Acordei no outro dia sentindo ressaca, mas nem tinha bebido muito, apertei os olhos e rolei pela cama até bater em algo.
Quando abri os olhos, vi Matt com o braço sobre o rosto, ainda dormia.
Sorri e me levantei da cama dele.

Fui até seu armário e peguei uma camiseta do Metallica, peguei meu short e meu cinto e fui pro banheiro, me vesti daquele jeito e não estava ruim.
Arrumei meu cabelo, mas nada dava certo, então prendi uma parte.
Fiquei tentando melhorar minha devastada aparência até ouvir um barulho no quarto, fui até lá, pois achei que era apenas Matt acordando, mas quando pisei fora do banheiro vi uma cena que embrulhou meu estômago.

Valary estava em cima dele dando-lhe selinhos.
- Acorda amor. - Sussurrou, ele sorriu e depois abriu os olhos, mas então franziu a testa.
- Você? Está fazendo o que aqui Val?
- Claro que sou eu bobo. Vim te ver, acabou que não pude ir ontem a noite.
- Me ligue da próxima vez que vier aqui, e saia de cima de mim.
- Por que você está tão mal humorado hoje umh? Posso fazer algo pra te deixar mais feliz? - Perguntou descendo os lábios pro pescoço dele, me virei pra andar até a porta, mas lembrei, tarde demais, que tinha uma escrivaninha ali.

Resultado, chutei o móvel, fiz barulho, me machuquei e Valary me viu.
- O que essa garota está fazendo aqui? Aquela blusa é sua? - Começou a perguntar coisas assim, mas ele não respondeu, jogou-a de cima dele e veio até mim.
- Merda. - Xinguei baixinho segurando meu pé descalço e vermelho
- Machucou Mel? - Perguntou abaixando e segurando meus pulsos
- Eu tô bem Matt, deixa eu ir antes que acabe com o clima da sua namorada.
- Cala a boca Mellanie. - Ele disse se levantando e me carregando pra cama
Quando ele me sentou lá e ajoelhou pra ver meu pé, Valary fez uma cara de bunda, depois seu rosto mudou.

- Matthew? - Chamou irritada
- Que é?
- Quando eu te acordei você estava sorrindo, mas quando abriu os olhos pareceu surpreso por ser eu. Essa garota dormiu aqui?
- Dormiu. - Respondeu massageando meu pé enquanto eu fazia cara de dor.
- E você achou que era ela?
- Achei.
- E ELA POR ACASO TE ACORDARIA COM BEIJO? - Gritou irritada pulando da cama e ficando do lado dele
- Eu estava dormindo Val, não quer que eu pense em como estão me acordando quer?
- Você estava beijando de volta.
- Aquilo nem era um beijo. Era selinho Valary, se contenha.
- Você dá selinho na sua amiga? - Perguntou com algo entre irritação e desespero.
Ele levantou e me deu um selinho, depois voltou-se pro meu pé - Viu só? Não é nada.

Não era nada pra ele, pois Valary ficou completamente vermelha e chutou e socou Matt onde conseguiu, caindo por cima dele.
- Hey! Calma Val! - Disse segurando-a
- Para sua louca! - Eu disse empurrando ela de cima de Matt com meu pé bom.
- Sua vadia! Você ia ficar feliz se eu saísse beijando o Gates? Não ia!
Na hora que ela disse isso, Matt soltou-a e me encarou sério, eu arregalei os olhos tanto que até vi embaçado.
- C… Como…
- Como eu sei? Ah eu não tenho cinco anos Mel, vocês saiam da escola pelo menos um horário todos os dias, não pra conversar sobre a prisão do Matt.
- Mas isso não tem nada a ver. - Eu disse sacudindo a cabeça - Ele não é meu namorado.
Matt empurrou Valary, que tinha subido em cima dele de novo, pro lado e levantou me encarando.
- Mesmo assim! - Ela disse se levantando
- Eu não tenho nada com ele. - Eu disse olhando nos olhos de Matt, a esse ponto, já tinha esquecido que Valary existia.
- Imagina se não… Eu vi vocês…
- Já chega Val. - Matt disse ainda sem desgrudar os olhos dos meus
- Matt…
- Já disse que chega. - Disse irritado e ela calou a boca - Agora tchau. Tenho que conversar com a Mel.
Ela deu um sorriso malicioso pra mim, como se dissesse que conseguira o que queria. Puxou Matt para um beijo, longo de mais se você quer saber, e depois se foi.

Ele voltou o olhar pra mim com a cara mais irritada que já olhou antes.
- Matt… - Comecei, mas ele ergueu a mão.
- Não fala.
Mordi meus lábios, ele foi até a porta e a fechou, virou-se e me encarou.
- Quando?
- O que?
- Quando começou essa palhaçada toda?
- Matt…
- Quando? - Perguntou irritado e eu baixei a cabeça
- No dia da festa. - Disse muito baixo e o ouvi chegar perto
- Antes ou depois?
- Escuta Matt, não…
- Antes ou depois Mellanie? Só me responde isso.
Mordi os lábios e respirei fundo - Depois.

Ele deu dois passos pra trás, como se eu tivesse golpeado algo contra ele, sei lá.
- Mas me escuta Matt, não foi planejado um policial chegou e…
- E falou “Olha vocês dão um casal legal, por que não se pegam?”. FOI ISSO MEL?
- Me escuta Matt! - Eu disse me levantando e indo com alguma dificuldade até ele - Me escuta droga!
- Por que?
- O que?
- Por que você sempre apunhala todas as pessoas que te ajudam?
- C… Como assim? - Perguntei marejando os olhos
- Sempre, todos. Eu, sua mãe, Anne, eu de novo. Todo mundo que tenta te ajudar, você sempre arruma um jeito de de apunhalá-los pelas costas.
As lágrimas caíram dos meus olhos e ele continuava irritado - Eu não…
- Não queria? Pensa antes de fazer Mellanie.
Passei por ele e corri escada abaixo, corri horrores, cheguei na praia e chutei areia enquanto corria vacilante e chorando.
Ainda era cedo, portanto não tinha ninguém além de mim e nó máximo duas ou três pessoas.

Em algum ponto minhas pernas cederam e eu caí de joelhos chorando na areia.
Eu estava sozinha, sozinha de novo.
Era minha culpa como sempre, porque eu sou idiota, eu sou burra.
Olhei o mar, tão lindo e calmo, mas como Liz me disse uma vez, tudo que aparenta ser muito bom, é na verdade pior do que aquilo que te dá medo logo de cara.

Talvez morrer afogada fosse a pior forma de morrer, mas eu gostaria de ter meu corpo levado pelas ondas até a inércia.


Matt’s POV

Eu estava arrependido do que tinha dito, era bem verdade, mas não estava pensando nisso quando peguei o carro e acelerei pela rua.
Ainda era de manhã, mas eu arrombaria a porta do quarto daquele desgraçado se fosse preciso.

Parei na frente da casa conhecida e desci do carro aos tropeços, bati na porta mil vezes e a garotinha abriu.
- Oi Matt… A campainha tá quebrada? - Perguntou confusa
- Não sei, desculpa, preciso falar com seu irmão.
- Ele tá lá em cima.
- Valeu Kenna.
Ela sorriu enquanto eu passava e subia a escada pulando os degraus.

Abri a porta sem bater, o filho da puta me olhou e sorriu.
- Depois vê coisas que não quer e reclama, mas pra sua sorte estou sozinho hoje.
- Eu sei que está. - Respondi batendo a porta - Afinal a Mel dormiu na minha casa hoje.
Ele franziu a testa - E o que isso tem a ver?
- Ela não é sua nova presa imbecil? - Perguntei chegando perto da cama, ele se levantou e coçou a nuca.
- Não é bem assim Matt, eu só…
- Só gosta de comer qualquer uma, mas adivinha Haner? Ela NÃO é qualquer uma, e se você for um idiota com a Mel, vou matar você, me entendeu? Já sou fichado na polícia, não vai demorar na delegacia de novo.
- Relaxa Matt, não estou pretendendo fazer nada com a Mel, até porque, ela estava muito preocupada com sua prisão. Mas por que essa raiva toda? Não é apaixonado por ela é? - Perguntou sorrindo

Soquei a cara daquele filho da puta e ele caiu no chão surpreso
- HEY! O que eu fiz pra você?
- Não sou apaixonado por NINGUÉM! E se fosse, isso só faz de você cada vez mais filho da puta!
- Matt fica calmo, eu só peguei a Mel no dia da festa porque se não ela ia pra delegacia.
- Ah, que ato heróico. São Brian. E se fosse só por causa disso idiota, o resto da semana era uma extensão por que o policial estava vigiando vocês?
- Não Matt, mas relaxa, se você quiser, acabou! Nunca teve nada de mais, mas se isso te deixa tão irritado acabou.
- Então ela vale tão pouco assim pra você?
- Não cara, mas eu acho que amizade vale mais que isso. - Ele disse
- Você não tem que acabar com nada por minha causa.
- Você é meu amigo cara, ela é sua… Sei lá, mas se você quiser, acabou.
- Não precisa. Já disse.
O que ele disse me lembrou do que eu falei pra Mel, eu era a causa da briga com a mãe, ela não está em casa, ela está perambulando sozinha pela rua, com minha camisa e um short, descalça com o pé machucado e provavelmente, está chorando.

Coloquei as mãos na cabeça e depois soquei-as na parede, reprimindo um grito de raiva.
- Relaxa Matt.
- Me ajuda a achar ela Gates.

Mellanie’s POV

Estava frio, deveria estar certo? É sempre assim… Frio e molhado.
Estava parada em pé no meio do mar, a praia começava a ficar mais movimentada e eu resolvi ir embora, não gostava da ideia daquelas pessoas me encararem saindo de roupa e tudo da água.

Andei pela rua praticamente me arrastando, se eu já tive um aniversário mais deprimente? Acho que não.

Uma buzina irritante atraiu minha atenção, Brian estava do meu lado, eu parei e o encarei.
- Entra no carro Mel.
Ponderei, não sei se Matt ia me odiar mais por causa disso, mas será que realmente importa?

Entrei no carro, ignorando o fato de estar molhada e suja, ele puxou uma toalha do banco de trás e me entregou, me envolvi naquela coisa que tinha o cheiro dele e acabei sorrindo um pouco.
- Você está bem?
- Podia estar melhor.
- Quer ir pra onde?
- Pra fora do inferno, tem jeito?
Ele sorriu fraco e apertou minha mão - Sinto muito. A culpa disso é minha.
- Não, a culpa disso é da puta da Valary.
Ele franziu a testa - Como?
- Ela que chegou lá falando merdas pro Matt.
- Mas ela não estava mentindo.
Engoli o bolo da minha garganta - Talvez não, mas não era da conta dela.
- Eu sei. Mas de um jeito ou de outro, Matt está puto com sigo mesmo.
- Merece.
- Mel…
- Ele falou coisas que simplesmente não devia falar Syn.
- Ele me bateu e eu ainda estou defendendo-o.
- Te bateu? - Perguntei me virando pra ele, que sorriu
- Foi, mas isso não é relevante.

Ele parou em frente à uma casa desconhecida, descemos e ele me guiou pra dentro, me levou até um quarto que, devido a decoração, devia ser dele.
- Quer tomar banho ou algo do tipo? Posso pegar roupas da minha madrasta pra você…
- Estou bem Syn, sério.
Ele sorriu e me abraçou, eu correspondi até o momento que ouvi a porta abrir, me soltei dele e olhei pra lá.
A figura que vi me fez fechar a cara, porém marejar os olhos.
- Mel, olha…
- Veio me dar mais patadas?
Syn apertou meu ombro e saiu do quarto.
- Não, vim te pedir desculpas. Não devia ter falado daquele jeito com você.
- Não mesmo.
- Pode ficar com o Gates se quiser, mas… Entenda que eu não gostei de saber que…
- Você mentiu pra mim. - Eu disse cortando-
Ele franziu a testa - Quando?
- Várias vezes, disse que tinha me perdoado, disse que ficava feliz só em ser meu amigo de novo.
- Eu sei, mas…
Levantei a mão e ele se calou - Mas não é disso que estou falando. Você mentiu pra mim quando disse que tinha terminado com Valary.

Ele baixou a cabeça e andou até a cama, sentando-se lá.
- Não menti. Mas voltei com ela depois do ensaio aquele dia.
- Por que?
- Porque eu… - Começou e me olhou, então baixou a cabeça - Nada. Eu quis.
- Matt?
- Eu quis tá legal? Agora eu vou te levar pra sua casa, você precisa fazer as pazes com sua mãe.
- Eu não quero que você me leve.
- Ok, peço o Gates pra fazer isso. - Ele disse forçando um sorriso, que saiu triste - Isso é seu. - Me entregou minhas coisas que tinham ficado em sua casa.

Algum tempo depois, eu estava dentro do carro de Syn de novo, ele me levou até em casa e disse que eu podia ligar pra ele caso precisasse sair de lá.
Mas quando eu cheguei minha mãe não estava lá, tomei banho e dormi, estava muito cansada.
Quando acordei, vi que tinha mensagens e ligações de aniversário de várias pessoas no celular, tinham alguns presentes no meu quarto e um cartão em especial me chamou a atenção.

Tirei um papel do envelope e senti uma dor aguda no peito quando vi a caligrafia.
“Olá filha, parabéns pelos seus dezoito anos. Sinto muito por não ter conseguido te acompanhar até aí, gostaria de ter podido brigar com seus namorados e amedrontá-los, acho que seria divertido, mas Matthew fará isso por mim, eu sei. Também gostaria de ter te ensinado mais sobre mecânica, você pode ter um problema e ficar parada na estrada, mas sei que você tem quem olhe por você, então fico mais tranquilo.
Mellanie, você está chorando agora, então pare, por mais triste que seja a perda, você tem que pensar que eu estou bem, agora finalmente estou bem. Então sorria, lembre-se de mim como o homem que mais te amou no mundo, mas teve de ir como todos terão um dia. No dia que você se juntar a mim vou ficar muito feliz, mas por enquanto, cumpra seu papel, ilumine todas as pessoas com a luz brilhante do seu coração e tente ser especial pra cada uma das pessoas que passar pela sua vida.
Gostaria de te escrever muito mais, mas no momento não tenho condições, poderia pedir alguém para escrever, mas não seria o mesmo, então, fique bem minha menina, eu estarei sempre olhando por você.
Beijos do seu pai que te ama mais que tudo.”

Sorri e guardei-o junto com as outras coisas importantes pra minha vida numa caixa no armário.
Coloquei uma roupa qualquer e desci os degraus cambaleante, já era tarde e estava tudo muito escuro, ascendi as luzes e fui pra cozinha.
Enquanto comia meu jantar, baseado em comida requentada do almoço, ouvi um barulho na porta, andei até lá e voltei no tempo com a visão que tive.

Minha querida mãe entrava em casa meio cambaleante, sendo seguida por um cara que eu definitivamente não podia odiar mais.
- Mellanie? - Ela perguntou assustada
- Oi mãe.
- Aonde você passou a noite? - Perguntou, mas logo soluçou, o cheiro podre de bebida me atingiu e eu olhei para o maldito chefe do hospital, qualquer pessoa acharia que ele veio trazer a funcionária favorita, a melhor médica do hospital, por ela não estar em condições de dirigir, mas eu sei o que ele está fazendo aqui.
- Com o Matt. - Respondi dura e ele sorriu pra mim
- Assumiram o namoro? - Ele perguntou com certo divertimento na voz
- Ele não é meu namorado.
- Então passou a noite com ele por que?
- Porque minha mãe amada me trancou propositadamente pra fora ontem a noite.
Ela ficou com os olhos marejados e deu dois passos cambaleantes em minha direção, em resposta eu dei dois pra trás.
- Desculpe Mel… - Começou, mas soluçou de novo, eu franzi o nariz pro cheiro de bebida e dei a volta no sofá, subi as escadas e bati a porta do meu quarto.

Peguei uma mochila e enfiei várias coisas lá, desci pra sala e notei que eles já não estavam lá, não demoraria pra ouvir o barulho vindo do quarto.
Só de pensar nisso meu estômago deu voltas e eu sacudi a cabeça pra tirar isso da mente.