“Damon”

Enquanto Compton se fazia valer no interior do escritório, Selene me fitava de modo debochado na sala ao lado, eu nada sabia sobre ela, mas ela já havia ganhado minha simpatia pelo seu modo de agir. Logo comecei a me perguntar qual seria seu papel em tudo aquilo.

– Então... O que me diz sobre ela?

– Interessante e diferente – Respondi friamente, duvidava das verdadeiras intenções dela.

– Exatamente, Roxy se mostra diferente para aqueles que interessam. Eu esperava passar por isso, mas algo deu errado.

– E você acredita que Roxy tem haver com seus problemas. Vi como olha para ela... Você não vê a hora de se livrar dela.

Ela sorriu. Embora não confiável, os atributos de Selene eram invejáveis, ela ainda seguia o modelo clássico de vampiros, com suas vestimentas escuras e de couro, e sua feição fechada e ameaçadora. Nos últimos anos, com a banalização de nossa espécie pelos humanos e pelos próprios vampiros, muitos de nós estávamos nos parecendo cada vez mais com humanos, pelo estilo de vida e roupinhas modernas.

Muitas coisas haviam mudado no mundo, e muitos vampiros mudaram com elas, por isso havia esta divisão de classe dentro da nossa espécie, havia vampiros como Sr. Compton, simpático aos humanos e um predador com boa educação, que se alimenta de sangue humano, mas pede permissão a suas vitimas e as mantem vivas. Haviam aqueles que se alimentavam de V ou de sangue de animais, estes são as verdadeiras ofensas a nossa espécie, estes não mereciam serem chamados de vampiros, pois só serviam de fonte de V aos seres humanos. Felizmente há minha classe de vampiro, na verdade a única classe que merece ser chamada assim, somos clássicos, mantivemos nossas características, somos predadores, superiores, vivemos nas sombras, não negamos a nossa natureza assassina.

Selene pertencia a minha classe, por isso não entendia sua aliança com Bill Compton, não costumamos a nos relacionar com vampiros da classe dele.

– Roxy fora parte de meu problema, ela permitiu que meu coletor fugisse, e não me aprecia ser passada para trás, muito menos por humanos ou outras criaturas como ela. Achei que tivesse dado a ela o castigo merecido, mas quando Bill Compton me ligou, fiquei curiosa para saber como ela sobreviveu.

Selene se explicou.

– Ela te passou para trás? Quanto mais sei sobre ela, mais ela me agrada. Compton sabe que tentou mata-la? Ele não vai permitir que você a mate, mas você já deve saber disso.

– Compton não sabe de muita coisa. Ele está cego por ela, ela o deixa confuso e vulnerável, ele não me deixará toca-la, mas ele fará isso por mim. O único jeito de ter sua alma de volta é matando-a.

Confuso. Perguntei-me a mim mesmo se era assim que me sentia em relação a Roxy, se toda aquela admiração que ela conquistou não fora resultado do mesmo efeito que ela causava em Compton. Comecei a acreditar nas hipóteses de Selene, quando me recordei do sabor de seu sangue e do prazer que tive em tê-la em meus braços.

– Não se preocupe – Selene prosseguiu – Você não ficará como Compton, é necessário que fiquem muito próximos para isso, e eu não pretendo deixa-la viver tempo suficiente para que isso ocorra.

– Próximos?

– Sim, próximos. Bill bebeu muito do sangue dela, e fez outras coisas também. Acredito que neste momento ele deve estar dentro dela – Selene disse ironicamente.

– Por que o ajuda? Se isso realmente for verdade, ele será mais poderoso que você.

– Bill pode ter o poder que quiser, não pretendo deixa-lo vivo para usufruir, só quero saber como isso funciona, ter a alma de volta pode ser um benção ou uma maldição.

– Maldição? Achei que já fossemos amaldiçoados.

Matar Bill Compton não seria problema para Selene, ela era mais velha e muito mais forte que nós dois, mas não tinha tanta segurança de que seria possível matá-lo após ele dispor de tanto poder, se é que isso era realmente possível. Então procurei obter todas as informações possíveis.

– Tenho duvidas e acho que você pode ajudar a entendê-las. Quando Bill tiver a alma de volta, e se Roxy também guarda a minha, o que acontecerá comigo? Não estou disposto a ser aquele que perde, e Bill não me chamou aqui para ganhar nada.

– Até que enfim me fez esta pergunta. Já estava acreditando que você seria burro suficiente para cair nesta armadilha de Bill. Compton é cuidadoso demais, ele quer saber onde está pisando.

– Se eu matá-la terei minha alma de volta, e ele mais nada poderá fazer.

– Ele não acredita num poder maior, diferente de mim, ele acredita somente em privilégios.

– Quais privilégios?

– Ele não foi especifico quanto a isso.

Nossa conversa foi interrompida por uma visita interessante, a noite estava ainda na metade, e muita coisa aconteceria.

“Roxy”

Não podia deixar que Bill acreditasse que tinha todo o poder sobre mim, mesmo que tivesse, ele precisava sentir-se inseguro, e dizer a ele que Damon também tinha direito sobre mim, o fez perder o equilíbrio, sua reação ao me ouvir dizer aquelas palavras, me fez acreditar que talvez nem tudo estivesse perdido, talvez eu tivesse uma chance usando sua atração ao meu favor.

Bill ficou surpreso com a atitude de Damon em não me morder, pensei que não me matar fosse um acordo entre eles, mas não me machucar pareceu ser uma grande surpresa para Bill como foi para mim. Eu sabia que a alma de Damon não estava presa a mim, mas somente eu além de Sookie tinha conhecimento disso, comecei a me perguntar se Salvatore, ao provar meu sangue, tinha conhecimento disso também, pois sua reação a mim não foi resultado da atração da alma.

Ainda estávamos no escritório, ainda estava presa junto dele, ele me segurava tão firmemente como seu eu pudesse seguir para qualquer lado.

– Porque o trouxe aqui?

Perguntei subitamente, ensaiando uma oportunidade de persuasão, o que parecia ser uma grande besteira, já que os vampiros eram os maiorais quando se tratava de manipulação.

– Precaução.

– Para que?

– Para nada sair errado.

– O que pode sair errado para você? – Perguntei curiosa.

– Não confio em você, não sei até onde isso pode me levar.

–Acredita que eu represento algum perigo para você? Você já não me usou o bastante para saber que não sou um problema? Não confia em mim, Bill Compton?

– Eu não sei... Devo confiar em você?

– Você quer confiar em mim?

– Onde quer me levar com essa conversa fiada?

– Quando vai parar de responder minhas perguntas com outra pergunta?

Ele esbouçou um sorriso que derreteu todo o gelo que estava impregnado em seu rosto. Será que minha tentativa de manipulação estava dando certo?

“Bill Compton”

Quando me dei conta estava sorrindo, aquela fora a primeira vez que tivemos uma conversa mais próxima do amigável possível, e quando me dei conta já estava perdendo o controle novamente e eu não poderia permitir isso. Concentrei-me novamente e recordei suas ultimas palavras, elas logo me trouxeram de volta, e eu me senti no controle mais uma vez.

A audácia com que ela me afrontou, sua repentina mudança de comportamento e tentativa de me manipular, desafiou-me vorazmente, isso me fez recordar dos antigos tempos, quando brincávamos de gato e rato pelo mundo, e que sua identidade ainda era um grande ponto de interrogação para mim.

Suas palavras foram diretas e duras, mas verdadeiras, ela realmente não pertencia somente a mim, ela também guardava a alma de Salvatore, e isso poderia fazê-lo sentir com tanto direitos sobre ela quanto eu. Traze-lo até ela não foi minha idéia mais brilhante, então precisei tomar uma decisão rápida, não daria a ele outra oportunidade de tê-la nos braços, ele não poderia sentir o que eu sinto próximo dela, então resolvi acelerar as coisas.

– Diga-me como posso ter minha alma de volta e o que acontecerá se eu a tiver.

– Você já sabe. Drena-me até a morte e ela será sua, mas o que acontecerá após isso é tão misterioso para mim quanto para você.

– E se eu não quiser que você morra?

– E por que você não iria querer isso?

Não havia resposta para aquela pergunta, não havia explicação para o meu comportamento naquele instante, eu sabia que ela queria me manipular, estava claro isso, mas meu corpo respondia de outra forma.

Sookie não poderia ter chegado numa hora pior, senti sua presença no jardim antes mesmo de Jessica me avisar, eu deixaria Jessica resolver este problema, como lhe ordenei, mas ela não estava sozinha, Jason e Tara estavam com ela, e provavelmente Damon e Selene, dois assassinos, também já havia notado a presença deles.

Eu não precisava de um derramamento de sangue em meu jardim.