“Roxy”

Tudo estava diferente naquele momento, havia em mim um silêncio e uma leveza que nunca sentira antes, eu estava limpa, livre de meu fardo, pela primeira vez desde que me lembrava, eu estava livre.

Apertei meus olhos por um instante, não tive coragem de abri-los, pois sabia que ia me deparar com minha cruel realidade, e que o destino iria finalmente seguir seu curso. Só havia duas opções: ser vampira ou ceifadora. Ser coletora não era melhor que ambos, mas ser vampira não seria pior do que ser ceifadora, então me agarrei a uma esperança, algo que nem de longe seria uma opção, uma realidade, mas se eu me apegasse aquele momento, mesmo que breve, seria o melhor breve momento de minha vida inteira, onde eu me sentia normal.

Abri os olhos rapidamente, ao meu lado direito, apoiado na cama estava Salvatore, pela primeira vez não senti medo, ou qualquer outro sentimento. Ao meu lado esquerdo estava Bill, sua aparência estava diferente do comum, eu sabia o que havia de diferente nele, ele estava completo novamente, recuperou sua parte mais importante, sua alma. E eu não poderia estar mais feliz com isso.

A minha frente, ainda próximo a porta estava Dave, ele estava infeliz por não ter ainda alcançado seu objetivo. Ele estava tão apático que senti pena, ele desejava a coisas erradas, mas não o culpo por isso, sei que assim como eu ele só conhecia as coisas erradas. A ceifadora não estava no meu campo de visão, mas podia sentir toda a frieza que sua presença causava na atmosfera daquele quarto.

Quando Damon segurou minha mão mais firmemente voltei a realidade dos fatos, sabia que era a hora, o inicio do fim da minha breve vida, então fechei meus olhos e me entreguei ao destino que me rondava, só esperei pelo o que estaria por vir, estava apavorada e ainda mais cansada de tudo aquilo, só fiquei a espera de que tudo terminasse logo.

“Damon”

Ela me olhou brevemente assim que abriu os olhos, mas foi como se desbrava-se todo o meu ser vazio. Vazio. Foi assim que me senti naquele momento, todo o orgulho, todo o poder, toda a realidade de minha existência não fizeram mais sentido, todas as minhas certezas já não estavam lá, e repentinamente tudo aquilo não fazia diferença, não era mais por Bill, não era mais por nada, era por ela, ela era única coisa que importava. Ela fechou os olhos, como se aceitasse seu destino, mas não estava mais certo qual deveria ser seu destino, mas tinha que ser feito, algo tinha que ser feito, algo que iria contra tudo, contra todos os planos ou acordos estabelecidos mais cedo.

Ninguém parecia se importar mais do que eu, Bill Já tinha o que queria e ela nem precisou morrer para isso, para ele nada mais faria diferença, e depois de tanto poder adquirido, este poder que parecia infinito e desconhecido, não acredito que eu ou alguém além dele mesmo, sairia andando pela porta da frente.

Uma lágrima escorria pelo canto de seus olhos, aquela lágrima refletia toda sua luta, luta que terminaria em vão, assim como toda minha existência. Fechei meus olhos e me entreguei ao sentimento que neguei e tranquei dentro de mim por tanto tempo.

Tinha que ser feito.

“Bill Compton”

Não havia nada, nada, nada. Qualquer ligação, conexão ou sentimento que existia entre nós havia desaparecido. Procurei no mais fundo de mim, mas não havia nada a ser encontrado. Roxy e eu éramos dois estranhos, dois seres completamente diferentes, e tê-la para mim não fazia mais sentido.

Nem mesmo quando nossos olhos se cruzaram nenhuma faísca daquilo que tínhamos se reacendeu. Eu podia sair dali a qualquer momento, que nem mesmo arrependimento eu sentiria.

Não havia mais nenhum plano para ela, não para mim, mas havia para eles, talvez Salvatore e aquela mulher estivessem exatamente onde queriam, e eu não daria a vitória para meus inimigos.

Quando vi a lágrima escorrer pelo rosto dela, sabia exatamente o que fazer, eu soube qual seria meu próximo passo.

“Roxy”

Houve gritos, barulhos, gemidos. Não tive coragem de abrir meus olhos, a dor que sentia me consumia, toda paz, toda a leveza foram embora ainda mais rápido do que vieram. As presas dele estavam em mim, e dilacerava minha pele, eu não queria saber quem me tirava do mundo dos vivos, eu saberia de qualquer maneira, eu não queria ver o que acontecera naquele sótão, queria guardar a lembrança de ser alguém normal e livre como a ultima coisa que senti. Não precisava de todo o medo e horror que se passava naquele cômodo, naquele exato momento.

Me entreguei a dor e apreciei meu ultimo suspiro, e principalmente ao gosto de ferro que o sangue frio deixava em minha boca. Eu vi a luz no fim do longo túnel, mas ela estava distante, e a cada segunda ficava ainda mais impossível de chegar até ela.

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Dois dias depois...

“Roxy”

Eu não sabia onde estava, e fiquei receosa de abrir os olhos e não gostar do que viria, mas sentia o confortável toque do lençol em minha pele. Nunca tinha reparado nisso, na verdade eu estava reparando em um milhão de outras coisas ao mesmo tempo, sem nem mesmo abrir os olhos. Então percebi que já não era mais a mesma, estava feito, a transformação estava completa. O meu destino seguiu seu curso, não era o milagre que eu esperava, mas de todas as coisas ruins, a melhor havia se concretizado.

Quando senti as presas entre meus lábios, percebi que tinha nascido novamente, ressurgido das cinzas, como vampira.

Eu era uma vampira.