A casa de viola estava cheia. Quase metade dos alunos da E.M estavam na festa. Luzes piscantes acompanhavam o ritmo dos corpos que se moviam ao som de Like G6.

Alice se sentia deslocada no meio de todos aqueles desconhecidos. Ela enrolava o laço do vestido com o dedo indicador para disfarçar o seu nervosismo. Viola observa a amiga de outra extremidade da sala enquanto cumprimentava os seus convidados. Ela se aproximou e entregou um copo para Alice. Era vodka. A garota cheiro o liquido no copo e enrugou o nariz. Sem que Viola percebesse, ela deixou o copo de lado.

“Onde está o seu namorado?” Viola perguntou maldosamente.

“Ele não é meu namorado.” Alice respondeu entre dentes.

“Tanto faz.” Viola deu um gole em seu copo de vodka. “Onde está os eu copo?”

“Preciso ir ao banheiro.” Alice deixou Viola falando sozinha.

Os corredores da casa de Viola eram confusos. Alice acabou entrando no quarto da irmã de Viola. O cômodo estava iluminado apenas pela luz que vinha do corredor. O enorme espelho ao lado da cama refletia Alice. Ela não reconhecia aquele reflexo de vestido vermelho e delineador preto em volta dos olhos.

“Quem você acha que está enganando?” Alice perguntou a si mesma.

Ela se sentia um mico de circo tentando chamar a atenção do respeitável publico Alice nem sabia mais porque estava ali. Giulia viu Alice no quarto, parada olhando para o espelho no escuro como uma idiota.

“O que você está fazendo aqui?” Giulia acendeu a luz do quarto.

Alice piscou algumas vezes até se acostumar com a claridade repentina.

“Viola sabe que você está bisbilhota...”

“Giulia?” Alice chamou.

“O que?”

“Não enche.”

Giulia abriu a boca para responder.

“ Vamos sair daqui.” Alice disse antes que uma resposta mal educada viesse da amiga.

Giulia seguiu Alice contrariada. Viola olhou com suspeita para as duas garotas que saíram juntas do corredor. Antes que Viola pudesse fazer algo, sua atenção se direcionou para onde Alice olhava tão fixamente.

Mattia e Denis estavam perto da porta. Ninguém parecia perceber a presença dos dois. Denis esbarrou em Mattia quando um cara com quase o dobro do tamanho de Denis passou por ele. Mattia olhou para o amigo que sussurrou um pedido de desculpas.

 Viola fez sinal para que Alice fosse falar com Mattia. Mas ela permaneceu no mesmo lugar, não tinha mais vontade de beijar Mattia.

A música fazia tudo vibrar. Para Mattia estava alta demais. Seus ouvidos zuniam. Mattia pegou um copo de coca-cola e Denis de vodka para parecer descolado para o amigo. O álcool fez sua garganta arder.

A paciência de Viola estava se esgotando. Ela puxou Alice pelo braço e a levou até Mattia.

“Oi.” Alice disse.

“Oi.” Mattia respondeu timidamente.

“Alice fique aqui com seu amigo Matteo...”

“Mattia”. Alice e Denis corrigiram ao mesmo tempo.

“Que seja.” Viola deu de ombros. “ E você vem comigo.”

“Por quê?” Denis questionou Viola.

“Por que eu quero.”

Viola arrastou Denis pelo braço como havia feito com Alice. Denis pensou em protestar, entretanto estava no território de Viola. O garoto olhou para trás a tempo de ver Mattia seguindo Alice para fora da sala. Denis sentiu um nó se formar em sua garganta.  

Alice guiava Mattia para o quarto de Viola como a mesma havia dito para Alice antes da festa começar. Mattia seguia Alice sem saber muito bem porque estava fazendo aquilo. Todos os nervos de sua mão estavam concentrados na mão que segurava a de Alice.

O quarto de Viola era bem diferente do que Alice imaginava. As paredes rosa eram repletas de estantes com bonecas e bichos de pelúcia. A cama de casal coberta com uma colcha de corações fazia parecer ainda mais um quarto de criança. Alice esperava ver paredes pretas com teias de arranhas e talvez um caldeirão fumegante. Mattia sentou na beirada da cama. Alice o observou por algum tempo. Mattia estava olhando para o tapete em forma de estrela no chão. Ele tinha os cabelos escuros sobre os olhos negros profundos, seu nariz fazia sombra sobre os lábios cheios. Na opinião de Alice até que ele era bonito. A mão de Mattia estava sem curativos, uma linha rosada traçava um caminho do polegar até o inicio do pulso. Alice se sentou na cama também e encostou o indicador na cicatriz de Mattia. Ele retirou sua mão e a escondeu no bolso.

“Desculpe.” Alice recolheu sua mão.

‘Tudo bem. Não gosto que a toquem.” Mattia olhava para os seus joelhos.

“Entendo.”

Alice realmente entendia, pois nunca deixava que encostassem em suas cicatrizes.      

“Como você a fez?”

“Cortei a mão com um bisturi n laboratório na aula de biologia.”

“Dizem que você é doido.” Alice encolheu os ombros.

“Talvez eu seja.” Mattia deu de ombros.

“Não acho que você seja doido. Um pouco excêntrico?” Mattia não sabia se havia sido uma afirmação ou uma pergunta.

“Excêntrico?” Mattia riu ironicamente. “Eu me corto. Isso não é excentricidade, é loucura. Não consigo ver uma lamina sem pensar em me talhar com ela. Isso não é ser excêntrico.”

Alice ficou um pouco assustada com a reação do garoto. Ela começou apensar que ele realmente era doido. Mattia tirou a mão do bolso, levantou um pouco a manga de sua camisa e a mostrou a Alice. Outras cicatrizes se espelhavam pelo braço do rapaz. Inclusive uma um pouco maior que ia de um ao outro do pulso de Mattia. A maioria já estava quase sumindo. Alice queria saber o porquê Mattia as causou. Ela também tinha cicatrizes, mais do que poderia contar, ela faria qualquer coisa para não tê-las.

 “Onde sua amiga levou o Denis?”

“ Não precisa se preocupar. Viola não morde pelo menos eu acho que não.” Alice esperava que Viola não estivesse sendo má com Denis.

“Por que estamos aqui?” Mattia tirou uma mecha rebelde da frente dos olhos.

“Por que eu deveria beijar você.”Alice se arrependeu de ter dito aquilo.

Mattia sentiu o rosto corar.

“ Mas não quero. Acho melhor voltarmos.”

Alice estendeu a mão para Mattia que a segurou sem muita vontade. Os dois saíram de mãos dadas do quarto como haviam entrado.

Viola e suas seguidoras cercaram Denis. Alessandra pegou uma garrafa vazia que estava sobre a pia e a entregou para Viola que a colocou no centro da mesa. Denis queria ir embora, procurava pelo amigo na sala por cima dos ombros das garotas que impediam a sua passagem. Giada empurrou Denis até a mesa. Alessandra girou a garrafa que passou apontando para Denis. Ele sabia que ela havia feito de propósito.

“Verdade oi desafio?” Viola perguntou para Denis.

O garoto permaneceu em silencio.

“Então eu escolho.” Viola disse. “ Desafio você beijar a ...”

Viola olhou para as amigas que faziam cara de nojo.

“Giada!” Viola decidiu.

“O que? não!” Giada protestou.

O olhar de raiva faz com que Giada se encolhesse de medo. Giada respirou fundo e se virou para Denis que não moveu sequer um músculo. Ele não queria acreditar que seria forçado a beijar aquela garota.

“Anda logo com isso.” Giulia gritou.

Giada colocou a mão nuca de Denis e o beijou. Ambos ficaram parados com os lábios colados. Denis sentiu seu estomago revirar e abriu os olhos. Para não encarar o rosto de Giada olhou para o outro lado.

Mattia e Alice entraram na cozinha se mãos dadas. Denis se separou de Giada e observou surpreso o amigo. Viola sentiu inveja de Alice, nenhum garoto havia segurado a mão de Viola daquela maneira. Ela merecia mais aquele gesto do que a estranha Alice, pelo menos era o que Viola pensava.

Denis saiu da cozinha e Mattia foi atrás dele. Alice ficou no meio de suas supostas amigas.

“Me conte tudo!” Alessandra pediu.

“Sim. Conte-nos tudo.” Viola tinha seu sorriso sarcástico estampado nos lábios.

Mattia encontrou Denis escondido em uma sala que parecia um escritório. Ao lado dele havia cacos de um vaso espalhados pelo chão. Em um acesso de raiva Denis o jogou de cima da mesa.

“O que você fez?” Matti perguntou.

“Nada.” Denis respondeu se afastando do vaso quebrado.

“Nada? E esse vaso?”

“Já estava assim.” Denis respondeu chutando um caco de vidro para longe.

“Vamos embora.” Mattia disse.

Denis olhou para o amigo.

“É, vamos embora dessa droga.” Denis cuspiu as palavras.

Mattia ligou para o seu pai pedindo para que ele fosse buscá-lo. Pietro estranhou o pouco tempo que o filho ficou na festa e tentou convencê-lo a ficar mais. Mattia recusou. Pietro não tentou novamente e foi buscar os garotos.

O caminho de volta foi silencioso. Denis não queria falar e Mattia muito menos. As tentativas de puxar assunto de Pietro foram fracassadas até ele se render ao silencio que reinava em seu carro.