado naquela noite as coisas seriam completamente diferentes? Quero dizer, minha mãe ainda estaria viva?

São tantas perguntas sem resposta que ultimamente as palavras em que mais penso são "E, se..." , "Será..." e " Porque..." Há tanto que eu queria saber, que eu queria entender, e entre esse monte estão as perguntas, que por mais que eu tente afastar, martelam em minha cabeça a todo momento " O que está acontecendo comigo?" " Porque estou com essas vontades estranhas? Porque estou sentindo essas sensações estranhas? Porque estou agindo dessa maneira?" Por mais que eu pensasse não conseguia chegar a uma conclusão sensata. Eu já havia chegado a uma conclusão, mas ela não podia fazer o sentido que fazia. 

Nem notei o tempo passando mas então ouvi alguém entrar na caverna e isso me despertou de meus devaneios.

Me virei para o túneo e fiquei observando, antes de vira-lo eu já pude sentir seu cheiro e ouvir sua voz.

- Estou aqui, o que quer falar? - ele falou surgindo quando fez a curva.

- As coisas estão se complicando. 

- Isso eu percebi no momento em que li sua mensagem, não sou tão idiota. - ele falou secamente. 

- Bem, vou direto ao ponto então. - eu tentava manter a voz firme. -  Marcus e Lucas querem outro ataque. 

- Se é isso o que querem, é isso que terão. - ele não alterava seu tom de voz.

- O que? - eu falei surpresa.

- O que ouviu! Se é outra luta que eles querem é isso o que terão. 

- Qual é o problema de vocês homens? - eu falei irritada. -  Podem esquecer um pouco a explosão de testosterona e pensar com a cabeça de cima? 

- Estou pensando. Mas o que você sugere, que a gente fuja com o rabo entre as pernas? Não, muito obrigado, não somos tão covardes. 

- Vocês são uns estupidos, todos! - eu estava muito irritada. 

- Está incluindo seu amado Lucas nisso? - ele disse com sarcasmo.

- Daniel, eles vão morrer, entede isso? - eu falei ignorando a alfinetada. - Gostou de ver sua familia morrer noite passada? Pois eu não gostei de ver a minha. Vim aqui hoje para tentar evitar mais mortes e é assim que você age? 

- Como queria que eu agisse? Queria que eu chegasse aqui, escutasse o que você tem para dizer, concordasse com tudo e depois te beijasse dizendo que você está certa? 

- Lógico que não! - eu falei mais alto que o necessário. - Não seja idiota. Só acho que ninguém mais precisa morrer, apenas isso. Não estou pedindo para que vocês saiam da cidade, isso é o que faremos, mas só terei poderes para isso quando Marcus me passar o poder, até lá, não posso fazer muito mais depois disso, eu te juro, nunca mais vai ao menos ouvir falar de mim, vai poder ser feliz com sua querida Mary. 

- Porque você tem sempre que colocar a Mary no meio de tudo?

- Você sabe muito bem o porque, lobinho. - falei com desdem. - Mas isso não importa. Você quer que sua familia morra, sim ou não? - disse com autoridade

.Ele parou pensando, parecia escolher as palavras.

- É claro que não. - ele suspirou. - Você sabe que não. 

- Eu sei, então me escute com atenção. - respirei fundo. - A intenção é terminar o que começaram, eles querem matar você.

- Se fizerem isso o bando não vai descansar até que todos morram. - ele me interrompeu.

- Sei disso, não sou estupida. - revirei os olhos. - E eles também sabem mas não se importam.

- Posso perguntar porque o objetivo é me matar?

- Porque... - uma pontada me atingiu no peito. - Porque eles querem a cabeça do lobo que matou minha mãe. 

- Ah, isso. Você realmente acredita que eu sou o culpado, Lana?

- Eu... - Aquela pergunta me pegou desprevenida. Claro que eu acreditava, ou será que não? Ele havia confessado, não havia? - Porque não acreditaria, você confessou!- Boa.

- Em momento algum eu confessei, eu disse que se você queria que eu fosse culpado eu seria, mas não disse que a tinha matado. - ele suspirou. - Você não acredita em mim não é? Mas ainda que não importe o que eu diga, vou dizer, eu não matei sua mãe.

- Mas eu vi... 

- O que você viu? Viu um corpo esquartejado? Você acredita no que pensa ter visto. Está agindo como seu pai quando as duas morreram. 

- Eu não penso ter visto nada, eu vi. - retruquei. - Não sou idiota e nem cega. - Lembrar doia, falar machucava ainda mais. - Eu vi um lobisomem dilascerando o corpo dela. - Seu corpo ficou rigido quando falei. - E Lucas o viu voltar a forma humana, Lucas te viu voltar a forma humana, acha isso pouco?

- Lucas, sempre o Lucas. - ele cerrou os dentes. - Será que não passou pela sua cabeça que ele pode ter inventado isso? Será que não passou pela sua cabeça que ele pode ter criado essa história se aproveitando da situação para nos separar? 

Eu não respondi, mas se respondesse a resposta seria :

Não. Realmente eu não havia pensado nisso, não havia como pensar, eu estava vulneravel estava caindo e ele foi meu maior apoio, ele me segurou para que eu não caisse em um abismo. 

- Lana, eu nunca faria nada que te machucasse. - ele deu de ombros. - Mas não adianta falar isso para você, não vai mudar em nada o que você pensa sobre mim, só você pode fazer isso, só você pode tomar uma decisão quanto a isso.

Lucas poderia estar mentindo, mas ele também poderia.

Quais as chances de tomar a decisão errada? Lucas já havia me enganado antes, Daniel não. Mas como Lucas saberia tudo aquilo que me contou sobre Mary e Ruby? Pra começar, como saberia os nomes delas? Não havia como, eu nunca havia falado sobre isso com mais ninguém, e isso era uma prova de que Lucas sabia de alguma coisa.

Mesmo que eu quisesse eu não poderia acreditar nele naquele momento, e confesso, eu queria, mas não podia, não vou me deixar levar.

- Daniel, eu não sei o que te falar, eu quis com todas as forças acreditar que você seria inocente, mas tudo aponta pra você. Eu não estou em condições de tomar decições no momento. Podemos, por favor, voltar ao assunto que te trouxe até aqui?

- Você o ama? - ele disse sem dar atenção para minha tentativa de mudar de assunto. 

- Porque a pergunta? - eu estava na defensiva.

- Você o ama? - ele simplesmente repetiu. 

- Não. - falei com sinceridade. 

- Você me ama? 

- Não vou responder a essa pergunta. 

- Imaginei que sua resposta seria dessa forma. - ele deu um passo a frente. - Eu te amo. 

- Não repete isso, sim? - aquelas palavras me doeram, palavras que eu queria ouvir mas que me lembraram o que Lucas me havia contado sobre a conversa de Mary e Ruby. - Não viemos aqui para falar de um romance bobo de adolescente. Podemos voltar ao assunto principal? - fiz uma nova tentativa.

- Não somos adolescentes e você sabe disso, e se para você foi um romance bobo, para mim não foi. - Ele falou me encarando.

O que ele pretendia com aquilo? 

- Você não vai voltar mesmo ao assunto agora, não é? - eu disse me dando por vencida. 

- Só quero saber o que houve entre a gente, tudo era tão perfeito.

- Daniel, perfeitos são os contos de fadas que esses escritores criam para fazer meninas bobas crescerem iludidas acreditando que um dia, quando crescerem, usarão um vestido lindo e encontrarão seu principe encantado em um cavalo branco no meio de um baile, só que depois, quando se deparam com a realidade quebram a cara nesse mundo de sapos e dragões. Não, Daniel, não era perfeito, o perfeito possui um 'E viveram felizes para sempre...'  E isso nós não tivemos. 

- Poderiamos ter tido. 

- Não, não poderiamos. Essa frase encontramos no final desses livros bobos que crianças ouvem as mães lerem,  onde um principe e uma princesa se conhecem, o principe derrota o monstro que aprisiona a princesa e são felizes para o resto da vida com passarinhos e fadinhas voando pra todo lado. É, eu os conheço...  - falei com um toque de sarcasmo na voz. - Minha mãe costumava ler essas histórias para que eu pudesse dormir.... Só que isso, Daniel, isso aqui não é um conto de fadas, está mais para um filme de terror, mas não, isso aqui é a realidade. Eu não sou uma princesa, você não é um principe, se fossemos encaixados em uma história estariamos como os monstros. Não há um felizes para sempre nos esperando no final. 

- Você fala como se tudo estivesse acabado, como se o sentimento estivesse morto dentro de você. 

- E acabou. - eu disse seca. 

- Mas o sentimento ainda existe ai dentro, em algum lugar. - ele se aproximou mais e pousou sua mão em meu coração e colocou a outra no dele. 

- Para com isso Daniel, por favor... - eu fechei os olhos e tive certeza, eu estava vermelha, meu coração estava batendo muito rápido e forte e eu sabia que ele podia sentir. Eu escutava o dele batendo da mesma maneira.

- Você me ama... - ele sussurrou. Aquilo não foi uma pergunta.

- Era tudo magico, Daniel, realmente era... Eu me sentia uma garota em um livro de romance... mas não mais, mas a magia se quebrou. Aquilo foi um sonho, Daniel, mas desse sonho eu já despertei. - eu me afastei o suficiente para que sua mão pendesse e caisse no ar. - Decisões erradas estragaram o que tinhamos, e agora não há mais volta. 

- Será que não?

- Daniel, para com isso, ok? E, por favor, vamos encerrar esse assunto? - eu já não aguento mais falar sobre isso, completei em pensamento. 

- Tudo bem. - ele se deu por vencido. - Então, eles querem me matar, certo?

- É. Tentarei ao máximo mudar isso, mas não posso prometer muito. - eu falei aliviada com a mudança de assunto. - De qualquer forma, estou lhe dando uma vantagem, você já sabe o que pode vir, fique preparado. 

- Ficarei, obrigado pelo aviso. 

- Não faço por você. - falei novamente seca. - Faço por quem não merece isso. 

- Você acha que eu mereço?

- Honestamente? Não sei, Daniel, se você fez o que tudo indica que fez...

- Você não acredita mesmo em mim, não é? - ele suspirou.

- Não consigo.

- Porque está fazendo isso então? Porque está indo em contra sua familia e me protegendo? Porque não deixou que seu noivinho me matasse na outra noite?

- Porque era o certo. Você salvou minha vida, eu te devia. E agora, é porque não quero ver mais ninguém morrer... 

- Tudo bem então... - ele suspirou e então sua expressão alterou, como se ele estivesse lembrando de algo. - Lana, posso te fazer uma pergunta? É apenas por curiosidade, responda se quiser, sim?

- Tudo bem. - eu dei de ombros.- Pergunte, então. 

- Vampiros comem carne também? - ele me pegou de surpresa.

- Porque a pergunta? 

- Porque a vi comendo a carne de um homem no outro dia e hoje passei por um corpo perto do lago todo esburacado...

- E porque acha que fui eu? 

- Um animal não teria dentes daquela forma nem boca com tamanho para aqueles buracos. 

- Bom argumento. É, fui eu.

- Então vampiros comem carne...

- Não, quero dizer... Nem todos. - falei com sinceridade.

- Só você? - eu assenti. - Porque?

- Honestamente, não sei, apenas tenho vontade e como. - dei de ombros.

- Quando isso começou?

- Essa já é a terceira pergunta.

- Só responda, sim? Prometo que será a ultima.

- Não tem muito tempo, porque? Sabe de alguma coisa? - ele me olhava de cima a baixo com uma estranha atenção.

- Não, acho que não. - disse por fim.

- Se é só isso, acho que já terminamos o assunto, não?

- É, acho que sim. - ele me encarou uma ultima vez. - Vou embora.

- Adeus. - eu falei.

- Adeus. - ele disse se virando.

Eu ainda teria de esperar algum tempo até que fosse possivel voltar pra casa.

Daniel foi embora e me deixou sozinha com meus pensamentos confusos. 

Eu não podia mais ignorar o aque estava acontecendo comigo, caçando todos os dias, ingerindo coisas fora da dieta de um vampiro. Aquilo não era só estranho, aquilo era errado, muito errado e preocupante...  Eu precisava descobrir o que estava acontecendo, quer dizer, descobrir o que realmente estava acontecendo ao invez de ficar com essas teorias malucas que me rondavam... como se eu já não estivesse cheia de preocupações mais essa veio me atormentar, e essa, como muitas outras, eu precisava guardar só para mim, se minha mãe estivesse aqui ela me ajudaria, mas... não está mais. Esse pensamento sempre fazia meu peito ficar apertado. Eu sabia que podia contar com Lucas e com Marcus mas tinha medo da reação que eles teriam quando eu contasse... Tinha medo do que eles iriam querer fazer em relação a isso... Não, nessa eu estava sozinha e precisava descobrir. 

Fiquei algumas horas pensando nas possibilidades e tentando puxar pela memória já ter ouvido casos assim, nada. 

Isso não começou há muito tempo, me lembrei, três semanas, no maximo. 

Algo diferente que eu tenha feito nesse tempo para desencadear isso? Pensei, pensei e nenhuma conclusão me chegou, pelo menos nenhuma conclusão lógica.

Eu já havia desistido de descobrir naquele momento e então me levantei para ir embora, o sol já havia se posto e era seguro. Fui andando até o tuneo e parei para uma ultima olhada no lugar, tantas lembranças estavam seladas aqui...

E foi ai que algo me ocorreu.

Me veio como uma sequencia de tapas na cara.

Eu parei em choque.

Vendo por esse angulo, realmente minhas teorias não eram assim tão surreais, eu não estava com idéias malucas na cabeça. Era obvio.

Era tão obvio e ao mesmo tempo não fazia sentido algum, e além de tudo, isso é possivel? Não, é logico que não, não faz sentido e não é possivel!! Ou é? Eu estremeci com esse pensamento. Eu não sei o que está acontecendo, mas por favor, tudo, qualquer coisa, mas isso não. 

Era só no que eu pensava. 


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