Amanheceu menos frio que no dia anterior, o sol tinha saído de trás das nuvens e o tempo estava ameno, então trocamos nossos trench coats por algo menos quente. Nós vestimos os mesmos jeans do dia anterior. Eu preferi um cardigã cinza por cima de uma camiseta branca com o logo da Yves Saint Laurent em preto, Ann vestiu sua camiseta preta com o desenho de um trooper e um blazer branco de mangas mais curtas, e Mag só vestiu um hoodie listrado azul escuro e branco sem zíper.

Nós tínhamos almoçado no McDonald’s porque concluímos que o restaurante de ontem tinha sido meio caro, e afinal, só louco não gosta de um almoço no fast-food, certo? Decidimos então não comprar mais nada desnecessário no nosso passeio de hoje, nem com nossa grana, nem no cartão de crédito internacional. Nós iríamos nos controlar. E não seria tão difícil com a Ann do lado. Quero dizer, é claro que ela também gosta de gastar (que mulher não gosta?), mas ela é mais controladora que eu e Maggy.

Tipo uma vez, quando Ann tinha viajado para o aniversário do irmão mais velho e eu e Mag não pudemos ir por causa do trabalho. Enquanto Anna estava fora, nós fomos uma tarde no shopping, só para passear, mas saímos de lá com uma dívida gorda no cartão de crédito. Quando ficou sabendo, Ann nos proibiu um mês inteiro sem compras no cartão. Sério! Ela nos fez cancelar nossos cartões temporariamente por um mês! Mas graças a ela não gastamos mais no mês seguinte nem ficamos com o nome sujo. Ela é realmente nossa salvadora nessas horas que nos descontrolamos. E olha que, desde aquele dia, eu e Maggy deixamos de ser tão impulsivas e começamos a usar a matemática antes de entrar numa loja. Ok, nem sempre, mas ainda sim.

Nós passeávamos pelas ruas depois do almoço e eu inventei de fotografar cada espaço, cada loja bonita com banners coloridos em hangul e as ruas. Passamos boa parte da tarde assim, entrando em lojas, testando nosso coreano misturado com inglês, conhecendo coisas novas e vendo pessoas bonitas. Porque, vamos combinar, as mulheres asiáticas são lindas, e os rapazes também. Não todos, é claro, mas os mais jovens são muito fofos. E lindos. E sexys. E chega.

Passeando o tempo passava bem rápido. Nós achamos um Starbucks e íamos tomar um café, conversar e checar as possíveis mensagens no celular no ambiente gostoso do café, mas eu realmente precisava tirar só mais algumas fotos. Principalmente da loja de café em contraste com outros banners coloridos, a rua e os pedestres, seria uma ótima fotografia. Eu estava louca para postar minhas novas fotos no Flickr e receber comentários de pessoas legais, como de costume recebo em minhas fotos no meu perfil.

- Vocês podem ir na frente e me esperarem lá, eu prometo que não demoro! – falei pedindo as meninas para tirar fotos sozinha. Às vezes as fotos fluem mais quando você não vê nenhum conhecido por perto.

- Okay. – Ann respondeu ajeitando sua bolsa de ombro. – Mas vá logo antes que a gente faça os pedidos sem você.

- Toma cuidado, Sun. – Mag alertou como se eu fosse uma criancinha. Revirei os olhos.

Elas me deram as costas indo para a Starbucks. Esperei até o sinal fechar e aproveitei a rua que, naquele momento, não tinha tantos carros assim, e me agachei no meio da pista para clicar algumas fotos enquanto algumas pessoas atravessavam. Uma criancinha olhou para mim enquanto passava, eu sorri e a menininha me devolveu um sorriso fofo. Continuei a clicar.

Estava terminando, cliquei a última foto num ângulo diferente para ver depois qual era melhor para editar e postar, todas as pessoas já tinham atravessado na faixa branca, então me levantei e ia me apressando para correr, mas...

Bem, eu tinha percebido que o sinal estava verde já há algum tempo quando um carro preto vinha em minha direção enquanto eu estava me levantando. Foi tão rápido, que não tive tempo suficiente para me mover e sair da frente.

Quando o carro bateu em mim, eu vi tudo em câmera lenta. É, como em filmes e novelas, exatamente daquele jeito. Vi Ann e Mag correndo desesperadas do Starbucks até a rua, senti meu corpo virar, minha câmera fugir da minha mão, vi o céu azul e o modo câmera lenta só parou quando minha cara foi parar no vidro do carro. Eu não sei quanto tempo eu fiquei de olhos abertos com a bochecha no vidro do carro e meu corpo imóvel no capô, mas o tempo que fiquei sem querer me mexer foi suficiente para reconhecer o rosto assustado atrás do volante. Jonghyun. Exatamente. Ele mesmo. Ou eu estava realmente delirando e vendo coisas ou, meu Deus, eu tenho uma sorte do caramba. O motorista (vamos chamá-lo assim até termos certeza de quem é) desceu do carro e eu ouvi os gritos desesperados de Maggy e Anna correndo até mim e parando todo o trânsito. Ou boa parte dele.

- SUNIE! – Anna gritou à plenos pulmões. – SUUN!

- Ai meu Deus, – essa era Mag – SUNIE!!

Eu só sabia que não queria me mexer. Nem tentei me mexer, então não sabia se eu não podia ou só não queria.

- Joesonghabnida! – era, com certeza, a voz do Jong, e ele se desculpava em coreano. – Joesong!

Logo se formou um círculo de pessoas preocupadas e curiosas em volta, Anna e Maggy já estavam ao meu lado me sacudindo para ver se eu abria os olhos ou dava sinal de vida. Abri meus olhos preguiçosamente sentindo o corpo começar a doer.

- Sun! – Anna chamou novamente. – Você está bem? Consegue se mexer?

- Ann, – levantei meu braço devagar apontando para Jong ao lado delas porque acho que ninguém tinha percebido ainda. – olha, Jonghyun oppa.

- Quê? – franziu as sobrancelhas e olhou para o lado onde Jong estava. – Ai meu Deus.

Maggy acompanhou o olhar de Anna e estava atônita olhando para Jong.

- Jonghyun! – foi a Mag quem deixou soltar uma voz mais fina que o normal.

- Naega? – ele estava meio sem reação também, mas isso porque não tinha nos reconhecido ainda e nem sabia para quem olhar.

Eu forcei meu corpo a se levantar do capô do carro, lá atrás carros buzinavam e pessoas falavam alto. Escorreguei meus pés até o chão e procurei pelo chão pela minha câmera. Ai meu santo, minha câmera! Ela estava caída no chão a alguns metros de mim. Corri até ela, me agachei e a peguei no colo procurando por arranhões antes de tentar ligá-la novamente.

- Sunie!

- Ann, minha câmera!

- Esquece sua câmera, você está bem?

- Aham. – murmurei enquanto tentava ligar a câmera desesperadamente pela terceira vez. Só na quinta tentativa ela ligou e eu soltei um suspiro de alívio.

- Tem certeza? Alguma parte doendo? – Mag perguntou.

- Não, eu to bem.

Eu não estava mentindo. Sério, eu estava bem, só um desconforto e uma dorzinha de cabeça, mas nada insuportável. Jonghyun estava olhando para mim como se tentasse me reconhecer, meus olhos provavelmente começaram finalmente a brilhar e eu estava realmente caindo na real. Na noite anterior nós estávamos preocupadas em como encontrá-los, agora o destino coloca o próprio Jonghyun para ser o motorista que me atropela. Eu duvido muito da minha sorte, como se vê, ela me ajuda, mas de um jeito bem estranho.

- Espera. – agora ele falava na nossa língua. – Sunie? – eu tinha me esquecido de como era ouvir meu nome sendo pronunciado com aquele sotaque coreano. Awh!

- Sou eu. – cantarolei sorrindo. – E Anna e Maggy. – mostrei as meninas que o olhavam ainda surpresas.

Nós ainda estávamos atrapalhando o trânsito, uma senhora caminhou até nós e perguntou em coreano se precisaria de uma ambulância, mas eu neguei antes de qualquer resposta que pudessem dar por mim. Eu realmente odeio ambulâncias, e odeio mais ainda hospitais.

- Mas Sun, – Mag se preocupou. – é melhor mesmo você ir ao hospital, só para confirmar que está tudo bem.

- Eu estou bem. – repeti. – É sério, hospital não!

- Hospital sim, Sunie. – Anna obrigou.

- Ahhhw. – emburrei.

- Eu levo vocês. – Jong se candidatou.

E eu logo pulei no banco de trás do Kia Soul preto dele. Fala sério, durante a viagem a gente conversaria o máximo possível, eu iria a qualquer hospital só para isso.

As meninas sentaram atrás comigo, me deixando no meio enquanto Jong entrava no carro tentando fugir de algumas pessoas que começavam a reconhecê-lo, ligou o carro e deu partida. Eu, Anna e Mag, agora mais calmas e colocando o cérebro para raciocinar novamente, estávamos toda hora repetindo “ah meu Deus” e nos perguntando se era um sonho. Jonghyun ria no banco do motorista.

- Ah Jong, – Anna explicava nossa situação. – ontem mesmo nós estávamos nos perguntando como reencontrar o SHINee, e daí a Sun nos apronta essa e você aparece na nossa frente, é meio louco, mas legal.

- Não dá para descuidar da Sunie por um minuto. – Maggy alisava meu cabelo. – Mas temos que confessar que a baixinha é bem sortuda às vezes.

- Eu quase morro e você chama isso de sorte. – eu ri um pouquinho porque senti que agora minha bochecha que tinha batido no vidro estava doendo.

- Afinal, vocês vieram aqui nos ver? – Jong perguntou.

- É. – Maggy falou.

- Basicamente. – Ann concluiu.

- Então, creio eu que vocês queiram ver os garotos o mais logo possível.

- Seria bom... – sorri.

- Então acho que vocês não recusariam minha proposta. – vi pelo retrovisor o sorriso dele.