Primavera Mentirosa escrita por fosforosmalone


Capítulo 12
O Fim Da Primavera


Notas iniciais do capítulo

Enfim, depois de muito tempo, o ultimo capítulo da fic. Desta vez não teve preview, pois o capítulo já estava longo, e acho que os previews não estavam ajudando muito.
Espero que gostem da conclusão da historia.
Um grande abraço e boa leitura!



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CAMPUS DE NEW SHARON

Uma chuva torrencial cai sobre o campus. Helena Belli está sentada no alto das escadas cobertas do prédio de jornalismo. O local está deserto. A Agente observa os grossos fios dágua que caem no fim da cobertura, enquanto a escuridão da noite começa lentamente a deixar o céu.

Helena já havia passado pela cena do crime no prédio de cinema. Deu graças a deus de não ter encontrado Sage lá. Após coletar os dados que julgava necessários, Belli se retirou discretamente. A moça sabia que a universidade já estaria cercada por repórteres e jornalistas. Ela não tinha vontade nenhuma de evitar a imprensa neste momento, mas precisava ficar sozinha. Andou até encontrar um lugar sossegado, e ali ficou.

Helena já esta sentada na escada há vinte minutos, quando ela percebe a presença de alguém atrás dela. Ao se virar, a mulher vê Sage olhando-a cautelosamente.

HELENA

Eu não quero conversar agora.

SAGE

Pois eu vou ter que insistir. Eu sei como esta se sentindo. Mas nós fizemos uma escolha, e...

A agente se levanta, com a raiva faiscando nos olhos.

HELENA

E por causa dessa escolha, duas pessoas estão mortas!

SAGE

Se quiser pegar um rato como Jack, às vezes você tem que entrar no esgoto e se sujar! (Diz elevando a voz)

Helena sente toda a raiva pela frieza que Sage vinha demonstrando explodir de uma só vez.

HELENA

Não só não pegamos Jack, como também uma garota inocente morreu por que nós não avisamos que um desgraçado queria enfiar uma faca nela! Que espécie de monstro é você?! Não sente nada com isso?!

SAGE

Eu só estou usando a razão. Coisa que você deveria fazer também!

HELENA

Se eu usasse menos a razão e mais a emoção, Isadora Thompson talvez estivesse viva!

SAGE

Talvez. E você e eu vamos ter que viver com essa dúvida. Mas perceba que dessa vez, ele matou alguém fora do seu padrão. Otto Todd morreu por que estava no caminho. Não foi um assassinato planejado como o de Nick. E não foi um caso de extrema necessidade. Todd foi esfaqueado pelas costas. Ao perceber que Isadora estava acompanhada, Jack poderia ter ido embora, e esperado um momento mais propicio para atacá-la, mas não.

HELENA

O que quer dizer?

SAGE

Quero dizer que Jack esta evoluindo. Sua vontade de matar esta descontrolada. Por isso agiu com menos cuidado do que das vezes anteriores. Quero dizer que ele iria tentar matar alguém de qualquer forma. E você lamentaria por não usar a vantagem que tínhamos sobre ele.

HELENA

Quer saber o que eu acho? Você não liga pra essas garotas! Tudo o que o grande Frank Sage quer é mais um troféu na sua maldita coleção!

Helena dá um empurrão no ombro de Sage, e passa por ele, entrando na chuva.

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

Stewart lembra-se de ter voltado ao corredor, e ver o garoto sair do centro cirúrgico. A expressão no rosto dele dizia tudo. George já havia visto aquele olhar vezes demais. O Agente Stewart deu suas condolências ao rapaz, mas tudo o que o jovem fez, foi pedir dez minutos para que pudesse se recompor, e depois estaria pronto para o interrogatório.

O rapaz foi interrogado, enquanto uma enfermeira examinava o corte causado por Jack. Ao fim do interrogatório, George perguntou se Bruce não queria conversar com a psicóloga do hospital, mas o jovem negou veemente, pedindo apenas para ser levado ao seu dormitório.

QUARTO DE BRUCE

Bruce esta de pé diante de seu computador, com uma xícara de café na mão. No monitor, estão separados em telas diferentes artigos de jornais sobre os assassinatos de Tina, Kelly, Megan e Nick. O rapaz toma mais um gole de café, mas já não é mais uma experiência prazerosa. O paladar reclama, e sua cabeça já começa a doer pelo excesso de cafeína.

Ela disse Tony. Que Tony? Pelo que ele sabia, o único Tony que ambos conheciam era Tony Stevenson. O rapaz omitiu de Stewart que Isadora havia mencionado aquele nome. Ele já não confiava mais no FBI. Não depois que falharam em proteger Isa do maldito assassino.

DELEGACIA DE NEW SHARON: SALA DE REUNIÕES

Helena e George se encontram numa longa mesa de mogno. Na ponta da mesa, há um monitor onde se vê a figura de Mark Tucci, diretor do FBI em Connecticut. Tucci. O diretor se dirige com falsa tranquilidade aos seus comandados.

TUCCI

Talvez vocês dois queiram nos dizer por que não compartilharam informações vitais a respeito do criminoso.

George olha constrangido para o monitor. Ele faz menção de falar, mas Helena o interrompe.

HELENA

O Agente Stewart só foi informado poucas horas antes do ocorrido. Eu sou a única responsável.

TUCCI

Você e o Sr. Sage, Agente Belli. Eu já dispensei os serviços dele como consultor. Você e ele estão desligados desta investigação. Você também esta suspensa. Sua permanência no bureau será julgada daqui a um mês. Até lá, deve entregar a sua arma e o distintivo.

GEORGE

Isto é um absurdo! Não é justo que a Agente Belli pague por tudo sozinha!

TUCCI

Stewart, não questione as minhas decisões! Apesar de suas falhas, eu não quero ter que explicar por que tive que suspender dois dos meus agentes, mas farei isso se necessário!

Helena levanta-se, e censura George com o olhar, impedindo que ele continuasse a protestar.

HELENA

Eu entendo e acato a decisão, Senhor (Diz com firmeza).

George levanta-se, ficando de frente para a amiga, que lhe entrega a arma e o distintivo. Sem que qualquer temor ou vergonha no rosto, Helena deixa a sala.

George senta-se, sentindo-se derrotado. No monitor, Tucci o encara com reprovação. Stewart sabe que o chefe esta esperando as considerações das investigações preliminares do último crime. O homem respira fundo, e começa a falar.

GEORGE

Os crimes ocorreram antes do toque de recolher. Conseguimos uma imagem do criminoso graças ao circuito interno de TV do prédio. Mas ainda não conseguimos identifica-lo por causa do disfarce que ele usava.

QUARTO DE JUDY

Bruce bateu freneticamente na porta de Judy até ela o atender, visivelmente de mau humor por ter sido acordada. O rapaz disse que precisava falar urgentemente com ela, e algo na expressão dele deve ter apagado toda a irritação de Judy. Ao entrar, o estudante foi direto ao assunto.

BRUCE

Eu não tenho muito tempo, então desculpe pelo jeito que eu vou te contar. A Isa... Ela...

Por um momento, ela parece não entender. Mas então, o horror toma o rosto da moça.

JUDY

O que aconteceu?! Tem alguma coisa a ver com... Com a névoa de ontem?

Bruce confirma com a cabeça. Judy recua, caindo sentada em uma cadeira. Há total incredulidade no rosto da moça. O rapaz coloca as mãos nos ombros da amiga, fazendo-a olhar para ele.

BRUCE

A Isa tava no prédio de cinema quando aconteceu. Tem ideia do que ela fazia lá?

Lagrimas surgem nos olhos da garota. Ela olha confusa para Bruce, sem saber o que responder.

BRUCE

Pensa Judy! A Isa não disse ou fez alguma coisa que pode nos dizer o que ela fazia lá?

Uma lembrança parece iluminar o rosto da estudante. Ela então conta a Bruce sobre o episodio envolvendo a câmera de Kelly, e sobre como Isadora ficou estranha após recebê-la.

Bruce reflete sobre o que Judy acabou de lhe contar. Estaria Isadora procurando algum arquivo de Kelly na sala de edição? Mas por quê? A resposta então surge na mente do rapaz ao recordar das constantes reclamações de Nick sobre a mania de Kelly de gravar coisas inúteis.

Bruce acredita que devido á precisão dos ataques, o maníaco deve observar suas vítimas. O rapaz anotou isso em seus arquivos. Arquivos esses que Isadora leu. Isa pensara a mesma coisa que ele estava pensando agora. Jack aparecia naquelas imagens.

APARTAMENTO DE FRANK SAGE

Frank empurra com fúria a mesa onde se encontram os documentos estudados por ele e Helena no dia anterior. O móvel cai com estardalhaço, abrindo as gavetas e espalhando documentos e material de escritórios pelo chão.

Frank senta-se no chão, surpreso com a própria reação. Sentia como se uma dura verdade tivesse sido jogada em sua cara. Não podia impedir que Jack Calcanhar De Mola matasse, não importa por quais regras jogasse. Sage sabe que o assassino vai matar de novo. A morte de Isadora não teve gloria, e Jack não terminaria a primavera sem um grande final.

Frank vê a ficha de Helena no chão. A ficha que ele obteve cobrando velhos favores no bureau assim que soube que ela havia sido designada para o caso Calcanhar De Mola. Uma agente com um futuro brilhante, que provavelmente teve a sua carreira destruída por ele. Sage pega a ficha, e começa a folhea-la carinhosamente. Mas ao ler alguns dos dados, o veterano tem um estalo.

O velho levanta-se eufórico, põe a mesa no lugar, corre para a sua pequena biblioteca, e retira da estante um livro intitulado Os Crimes Da Primavera Vermelha.

RESTAURANTE DO HOTEL

Quando entrou no saguão do hotel, Helena sentiu-se reconfortada ao ver Tony lhe esperando sentado em um sofá no saguão do hotel. Tony disse estar preocupado com ela, já que ela não atendeu suas ligações. A agente tentou dispensa-lo, mas não pôde recusar o convite de almoço. Neste momento, ambos estão comendo em uma mesa do restaurante.

TONY

Você não tinha como prever quem ele atacaria. Há multas alunas naquele campus.

HELENA

Em breve não deve haver mais Mesmo que alguns alunos queiram ficar, o Reitor vai suspender as aulas por tempo indeterminado.

O garçom traz um suco de uva para Helena e um suco de limão para o homem. Tony bebe um gole do suco, mas imediatamente o cospe fora, abafando um gemido de dor. Ele limpa a boca com o guardanapo, ainda sentindo a língua e as gengivas arderem.

TONY

Desculpe o vexame. É que estou com uma afta terrível.

HELENA

Você não parecia incomodado enquanto comia (Diz olhando-o com estranhamento).

TONY

Por que esse tom desconfiado? (Diz entre um riso nervoso).

HELENA

Eu costumo saber quando alguém esta escondendo alguma coisa.

Helena baixa o copo, lançando um olhar duro para Tony. Ele então fala com certo receio.

TONY

Jack voltou a me ameaçar. Há quatro dias ele esteve na minha sogra. E... Deixou uma coisa no armário do meu filho. Um pacote com... Com dois olhos humanos dentro.

HELENA

Os olhos de Megan! Só podem ser! O que você fez com eles? (Pergunta ansiosa).

TONY

Eu... Os guardei num lugar seguro. Não quero ser pego com aquelas... Coisas.

HELENA

Você disse que isso já faz quatro dias. Por que não me contou?!

TONY

Tinha outro bilhete ameaçando o meu filho! Dessa vez resolvi levar á serio!

Ouve-se um chiado. Ele retira um bip do bolso, e olha no visor.

TONY

É uma chamada urgente do jornal. Eu tenho que ir.

Ele se levanta, e sai, deixando Helena pensativa na mesa.

QUARTO DE BRUCE

A TV esta ligada, mas Bruce mal presta atenção. Um nome ecoa em sua mente, Tony Stevenson. Bruce o conheceu no dia em que Megan deu o álibi para Nick. Poucos dias depois, Megan foi morta. Ele reencontrou Stevenson no dia em que Isadora o questionou sobre o pen drive. E pelo que a namorada contou, não foi á primeira vez que o jornalista á incomodava.

Isadora disse o nome de Tony enquanto morria. Alguém que estudou em New Sharon durante a primeira onda de assassinatos. Um homem que atualmente era jornalista e tinha a desculpa perfeita para circular pelo campus.

Bruce tem a atenção atraída ao ouvir o nome New Sharon. Na tela, vê-se a imagem de uma bela repórter.

REPÓRTER

Nem todos concordam com a decisão do Reitor de suspender as aulas, e nem com o prazo de cinco dias dado por ele para os habitantes do campus deixarem suas instalações antes do fechamento provisório. Recentemente, o movimento estudantil tomou um dos prédios universitários em represália á presença da polícia no campus, e a prisão de dois estudantes por porte de drogas. Ontem a noite ocorreu um confronto entre a polícia e os estudantes protestantes. Tanto a universidade quanto a prefeitura de New London alegaram que não pretendem processar os alunos. Mas o líder do movimento estudantil não foi tão amistoso.

A imagem muda para Ed Chase, falando furiosamente.

ED

Exigimos que as acusações feitas aos nossos colegas sejam retiradas. E também não pretendemos entregar o campus pra um psicopata, como essa reitoria covarde quer que seja feito. Esse assassino tem contas a acertar com New Sharon!

O jovem escuta um sinal no computador. O pedido que ele havia feito à biblioteca virtual da universidade havia chegado. O rapaz senta-se diante do computador, e abre o arquivo. Trata-se de uma monografia intitulada A trajetória do ensino: a detalhada historia de New Sharon. Pesquisa realizada por Tony Stevenson.

CASA DE TONY STEVENSON.

Frank, e um velho colega, Rupert, estão em frente à porta dos fundos da casa de Tony Stevenso. Rupert tira do bolso uma pequena chave eletrônica que lembra uma chave de fenda transparente, e a coloca cuidadosamente na fechadura. Rupert sorri quando o objeto emite um chiado, sinalizando que a casa não possui alarme eletrônico.

ESCRITÓRIO DE TONY

Rupert está sentado em frente ao computador, iniciando a máquina. Sage esta de pé atrás dele. Na tela do computador, surge um painel pedindo a senha. Rupert retira um Pen Drive do bolso, e o coloca na CPU. Vários caracteres passam pela barra de senha em grande velocidade. Ouve-se o típico som celestial dos computadores, e a área de trabalho de Tony é aberta na tela.

RUPERT

O que estamos procurando?

SAGE

Algo que ele deixou pra nós. Comece pela pasta pessoal dele. Ele deve ter uma.

Rupert move o cursor até o ícone das pastas, e ao encontrar uma pasta nomeada Tony, clica sobre ela, e começa a digitar furiosamente no teclado.

RUPERT

Pensei que não acreditasse que esses doidos quisessem ser pegos (Diz sem desviar os olhos do computador).

TONY

Não acredito. Mas toda regra tem uma exceção.

RUPERT

Tudo bem. Supondo que o cara queira ser pego, por que nós iríamos encontrar uma pista no computador dele?

SAGE

Por que Tony é um jornalista. Jornalistas registram coisas.

QUARTO DE HELENA

Helena está sentada na cama. A agente usando calça preta e blusa social branca. Tendo o celular na mão, ela faz uma ligação, e leva o aparelho ao ouvido.

HELENA

Sr. Wilcheck, aqui quem fala é Helena Belli. Frank Sage deve ter lhe falado de mim.

WILCHECK

Falou sim. Como posso ajuda-la, Agente Belli?

HELENA

Há quatro dias, houve movimento estranho na casa onde Valerie e Josh Stevenson estão instalados?

Ela ouve o som de um porta luvas abrindo. Segundos depois, Wilcheck esta de volta.

WILCHECK

Nada de anormal. A única visita que a casa recebeu fora da rotina foi a do ex marido da Sra. Stevenson.

HELENA

Existe a possibilidade de um estranho ter furado a vigilância, e entrado na casa?

WILCHECK

Não. É uma casa pequena, e eu e mais dois bons homens estamos vigiando todas as entradas.

Helena desliga o celular, ficando pensativa por um momento. Ela abre a sua mala, e após pegar uma tesoura sobre a cômoda, rasga o forro da mala. Ela enfia a mão no rasgo feito pela lâmina da tesoura, e puxa uma pistola prateada.

CASA DE TONY

A dupla de invasores vasculhou toda a pasta pessoal de Tony, mas ainda não haviam encontrado nada que ligasse o jornalista ao serial killer. Neste instante o celular de Frank toca, e ele atende rapidamente. É Ken Wilcheck, que cumprindo a ordem de manter o amigo sempre informado, diz que Helena ligou. Wilcheck conta exatamente o que contou a Belli. Frank escuta tudo em silencio. Por que Helena estava interessada naquele dia? Ele poderia ligar pra ela, mas imaginava que a ultima coisa que a morena iria querer no momento era falar com ele. Mas não importava. Ela parecia estar seguindo sua própria trilha, e essa trilha a levou a Tony.

NEW SHARON: MONUMENTO DA GUERRA CÍVIL

Tony esta ao lado de dois enormes canhões usados durante a Guerra Civil. O dia aos poucos abandona o céu. O fato de saber que mais uma moça irá cair diante da sede se sangue de Jack, fazia Tony tremer, mas isso manteria a mãe de seu filho segura. Entretanto, isso não o fazia sentir-se melhor em relação ao que houve com Isadora Thompson. Especialmente agora que ia se encontrar com o namorado da garota.

Bruce ligara para o jornal pedindo para encontra-lo ali. Ele disse ao redator que estava disposto a dar uma declaração. Mas Graham já esta vinte minutos atrasado.

Um arrepio passa pelo corpo de Tony quando ele sente a temperatura mudar. Uma voz ecoa na mente do jornalista: Chega de esperar! O moleque se acovardou. Vamos embora. Esta anoitecendo, e há muito para fazer.

CARRO DE TONY

Tony admira um pequeno frasco de um liquido transparente, e sorri. Ainda sorrindo, o jornalista pega uma pequena caixinha e a sacode. Quando ele á esta abrindo, o seu celular toca. Tony joga a caixa no banco do carona, e surpreende-se ao ver o nome de Helena no identificador.

TONY

Oi Helena. Estava mesmo pensando em te ligar.

HELENA

Mesmo? Pra que?

TONY

Preciso contar algo. Estou na universidade, como alias, todos os jornalistas da cidade.

HELENA

Eu estou indo pra ai agora. Quer conversar?

TONY

Claro. Mas precisa ser em um local reservado. Que tal aquele ginásio em construção?

HELENA

Tudo bem. Você já salvou minha vida lá, lembra?

CONSTRUÇÃO ABANDONADA

Tony carregando uma pasta de arquivo anda pela poeirenta construção destinada a ser o novo centro esportivo do Campus. As únicas fontes de iluminação são a luz que provém dos gigantescos postes e algumas lâmpadas de serviço, que emanam uma luz mortiça. Normalmente o lugar estaria melhor iluminado, mas o nevoeiro bloqueando os raios de luz aumentam as sombras sobre o local.

O jornalista usa um sobretudo marrom, e olha cautelosamente para os lados. Ao se virar, ele se sobressalta ao ver Helena parada a alguns metros de onde ele está.

TONY

Quase me matou de susto! (Diz sobressaltado).

HELENA

. O que tem pra mim? (Diz seca)

TONY

Bruce Graham telefonou para o meu jornal. Marcou um encontro, mas não apareceu. Achei suspeito, por isso reuni algumas informações sobre ele. Dê uma olhada.

O jornalista estica a pasta para Helena. No momento em que pega a pasta, a agente sente o dedo de Tony sobre as costas de sua mão, para em seguida sentir um forte arranhão na pele. Ela rapidamente puxa o braço de volta, e verifica um minúsculo corte nas costas de sua mão.Tony olha envergonhado para a própria mão, e retira o anel que usa no dedo indicador.

TONY

Desculpe. Foi essa droga de anel.

HELENA

Esquece.

Ela folheia rapidamente a pasta que Tony lhe deu e diz rispidamente.

HELENA

Não há nada que eu não saiba sobre Bruce Graham nesses documentos. Me chamou só por isso?

Tony parece ofendido pela reação da agente. Ela respira fundo.

HELENA

Me desculpe. Eu sei que temos um acordo. Eu te atualizo, e vice versa. Infelizmente, não tenho nada de novo pra contar também. Tudo já foi divulgado. A causa da morte de Isadora, a aparência do disfarce de Jack, o spray de pimenta que a garota usou nele.

TONY

Tudo bem. Acho que estamos sem novidades (Diz com um fraco sorriso)

Subitamente, Helena puxa sua pistola, e a aponta para Tony, distanciando-se alguns passos.

HELENA

Nunca divulgamos o fato de Isadora ter usado spray de pimenta no assassino!

TONY

O que esta fazendo? Abaixe essa arma! (Diz com pânico na voz)

HELENA

Encontramos traços do spray no vidro quebrado. Acho que ela usou no Jack. Em você!

TONY

Isso é loucura! Esse assassino ameaçou a minha família!

HELENA

Um bom despiste. Você me enganou direitinho. Mas foi longe demais hoje á tarde quando me contou sobre os olhos de Megan. Mas você foi o único estranho que entrou lá! Por que Jack seria tão complacente com você á ponto de lhe dar um segundo aviso, hein?

Helena sente a raiva borbulhar dentro de si ao ver a expressão confusa e assustada de Tony transformar-se em um sorriso irônico, que explode em uma gargalhada cruel. A voz que a agente escuta quando o homem volta a falar não é a de Tony, mas sim uma voz que ela havia escutado uma única vez durante um telefonema. A voz de Jack Calcanhar De Mola.

JACK

Quando começou a desconfiar do pobre Tony?

HELENA

Hoje no almoço, quando você queimou a boca com o suco de limão. Achei loucura na hora, mas lembrei que levam horas para os efeitos do spray de pimenta sumir completamente, e que a língua e a gengiva ficam extremamente sensíveis a substancias ácidas nesse período. A máscara do assassino protegia os olhos, mas não a boca.

Depois de tudo o que passou, ela enfim o havia pegado. Mas agora, não tinha certeza se queria mesmo entrega-lo. Não tinha certeza se não queria acabar com o desgraçado ali mesmo.

HELENA

Você causou sofrimento a muita gente, Tony (Diz com amargura)

JACK

Tony não matou as vadias! Não do meu ponto de vista. Eu matei! Não aquele covarde!

Ela o olha sem entender, e não percebe que a mão que segura a pistola treme levemente.

JACK

Tony me enterrou por dez longos anos, mas esta noite, eu é que vou enterra-lo.

Então, a agente tem a sensação de ter tido o braço atingido por um choque elétrico. O braço de Helena treme violentamente, fazendo com que ela solte a arma. Jack apenas a observa. A morena olha para o arranhão nas costas de sua mão, e no segundo seguinte sente uma nova onda de choque, que desta vez se espalha por todo o seu corpo. Antes que perceba, esta no chão, sentindo o corpo tremer, como se sofresse de uma câimbra geral, incapaz de se mover.

JACK

A neurotoxina é cara, e leva um tempo pra fazer efeito. Mas parece funcionar bem.

Helena tenta falar, mas não consegue. Ela vê Jack se aproximar, enquanto tudo ao seu redor escurece.

CONSTRUÇÃO ABANDONADA: MINUTOS DEPOIS

Jack segura a arma de Helena na mão. Ele aciona e destrava a trava de segurança da pistola repetidas vezes, olhando para a arma como uma criança olha para um brinquedo novo. Ao ouvir um ruído as suas costas, o assassino se vira, e percebe satisfeito que sua vítima acordou.

Helena tem uma corda amarrada á seus pulsos, que presa há uma viga de madeira no teto, á mantém suspensa alguns centímetros do chão. Ainda há uma fita cobrindo a boca da mulher.

Ao que tudo indica, continuava no mesmo local em que fora derrubada. A viga de madeira á que está amarrada parece velha e carcomida. Poderia até se partir com a força certa. Mas a agente sabe que sem um ponto fixo para exercer esta força, era improvável que acontecesse.

A agente vê o maníaco se aproximar, e retirar a faca da cintura. Ele envolve o corpo dela com o braço, e encosta a ponta da faca entre os seios e o pescoço de Helena.

JACK

Helena Belli, a filha da empregada que cresceu com a filha da patroa. Helena e Adelie, duas irmãs de coração. Mas então Adelie morre. E o que você faz?

Jack pressiona levemente a faca sobre a pele da agente.

JACK

Você se forma em direito, só pra poder entrar pro FBI, se tornar uma competente agente federal, para enfim me encontrar. Bem, finalmente conseguiu o que queria. estou aqui. Como se sente?

A agente sente uma dor aguda no peito quando a ponta da faca de Jack perfurar a sua pele. Uma gota de sangue escorre do pequeno ferimento, maculando o branco da blusa que Helena usa. Entretanto, a morena mantém o olhar de desprezo para o seu captor.

JACK

Certamente você não se sente como a sua irmã quando me encontrou.

Jack a solta, e tira a ponta da faca do peito dela, afastando-se em seguida.

JACK

Você é diferente das outras. A sua morte vai me tornar livre de verdade, entende?

O maníaco dá um tapa na própria cabeça.

JACK

É claro que não entende. Você deve ter um monte de perguntas pra fazer antes do fim.

Jack volta a se aproximar, e num movimento rápido, arranca a fita da boca da agente.

HELENA

Eu sou a vítima que fecha o ciclo. Eu sempre fui, não é? (Diz um pouco ofegante)

JACK

No começo, eu fiz Tony se aproximar de você só para obter informações das investigação. Mas então eu chequei a sua vida, e quando descobri que você se encaixava no ridículo esquema que tive que inventar para continuar existindo, fiquei exultante! Eu só posso quebrar o esquema através do próprio esquema. É irônico, não?

HELENA

Você quer matar alguém que pertence ao curso da sua lista, mas que não estuda em New Sharon. Mas por que já não fez isso antes? E por que eu?

JACK

Não podia ser qualquer um. O esquema tinha a função de impedir que isso acontecesse. Para o meu plano dar certo, precisa ser alguém por quem Tony tenha afeição. Ele pode ainda não ama-la, mas gosta bastante de você. E você também gosta dele. Mas não foi por isso que transou com a gente, não foi?

Pela primeira vez naquela noite, Jack vê angustia genuína nos olhos de sua prisioneira.

JACK

Tony e eu não compartilhamos muita coisa, mas uma mulher como você...

Ele assobia indecentemente e aproxima o rosto do dela novamente, falando ao seu ouvido.

JACK

Você olhou para Tony, mas no seu intimo, viu Jack Calcanhar De Mola. E gostou.

Ele espera ouvir gritos, negativas, ou mesmo o silêncio. Mas não a risada crescente que ouviu.

HELENA

Eu não acredito! O bicho papão de New Sharon não é diferente de qualquer outro babaca assassino que já apareceu por ai. Um homenzinho patético que pensa que o mundo gira ao seu redor. Acha mesmo que eu me tornei o que sou hoje por sua causa? Por favor!

JACK

Você está blefando. Não vai funcionar (Diz repentinamente sério).

HELENA

Funcionou naquela noite. Foi o pior sexo da minha vida. Mas o que esperar de um sujeito com a mente dividida?

O assassino avança na direção da agente, e puxa os cabelos dela para trás. Helena sente a lamina se mover em sua garganta. Mas ele simplesmente desliza a faca até a gola da blusa da agente.

JACK

Talvez, antes do grande final, você e eu possamos nos divertir um pouco.

A agente reúne todas as suas forças e cabeceia o rosto de Jack, fazendo-o recuar. Aproveitando o atordoamento do homem, ela chuta a mão que segura a faca, fazendo-a voar para longe. Antes que Jack tenha tempo de reagir, Helena balança-se nas cordas, primeiramente se afastando de seu algoz, para em seguida ganhar impulso e envolver o pescoço do psicopata com suas pernas.

A fúria estampa o rosto do assassino, enquanto ele tenta se livrar das pernas da agente, que se fecharam sob o seu pescoço como uma tesoura. Helena sente a coluna e os pulsos protestarem, á medida em que ela tenta manter-se suspensa pelos braços, enquanto o peso de suas pernas é usado para sufocar Jack.

Com as mãos sobre os joelhos da agente, o assassino tenta afastar os membros que lhe sufocam. Sem obter sucesso, o psicopata á puxa enquanto anda de costas. Belli tem a sensação de que suas mãos e pernas vão ser arrancadas. Ao olhar pra cima, a agente quase consegue sorrir ao ver uma lasca ser atirada para longe no momento em que a viga trinca.

O assassino não percebe, e continua a tentar se livrar das pernas da agente. Ignorando a dor, Ela tenta içar o corpo acima dos pulsos. A viga não resiste á mudança de peso, e se parte com estardalhaço. Jack é jogado para trás, e cai, batendo a cabeça contra o chão de concreto.

Helena se pôs de joelhos, sentindo os pulsos latejarem. Ela olha ao redor, e vê Jack caído de costas no chão, murmurando algo. A agente olha para os pulsos amarrados. O nó dado por seu algoz parece simples. A morena aproxima os pulsos da boca, e morde a corda.

Não é uma experiência agradável. A agente sente o gosto férreo de sangue na boca quando farpas perfuram a sua língua e a sua gengiva. Na academia do FBI, ela aprendeu a reconhecer e desatar nós. Helena sabe exatamente quais elos deve desfazer para desatar o nó. Com o tempo correndo e sem nenhum objeto cortante para utilizar, sua única opção são seus próprios dentes.

Jack levanta-se, e vê a agente puxando com os dentes a corda que lhe prende os pulsos. Ele olha ao redor, e logo localiza a sua faca. Cambaleando como um bêbado, o assassino recolhe a faca, para em seguida avançar furiosamente contra a federal.

Helena escuta o seu algoz se aproximando, e começa a correr. Lembrando que o homem estava com a sua arma, a agente quase pôde ver a si mesma caída no chão, com um buraco fumegante nas costas. Este pensamento faz com que ela vire-se a tempo de ver Jack correndo em sua direção, prestes a alcança-la.

A agente vira-se, e com as mãos ainda amarradas, segura o pulso do psicopata no instante em que ele desfere a punhalada. Com a velocidade empregada por Jack, os dois caem rolando no chão, engalfinhados, e antes que percebam, ambos despencam em um buraco no piso.

A agente e o assassino caem sobre uma escada. Mas enquanto o corpo dele rola para fora dos degraus, Helena cai até o final do lance de escadas. Ela fica imóvel por alguns segundos, mas lentamente, a mulher mexe os braços, apoiando as mãos no degrau.

Olhando para os pulsos amarrados, a agente percebe que as cordas estão prestes a ceder. Helena começa a raspa-las contra o degrau de concreto, e segundos depois, os elos da corda se rompem.

Helena livra-se das cordas, separando as mãos. Dois enormes hematomas circulam os pulsos da agente. Belli se põe de pé, e olha para o teto, localizando o buraco por onde caiu. Havia despencado somente um andar. Ainda assim, tinha sorte de não estar com o pescoço quebrado.

Ela dá alguns passos, olhando ao redor, á procura de algum sinal de Jack. Aquele ambiente tem basicamente a mesma iluminação do andar onde fora amarrada. Ao procurar uma saída, a agente vê algo que faz seu coração pular. Caída a alguns metros no chão, está a sua pistola. Ela começa a andar em direção a sua arma, mas ao passar por um pilar, sente um braço envolver o seu pescoço, e começar a aperta-lo. É Jack, que aplica uma gravata na agente federal.

A morena sente o ar lhe faltar, á medida em que o assassino intensifica o aperto. Ela aplica duas cotoveladas no estomago de seu oponente, fortes o bastante para aliviar a gravata. A agente aproveita o momento para agarrar o braço de Jack, e atira-lo para frente, Ao fazer isso, a mulher ouve o próprio ombro estalar, mas só sente a adrenalina correndo pelo seu corpo.

Jack bate com força contra um dos pilares de andar. O homem tenta se levantar, mas é atingido no rosto por um pontapé da agente federal. Ela tenta dar-lhe um segundo ponta pé, mas o homem agarra a perna dela no ar e a puxa, fazendo-a mulher no chão.

Jack limpa o sangue que agora escorre de seu nariz, e ao olhar para o lado, vê algo que acende um sorriso maligno em seu rosto. Trata-se de sua faca, perdida quando caiu pelo buraco do piso. O maníaco rasteja até a faca, e ao agarrar o cabo do objeto, sente suas energias renovadas.

O homem levanta-se com a faca na mão. Helena continua no chão. Ele avança contra ela, mas é surpreendido ao ver que a agente tem uma barra de ferro nas mãos, mais um dos resquícios da obra inacabada. A mulher golpeia o braço do assassino, que grita de dor, e deixa a faca cair.

Helena levanta-se com a barra de ferro nas mãos. Ela tenta acertar a cabeça do assassino, mas Jack se abaixa, evitando o golpe. O homem então investe contra a agente, que é prensada contra outro pilar, e sem forças, deixa o ferro cair. O psicopata lhe dá uma bofetada, que a derruba. Entretanto, o próprio Jack parece perder a força nas pernas, e também cai no chão.

A agente volta a sentir o corpo inteiro doer. Parte dela só quer apagar de vez, para se livrar de toda a dor e medo que a aflige. Mas outra parte insiste em lutar. Ao ver sua pistola há menos de dois metros, Helena resolve dar ouvidos a segunda parte de seu ser, e começa a rastejar em direção a arma.

Atrás dela, Jack se levanta com dificuldade. A mulher o ignora, e continua a rastejar em direção a pistola. O homem anda mancando até onde ela está, e pisa com força nas costas da agente, que geme de dor. Reunindo suas ultimas forças, Helena fecha suas pernas em torno dos calcanhares de Jack, e gira o corpo, o derrubando. A agente volta a rastejar, e enfim consegue por as mãos em sua arma. Sem perder tempo, ela gira o corpo, e aponta diretamente para o criminoso.

Jack levanta-se com dificuldade, observando a agente ofegante, que lhe aponta a arma com ódio no olhar. Helena também se levanta, sem tirar os olhos do maníaco. Neste momento, os dois escutam o som de passos ecoando pelo local.

Jack vira-se surpreso em ver Frank surgir das sombras. Helena, entretanto, não parece surpresa.

SAGE

Helena, é isso mesmo o que você quer?

Helena continua a apontar a arma para Jack. Poderia matá-lo agora mesmo. Mas...

HELENA

Não. Seria rápido demais. Eu quero que esse doente seja levado á justiça. (Diz olhando para Jack com desprezo).

JACK

Muito bem! Me prendam! Mas eu venci. Tony está morto. Enfim, esta mente e este corpo são meus! (Grita ensandecidamente).

SAGE

Eu não teria tanta certeza.

Frank tira uma folha amassada do sobretudo, e começa a lê-la.

SAGE

"Ontem a noite uma jovem foi morta em New Sharon. Foi encontrada esta manhã sobre um monte de neve que começava a derreter-se. Valerie quer saber onde eu estive. Não posso dizer por que não me recordo. Enquanto escrevo, posso ouvir minha mulher chorando em nosso quarto. Ela acha que estive com uma mulher ontem á noite. E meu deus do céu, eu também acho que estive."

JACK

Onde diabos encontrou isso? (Pergunta com raiva na voz).

SAGE

Na lixeira do seu computador. Levei quatro horas pra encontrar, mas valeu a pena. É um trecho da matéria sobre a morte de Tina Becker que Tony descartou. Eu acho que vocês dois têm uma consciência. E diferente de você, uma consciencia que aceita que é Tony Stevenson. Você é um tolo se acha que pode lutar contra algo assim.

HELENA

Hora de entregar esse lixo. Trouxe algemas? Eu perdi as minhas (Diz baixando a guarda).

Frank tira um par de algemas do sobretudo, e começa a se aproximar de Jack. Mas em uma velocidade impressionante, Jack enfia a mão dentro de seu sobretudo, e retira de um bolso interno uma pequena pistola, que é apontada para Helena. Antes que ela possa levantar sua arma, o assassino dispara. Frank empurra a agente, sendo atingido em seu lugar.

A bala perfura a coxa de Frank, que caí no chão com um grito de dor. Instintivamente, Helena abaixa-se ao lado do veterano, enquanto Jack começa a correr em um avanço cambaleante. Ao ver que o ferimento de Sage não foi fatal, a morena ergue a sua arma, e efetua vários disparos. Mas o alvo tem a proteção de alguns pilares, e só é atingido de raspão no braço.

Helena olha para a perna de Frank, e percebe que uma boa quantidade de sangue esta escorrendo do ferimento.

HELENA

Acho que a bala atingiu a sua artéria femoral!

Ela rasga um pedaço da própria manga, e coloca sobre o ferimento, comprimindo-o com força.

SAGE

O que esta fazendo? Ele vai fugir!

HELENA

Cale a boca, e ligue para uma ambulância! Talvez você deixasse alguém sangrar ate morrer, mas eu não! (Diz comprimindo a ferida com ainda mais força).

LADO DE FORA DO GINÁSIO DE NEW SHARON

Jack corre mancando pelo nevoeiro. Ele conseguiu sair da construção, e agora contorna o velho ginásio do campus. Nada havia saído como ele planejara. Não devia ter subestimado Helena.

Mas ainda podia dar um jeito. Só precisava sair daquela universidade, como já fizera tantas vezes antes. Depois disso, fugiria do estado. Começaria tudo de novo, mas desta vez, a vida seria sua. Tony estava morto. Não importava o que o idiota do Sage dissesse.

No instante em que dobra uma aresta do ginásio, Jack sente suas pernas tropeçarem em algo, e cai no chão, sobre a grama amaciada. Sentindo o corpo dolorido pela briga que tivera com a agente, o assassino se vira só para ver Bruce Graham, que havia esticado a perna para ele tropeçar, e que agora lhe aponta uma pistola.

JACK

O que faz aqui, garoto?

BRUCE

Se lembra da nossa entrevista no monumento da guerra civil? Pois eu estou na sua cola desde então. Ficou mais difícil depois que o nevoeiro começou, mas eu consegui te seguir até aqui.

JACK

O que você quer? Veio vingar a namoradinha?

O modo irônico como o maníaco se refere á Isadora queima nos ouvidos de Bruce.

BRUCE

Você vai morrer esta noite, Tony. Não vai mais machucar mais nenhuma inocente.

JACK

Vai mesmo pra cadeia por causa de uma vadiazinha?

BRUCE

Não ouse falar dela assim! (Grita ele)

Bruce aponta a arma para a cabeça do homem. Jack vê um brilho assassino nos olhos do rapaz, e tem a certeza de que ele ira atirar. O pavor toma conta do homem quando ele ouve um grande estampido. Instintivamente, ele ergue os braços para proteger ao rosto. Mas nenhuma dor se segue ao estampido. Jack baixa os braços, e vê o estudante o encarando com seriedade, enquanto fumaça branca desprende-se do cano da arma para fundir-se ao nevoeiro.

BRUCE

Você precisava ter visto a sua cara! Essas armas de fumaça que o curso de cinema faz pros efeitos especiais são realmente realistas, não concorda? (Diz em tom de deboche).

Ouve-se o som de pessoas gritando ao longe. Mas nenhum dos dois parece dar atenção a isso.

JACK

Eu devia mata-lo por isso!

O rapaz parece divertir-se com a ameaça.

BRUCE

Não seria prudente. Você não tem muito tempo.

Jack percebe os gritos que ecoam no ar. Ao que tudo indicava, uma multidão estava se aproximando. Bruce retira o seu Iphone do bolso, sem tirar os olhos de Jack.

BRUCE

Eu nunca fui fã de redes sociais, mas elas são uteis quando se quer espalhar uma noticia. Todos sabem sobre você. Mandei o seu padrão anonimamente para Ed Chase e muitos outros. Também mandei trechos destacados de sua monógrafa, incluindo a sua pesquisa sobre a cronologia dos surgimentos dos cursos de New Shaton. Tudo isso o coloca como suspeito obvio. Esta longe de ser uma prova conclusiva, mas pra eles é o bastante.

Ele estica o braço, permitindo a Jack ver a tela. Vê-se o mapa do campus com a região marcada.

BRUCE

A propósito, assim que você saiu daquela construção, dei a sua localização a eles.

Enquanto o som da multidão cresce, o assassino sente o impulso de saltar sobre aquele maldito garoto e estrangula-lo. Mas não havia tempo. Ele precisava sair dali.

Jack dá as costas ao rapaz, e corre em direção ao nevoeiro. O assassino desce uma escada que corta uma pequena ladeira gramada, quando uma voz grita de dentro do nevoeiro.

ESTUDANTE

Tem alguém ali! Acho que é ele!

Percebendo estar exposto na escada, o homem salta para a ladeira, e tenta descê-la. Mas sua perna ferida na luta com Helena o impede, e ele tropeça. O assassino rola na grama, até parar na calcada no fim da ladeira. Jack levanta-se, gemendo de dor. Ao erguer a cabeça, ele vê um grupo de cinco estudantes surgirem do nevoeiro. Entre eles, está Ed Chase.

A visão de seus perseguidores dá uma injeção de energia em Jack, que começa a correr pela estrada de asfalto na direção oposta. Mas quase três dezenas de estudantes também surgem daquela direção. Os alunos de New Sharon lembrariam uma horda faminta de zumbis, se não fosse pelo ódio estampado nos olhos de todos.

O grupo avança em direção a Jack, mas ele retira a sua pequena pistola de dentro do bolso, e gira o corpo, apontando para o grupo. A arma estava vazia, pois a única bala havia sido usada, mas o grupo de estudantes não sabia. Justamente por isso todos pararam, olhando temerosos para o assassino.

É então que o homem sente a sua mão tremer, para então erguer-se no ar lentamente, como se tivesse vida própria.

JACK

Tony, não faça isso! (Grita em desespero)

O homem solta a arma, e então, cerca de cinquenta estudantes avançam contra ele como uma matilha de lobos enfurecidos. Ele é derrubado com um soco, e logo desaparece no meio da massa de jovens que parece estar socando, pisando e chutando o mesmo ponto. Os estudantes que estão mais distantes tentam abrir caminho entre os colegas. Todos querem um pedaço de Jack Calcanhar De Mola. Enfim, New Sharon esta acertando as suas contas com o assassino que a aterrorizou.

Neste instante, o Agente Stewart surge acompanhado do Chefe Ferguson, e mais uma dezena de seguranças. Stewart saca a sua arma, e efetua vários disparos para o alto.

Muitos alunos dispersam-se assustados. Ferguson ordena que seus homens deem mais tiros para o alto, dispersando os estudantes que ignoraram os primeiros disparos. George aproxima-se da figura atirada no chão. As pernas e um dos braços de Tony Stevenson estão curvados em ângulos absolutamente bizarros. Uma costela parece ter perfurado o tórax, e salta para fora do corpo, em uma repelente fratura exposta. Um dos olhos do jornalista inchou, e agora está fechado por um pequeno monte de carne. Sangue escorre de sua boca e nariz.

George agacha-se ao seu lado, e constata que o homem ainda respira, pois balbucia algo inaudível. Stewart inclina a cabeça até seu ouvido ficar a milímetros da boca de Tony. Os lábios dele se movem balbuciando. George levanta-se olhando para o homem com certa misericórdia. Tony devolve o olhar, e parece se engasgar. Ele tosse uma grande quantidade de sangue, e então continua a fitar George. Mas o Agente sabe que já não há ninguém por trás daquele olhar. O homem que estava sendo acusado de ser Jack Calcanhar De Molha, esta morto.

HOSPITAL GERAL DE NEW LONDON: HORAS DEPOIS

Os primeiros raios de sol brilham sobre a cidade após o término da chuva que sempre sucede a névoa. Helena esta deitada sobre uma cama hospitalar, com os pulsos enfaixados. Excetuando o visível abatimento e uma mancha vermelha, o rosto da agente saiu praticamente ileso das provações da noite anterior,. O mesmo não pode ser dito do seu corpo, que ficara coberto de cortes e hematomas, pra não mencionar as duas costelas quebradas.

Os noticiários fizeram a festa em cima da reviravolta no caso Calcanhar De Mola. O nome de Tony Stevenson estava em todos os canais, assim como a notícia de seu linchamento. Alguém plantara uma trilha de miolos de pão na internet, conectando Tony a Jack. A tentativa de assassinato a uma agente federal também fora exposta.

Nem a polícia nem o FBI afirmavam que Tony foi Jack Calcanhar De Mola, mas diziam que todos os indícios apontavam para isso. Helena sabe que este era o jeito sutil de dizer á imprensa que Já decidimos que é ele. Só faltam as provas legais. Pelo que Sage havia dito, não seria difícil encontrar tais provas.

HORAS DEPOIS

Vestindo uma muda de roupa que George havia lhe trazido, Helena entra no quarto de Frank. O velho está deitado em uma cama, com um homem um pouco mais jovem sentado ao seu lado. Ao ver a moça, Frank sorri.

SAGE

Helena! Que bom vê-la. Permita-me apresenta-la a Rupert. Foi ele que me ajudou com o computador de Tony. Rupert, esta é Helena Belli.

RUPERT

É bom conhecê-la, Agente Belli. Eu soube que salvou a vida do Frank aqui. Eu deveria ter ido com ele, mas esse teimoso disse que não queria me envolver mais.

HELENA

Eu sei o quanto ele pode ser teimoso (Diz olhando para Frank).

Rupert se despede, e deixa Helena e Frank sozinhos. Ela senta-se na cadeira vazia.

SAGE

Como está?

HELENA

Pra quem foi drogada, amarrada, esfaqueada e espancada, até que eu estou bem.

SAGE

Eles te deram alta?

HELENA

Recomendaram que eu ficasse mais um tempo. Mas se eu ficar mais duas horas neste hospital, vou enlouquecer.

SAGE

Devia se cuidar.

HELENA

Como você cuidou de mim?

A agente coloca a mão no bolso, e retira um objeto circular eletrônico do tamanho de um botão, que é atirado em cima da cama de Frank. O homem revira os olhos para o teto ao ver o aparelho.

HELENA

Achou mesmo que eu não fosse encontrar? Eu achei dentro do meu celular ontem de manhã, depois que eu voltei do campus.

SAGE

Não é o que parece.

HELENA

Você sabia que eu era a próxima vítima do maldito! Eu fui só mais uma isca pra você!

SAGE

Eu não sabia! Eu só descobri na manhã de ontem! Eu juro!

HELENA

Você tem uma chance pra se explicar (Diz fuzilando-o com o olhar).

SAGE

Eu coloquei o rastreador enquanto pesquisávamos as potencias vitimas. Jack atormentou você com o telefonema e a mensagem no carro de Megan. Eu achei que ele quisesse ter você como testemunha dos atos dele. Ou talvez você conseguisse encontra-lo, e devido ao seu envolvimento pessoal, decidisse ir sozinha atrás dele. Eu queria protegê-la. Do assassino, e talvez de você mesma. Eu não tinha noção do perigo que você corria até ontem, quando reli a sua ficha, e vi que você era formada em direito. Imaginei que Jack fosse te matar pra fechar a campanha de assassinatos. Pensei que para pegar alguém como você, ele teria que chegar mais perto do que das outras. A única pessoa que estava tão próxima de você além de mim era...

HELENA

Tony (Completa com amargura)

SAGE

Exato. Foi quando eu percebi uma coisa no livro dele. Não havia um único álibi sequer para nenhum dos quatro crimes de 2001. Não me pareceu o tipo de erro que Jack cometeria, mas também não me pareceu algo que um escritor omitiria ao escrever uma obra sobre os seus dias em uma universidade aterrorizada por um assassino. Era só um palpite, mas que podia dar em alguma coisa. Por isso, fui a casa dele. Eu sabia que se Tony fosse mesmo Jack, encontraria uma pista lá.

HELENA

Por quê?

SAGE

Múltipla personalidade. Jack não cometeria um erro tão grosseiro ao escrever o livro. E se Tony quisesse se entregar, simplesmente o faria. Imaginei que aquele erro fora um ato falho. Uma forma da mente dele mediar as duas personalidades. Parte do subconsciente de Tony sentia culpa pelos assassinatos, mas outra parte nunca se entregaria de bom grado. Essa terceira persona tentava agradar as duas outras. Só não achei que fosse algo tão poderoso a ponto de esconder confissões nos rascunhos das matérias.

HELENA

Por que não me avisou assim que começou a desconfiar dele?

SAGE

Eu queria ter certeza. Mas quando eu tive a confirmação sobre quem Tony era em verdade, você já estava no campus. Tentei te ligar, mas você não respondeu.

Segue-se um momento de silêncio entre eles. Helena olha para as próprias mãos em seu colo, e começa a falar com hesitação.

HELENA

Eu preciso te agradecer. Aquela bala...

SAGE

Não me agradeça. Se eu tivesse te avisado antes, você não teria passado pelo que passou.

Ela não parece escutar o que ele diz. Há sofrimento em suas palavras.

HELENA

Não! Eu deveria ter percebido. Eu deveria...

Frank assusta-se ao perceber que os olhos da morena estão marejados.

HELENA

Eu não queria acreditar que o homem que matou Adelie... Que eu e o homem que matou a minha irmã...

Lagrimas começam a rolar pelo rosto da mulher.

SAGE

Você confiou na pessoa errada. Isso é humano. Condenar-se por isso é tolice!

HELENA

Eu vou ser julgada. E acho que eu já sei o veredicto. Por que é o veredicto que eu daria!

A agente é surpreendida ao sentir a mão de Frank segurar a sua.

SAGE

Você é a melhor Agente que eu vejo em muito tempo. E tem potencial pra se tornar a melhor. Pode se tornar melhor do que eu, inclusive.

Ela solta a sua mão da dele e responde com irritação.

HELENA

Não fala bobagem! Acha que eu sou alguma criança pra ser animada desse jeito?

SAGE

Só estou dizendo o que eu vejo. Você é inteligente, e sagaz. Você tem a coragem pra tomar decisões difíceis, mesmo que elas te machuquem. E o mais importante, você se importa com as pessoas. De um jeito que eu jamais consegui. Alguns podem dizer que essa é a sua fraqueza. Mas eu diria que com uma motivação tão poderosa quanto o bem estar do próximo, essa pode ser sua maior qualidade como profissional.

Helena encara o homem de cabelos grisalhos. Ele parecia sincero sobre tudo o que acabara de dizer. Ela começava a achar que nunca ia entender Frank Sage.

HELENA

Você é um homem estranho, Frank.

SAGE

Eu sou velho. Acho que tenho esse direito (Diz sorrindo).

HELENA

Eu vou indo. Cuide dessa perna (Diz levantando-se e limpando as lagrimas do rosto).

SAGE

Eu espero que possa me perdoar. Por tudo.

Ela vira-se para ele. Mas não há mais o ar sábio e um pouco arrogante que costuma cerca-lo. O que Helena Belli vê agora no rosto do velho é tristeza e cansaço.

HELENA

Manteremos contato. Melhoras pra você.

A morena vai embora, deixando a porta aberta. Frank sorri.

SAGE

Obrigado.

CAMPUS DE NEW LONDON

Uma semana havia se passado desde a noite em que os alunos mataram Jack. O Reitor revogou o fechamento do campus, mas as aulas foram suspensas, e mesmo com o assassino morto, o toque de recolher continuava vigente.

É uma manhã fria e cinzenta em New Sharon. Os meteorologistas haviam declarado o fim da primavera vermelha, e o frio do inverno parecia querer compensar o tempo perdido agora que a estação está no fim.

Graham encontra-se na sala de jogos do prédio dos dormitórios. O rapaz contempla uma mesa de bilhar, com as bolas coloridas espalhadas. Após alguns segundos, Bruce se posiciona e dá uma tacada. A bola atingida acerta outra em cheio, a encaçapando. O estudante contorna a mesa, e prepara-se para uma nova tacada, quando ouve o som ritmado de algo batendo contra o piso.

Frank entra na sala de jogos. O homem está mancando, e anda com a ajuda de uma bengala.

BRUCE

O que ainda quer comigo? (Diz olhando desconfiado para Frank).

SAGE

Conversar. Até pensei em terminar o nosso jogo, mas não estou nas melhores condições.

Sage dá uma pequena batida com a ponta da bengala em seu sapato, indicando a perna ferida.

BRUCE

Por que não pulamos as insinuações e vamos direto ao ponto? (Diz com aspereza).

Frank não parece abalar-se pelo tratamento rude que recebe, e continua calmamente.

SAGE

Lamento muito pelo que houve com Isadora. Eu falhei com ela.

BRUCE

Com certeza (Diz com amargura).

SAGE

E falhei com você também. Eu tinha poucas razões lógicas pra suspeitar de você. Mas ainda assim, havia algo em você que me incomodava, garoto. Depois da nossa ultima conversa, eu percebi o que era. Você lembra muito a mim mesmo.

Bruce o olha com incredulidade.

BRUCE

Não seja ridículo!

SAGE

Você não deixa as pessoas chegarem perto. Você é um adorador da razão.

Bruce larga o taco, e bate com raiva na mesa, fazendo algumas das bolas de bilhar rolar.

BRUCE

Pare de falar como se me conhecesse! Isadora chegou perto de mim! Ela me tocou como ninguém nunca fez antes! E eu a perdi!

SAGE

E se sente melhor agora que provocou a morte do assassino dela?

BRUCE

Eu não sei do que está falando (Diz sério)

SAGE

Sabe sim. Alguém plantou na internet uma série de provas que expuseram a identidade do assassino. Essa mesma pessoa rastreou Tony, e deu a sua localização via on line para estudantes furiosos.

BRUCE

Esse alguém não cometeu nenhum crime.

SAGE

Discutível. Mas o que importa é: Você está se sentindo melhor agora?

Bruce encara Frank. Por um instante, Sage acha que vai levar um soco. Mas o rapaz lhe dá as costas, e coloca as mãos sobre a borda da mesa. O jovem permanece em silêncio, e quando enfim fala, raiva e pesar se misturam em suas palavras.

BRUCE

Não. Eu achei que a dor ia diminuir depois que ele morresse, mas não adiantou nada. É pra isso que veio? Pra fazer eu me sentir pior?

SAGE

Não. Como eu disse, você me lembra a mim mesmo quando jovem. Isadora era uma moça maravilhosa, mas ela se foi. A melhor forma de honrar a memória dela é não deixar o seu coração morrer com ela. Acredite, pois falo por experiência própria. Não vale a pena.

Frank retira-se da sala, deixando o rapaz sozinho e ensimesmado.

CASA DE VALERIE STEVENSON

O Agente Stewart termina de pegar o depoimento de Valerie Stevenson. George pode ver pelo rosto pálido e pelos olhos inchados da mulher que ela não esta dormindo bem e anda chorando bastante. Valerie nunca desconfiou que o homem com quem foi casada por oito anos fosse um serial killer. Mas reconhecia que ele sempre pareceu obcecado pelo caso Calcanhar De Mola, e nos últimos tempos, não parecia mais ser ele mesmo.

GEORGE

Como esta o menino?

VALERIE

Nada bem. Eu tive que contar que o pai dele morreu, e sobre o que... O que ele fazia. Eu disse que o pai dele estava doente, e essa doença o fazia machucar as pessoas.

GEORGE

É a verdade. Todas as evidências apontam que Tony sofria de uma doença mental grave. Ele não era totalmente responsável por seus atos.

VALERIE

Mas muitos não vão querer entender isso. E eu não posso culpa-los.

GEORGE

Por isso precisa se manter forte. Josh vai precisar de você mais do que nunca.

Valerie se levanta, e pega uma jarra de água sobre uma mesa, servindo um copo para si. George também se levanta. Há duvida no rosto do agente. Valerie olha desconfiada para ele.

VALERIE

Posso ajuda-lo em mais alguma coisa, Agente Stewart?

GEORGE

Na verdade... Tenho algo para lhe dizer. Antes de morrer, Tony disse uma coisa pra mim. Acho que era um recado pra você e pro seu filho.

George pode ver os olhos da mulher se encherem de lágrimas. Por um instante, ele se arrepende de estar contando isso a ela, mas agora que começara, precisava ir até o fim.

GEORGE

Ele disse "Me Perdoe". Acho que se referia á senhora e ao seu filho.

Valerie não responde. Apenas encara George com olhos lacrimejantes.

GEORGE

Quando o menino estiver pronto, talvez seja bom dizer isso a ele.

O Agente Stewart vai embora, sem saber que conseguiu dar um pouco de paz a Valerie, e talvez futuramente, ao filho dela.

Do lado de fora da casa, George pondera se tomou a decisão correta ao não acrescentar em seu relatório as ultimas palavras de Tony. Mas achou que talvez aquilo pertencesse só á esposa e ao filho do assassino. Pensou em contar para Helena, mas chegou á conclusão de que seria uma péssima ideia. Era melhor deixar que ela odiasse Stevenson em paz.

HARTFORD: UMA SEMANA DEPOIS

A Agente Belli sobe a rampa que dá acesso é sede do FBI no estado de Connecticut. Duas semanas haviam se passado desde a morte de Tony. Helena está ali para enfrentar as ultimas consequências dos erros que cometeu em New London. Um tribunal interno ira julgar a sua permanência dentro da agência.

O seu nome como a agente feita de refém pelo assassino foi descoberto pela mídia. Isso não chegou a surpreender Helena, pois sabia que cedo ou tarde isso iria acontecer. O pior foi descobrirem a sua relação com Adelie Parkins, a terceira vítima dos crimes de 2001. Essa informação também seria usada contra ela, mas Helena tinha a convicção de que seus sentimentos por Adelie não atrapalharam o seu trabalho. Esta culpa a morena não carrega.

Ao chegar ao Hall de entrada, Helena logo é recepcionada por George.

GEORGE

Você parece ótima! (Fala ele dando a ela um forte abraço)

HELENA

Estou sobrevivendo (Diz com um fraco sorriso).

GEORGE

Reuni todos os casos em que você trabalhou. Eles vão ter que admitir que perder uma agente como você seria uma estupidez.

HELENA

Você não precisava ter feito isso. Eles mesmos devem ter reunido os meus casos.

GEORGE

Mas eles não trabalharam do seu lado como eu. Eles não sabem o quanto você de dedicou á cada um deles, sem exceção!

Helena sente vontade de abraçar o amigo. Mas refreia esse impulso ao lembrar-se da razão de ela estar ali.

HELENA

George, muito obrigado por tudo isso. Mas você sabe que eu pisei na bola em New London. Eu cometi erros. Erros graves.

Nesse instante, George e Helena percebem alguém cruzando as portas do prédio. Frank vem mancando na direção deles com a ajuda da bengala.

HELENA

O que faz aqui? (Pergunta surpresa)

SAGE

Achou que eu não viria testemunhar ao seu favor? (diz em seu habitual tom irônico)

Ela não responde. Apenas olha para a bengala de Frank, feita de madeira escura, e com o cabo prateado.

HELENA

Como vai a sua perna? (Pergunta ela com certa indiferença)

SAGE

Bem, na medida do possível. Acho que terei que usar essa bengala por muito tempo. Mas ela até que ela me dá um certo charme, não acha?

HELENA

Ora, por favor! (Ela ri. A primeira risada verdadeiramente alegre em semanas).

SAGE

Você esta pronta, Helena?

A pergunta de Frank faz os três ficarem em silêncio por um momento.

HELENA

Acho que nunca se fica pronta pra isso. Mas é preciso seguir em frente, certo?

SAGE

E preciso seguir em frente (repete parecendo satisfeito).

A mulher olha para o grande relógio na parede do salão. Está quase na hora de sua audiência. Helena Belli surpreende-se consigo mesma ao perceber que está tranquila, pelo menos naquele momento. Ela não sabia o que a esperava dentro daquela sala, mas sabia de uma coisa. Aconteça o que acontecer, ela esta pronta pra seguir em frente.

FIM


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da conclusão. Não farei considerações aprofundadas sobre este desfecho aqui, pois esperarei os reviews (espero que venham) Hehehe
É isso ai. Espero que tenham gostado, e agradeço profundamente a todos que acompanharam esta fanfic.
Um grande abraço!