Assim que terminei de comer um delicioso sunday de chocolate com cobertura de chocolate, flocos de chocolate, calda de chocolate e farelos de biscoito de chocolate, Meg, Ane e eu nos encaminhamos sem muito entusiasmo para o hotel. O porque da falta de entusiasmo? Simples, tentamos pedir para a lógica contrária nos deixar como antes daquela vidente carcumida nos amaldiçoar, mas não funcionou, era como: "a lógica contrária se encontra fora da área de cobertura".

Quando chegamos ao hall, cumprimentei a recepcionista, que tomou um susto tão grande que nem achou palavras para responder á mim, e subi pelo elevador. Muitas coisas estranhas estavam acontecendo ao mesmo tempo. Eu cumprimentando gente (mesmo ainda não querendo falar com qualquer um, tipo, pra que falar com eles?), Ane sorrindo de orgulho enquanto suas roupas e seu cabelo (elementos fundamentais para a felicidade de uma filha de Afrodite) se encontravam sujos e cheios de terra e, por fim, Meg falando mais do que o normal conosco. Sério, ela não calara a boca desde que comprei o sorvete, dizendo o quanto fora divertido para ela estar do tamanho de uma formiga. Meg as vezes era feliz demais para o meu gosto.

E agora você pergunta: "Ô Lia! Se você aprendeu uma lição e pediu desculpas, agora você vai fazer isso sempre?". Não. Eu vou fazer o que me der na telha beleza? Pegadinhas, ofensas, roubos, brincadeiras, vai ser tudo a mesma coisa. Só vou ter mais cuidado com quem vai ser meu alvo e se estrapolar, vou pedir desculpas, falsamente, porque eu não me arrependo de nada que eu faço na minha vida. Aquilo que eu disse para a rainha? Eu estava com pena das vidas que tirei, não fizeram nada pra mim. Mas odeio aquela vidente, odeio o fato de ela me encinar uma lição. Eu sei que lição ela queria encinar e sei que lição realmente aprendi. Ela quis que eu apredense o valor do trabalho arduo e que devo pedir desculpas sempre que me arrepender de algo, por mais que isso fira meu orgulho. Eu aprendi que videntes são loucas, á nunca mais destruir a casa de formigas vingativas e pscóticas do País das Maravilhas e que Nico é um desgraçado que gosta de loiras sem noção.

Meus pensamentos então se voltaram para o concurso. Ele começaria dentro de duas horas e eu ainda tinha muito á me aprontar. Ajudaria se falassem que prova é em vez de dizerem apenas na hora, assim poderia me praparar para o que viesse. E essa era justamente a intenção deles: que não estajamos preparados para os que tem real talento se saírem bem e os que presariam treinar mostrem que não sabem. Mas isso é uma puta falta de sacanagem! Álem do mais eu tinha certeza que Nico não expulsou as loiras, ela teriam de ir com ele para ver a quarta prova, e como eu me concentraria com elas por perto, eu não sabia. Estava torcendo para a prova não estar relacionada com objetos pontiagudos, se não eu perderia o controle totalmente e "sem querer" acertaria nelas.

Por outro lado eu estava feliz, quase lisongeada por conseguir chegar até ali na competição. Nunca me imaginei em um concurso de beleza, quanto mais chegando á semi-final, ou ganhando. Ainda tinha minha aposta com Nico, se eu ganhasse o concurso teria de beijá-lo na frente de todos, inclusive de Percy, o irmão forte e que pode ficar com muita raiva. Se eu perdesse ele se vestiria de rosa até o final da missão. Mas eu não podia tentar vencer ou tentar perder, tinha que deixar levar, se não seria trapaça. Tudo dependia de mim e todos sabemos que eu quero cumprir ambas as punições da aposta.

Mas eu concorria com fortes oponentes, e duvidava essa prova ser de dupla novamente. Ane só não era tão boa em esportes, mas como estes já passaram, eu tinha certeza que ela encararia facilmente o próximo obstáculo. Annabeth usaria de toda a sua inteligência para continuar. Clarisse... Bem... Se for prova de luta digamos que eu usaria Nico como escudo. As outras duas são do País das Maravilhas, não devem  servir para nada. Comecei a sentir pena do filho de Hades, ele teria mesmo que usar rosa por um longo tempo.

De volta ao elevador, assim que as portas se abriram no nosso andar, tomei um susto enorme. Tudo estavam uma bagunça. As almofadas do sofá estavam rasgadas, a mesa onde comiamos havia sido partida no meio, pedaços das cadeiras se espalhavam por todo o lado, os lustres estavam estilhaçados em mil pedacinhos. Do meu lado direito Laís segurava sua faca de ferro estigeo e olhava ameaçadora para todos os outros: Percy, Annabeth, Nico, as três loiras, Pâni, Julie, Clarisse, Chris, Travis, Connor e Rafa. Nenhum deles parecia com medo, e sim desapontados, tristes ou com raiva.

Olhei para Ane e Meg, que pareciam tão surpresas quanto eu, e andei um passo á frente para saír do elevador.

-O que está acontecendo?-perguntei

-Ótimo, finalmente você chegou- disse Laís com uma expressão de raiva que nunca vi nela antes

Será que meus amigos fizeram algo á ela? Por que ela estava com sua faca? Quem a atacou? Essas eram as perguntas que rodopiavam na minha cabeça. Mas ninguém nunca atacaria Laís, ela nunca fizera nada á ninguém.

-Lia saí de perto da Laís!- disse Nico sem tirar os olhos da irmã.

-Ah não Nico, que falta de educação, temos que contar á bastarda o que está acontecendo- falou Laís devar

-Me chamou do que?- perguntei

Laís soltou uma risada sarcastica e andou dois passos para perto de mim. Instantaneamente todos na sala se moveram, prontos para me defender se ela tentasse me acertar. Enquanto eu não entendia nada do que se passava, para mim aquilo era apenas um pegadinha ou algo do tipo. Laís Zeikart não teria raiva de mim... Ou teria?

-Eu estava no meu quarto, escrevendo o que sempre escrevo de você no meu diário- começou a filha de Hades- O quanto eu te odeio e que não aguetava mais fingir ser amiga de uma biscati mentirosa e falsa. Mas os dois maiores idiotas do mundo, Travis e Connor, iam fazer uma pegadinha comigo roubando o diário, então assim que eles leram... Eu não precisei mais atuar.

Não sabia se ficava mais surpresa com suas palavras saindo tão verdadeiras ou pela expressão saguinária que eu jamais imaginaria no seu rosto pálido. Laís era uma das minhas melhores amigas, sempre estive lá para ela e sempre me pareceu que ela estava para mim. Já a ajudei, consolei, defendi, diverti, aconselhei e muitas outras coisas que poucas pessoas podem dizer terem recebido de mim. Por que ela estava dizendo aquilo? Não fazia sentido algum ela escrever que me odeia no seu diário e admitir sem dificuldade nenhuma que "atuava" perto de mim.

-Você... Você me odeia?- perguntei olhando nos seus olhos procurando, por tudo que há de mais sagrado, que aquilo fosse apenas uma brincadeira.

-Odeio. Odeio tudo em você, desde o primeiro dia que te vi- falou, também olhando nos meus e transmitindo toda a sua raiva reprimida por anos de falsa amizade- Você tinha tudo. Muitas amigas, popularidade, inteligência, beleza, talento em tudo que fazia. E nunca entendi como uma biscatizinha, sem serventia alguma, mal-humorada e falsa como você podeira receber tanta atenção com alguém como eu por perto.

A sala foi engolida no silêncio. Cada ser presente encarava Laís com descrença, mas a própria olhava unicamente para mim. Então outra pessoa desviou um olhar de preocupação na minha direção. Nico sabia que a confusão logo seria substituída pela tristesa, e sabia que eu não deixaria ninguém ver isso e a trocaria pela raiva. Ele era uma das pessoas que mais sabiam sobre mim, juntamente com Ane, Julie e Percy. Por isso eu tinha certeza que nenhum destes ficaria no meu caminho quando eu resolvesse partir para cima dela e me conhecendo bem isso não demoraria tanto á acontecer.

-Eu sempre fui sua amiga. Te ajudei inumeras vezes, sempre tive pena porque você é uma coitada feiosa, sem personalidade alguma, e quis que você tivesse uma chance. Eu fiz a pessoas te darem uma chance- falei já começando á tremer de raiva lembrando de tudo que passei por ela e continuei- Olhe em volta. Você tinha amigos, um irmão, um primo. No acampamento você tinha uma família.

-Família que sempre me húmilha?- perguntou com desgosto- Você sempre se preocupou em ser melhor que eu. Ane quer mostrar que é mais bonita que eu e o quanto eu sou inferior á uma filhinha baranga de Afrodite, porque eu sou muito mais bonita que ela. Julie com sua inteligência irritante, a baixinha mais imbecil que eu conheço, pronta pra provar que estou errada em TUDO! Nico me ignorando, meu proprio irmão prefere você, Lia, do que a mim. Percy é infeliz, nunca gostei dele e quero mais é que morra só pra você sofrer. Travis, Connor, Clarisse, Annabeth e Chris são a mesma coisa- ela falava olhando para cada um, embora sua voz se dirigisse a mim- E Rafael. Ah Rafael. Eu sempre te amei, e quando me declarei você foi o que mais me humilhou na minha vida inteira!

Todos olharam para Rafa com surpresa. Ninguém sabia da suposta declação da filha de Hades.

-Eu só disse que não tava afim!- disse Rafael

-A culpa não é dele por você ser uma falsa e ele bom demais pra você- disse Ane

-Bom demais?- perguntou Rafael com o sorriso flertador de Apolo

Laís lançou sua faca que fico encravada na parede a milímetros de distância da orelha de Ane.

-CALA A BOCA!- berrou Laís- EU SOU MUITO MELHOR QUE VOCÊ!

Eu já ia avançar na filha de Hades quando Ane tomou a dianteira. Ela sacou sua lança e por pouco não arrancou a cabeça da Zeikart numa envestida só.

-Querida, você é uma invejosa! Você tem inveja de todo mundo aqui! EU SOU MAIS BONITA, NÃO OUSE DIZER QUE VOCÊ É MAIS BONITA DO QUE EU SUA RATAZANA DE ESGOTO!

-VOCÊ É UMA MAGRELA, DESCABELADA, DENTUÇA  E BISCATI!- gritou a outra correndo até sua faca, arrancando-a da parede e girando a lamina na direção do rosto de Ane, que desviou com facilidade.

-O QUE?! POR ACASO ESTÁ ME CONFUNDINDO COM VOCÊ, CAMELO DEFEITUOSO!?

As duas eram ótimas lutadoras, por conta daquele mês no acampamento, mas Ane era melhor. Laís poderia recorrer á poderes com as sombras se tivesse mais experiência, ela ainda não dominara completamente como eu fiz com a água. A filha de Afrodite tinha a vantagem tanto na arma quanto na rapidez e destreza. Por isso logo a outra já estava presa contra a parede por uma lança cor de rosa toda lantejolada.

-Acho ótimo que você não gosta de mim. Assim não fico com pena dessa droga de ser humano e posso dizer que eu também nunca fui com sua cara- disse Ane olhando Laís com nojo- O que você queria de nós fingindo ser nossa amiga? Acha que beleza se passa por convivência é? Ou carater? Porque nenhum dos dois você possui.

-Eu só queria conseguir segredos sobre você, pra chantageá-las - disse Laís

-Acha que pode tomar nosso lugar? Sinto lhe informar que barata não rouba posto de leoa- falei

Eu estava com tanto ódio de cada minuto que gastei ao lado dela que queria que um panda a esmagasse. Tenho certeza que todos já passaram por algo parecido, alguem que você amava, que achava que era parte da familia te traindo e mostrando quem realmente é. Nunca imaginei que ela tinha vocação para atriz, porque pra me aguentar por anos tem que ser muito boa, isso não é comum em filhos de Hades. Ela era uma vergonha para todos os filhos de Hades.

-Duvido que consiga me matar, vocês não tem coragem- falou quase sendo sufocada pela lança de Ane

-Não, nós não conseguimos porque não somos assassinos, mas agora me diga como você vai sair do País das Maravilhas sem nossa ajuda?- perguntou Annabeth

Ane sorriu para Annie e lançou um olhar vencedor á Laís.

-Vai ficar presa nesse lugar pra sempre e não ouse nos seguir- ordenou Clarisse com os olhos vermelhos de raiva. Ela não aceitara muito bem o fato da outra querer que ela morresse.

Ane carregou a nossa antiga amiga de infancia pela touca de seu blusão moletom preto e a jogou na direção da janela aberta. Não, ela não morreu, Laís se transformou em um pássaro no meio do ar desejando tal feito pela lógica contrária, provavelmente.

E ninguém falou nada depois disso. Alguns ligavam apenas para a traição, como Clarisse, Percy, Annabeth e Chris, mas se solidarizavam pelos que gostavam de Laís de verdade. Esses sim não falaram, só pensavam no que tinham feito de tão mal para ela se comportar assim. Creio que todos tinham certeza absoluta de que eram gentis com a menina, que nunca a desrespeitaram de um modo tão cruel á ponto de transformá-la em uma pessoa má. Nico parecia acabado, ele se sentou no sofá e passou a mão por dentro do cabelos, deixando-os ainda mais bagunçados e, se eu o conhecia bem, pensava que era culpa dele. Nico adora pensar que tudo é culpa dele, sendo que eu insisto que é da Julie. Então sentei-me ao seu lado e massageei seu ombro, enquanto ele sorria infeliz para mim. Tentei mostrar, sem falar nada, que a culpa não poderia ser dele, mas triste, eu não estava.

E agora você me pergunta: "Nossa Lia, como você não fica triste de descobrir que uma amiga tão proxima te odeia?". No começo fiquei um pouco triste sim, mas fala sério, ela só juntou-se á uma lista enorme de pessoas que me odeiam e eu iria tratá-la como trato todas as outras. Com descaso e ignorância. Descaso para quando disser algo de mim, apenas por achar ser assim, e não por ter provas e a ignorância para irritá-la mesmo. É assim que normalmente eu me protejo das emoções tediosas que não me servem para nada.

Ane, Julie e Pâni faziam o mesmo. Logo a patricinha correu para tomar banho na ponta dos pés, a baixinha pegou um livro qualquer e se sentou na mesa para se concentrar nele, e a filha de Apolo se contentou em sussurrar músicas da Katy Perry para passar o tempo. Meg ainda estava muito chocada, ela resolveu desejar pela lógica contraria estar limpa (só agora funcionou) então escorregou para o chão e ficou lá.

Assim que Ane voltou do banho, já com outra roupa, foi minha vez. Não queria desejar pela lógica contrária porque precisava relaxar antes do concurso e nada me acalma mais que estar em contato com a água. Quando terminei desejei estar usando uma regata preta com desenhos em traços brancos, encobertos por um lenço vermelho com flores enrolado no meu pescoço, calsa jeans, bota bege e bolsa de alça transversal da mesma cor. Então saí do banheiro e fui pra sala, já indo me sentar ao lado de Nico novamente, mas...

-Ai Niquinho, não fica triste, agente está aqui pra te consolar- disse uma das três loiras, sentada no colo de Nicolas (N/A: Ui! Ela chamou ele de Nicolas!)

-É Niquito, nós vamos de consolar até você ficar bem- disse outra sentada á sua direita, enquanto acariciava o rosto dele

-Meu Niquicho vai melhorar rapidinho- falou a sentada á sua esquerda, que penteava os cabelos de Nico com as unhas de piriguete

Ele não parecia mais triste, estava vermelho de vergonha, mas se encontrava em uma situação confortável e nem percebeu que já havia saído do banheiro. Na verdade ele parecia muito bem sem mim, então decidi naquele instante que procuraria Gusttavo no dia seguinte, e faria questão de esfregar na cara pálida e ciúmenta dele. Ane se aproximou de mim e cruzou nossos braços enquanto analisava a beleza de meu lenço vermelho. Ela usava um vestido vermelho colado ao corpo, por cima dele uma blusa branca larga, meia calça preta e um par de botas médias marrom escuro.

Olhei para Annabeth, ela também havia mudado de roupas, mas era apenas uma regata verde escuro, sem desenho algum, calça jeans meio rasgada e all star preto. Clarisse era a única que não havia se trocado, estava obvio que ela não dava a minima para o concurso e ainda se surpreendia por chegar na semi-final. Confesso que até eu me questionava de como ela chegara até ali, marrenta do jeito que é.

Finalmente percebi que Percy olhava Nico com raiva, mesmo este não percebendo. Meu irmão olhava as três meninas, depois a cara de idiota que Nico fazia então via minha expressão ao olhar aquela cena, e ficava com mais raiva ainda. Enquanto todos na sala conversavam, apenas eu, Percy, Ane e Annabeth observavamos uns aos outros quietos, só esperando algo de interessante acontecer para podermos nos manifestar.

-Vamos para o concurso gente, já está quase na hora!- disse Pâni

-Porque vocês vão para o concurso?- perguntou a loira no colo de Nico

-Porque eu, Lia, Ane e Clarisse estamos na semi-final- disse Annabeth

As três loiras olharam para nós quatro com descrensa. Elas claramente acharam que era mentira de Annabeth.

-Vocês? No concurso? Ainda na semi-final?hahahahaha- disse a mesma loira, e todas começaram á rir como se aquilo fosse uma linda piada sobre papai noel

-Vamos antes que alguem acabe morrendo!- ordenou Pâni puxando meu braço para longe antes que eu dissesse algo que começasse mais brigas

Em menos de 20 minutos já estavamos no local de costume do concurso. Entrei nos vestiários com as meninas e os outros foram para as arquibancadas com o resto do povo maluco. Me surpreendi em já ver Helena lá, conversando com as outras duas meninas, ela normalmente chegava depois de nós. A rainha da beleza usava um vestido longo azul, com triangulos brilhantes por todo ele e um corte rente á perna esquerda para deixá-la á mostra, calsava um sapato de salto preto de camursa. O cabelo estava preso em um coque relusente. Resumindo linda como sempre.

Assim que ela nos viu andou com classe para perto e disse:

-Boa noite meninas! Hoje a prova é de desfile, vocês podem usar o vestido que quiserem desde que seja longo, e os jurados mais o convidado especial darão quatro vagas para a final- explicou

-Finalmente uma prova que eu gosto!-comemorou Ane

-Mas quem é o convidado especial de quem você falou?- perguntei

-Vocês verão- disse- Agora escolham um vestido bem bonito que valorize suas qualidades e torçam.

Ela se virou e foi para o canto da sala retocar a maquiagem com um espelho de bolso e mini sombras.

-Já sei o que vou vestir! Esperei isso á minha vida inteira!- disse Ane

Ela sussurrou algo pela lógica contrária e de repente... Uau! Estava usando um vestido longo, como Helena pedira, ele era de um designer moderno de uma alça só e um pouco justo na cintura até se soltar elegantemente e encobrir seus seus pés, era de um tom vermelho sangue lindo que combinava perfeitamente com sua pele e sua bolsa de mão prateada.Seu cabelo estava preso em um coque baixo com mechas soltas na frente e realçava os olhos marrom chocolate que possuía. Ane estava mais linda do que já vi qualquer filha de Afrodite ser. Sua mãe desmaiaria de orgulho.

-Já sei o que vocês vão vestir também, vejam se estão de acor...- começou, mas logo foi interrompida por Clarisse

-Não, nem pensar! Eu não vou colocar um vestidinho para eles julgarem minha beleza! Nunca! Já sei que vou perder, eu desisto.

-Mas Clarisse... - começou Annie, mas a filha de Ares já havia saído

-Não dá tempo de ir atrás dela, temos que avisar Helena- disse Ane, então ela foi sozinha falar com a rainha da beleza.

Annie encarou a porta alguns segundos, olhou para mim e sorriu.

-Todos sabiam que ela não faria essa prova- disse- Não dá para obrigar ninguém á nada. Mas então, que vestido vocês vai usar?

Parei para pensar um instante, mas esse foi o tempo para Ane voltar e estalar os dedos, como a fada madrinha faz com a Cinderela. Diferença: eu não voltaria á ser pobre meia noite, não falava com ratos, não era um amor de pessoa com os outros e se uma madrasta se quer pensasse em me maltratar já ia estar caindo de um penhasco. Mas fora isso até que eu fiquei bonita usando um vestido prateado relusente com alças que se encontravam atrás de meu pescoço e decote em V. Duas coisas que adorei nele foram que fitas saíam de seu tecido e se amarravam bem abaixo de minha cintura, a ponta delas era toda brilhante e desfiada, e o corte para dar visão a perna direita como o de Helena. Ane escolheu para mim sandalhas de salto um pouco transparentes e uma pequena bolsa para combinar. Meu cabelo estava liso e um pouco encaracolado nas pontas, estilo clássico.

Ane sorria tanto que se não fosse bonita pareceria o coringa.

-Não acha que está meio ousado para alguem de treze anos?- perguntei

-Não! Eu escolhi para você e você vai usar que eu to mandando!- ameaçou

Revirei os olhos. Era melhor não contestar. Como eu adoraria ver a cara das três loiras, faria questão de procurá-las nas arquibancadas, provavelmente coladas ao Nico como carrapatos nojentos de perfume forte. Mas eu não pensava nele e nas loiras, estava concentrada em outra coisa. Quem era esse convidado? Até o momento, todas as surpresas que o País das Maravilhas colocou em meu caminho eram ruins e não precisava de mais uma. Eu tinha o pressentimento de que esse convidado daria o que falar tanto na prova, quanto na volta para o hotel com meus amigos. Nunca vi um pressentimento ser mais exato.

Voltei a olhar para Ane. Ela encarava Annabeth com uma expressão pensadora, então conclui que devia estar formulando vestidos para a outra em sua imaginação. Enquanto isso Sabidinha olhava de um lado para o outro com uma mistura de medo e vergonha, estava nervosa quanto ao vestido que seria obrigada á usar e eu sabia que ela coraria até alma com qualquer que fosse. Então Anellize sorriu , parecia ter se decidido e ficado feliz em ser tão "genial" com roupas. Ela sussurrou algumas palavras rapidamente e sua mágica de fada madrinha agiu novamente.

Annabeth Chase estava linda. Usava um vestido claro com desenhos em dourado e marrom, ele possuía pequenas mangas e gola, era justo no corpo e se abria do joelho para baixo, cobrindo totalmente seus pés e o chão á sua volta. O cabelo estava em um coque elegante, diferente do de Ane, este era alto e totalmente preso, como o de uma bailarina.

-Nossa! Hum... Obrigada, mas acho que está elegante de mais para alguém como e...-começou a filha de Atena

-Cala a boca! Você está perfeita e nenhum jurado sensato poderia te impedir de passar nessa prova- falou Ane

-Eu nem preciso vencer esse concurso, não é tão importante- disse Annie

-Talvez, mas você não vai querer jogar na cara daquelas três loiras que riram da nossa cara, que você está na final e elas não?- perguntou

-Quero.

-Você não quer voltar para o acampamento e dizer para todos os que julgam filhos de Atena apenas pela inteligência que você chegou á final de um concurso de beleza em outra dimensão?- perguntou com firmeza

-Quero!- concordou Annabeth se animando

-Você não quer esfregar isso na cara de todas as meninas que paqueram seu namorado?

-Quero!- disse Annabeth confiante

-Então você vai usar esse vestido e orgulhar seus irmãos e irmãs!- ordenou Ane e elas se abraçaram

Eu ria da cena inteira. Ane falava como o lider do exercito falaria com o soldado desanimado. Se dependesse dela, todas as amigas venceriam um concurso de beleza só para esfregarem na cara dos outros e isso era muito engraçado.

Helena saiu dos fundos da sala e chamou todas as cinco competidoras para perto dela. A rainha disse que a quarta prova começaria em instantes, que ela explicaria ao público, apresentaria o convidado especial e chamaria as meninas na ordem: Annabeth, Melissa (uma ruiva do País das Maravilhas com um vestido cumprido verde), Agatha (uma negra do País das Maravilhas usando vestido branco), eu e por último Ane. Então Helena abriu a porta para o estádio, mas o que antes dava em grama e a visão aterradora de milhões de pessoas nas arquibancadas nos olhando, agora era um corredor de cortinas vermelhas elegantes e com cheiro de limão.

A rainha da Beleza explicou que era para caminharmos pelo túnel até acabar na entrada de uma passarela. Esperariamos atrás das cortinas a nossa vez, quando ela chegasse desfilariamos e esperariamos os comentarios do convidado especial, para então voltarmos ao corredor. Fácil. Ela também nos aconselhou á não ficarmos nervosas, que estavamos todas lindas e não importa quem perdesse ou ganhasse, já eramos vencedoras por chegarmos até ali. Melissa e Agatha pareceram ficar reconfortadas com isso, mas Annabeth, Ane e eu sabiamos que Helena era obrigada á dizer aquilo e que tinha grande probabilidade de ser mentira. Mas como nenhuma de nós dava grande importancia á tudo aquilo não estavamos nervosas.

Entramos todas no corredor e caminhamos por uns 3 minutos até chegarmos á um palco com piso de madeira, uma passarela iluminada que acabava na mesa dos jurados, e telão ao fundo com imagens aleatorias de cores e raios para dar um efeito mais bonito ao desfile. Várias cameras estavam espalhadas e direcionas a esse palco, onde eu supunha que ia ser transmitido para as cinco televisões gigantes penduradas nas extremidades do estádio. A platéia estava cheia de doidos, como sempre, e todos tão anciosos que não conseguiam evitar conversar entre si.

Mesmo com tudo isso, continuei calma. A única coisa que me incomodava era esse convidado especial. Minha intuição dizia que compicaria minha vida, que devia ser alguém bonito e que me ajudaria em algo. E não ouse me questionar! Sou mulher e minha intuição não falha, é o sexto sentido. Só não fazia ideia de como alguém poderia me ajudar e ao mesmo tempo complicar minha vida.

Ouvi milhões de palmas e gritos de repente e percebi que Helena já havia entrado. Ela sorriu e andou firme em seus saltos até a ponta da passarela. Então um dos jurados se esticou para lhe entregar um microfone, enquanto ela o pegava e ligava, as cameras começaram a transmitir para as televisões sem perder um segundo se quer de tempo.

-Boa noite e bem vindos á quarta prova do concurso de beleza do País das Maravilhas!- disse arrancando gritos de todos e só continuou quando eles cessaram- Está prova é muito importante, duas das seis concorrentes serão eliminadas. Mas ouve uma desistencia, e agora na final só terão três.

Todos bateram palmas de maneira regular e sem desespero, assim era bem melhor para os ouvidos.

-A seguinte prova será um desfile. As garotas escolheram vestidos e maquiagem e serão julgadas conforme estes combinem com seu corpo, tom de pele, e suas qualidades em geral- explicou- Mas antes, apresentarei o convidado especial que fará comentários e que decidirá quais são as três garotas que irão para a tão esperada final!

O estádio se aquietou na espectativa.

-Eu o escolhi por ser imparcial e por reconhecer a beleza que as mulheres tem sem esforço. Porque eu sabia que seus comentários seriam sinceros e merecedores de tamanha importância- disse Helena com um estranho brilho nos olhos que eu nunca á vira ter- Meu namorado Gusttavo!

Todos explodiram em vivas quando um belo homem loiro e encorpado entrou no gramado, sorrindo e acenando para todos os lados. Ele ando até a passarela e subiu usando uma escadinha. Então Gusttavo beijou Helena e voltou a acenar para a platéia aos berros, principalmente das mulheres.

Eu sabia que meus sentidos não falhariam, mas não sabia que seriam tão exatos. Com toda a certeza Nico implicaria com o fato de ele estar ali, e isso o faria querer mais as loiras como vingança. Outro fato que me confundia era que aqueles dois namoravam e ninguém se deu o trabalho de me contar. As moças do SPA disseram que ele tinha uma namorada influênte, mas não que era a atual rainha da beleza do País das Maravilhas, amiga pessoal da Rainha de Copas. Mas ele formavam um lindo casal.

-Boa noite! Estou muito feliz de ser convidado para algo tão importante e prometo ser imparcial, mesmo tendo minha favorita ao prêmio- disse Gusttavo usando um microfone que fez aparecer pela lógica contrária e sendo aplaudido de pé por milhares de garotas- Espero que todos concordem com meus comentários e minhas decisões.

Helena então aproximou seu microfone, a prova iria começar.

-A primeira concorrente é Annabeth Chase.

Annie sorriu para mim e Ane e andou como as modelos desfilavam pelo chão de madeira até a passarela, onde Gusttavo e Helena se encontravam. Ela girou e fez poses normais que sempre vemos na tv, mostrando todos os atributos de seu corpo conforme o vestido. A filha de Atena parou á poucos centimetros de distancia do casal mais lindo do País das Maravilhas e esperou para ver o que eles diriam. Eu olhava tudo escondida atrás da cortina com ansiosidade.

-Ela está linda! Perfeita!- exclamou Gusttavo maravilhado- Olhem como o vestido justo realça seu corpo e o coque deixa o rosto mais afinado. A classe desse modelito combina com a audacia que Chase mostrou ter ao andar. Não há roupa melhor para ela!

Todos aplaudiram enquanto Annabeth corava. Ela voltou para as cortinas e logo foi abraçada por Ane, que não parava de dizer o quanto era boa em escolher roupa para as pessoas e o tão clássico "eu te avisei". Depois foi a vez de Melissa, que Gusttavo disse ser o par perfeito da cor verde, tendo o porém do cabelo solto ser o inimigo natural do vestido sem mangas. Não sei muito bem que ele quis dizer, mas pelo menos percebi que ela havia ficado atras de Annie quanto á opnião de Gusttavo. Então veio Agatha, na qual ele a elogiou pela bela cor de pele em realçe do look claro, mas não gostou dos sapatos mesclados que usava, disse que merecia uma rasteira brilhante.

Quando Agatha voltou, chegou minha hora de desfilar. Fiquei impressionada ao notar que eram apenas doze passos á andar, e eles me pareciam tão longos e inalcançaveis. Eu tinha de me preocupar com mais do que a pressão dos milhares pares de olhos, direcionados unicamente para mim. Postura ereta, sorriso no  rosto, poses, olhar confiante, não mostrar nervosismo, não tropeçar no salto, tentar não pensar no quanto o namorado de Helena era bonito. E finalmente parei ao lado de Gusttavo, ainda sorrindo falsamente, e esperei o que ele tinha á dizer, mas sua expressão me assustou um pouco. Era choque misturado com descrença, quase pensei que já seria desclassificada.

-Estou pasmo!- disse para todo o estádio em silêncio ouvir- O vestido é moderno, mas o cabelo é clássico. A cor é fria, mas seu corpo é quente. O sapato é para as delicadas e quem os usa é uma determinada. Você não é nada do que deveria ser... E eu adorei isso!

Enquanto a plateia gritava e batia palmas, Gusttavo sussurrou algo em meu ouvido. Depois voltei feliz para as cortinas, me encontrar com Ane e Annabeth, sabendo que eu era a favorita dele e que eu estaria com absoluta certeza, na final. Ter alguma garantia que o esforço valeria a pena era recompensador, e a cara que aquelas loiras fariam seria histórica. Uma dia, aguarde minhas palavras, irão lembrar do momento em que descobriram que sou melhor que elas, então Nico se arrependeria de sua suposta vingança. Por que eu me vinguei da sua vingança da minha vingança, tenho sempre que me vingar primeiro ou seria vingada e teria de me vingar ainda mais.

Foi então a vez de Ane de ser focada por câmeras e olhares precionadores, de fascinação ou critica, e mostrar toda a sua beleza natural. Gusttavo parecia tão encantado com ela quanto comigo, disse algo como "vestido de princesa para uma verdadeira princesa" e "combinação de cores que inspira o mundo á ser igual" e uma grande váriedades de elogios que não consigo lembrar. Quando Ane se aproximou, estava respirando forte e disse que ficou muito nervosa, ao contrário do que eu imaginava que ficaria.

-Agora que todas as concorrentes já desfilaram e nos humilharam com sua beleza- começou Gusttavo, obviamente mentindo porque ninguém superaria a beleza dele- Consultaremos os juízes e revelaremos as três que passarão de fase!

A platéia aplaudiu e soltou gritinhos. Então o casal se ajoelhou para discutir com os juízes e as outras quatro meninas perto de mim tremeram. Eu não tremi, pois já me imaginava perdendo essa prova e Nico de rosa pelos próximos dias. Tinha a certeza de que não passaria, afinal, nunca fui boa o bastante para esse tipo de coisa. E não sabia o quanto estava errada.

Se eu achei que era só pela lógica do País das Maravilhas que quando anunciaram os três nomes, eu estava entre eles? Sim. Se eu me surpreendi mais do que uma tartaruga se roubassem seu casco? Obvio, mesmo eu não sendo uma tartaruga, só tenho um irmão com a mente de uma. Se eu já sabia que Annabeth e Ane também estariam? Com mais certeza do que a pasta de amendoim sabia que era feia para a geleia. Se eu fiquei com pena das outras duas que não ganharam? Não (N/A: Insensível!) (N/L: Tava torcendo para elas por acaso?) (N/A: Não, eu já sabia que você ia vencer, você é a protagonista!) (N/L: Cuidado com a lógica contrária) (N/A: Deixa eu continua a história por favor?).

Fiquei feliz de passar para a proxima fase e sentir o público berrando enquanto caminhava, junto com Annie e Ane, para as luzes das câmeras. Gusttavo estendeu o microfone dele para a filha de Atena e sussurrou "façam um discurso, uma por vez". Sem nem dar tempo dela responder, Ane agarrou o microfone das mãos do galã de novela e começou a falar. Lembram-se de quando eu contei que quando ela começava a falar, principalmente dela mesma que é um de seus assuntos favoritos, não parava mais? Pois então, tive de aguentar um anorme texto de "superação, sonhos realizados e muita determinação". Só ouvi metade porque ativei um sistema de segurança na minha mente, onde eu briso legal e tenho certeza que se alguém se aproximar demais vai ouvir músiquinha de elevador ecoando da minha cabeça.

Finalmente (e quando digo finalmente é finalmente mesmo, depois de uns 10 minutos) Ane passou o microfone á Annabeth, que depois de refletir por alguns segundos o que diria, falou:

-Estou muito feliz e obrigada.

Ela me entregou o microfone.

-Digo o mesmo, tchau!- falei

Minha cunhada e eu andamos apressadas de volta para o corredor de cortinas, esperamos alguns segundos Ane mandar beijos para a platéia e acenando do jeito que as misses fazem, então puxamos ela para os vestiários. Ali pedimos para estarmos com a roupas que viemos, e admito ter sentido um alivio imenso com isso, não sou menina para vestidos gala. Assim que saímos, encontramos nossos amigos (e as loiras, já que ela não são minha amigas), Clarisse estava junto á eles e se mantinha de mãos dadas com Chris. Ela parecia bem em ter desistido, até feliz, provavelmente viu que fez uma escolha certa ao assistir da platéia.

-Vocês estavam lindas!- disse Rafael

-Mereciam mesmo ter ganhado- disse Travis

-Você sabia que Gusttavo iria vir?- perguntou Nico, frio

-Não, Nicolas, eu não sabia e mesmo se soubesse, não te diria-respondi secamente

Ele bufou e revirou os olhos. E de repente ouvi palmas atrás de mim, quando olhei tive o prazer de ver o homem mais bonito de todo o País das Maravilhas acompanhado da Rainha da Beleza. Perto deles percebo que sou um monstro e que Afrodite se sentiria em casa.

-Lia, Lia, Lia! Há algum modo de você perder nessa prova?- perguntou sorrindo estonteante

Não consegui responder por duas razões. Seu sorriso desviou completamente minha atenção de qualquer outro pensamento que meu cérebro pudesse formatar e eu não acreditava que havia passado para a final, achava até que havia algo errado nisso.

-Viemos dar os parabéns!- disse Helena

-Obrigada!- disse Ane dando pulinhos, na cabeça dela os parabéns eram dirigidos unicamente á ela. E eu não digo isso porque leio mentes, digo isso porque Ane é louca (N/Ane: EU NÃO SOU LOUCA SENHORITA CARTA ENLOUQUECIDA!)(N/L: É sim)(N/Ane: Não sou não)(N/L: É sim)(N/Ane: Não sou não)(N/L: A louca disse "o quê?")(N/Ane: O quê?)(N/L: AHÁ! Louca)

-Vou estar assistindo amanhã na platéia, boa sorte!- desejou Gusttavo e os dois foram embora

Ficamos em silêncio alguns segundos e nos dirigimos á rua. Nico parecia menos irritado vendo Gusttavo de perto e percebendo o quanto fora idiota, mas não se afastou das loiras. Pâni se aproximou para conversar comigo e com Ane sobre os vestidos, a sensação de entrar na passarela, as outras duas garotas que foram eliminadas, o casal que nos julgou e um monte de outras coisas. Afinal, eramos mulheres e tinhamos de gastar 3000 palavras por dia.

Mas aconteceu algo que me surpreendeu e entristeceu ao mesmo tempo. Aquela jurada espalhafatosa, que eu conheço desde o primeiro dia e sempre me pareceu muito bondosa veio falar conosco. Ela desejou os parabéns, mas disse para não ficarmos "convencidas", falou que faltava muito para sermos o que Helena já foi e que não torcia para que passassemos. Disse até que foi contra na discução entre os jurados e os dois apresentadores, mas que perdeu por menoria. Ela simplesmente afirmou que era sorte, que não eramos o bastante para um concurso "daquele porte" e já que havia de escolher preferia "a loira". Não dissemos nada e seguimos em frente como se nunca houvesse acontecido, mas Ane e eu nos entre olhamos. Conversáriamos mais tarde.

Passamos pelo saguão, entramos no elevador e logo estavamos no apartamento brega e louco na qual já nos acostumamos. Desejei estar com um pijama qualquer, escovei os dentes e corri para o quarto. Tudo o que queria era fechar os olhos e esquecer daquele dia terrivel para, de preferência, acordar no dia seguinte e ficar no quarto, me enxendo de chocolate.Mas como sempre nada seria como eu queria e eu acabaria irritada, pode esperar.

Entrei no quarto que dividia com Ane e Julie e as encontrei plantadas (no sentido figurafico e não Júniper de falar) olhando para as três camas, uma na extremidade do quarto, uma á esquerda e uma á direita. Todas ocupadas. Três loiras sem nome ou personalidade jogadas nas nossas camas em vez de em uma esquina, se é que vocês me entendem. Elas pareciam muito confortáveis e quando nos viram, não mexeram um músculo sequer, como se não soubessem que era o quarto em que dormiamos.

-Vocês, piriguetes, poderiam por favor se retirar de nossas lindas e cheirosas camas, para podermos nos deitar e esquecer da sua existência?- perguntou Ane calma e moderadamente, com os olhos fechados, tentando ser o mais educada possivel.

-Não- disse a da cama á direita

-E por que não?- perguntou Julie

-Nico falou que podiamos escolher o lugar que quiséssemos para dormir e escolhemos essas camas- disse a da cama em frente

-Vocês sabem que essas são as camas que nós três domimos?- perguntou Ane e depois das loiras concordarem com a cabeça com indiferença, gritou- ENTÃO PORQUE NÃO SAEEM?

-Porque não queremos! E não grite, acha que somos surdas?- disse a única que ainda não havia se pronunciado

Ane andou até a cama á direita da porta, a que ela costumava deitar, e berrou á plenos pulmões:

-SAI DA MINHA CAMA!

-A CAMA NÃO  É SUA, NÃO TEM SEU NOME NELA- berrou a loira de volta

-TEM SIM OLHA NA MADEIRA SUA CEGA, TEM ANELLIZE ESCRITO ANTA!

A filha de Afrodite apontava para um entalho na cabeça da cama, feito com risquinho de alicate, onde estava claramente a palavra Anellize. Eu a via trabalhando nisso de noite ou quando estava com tédio, mas nunca me interessei.

-Eu não ligo, não vou sa...- começou a loira, mas foi chutada para o chão por Ane

A garota ficou toda irritada e correu para o quarto de Nico reclamar, enquanto minha amiga se deitava calmamente e fingia limpar a sujeira que outra poderia ter deixado. Fiquei inspirada com o modo como agiu, então fui para a cama á esquerda da porta, era nessa cama que eu sempre dormia desde a primeira noite no hotel. Não falei uma palavra com a loira, apenas puxei os cobertores e ela acabou rolando para o chão, vi  a chatinha ir para o mesmo lugar que a outra, mas nem liguei e deitei sob os cobertores. Se elas achavam que tinhamos medo do filhinho de Hades, estavam muito enganadas, ele é que tinha medo de nós.

Julie, a única que parecia ter relutância em usar violência para conseguir sua cama, racioscinou um pouco e por fim pos em prática um plano mais eficaz do que bater na menina. A irmã de Annabeth sussurou algo no ouvido daquela folgada e no mesmo segundo a garota saiu correndo como o flash para o banheiro. Tive até medo de perguntar o que Kemmer disse, para expulsar um carrapato daqueles com uma frase, devia ser terrivel.

Mas logo Nico entrou no quarto, com as duas loiras que foram falar com ele agarradas em seus braços.

-Por que bateram nelas?- perguntou

-Primeiro: Nós não batemos, só expulsamos do nossos lugares que o senhor, Nicolas, deu á elas- comecei- E em segundo: quer mesmo defender elas para me enfrentar?- perguntei tomando proveito de meu olhar do mal, e percebi á quanto tempo não precisara usá-lo.

-Ah, não... Eu... Por que vocês não colocam cochonetes já que querem tanto dormir nesse quarto? A cama é delas- disse Nico rapidamente

-Mas eu quero dormir na cama Niquito- pediu uma com voz de bêbê

-Quem manda aqui é a Lia não você, o que ela quiser ou agente faz ou todo mundo morre- falou- Agora se conforme, peque um cochonete ou durma na rua, na cama vocês não ficam. E me deixem dormir, não quero ninguém me acordando. Estamos entendidos?

As loiras concordaram e ele voltou ao seu quarto. Então elas desejaram pela lógica contrária três colchões, esperaram sua amiga voltar, desligaram a luz e deitaram para dormir em cinco segundos.

Finalmente escorreguei pelos cobertores em paz. Mas por alguma triste razão todo o meu sono se esvaiu, fiquei com mais raiva do que já estava por dormir no mesmo quarto que aquelas três, e tive muito tempo para pensar em vários jeitos de torturá-las no dia seguinte. Ou fazê-las "sumir" para sempre. Também pude refletir sobre a prova do dia seguinte e o que fariamos dali em diante, sem Laís, comigo tendo acabado de beijar Nico ou ele estando rosa, fora de uma cidade em que finalmente me senti protegida no meio de tantos loucos, com a saudade de casa ainda maior.

Imaginei se ficaria decepcionada caso perdesse o concurso. Se queria vencer para provar para mim mesma que era bonita e para os que não acreditam em mim, ou queria beijar Nico, ou era uma louca completa como todos que moravam ali. E notei que na verdade eram os três. Me lembrei do que a jurada disse, sobre eu não ser suficiente, e embora eu não ligando nem um pouco para uma mulher flácida que mais parecia um saco de pudim, pensar que os juizes poderiam ter a mesma opinião que ela me deixava triste. Não importa quantas vezes eu negue, aquilo quase me fez desistir do concurso, afinal se eu não tinha chance para quê passar vergonha? Mas só porque uma baixinha mais brega que novela de pobre não gostava de mim, eu não daria o gostinho da vitória á ela.

Senti o sono voltando, lentamente, como se a mão de Hipnos estivesse prestes á me tocar, quando ouvi o barulho de um porco sendo esmagado por um trator. Sentei na cama e vi a sombra de Ane e Julie, também sentadas. Ouvi novamente o barulho, que vinha em únissoto das três loiras.

-Elas... Elas estão mesmo roncando?- perguntei

-Parece que sim- respondeu Ane

-Justo agora que eu estava conseguindo dormir? Piranhas!

Novamente o barulho. Soltei um grunhido de raiva e deitei novamente para tentar dormir, mas elas roncavam de 10 em 10 segundos, e aquele som parecia penetrar na minha cabeça e ecoar cada vez mais alto. Sentei novamente e me limitei á olhar para minhas amigas, também frustradas e impedidas de dormir. De vez em quando uma se levantava e tentava acordá-las, mas as vacas não abriam os olhos de jeito algum, nem batendo com o travasseiro, gritando, cutucando, enforcando, chutando, nada! Dormiam feito pedra.

-Comos elas conseguem?- perguntei

-Isso é lógicamente impossivel!- exclamou Julie socando um travesseiro

-Estamos no País das Maravilhas- esclareci

-Vamos cantar para passar o tempo?- perguntou Ane toda feliz

-Por que você sempre quer cantar?- perguntou Julie

-Cantar é divertido! Vamos, eu começo! "São três meses de férias, que passam depressa, curtir é a prioridadeeeee..."- cantou animada

-Ah não! Isso me faz lembrar que estamos em uma missão no meio das férias, é deprimente!- eu disse á Ane

-Ta! Hum... "Um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais..."

-Isso me faz lembrar que estou gorda- falou Julie olhando a prória barriga

-"Perry, você é meu melhor amigo, meu verdadeiro amor antigo, melhor que barra de cereal"

-Isso me lembra Katy Perry- falei rindo

-"This is the part of me, that you're never gonna ever take away from me, no! This is the part of me, that you're never gonna ever take away from me, no"

-Throw your sticks and your stones. Throw your bombs and your blows. But you're not gonna break my soul- cantarolei

-This is the part of me, that you're never gonna ever take away from me, no- foi a vez de Julie

Paramos por alguns segundos rindo. No resto da noite cantamos músicas, brincamos de adoleta á distância, já que ficamos com preguiça de nos levantar da cama. Conversamos, Ane contou á Julie que batemos nas três Annas do cabelo estranho, a filha de Atena contou que roubamos um banco e fizemos uma boa ação, eu até mencionei o fato de ter ficado do tamanho de uma formiga por conta daquela vidente.

Até que me cansei de vez do ronco das três loiras, meus olhos já estavam ardendo e eu não tinha forças para me mexer direito. Pelas minhas contas eram 4 da manhã, uma má noite de sono atrapalharia meu desempenho na última prova, sem falar que minha irritação poderia me levar á matar o primeiro que se colocasse no meu caminho. Levantei lenta, como um zumbi, desejei estar segurando três meias pela lógica contrária e enfiei cada uma delas na boca de uma. Tudo se aquietou nos outros minutos, e eu sorri. É claro que no mundo real, se você coloca uma meia na boca de alguém que ronca durante a noite, a pessoa não consegue mais respirar e morre. E é exatamente por isso que no País das Maravilhas nenhuma delas morreu, eu sabia que não morreriam.

Ou será que não sabia?