Ethan

            Dan e eu observamos a Nina por quase quinze dias e durante todo esse tempo ela agia como se fosse um ser humano normal, nunca tentou machucar ninguém, nem ficava irritada ou tentava revidar alguma provocação das garotas que não gostavam dela. Ela é uma garota muito estranha, a sua calma me deixava extremamente assustado, eu não conseguia compreender o que aquela atitude significava e por isso achei melhor chamar o Daniel para finalmente conversarmos com ela. Já tínhamos esperado demais.

- Tem certeza que não é melhor esperarmos mais um pouco? Quer dizer, eu sei que ela é meio estranha, mas mesmo assim, ainda acho que devíamos esperar mais um pouco, observarmos mais, tentar descobrir o que ela está planejando.

- E como vamos descobrir isso Dan? Estamos há quase quinze dias vigiando-a, tentando descobrir o que ela quer nessa escola e até agora não descobrimos absolutamente nada. Não dá mais pra esperar, essa escola é nossa responsabilidade. Temos a obrigação de proteger as mais de mil crianças e adolescentes que estudam aqui.

- Ok! Talvez você tenha razão. Quando você pretende falar com ela?

- Agora. Acabei de vê-la indo na direção do jardim. Vamos.

- Ok chefe.

- Isso é sério Dan, não tem graça e, para de ficar me chamando de chefe.

- Hahaha... você sabe o quanto eu adoro provocar você né?!

- Eu sei. Agora vamos, antes que algum dos admiradores da Nina resolva ir atrás dela.

- É impressão minha ou tem alguém aqui com ciúmes?

- Não viaja. Eu não dou a mínima para a Nina ou para o fato de ela estar com alguém, só não quero que ela machuque ninguém e você devia estar preocupado com isso também. Já que parece que a maioria dos homens dessa escola dariam um braço para tê-la do seu lado como sua namorada.

- Hahaha isso é verdade. Confesso que até eu fiquei com vontade de dar uns beijos nela. – o olhei com cara de poucos amigos, reprovando-o. –  É claro que se ela não fosse a filha do demônio que está tentando acabar com a gente e toda a raça humana só pra poder vencer a eterna batalha com Deus. – completou ele com a cara mais limpa.

- Vamos.

            Ao chegarmos no jardim avistamos a Nina sentada na grama, no meio das margaridas e tulipas. Era simplesmente a visão mais linda desse mundo. Parecia cena dos filmes da Disney. Ela estava rodeada de pássaros e borboletas coloridas e, parecia estar conversando com eles. Várias borboletas e pássaros pousaram nos braços dela assim que ela começou a cantar uma música suave. Uma voz doce e sedutora.

Confesso que fiquei de boca aberta, completamente encantado com a cena. Nos aproximamos lentamente para não assustá-la, não queríamos brigar, ainda mais na escola. A Nina sentiu a nossa presença e virou-se rapidamente, dando um salto para longe de onde estávamos, os pássaros e as borboletas que estavam pousados nos seus braços voaram assustados.

- O que vocês querem?

- Só queremos conversar com você. Não viemos brigar. – Ela não pareceu muito convencida com o que eu disse.

- Conversar sobre o que? Eu não tenho nada pra falar com vocês.

- O que você quer nessa escola? – Perguntou o Daniel de maneira fria e até meio grosso.

- Eu só quero terminar o ensino médio em paz. Só isso.

- Terminar o ensino médio em paz??? Acha que somos idiotas garota? – Perguntou o Daniel, totalmente sem paciência.

- Olha, nos sabemos quem você é tá legal. – Eu disse de maneira calma. – Portanto não nos subestime. Sabemos que você está aqui por algum motivo. Foi o seu pai ou o seu irmão que a mandou até aqui pra fazer o trabalho sujo deles? Por favor não minta pra gente.

- Eu já disse porque estou nessa escola. Não estou mentindo. Eu juro. Tudo que eu quero é viver a minha vida em paz. Sem brigas, sem precisar fugir o tempo todo. Só quero ter uma vida normal, como qualquer pessoa normal. – ela falava rápido, como se estivesse com medo de que não a deixasse falar tudo que tinha pra nos dizer.

- Está querendo que a gente acredite que você veio pra essa escola pra se esconder de alguém? – perguntou o Daniel visivelmente irritado com as respostas dela.

           A Nina respondeu acenando positivamente com a cabeça. Não me perguntem porque, mas por algum motivo eu acreditava nela. Eu não queria acreditar, mas acreditava. Eu podia ver o medo nos olhos e em cada palavra que saia da sua boca. Mas de quem ela poderia estar fugindo? Dos arcanjos? Se fosse deles, ela deveria ter ido embora assim que nos viu. Então porque ela não foi? Eu estava cada vez mais confuso.

Eu ainda estava tentando entender o que estava acontecendo quando senti um vento forte passando pelo meu corpo e quando consegui acompanhar o que causou aquele vento tão forte que quase me derrubou, eu vi a Nina com o corpo colado em uma árvore e o Daniel segurando-a de maneira grosseira contra a árvore.

Ela o olhava totalmente em pânico, depois virou a cabeça na minha direção e me olhou de maneira desesperada. Parecia um coelhinho assustado, encurralado pelo predador. Aquele olhar me deixou ainda mais confuso. Porque ela não se defendia? Era evidente que ela era muito poderosa. Ainda mais poderosa que eu ou o Dan. Eu diria que se um de nós a enfrentasse sozinho, teríamos grandes chances de morrer. Então porque ela continuava presa contra a árvore, me olhando com um pedido de socorro nos olhos?