Meu nome é Eliza Letter Crazier, tenho 13 anos e moro em Nova York com minha mãe Sara, mas pode me chamar de Lia, é eu sei, um monte de Elizas querem que as chame de Liza ou Liz, mas eu não quero, odeio ser igual a todo mundo, então só me chame de Lia.

Era 11 de Setembro quando minha vida mudou e ficou de uma hora para outra a coisa mais estranha e improvável do mundo, só que eu não quero começar a contar desde esse dia, vou dizer o que aconteceu 24 horas antes, quando um garoto estranho me vigiava perto de uma árvore e me encarava sem nem ligar que eu também estava olhando.

Naquela manhã estava tudo normal a medida do possível, pois quando se é filha de uma cientista nada sai do jeito que você quer, sim é exatamente isso, minha mãe é cientista, só que ela fica fazendo experiências pela casa para levar a um lugar estranho, com gente estranha, com paisagem estranha e até pombas estranhas, minha querida mãezinha leva o que ela diz que é trabalho para lá e faz palestras sobre coisas estranhas.

Mas hoje era domingo (eu sei, coisa de doido trabalha no domingo) e eu não tinha escola, por isso ia ficar sozinha em casa, mas como toda a vez que sai, e acredite são muitas vezes, minha mãe disse:

–Cuidado com os estranhos, não queime a casa, não mecha nos meus trabalhos (experiências), não beba água...

–Mãe, já conversamos sobre isso – eu disse

–Mas você pode se afogar.

–Eu vou morrer de sede – ela é louca de pedra

–Tá bom, mas bebe no canudinho.

Eu nem estava ouvindo mais, coloquei meus fones de ouvido e fiquei escutando Satisfaction do Rolling Stones até ela ir embora, não me leve a mau, mas eu odeio toda essa ladainha de não beba água, não queime os móveis, não mate seus peixinhos, sinceramente eu não entendo o porquê, ELA que acabou matando todos eles.

Comecei a comer pão com manteiga (N/A: Da da da da da delicia) e um Nescau, depois subi para o meu quarto, me joguei na cama e lá estava eu lendo Alice no País das Maravilhas, continuei assim até dar sede e resolvi descer pra cozinha. Quando passei pela janela eu vi um moleque estranho olhando para mim, ele estava todo de preto, com calça preta, tênis preto, jaqueta preta e aposto que as meias e a cueca também eram pretas. Mas o que me deu medo mesmo foi o nº7 na camisa (preta) dele, vocês devem estar pensando “que menina idiota tem medo do numero Sete?”, eu só fiquei com medo porque ontem eu tinha assistido ao filme O Chamado e de acordo com ele, quando você vê a tal fita amaldiçoada morre em 7 dias, aí me vem um menino todo gótico com esse numero na camisa.

O garoto ficou me encarando e eu fiquei encarando ele, qual é, eu não ia sair correndo gritando pela mamãe, eu não sou disso, odeio quem foge e nunca enfrenta, só que do nada o cara some na sombra da árvore .A essa altura pensei que já estava louca, o gótico sumiu assim, no meio do ar? Sou nova demais pra beber então será que não estava sonhando? Não, eu tenho certeza que tinha visto um Nóia na frente da minha casa me olhando, depois ele sumiu e fiquei encarando o nada, parecia uma débil mental.

Desci e fui beber a merda da água em que podia me afogar, detalhe: eu bebi tudo sem o canudinho(HÁ toma na cara mãe). Foi só pensa nisso o telefone tocou, a princípio pensei que fosse a Samara, mas era a minha querida cientista maluca dizendo que teria de ficar no trabalho fazendo uns relatórios e só voltaria bem tarde, mas depois ela disse uma coisa meio suspeita:

–Lia, você vai ter que ir para a escola sozinha, não fale com estranhos e, por favor, qualquer coisa que aconteça lembre-se que eu te amo ,entendeu? Tudo o que eu fiz foi para o seu bem e...

Nessa hora a ligação caiu, eu pensei que era mau contato, então nem me importei, mas achei estranho o papo do eu te amo, será que ela estava namorando com alguém? Não, ela realmente amava meu pai e sempre me disse que jamais iria esquecê-lo. Meu pai foi embora quando eu era pequena, minha mãe disse que se conheceram no Havaí quando ela estava de férias e que ele sumiu uma semana depois de eu nascer, eu fiquei triste de saber isso, mas não me importo mais, nunca precisei dele e nunca irei precisar, que ele suma no mundo.

Eu estava jantando, é as horas passam rápido, eu li o dia inteiro e nem ao menos almocei, peguei um miojo e coloquei no fogo, enquanto esperava o que eu vejo? Acertou quem disse o gótico do número sete, lá estava ele atrás da árvore que dava para a cozinha me encarando. Fingi que nem estava vendo, tirei a comida do fogão (miojo se faz em só cinco minutos), me sentei a mesa e comi, tinha certeza de que ele estava lá, mas não liguei, pois se o cara não estava fazendo nada pra que me desesperar? Mas só por garantia, depois que lavei a louça, forcei a tranca da porta porque ele podia se um louco que quer arrombar a casa, depois subi e fui ler.

Quando deu 10h00min já estava com sono e me deitei para dormir, mas como sempre sonhei com letras, isso mesmo LETRAS, eu sonho com letras desde o meu aniversário dia 22 de junho e isso me irritava profundamente, eu sou o único ser humano que sonha com letras. Desta vez foi com a letra “C”, sinceramente eu não entendo, eu odeio português, meu professor que devia sonha com isso, merda!!!

Ouvi do nada a música Back in Back do AC/DC e acordei, essa musica é meu alarme, pois não acordava com mais nada, nem mesmo balde de água fria (acreditem minha mãe já tentou).Olhei o relógio e vi que tinha posto para despertar muito tarde, então saí correndo da cama, me troquei (leia-se enfiei a primeira coisa que vi no armário), desci e peguei uma maçã, uma caixinha de suco e bala de menta. Fui correndo pra escola, mas o portão estava fechado então fui pela secretaria, derrubei a velha que trabalha lá e enquanto ia para o corredor ouvi ela gritar “Olha por onde anda sua peste”, peste é o meu apelido entre os professores porque eles me odeiam e eu odeio eles, minha mãe foi chamada tantas vezes que até os alunos quando a veem dizem “Quer que eu ajude a achar Lia Sra. Letter?”, eles dizem isso por que eu sempre me escondia quando minha mãe era chamada, só que ninguém nunca achou meu esconderijo, o telhado.

Quando finalmente cheguei à sala de História, onde é minha primeira aula todo dia, percebi que já tinha começado, mas mesmo assim entrei sem bater. A Sra. Horts, a professora que mais odeio, me encarou com nojo e disse:

–Vá se sentar Srta. Letter e da próxima vez que se atrasar eu juro que farei você ser expulsa antes mesmo de dizer nota “F”- quando disse isso me entregou a prova que ela tinha dado semana passada, com um grande “F” vermelho, ela me odeia e a prova disso é que eu colei no teste, então estava tudo certo e mesmo assim a vaca me deu nota baixa. INFELIZ!

Me sentei no fundo da sala, joguei meus livros e o fichário na carteira e fiquei de cara fechada. Eu odeio a Horts desde o primeiro momento em que a vi e ela também, mas a cada segundo eu suportava menos aquela velha.

–Lia, por que você se atrasou? Sabe que a Sra. Horts está procurando uma brechinha para procurar o conselho e te mandar para um internato?- Disse minha amiga Ane, que senta na minha frente, o nome dela é Anellize Morfs, tem cabelos castanhos encaracolados e olhos da mesma cor, se você olhasse de longe era uma patricinha completa, mas se realmente conhecê-la, saberá que qualquer um que tentar chamar ela assim pode dar adeus a sua vida.

–É verdade, você sabe que essa mulher te odeia e faria qualquer coisa pra te tirar dessa escola, talvez até pra te tirar do planeta, ou da galáxia, então faça isso com ela antes- quem disse isso foi Laíz, viajando como sempre, seu nome é Laíz Zeikart, senta na carteira ao lado da minha, tem cabelos lisos castanho-claro, pele mais branca que avental de médico, olhos bem escuros que deviam estar usando óculos, mas recentemente tinham uma lente de contato transparente. Ela, diferentemente de Ane, nunca ligou muito para a aparência, mas ainda assim é bonita.

–Fiquem quietas, a professora vai perceber e não queremos ficar trocando mensagens na detenção de novo- essa foi Julie, Julie Kemmer, senta atrás de mim, tem cabelo loiro e franja, olhos que mudam de cor de acordo com a luz (as vezes cinza, azul ou verde), é baixinha comparado a mim, tem uma pele branca que fica marcada no sol, é vegetariana e consequentemente ama animais.

–Mas daquela vez foi culpa sua- eu disse, nós sempre culpávamos Julie por tudo, tudo mesmo, até o aquecimento global é culpa dela, nós a culpávamos até quando a culpada NÃO era ela.

–Claro, a culpa de tudo é e sempre será minha né?

–Sim- dissemos eu, Ane e Laíz juntas

Paramos de conversar quando alguém bateu na porta e para a minha surpresa, era o gótico do número sete, mas hoje estava com um casaco preto e tinha fones de ouvido saindo pela gola da camisa. Quando ele entrou, Sra. Horts disse na voz mais agradável que eu a vi usar:

–Esse é Nico Di Ângelo, o novo aluno, sente-se ao lado da Srta. Letter por favor.

Foi quando eu percebi, EU sou a “Srta. Letter”, o cara que estava me vigiando vai senta do meu lado, isso deve ser armação da Horts, ela o contratou para me matar, eu sabia que devia ter pesquisado o passado criminal dela.

Ele se sentou do meu lado direito, (Laíz fica do meu lado esquerdo) e agiu como se não tivesse ficado na frente da minha casa me encarando com o numero sete na camisa, isso me deu mais medo do que se ele apenas se virasse e atirasse em mim. Nem prestei atenção na aula, estava muito nervosa porquê ele desabotoou o casaco e na camisa tinha o numero seis, ESTÃO CLARAMENTE ME AVACALHANDO.

Quando deu o sinal, eu e as meninas fomos para a sala de Geografia, quando entramos lá vimos o tal Nico já sentado e encarando o nada, eu me perguntei como ele tinha ido parar lá se não o vi passar, pensando bem, não o vi nem SAINDO da sala. Me sentei na última carteira, onde sempre me sento e as meninas também nos mesmos lugares, nós sempre sentávamos ali, desde o começo do ano. Nico também estava onde tinha ficado na aula de História, do meu lado, estava ouvindo música e assim que os outros alunos e a professora entraram, ele se mexeu desconfortavelmente, olhou para mim e depois para a sorridente Srta. Clear, nossa professora de Geografia, e a seguiu com o olhar

Todos os meninos olhavam para ela por causa de sua beleza. Ela tinha cabelos loiros bem clarinhos, olhos azuis e era nova demais para ser professora, mas Nico a olhou como se fosse uma criatura horrenda e ficou massageando um anel que só agora eu havia notado. Parecia que ele estudava cada movimento que ela fazia, quando abriu as cortinas, ajeitou as flores no vaso ou quando pegou seu caderno em que estava anotada a aula do dia.

Quando Srta. Clear se preparou para passar a matéria, bateu seu olhar em Nico no fim da sala, ela olhou bem para ele, que estava rígido, e não sei por que focou o olhar no seu anel. Eles se encaram e ela olhou para mim, depois sorriu do jeito mais fantasmagórico que se pode imaginar e, como se estivesse trocando cada parte do corpo por uma mais feia, sua imagem começou a mudar e ela parecia um animal, o mais estranho é que tinha uma perna de bronze e outra cheia de pelos, sem dúvida era um dos monstros que aprendemos ano passado (não que eu prestasse atenção na aula), ela era uma empousa.

Pensei que eu era a única que estava vendo isso, mas Julie cochichou no meu ouvido:

–Lia, está vendo o mesmo que eu?- sua cara era de horrorizada, eu nunca a tinha visto assim

–O que? Nossa professora favorita parecendo um mutante?

Olhei para Ane e Laíz, as duas estavam brancas como papel, acho que eu não estava muito melhor.

Srta. Clear, do nada, disparou na minha direção e eu que não sou burra nem nada me joguei no chão, mas ela conseguiu me agarrar e tirou de sua bolsa (uma que ela carregava todo dia) um facão dourado, tenho certeza de que teria cortado minha cabeça com ele se Nico não tivesse cortado a dela. Ele cortou certinho entre o topo de minha nuca e o final da garganta do monstro, se errasse um centímetro se quer eu estaria morta.

O que seria o corpo de minha professora virou pó e caiu tudo em cima de mim, só eu pra ter tanta sorte num dia só, mas mesmo essa farinha de cadáver que me fez espirrar não bastou, ainda era pouco para eu sofrer, pois o idiota do diretor da escola estava parado na porta com os olhos arregalados, não sei o que ele viu, mas de acordo com os seus gritos, não foi o mesmo que eu. O único que parecia entender perfeitamente tudo que aconteceu era Nico, que gritou pra mim:

–Fuja com suas amigas agora para o telhado.

–Tá- eu não sei por que obedeci, talvez por ele ter acabado de salvar minha vida, não faço a mínima ideia, mas puxei Laíz, Julie e Ane comigo para o telhado. Não esperamos nem cinco minutos e Nico já estava lá dizendo:

– Todas dêem as mãos, AGORA!- e lendo nossa expressão acrescentou- Depois eu digo o que aconteceu, nós temos que ir.

–Não, eu quero saber AGORA por que minha professora virou um monstro e você cortou ela- eu disse, esse cara é maluco de acha que eu vou embora sem respostas.

–Não temos tempo para isso, se vocês não quiserem morrer queimadas dêem as mãos e... – ele ia continuar, mas eu o interrompi

–Nem ligo se tá pegando fogo-só naquela hora percebi que o alarme de incêndio estava tocando- Se você nos salvou e quer logo que saiamos daqui, diga, se não nós ficaremos- cruzei meus braços e as outras também, ficamos encarando Nico enquanto ele fechava os olhos, meditava e no final resolveu falar.

–Está bem, eu conto, mas não sei se vocês vão aceitar isso muito bem- ele parecia estar querendo ir com calma para não nos assustar- Vocês conhecem os mitos de lendas gregas?

–Como os deuses, medusa, o minotauro e essas coisas- disse Julie, ela adorava falar sobre mitologia grega, mas a cara que Nico fez quando ela disse os nomes parecia a de um torturado.

–SHIIU! Não fale os nomes em voz alta e sim esses ai, isso vai soar estranho, mas- pausa dramática- Todos ele existem, os monstros caminham no meio dos humanos, os deuses saem fazendo filhos por aí e os semideuses ficam num acampamento, sendo treinados- ele disse tudo isso num jato, mas nós entendemos e não nos surpreendemos nada, afinal já tinha acontecido tantas coisa estranhas com agente (como cachorros com olhos vermelhos nos perseguido ou um cabeleleleiro que ficou com uma calda que lançava espinhos) que saber que deuses existem se torna mais uma resposta do que um monte de perguntas.

Mas acho que Nico esperava que começássemos a berrar, espernear e dizer que ele era louco, porque disse:

–Vocês acreditam em mim?- fizemos que sim com a cabeça- Isso deixa as coisas bem mais fáceis, vocês são como eu sou, semideusas, filhas de um Deus ou Deusa com um mortal- ele estava sorrindo como se não fosse nem um pouco importante o que tinha acabado de dizer, parecia um Mané.

–O QUE?MEU PAI NÃO SUMIU NO MUNDO E DEIXOU MINHA MÃE SOZINHA CUIDANDO DE MIM?- eu gritei

–Tecnicamente s... - ele ia dizer, mas o Julie o cortou

–AHHH!EU TENHO MÃE! EU NÃO ACREDITO QUE TENHO MÃE- ela berrou, a situação é a seguinte, eu e Laíz não temos pai e Ane e Julie não tem mãe, então cada uma berrou uma coisa.

–SE VOCÊ TEM MÃE? SE VOCÊ NÃO TIVESSE, NÃO ESTARIA AQUI! E EU? MEU PAI TA MORTO, ELE SOFREU UM ASSIDENTE DE CARRO!- essa foi Laíz

–Gente, se acalmem, os pais de vocês estão vivos e... – mas uma vez interromperam Nico

–CALA BOCA SEU IDIOTA, EU NÃO VOU FICAR CALMA COM MINHA MÃE POR AÍ ENTENDEU!- enquanto gritava, Ane sacodia Nico e este parecia estar com medo, muito medo, até que ela parou de sacudi-lo e começou a correr em voltas.

–É, FICA QUETO SEU LESADO, VOCÊ NÃO ENTENDE NADA SEU BURRO!- eu disse, pois já estava com raiva.

–FIQUEM QUIETAS SUAS GRALHAS E ME ESCUTEEEEEM!- ele berrou mais alto que qualquer uma de nós- Ótimo, burra é você e lesada é sua mãe, eu só queria acrescentar- ele disse se dirigindo a mim- Vocês são semideusas aceitem isso ou não, vocês vão para o acampamento meio sangue e serão treinadas para não morrerem nas mãos de um monstro, serão determinadas e ficarão no chalé de seu parente olimpiano e não quero ouvir gritaria nenhuma sobre isso.

–Tá legal, mamãe- eu disse fazendo as outras rirem- Mas como iremos para esse tal acampamento?

–Simples, viajem nas sombras- ele respondeu. Nota mental: Nunca mais deixar Nico me levar para uma viajem nas sombras