Passamos dias viajando tranquilamente, sem mais incômodos nenhum, sempre parávamos para comer ou ir ao banheiro... Essas coisas sabem. Até que...

- Droga! – Disse Carlos. – Crianças, é melhor não olharem isso.

     Era um grupo de pessoas, aparentemente mortas, ou desmaiadas, eu não sei, não consegui ver direito, Joana entrou na frente e empurrava Curt e eu para dentro do carro de novo, mas sai do outro lado e quase vomitei. Era horrível, nunca tinha visto cadáveres na minha vida. O que eu fiz? Qual foi a minha reação, além de vomitar? Congelei e me sujei toda. Ah, que nojo!

-Ah Fernanda! Vem cá garota! – Falou Carlos. – Vamos ter de seguir esse caminho, mas com esse pessoal ai não vai dar. Já sei!

- O que? – Perguntou Curt, de dentro do carro.

- Não se mete cara! Fiquei ai com eles Joanna e troque as roupas da “gelinho” aqui.

- Sim. – Respondeu prontamente Joanna.

- Jack, vem comigo. Vamos enterrar esse pessoal.

- Ah cara, sério? Puta que pariu, é muita gente!

- Calado, eles tem direitos, eram pessoas como a gente, talvez morreram de fome ou sede, que é o mais provável. Seja humano!

- Sim, senhor – Respondeu Jack, sério e cabisbaixo

Demoraram um pouco, mas já estava anoitecendo e estava ficando frio. Carlos e Jack voltaram suados e sujos. Eu estava ainda meio paralisada, olhava para o chão do carro e Joanna dormia com a cabeça de Curt encostada em seu ombro.

- Você está bem fê?

- Talvez. O que aconteceu? Achei que não tinha mais pessoas.

- Reação estranha essa que você teve, já matou tantas criaturas estranhas e bichos. – Disse Jack

- Cara, bichos e as “criaturas” são diferentes de pessoas, a gente se sente vulnerável ao ver esse tipo de coisa com a nossa própria espécie. É normal. Lembro de quando vi meu primeiro cadáver. Não vou contar essa história agora, talvez um dia.

Carlos e Jack entraram no carro.

- Tem um lugar que acho que vocês vão gostar, é lindo. É por aqui perto e a gente pode acampar lá, estou cansado demais e preciso dormir um pouco... E acho que todos nós precisamos. certo Jackzinho?

Jack riu

- Talvez. – Bocejou. – É parece que sim.

O que o Carlos disse era verdade, estávamos todos muito cansados, estávamos a dias viajando sem parar e estávamos assustados com a última cena. Aquilo realmente me deixou perturbada e o que o Carlos disse também. Ele já tinha visto cadáveres antes? O que será que ele esconde? Será que ele vai falar na hora do jantar? Provavelmente não, devem ser histórias horríveis de se contar em horas de refeições. O lugar em que paramos era realmente lindo. Quase um pedaço de bondade e esperança em meio á tantas coisas. Era um lugar muito verde e tinha um pequeno rio, que dava até pra tomar banho! Água de verdade? Quando chegamos mais perto não era realmente água e sim um liquido meio esverdeado e estranhamente atraente. Me senti tentada a entrar ali, mas Carlos pegou no meu braço antes disso.

- Isso é veneno acido querida. Não entre aí!

Me sentei na frente desse estranho rio e fiquei observando, tentada a entrar nele.

- Fora isso, é lindo o lugar, certo? Um dia, esse lugar já foi quase meu. Foi onde eu fiz muitas coisas lindas aqui com o amor da minha vida... Mas faz anos e estou de volta com um bando de... – Ele olhou para nós, com um brilho nos olhos e sorrindo. – De crianças. Crianças especiais, quase meus filhos.