A Coletora escrita por GillyM


Capítulo 3
Suave como o vinho


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulo!!!
Boa leitura.



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*Roxy*

Todo o meu ser estava em pânico. Cada fibra do meu corpo que temia tanto aquele momento estava num completo desespero. Havia tempo que não me sentia assim, vulnerável. Estávamos no meio do deserto, havia só a escuridão, e a lanchonete deveria estar a pelo menos um quilometro de distância.

Fiquei a espera de seu ataque feroz e mortal que não aconteceu, afastei as mãos vermelhas tingidas pelo o sangue e o espiei cuidadosamente. Ele continuava parado a meio metro de mim, me olhando seriamente.

Ele levantou o braço direito em minha direção, então escondi ainda mais o rosto. Com as pontas do dedo, ele contornou o caminho marcado pelo sangue que escorria de meus olhos. Uma gota se sangue ficou em seu dedo, que ele levou rapidamente a boca.

*Desconhecido*

Suave como um vinho.

Este era o gosto do sangue que escorria de seus olhos, e rolava por sua pele branca. Um gosto único, que jamais havia provado antes. Definitivamente ela não era humana, mas respirava como uma, vivia como uma.

Aquela gota se sangue despertou um impulso quase que incontrolável, eu queria mais e mais, até que a ultima gota de sangue tocasse meus lábios. Agarrei seu pescoço e prendi seu corpo nu ao meu, cravei minhas presas em sua pele fria e comecei a sugar e saborear aquele doce vinho que emergia de suas veias.

Parei repentinamente, quando senti algo estranho e indescritível.

Por um segundo me pareceu estar apreciando meu próprio sangue, não meu sangue vampiresco, mas meu sangue humano. Minha mente foi inundada por lembranças juvenis, de coisas que nem se quer me lembrava ter feito. Por um momento eu poderia dizer que ficamos conectados.

Não poderia matá-la antes de saber o que aquilo significava.

*Roxy*

Ele soltou meu corpo violentamente, cai de joelhos no chão de terra cheio de pequenas pedras que machucaram minha perna e minha mão. O encarei rapidamente, ele olhava para mim como se sentisse nojo de meu sangue.

- O que é você? – Ele perguntou incomodado e confuso.

Ele limpava os lábios com a manga de sua camisa.

- Eu não sei – Respondi receosa abraçando os joelhos machucados, minha voz quase não saia da garganta.

- O que você é? – Ele perguntou mais uma vez.

Algo me dizia para não revelar a ele as coisas que fazia, mas se não contasse, talvez tudo pudesse ser pior. Meus instintos também diziam que eu deveria ficar longe dele, mas isso não ocorria com outros vampiros, toda aquela hostilidade que emergia de mim ao vê-lo ou ao estar em sua presença, era diferente de tudo que havia vivido.

Aquele sentimento me fez lembrar a primeira vez que o vi, há quase treze anos atrás.

“Eu estava na Europa quando o conheci, estava aproveitando a noite francesa, quando entrei num bar qualquer. Ele estava sentado numa pouse quase estática, olhando as pessoas dançarem, e com cara de poucos amigos. Quando meus olhos cruzaram os dele eu sabia que já o conhecia, mas não sabia como e nem onde poderia ter me encontrado com ele. No momento em que ele me viu, eu também soube que ele me conhecia, ele me encarou profundamente, como se tivesse lendo minha alma, como se soubesse de todos os meus segredos.

Ele me encarou seriamente, levantou-se de sua mesa e caminhou em minha direção, desviando das mulheres que entravam intencionalmente em seu caminho na pista de dança. Não existiam razões para que eu me afastasse, na verdade ele era o tipo de homem que todas as mulheres gostariam de ter ao lado, mas mesmo assim me senti encurralada por ele. Dei de costas e caminhei rapidamente para a saída do bar, sem saber o porquê de eu estar fugindo, quando cheguei à rua me perdi em meio as pessoas que transitavam pela calçada, e ele perdeu meu rastro, até que anos mais tarde me encontrou numa pequena cidade do sul dos Estados Unidos.”

Eu não conseguia entender o motivo do meu medo, como já disse não faz parte de minha natureza me entregar, sempre me mantive firme e controlada em qualquer situação, mas ele me confundia, fazia alternar os sentimentos dentro de mim, sentimentos que nem sabia ainda ter, muitas vezes acreditei que minha humanidade havia se perdido em algum lugar do tempo.

Ele não era o primeiro vampiro que tentava se aproximar, mas diferente dele, eu não temia os outros vampiros, e eles também não pareciam querer sugar meu sangue até minha morte, isso me fez acreditar que meu sangue não foi feito para eles, nem minha carne, nem minha alma, por isso muito deles não podiam nem pressentir minha presença, por isto estava sempre um passo a frente.

*Desconhecido*

Caída no chão, co o rosto manchado pelo sangue, eu me lembrei da primeira a vez que a vi, sua aparência não havia sido alterada pelo tempo, e sua beleza era ainda mais impressionante.

O que havia nela que me atraia tanto?

Sempre me fiz esta pergunta, pois minha eternidade parecia se resumir àquele encontro. Sempre acreditei que a explicação para aquela atração fosse sue sangue, todo o seu mistério, mas naquele momento percebi que era algo muita mais além, algo forte, uma conexão inexplicável.

Tirei meu casaco e ofereci a ela, o que eu queria saber não Iris conseguir sugando seu sangue ou corrompendo sua carne, ela pegou o casaco e se envolveu nele, ela não parecia estar mais em pânico, as lagrimas já não corriam pelo seu rosto, mas ela me olhava de forma estranha e intrigante.

Estendi o braço para ajudá-la a se levantar e como um sinal de confiança, mas ela não se rendeu, levantou-se e me olhou ainda mais desconfiada, ela nem se quer passou a mão no ferimento que minhas presas lhe causaram, e ela não parecia estar incrédula pela minha natureza, quando ela olhou para o céu, como se esperasse algo, eu percebi... Ela já sabia o que eu era.

Como?

A noite já estava a acabar, e o sol já estava surgindo, eu não poderia ficar, e ela sabia muito bem disso. O sol sempre fora meu inimigo nesta caçada por ela, toda vez que a encontrava, ela sempre ficava em lugares públicos com muitas pessoas e algo não deixava eu me aproximar, ela esperava o sol nascer para fugir, sem deixar rastro.

O que seria capaz de me aproximar dela e ao mesmo tempo me repelir?

Sempre que acordava, passava a noite inteira tentando encontrá-la, ela não tinha lar, e também era prostituta, então a procurava nos lugares mais prováveis, como motel, bares e abrigos. Tudo que sabia sobre ela era seu nome, Roxy, um nome falso, é claro.

- Sei que assim que o sol nascer, você vai desaparecer novamente – Disse a ela – O que quero que você entenda, é que sempre vou te encontrar.

Ela continuou parada a me encarar.

- As coisas não precisam terminar em sangue – Disse na tentativa de manipulá-la – Talvez possamos nos ajudar.

*Roxy*

- Eu não confio em vampiros!

Gritei ao perceber que ele tentava me manipular, ele não era o primeiro a tentar, felizmente eu era imune a isso.

- Você é uma criatura da noite. Criaturas da noite são mentirosas – Retruquei ao sentir meu corpo se encher de coragem – Conheço bem sua espécie.

- E a qual espécie você pertence, Roxy? – Ele perguntou num tom ameaçador, quando ele disse meu nome, percebi que ele sabia mais do que imaginava – Assim como eu, você também é uma criatura fria, e parece pertencer a eternidade também, mas diferente de mim, você é frágil e posso machucá-la facilmente.

Suas palavras me intimidaram completamente, ele estava certo, mesmo dividindo algumas particularidades com ele, eu ainda era a presa fácil.

- Haaaa... Vamos lá Roxy! Se eu a quisesse morta, já teria feito isso – Ele debochou e depois analisou meu corpo com seus olhos – E não tente esconder tudo de mim, sei bem como você ganha o seu dinheiro. Você não é uma garotinha envergonhada.

- Você me queria morta, mas nunca teve a chance – Repliquei mais uma vez – E agora que teve sua oportunidade, você falhou.

- Bom para mim e péssimo para você, se acredita mesmo nisso – Ele sorriu e segurou meu rosto em suas mãos – Vou mantê-la viva até conseguir o que quero, e parece que não será difícil de conseguir. Bom dia, Roxy.

Ele soltou meu rosto e num piscar de olhos desapareceu em meio ao deserto, faltava pouco para o sol nascer, então voltei a lanchonete, coberta apenas pela o casaco que ele havia me deixado, o vestido eu trajava se transformou em trapos. Entrei cuidadosamente pela a porta do fundo, e me tranquei no banheiro dos funcionários, quase fui pega por um que estava a recolher o lixo da lavanderia. Encontrei um uniforme de garçonete sujo ao lado da pia do banheiro, estava imundo e me causava enjoou, mas precisava vestir aquilo, e ir embora o mais depressa possível.

Trajando aquele uniforme imundo segui para estrada, apontei meu dedo para conseguir uma carona, sem me importar qual seria seu destino. Um carro parou e entrei rapidamente, foi quando me lembrei de minha bolsa que ficou no bar, não costumava levar nada comigo, apenas aquela bolsa com utensílios básicos, pensei em voltar para buscá-la, mas ao olhar para o homem que conduzia o carro, me esqueci completamente dela.

Aquele era o momento onde todas as minhas duvidas seriam sanadas.

- Olá Roxy!

Ele sorriu e pisou no acelerador.


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Notas finais do capítulo

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