A manhã estava muito escura, nem parecia que já beirava as seis da manhã. Já ouvia trovões explodirem nos céus e as gaivotas voarem assustadas. Eu tentava prender as lágrimas nos olhos, mas toda vez que a voz de Justin vinha na minha cabeça eu sentia uma lágrima gelada trilhar meu rosto: "Você acha mesmo que eu iria gostar de ficar preso em um barco com uma garota tão escandalosa feito você?! Mas infelizmente eu tinha de escolher ficar com você ou dar a minha vida pro mar."

Mesmo que na maioria das vezes eu parecesse ser forte, eu não era. Eu tinha um coração e ele sempre esteve machucado por nunca despertar nenhum interesse masculino. A verdade é que eu tinha 17 anos na cara e nunca tinha namorado ninguém, na verdade acho que nunca ninguém me amou e eu nunca tive a capacidade de conhecer o amor.

Não sei por quanto tempo eu fiquei ali pensando na minha vida, me corroendo e me julgando por não ter nascido mais bonita. Acho que no fundo eu gostaria que Justin estivesse feliz por estar preso em um barco comigo. Ele ficaria feliz se fosse com qualquer outra menina, mas eu não tive essa sorte grande.

Enxuguei meu rosto e vi um raio luminoso cortar o céu, engoli a seco e comecei a sentir pingos fortes de chuva começando a cair. Fiquei ali parada sem me importar com as gotas incovenientes e aonde quer que estivesse Justin, ele pouco estava se importando se eu ia pegar um resfriado ou não, ficando na chuva.

– Insensível - eu o chinguei baixinho enquanto passava a mão em meu rosto limpando as gotas de chuva. Em pouco tempo eu estava ensopada, deitei naquele lugar acolchoado e úmido e fechei meus olhos deixando a chuva me molhar mais.

– Não se esqueça que você não está em um filme americano, onde pode tomar banho de chuva e no dia seguinte ficar boa! - uma voz masculina me tirou dos pensamentos - Estamos presos no meio do mar, debaixo de um temporal e não temos nenhum medicamento caso você fique resfriada.

Eu abri meus olhos e fuzilei Justin com o olhar, ele também estava todo ensopado, eu voltei a fechar meus olhos deixando a chuva me molhar.
Alguns segundos de silêncio até sentir alguém me levantar, ou melhor, Justin me levantar.

– AAAAAAAAAAAH - eu gritava - ME SOLTA SEU MANÍACO!! - ele nem se importou, me pegou nos seus braços como se eu fosse sua noiva e me levou pra dentro da cabine me sentando na cadeira preta.

– Parece que é surda - ele falou bagunçando o cabelo molhado - Vai ficar aí agora, quieta na sua!

– Porque esses aparelhos não funcionam? - Eu perguntei olhando aquele bando de botões - Porque?! - Vi meus olhos se enchendo de lágrimas e agora a voz rouca de Justin se tornou uma voz com uma certa piedade.

– O dono do barco, o senhor Leví, ele foi pegar gasolina pra pôr. Nós tivemos a má sorte de entrar nele sem gasolina e do laço que o prendia se desfazer por causa da força em que o barco chacoalhava, mas fica tranquila.. - ele acariciou minha cabeça com a mão o que fez eu fechar os olhos como uma menina indefesa - Eles vão vir atrás do barco e vão salvar a gente.

– Claro que vão - eu falei baixo pra mim - Eles tem que me tirar de perto de você o mais rápido possível - Na verdade eu não queria que ele me escutasse, mas acho que Justin ouviu e esse foi o motivo dele tirar a mão da minha cabeça molhada e sair de volta pra chuva.

Relaxei meu corpo na cadeira e fechei meus olhos, eu sei que no fundo eu estava desejando cair em um sono profundo e nunca mais acordar, mas aí eu vi uma onda enorme bater contra o barco e enxarcá-lo por dentro, dei um berro de susto e me ajeitei na cadeira.

Depois dessa onda, pequenas ondinhas entravam no barco fazendo um laguinho ao lado de fora. Sai da cabine, a chuva ainda estava muito forte, procurei por Justin e o vi lá em cima ajustando as velas do barco.

– Essa espelunca tem velas?! - Eu perguntei meia pasma, ele me olhou como se a resposta fosse óbvia e por um momento eu desejei não ter feito a pergunta. Justin estava ainda sem camisa e seu corpo parecia muito tentador. Ele não tinha tantos músculos, mas os que tinha já eram bem definidos digamos assim, e aquelas gotas de água rolando sobre ele me deixavam ainda mais nervosa. Passei a mão sobre os cabelos e por trás senti uma onda furiosa me enxarcar ainda mais. 

– Vamos naufragar desse jeito! - eu disse olhando o mar agitado e tentando aliviar o impacto da pergunta óbvia.

– Claro, você é gorda o suficente pra que isso aconteça - ele disse saltando de cima da cabine para onde eu estava.

– É, e ainda tem você pra ajudar a pesar ainda mais. Não vai demorar muito pra eu te tacar na água, pra você ver teus amiguinhos aquáticos, sua foca marinha!

Fui pros fundos do barco onde parecia estar ainda mais encharcado, vi um peixe se debater no casco do navio e fui ajudá-lo. Uma onda bateu furiosamente contra mim e me tacou de cabeça na parede de fora da cabine o que me fez gemer, fiquei meio tonta por um tempo ainda sendo molhada por ondas menores, até Justin vir até mim.

– Nossa, que cabeção hein. Ouvi a pancada de lá! - ele deu um riso de leve e se agaixou do meu lado me levantando dalí.

Eu tinha que admitir que Justin tinha uma língua muito bem afiada e isso me dava raiva, porque a maioria dos meus foras não chegavam nem perto dos foras que ele me dava. Eu queria brigar seriamente com ele mas eu via tudo rodando, só me lembro de ver tudo se apagando aos poucos e mais nada.