Sobre A Pele escrita por Selena West


Capítulo 4
Linha de Sangue


Notas iniciais do capítulo

mais um capitulo ;D



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Denis e Mattia estavam sentados próximos no balcão do laboratório de biologia. Denis sentia uma vontade imensa de tocar a mão de Matti que cortava o peixe para a experiência que a professora pediu. Ele não entendia muito bem da onde vinha aquele desejo de tocar o amigo, o que Mattia pensaria se soubesse que ele imaginava os dois se tocando. Provavelmente sentiria nojo, Denis se sentia impotente perante seus próprios desejos.

Mattia estava concentrado no experimento de biologia sequer havia levanto os olhos desde que a professora havia passado a tarefa. Ele não gostava de biologia, mas se dedicava com afinco como nas outras matérias. Para Matti a biologia era algo pequeno e imperfeito, preferia a matemática, sempre obvia e clara.

Com o bisturi abriu a barriga do peixe para analisar o seu interior. Anotou os órgãos presentes na sardinha e voltou ao animal morto. O caderno de Denis permanecia em branco, tinha anotado somente a data no topo da pagina.

Denis tinha curiosidade sobre a cicatriz nos pulsos de amigo. Mattia os escondia com a manga da camiseta, entretanto volta e meia elas eram reveladas. Denis não era idiota sabia que aquelas marcas foram causadas pelo próprio Mattia. Já tinha ouvido falar sobre pessoas que tentavam se matar cortando os pulsos. Ele queria saber o que levou Mattia se cortar daquela maneira.

As perguntas estavam afogando a mente de Denis. O rapaz deu um longo suspiro e sentia a coragem de falar crescer.

“ Mattia você tem um segredo?” Denis perguntou puxando assunto.

“ Não.” Mattia respondeu seco.

“Vamos lá Matti me conte. Se você contar o seu, conto o meu segredo também.” Denis insistiu.

Mattia levantou os olhos até encontrar os de Denis. Ele o olhou por alguns instantes sem esboçar qualquer reação e voltou ao trabalho.

“ Já disse que não tenho segredos.”

Denis não se deu por vencido e tentou novamente.

“ Diga-me o que você fez em seu pulso.”

Mattia parou de cortar o peixe novamente. Denis mordeu o lábio a espera da resposta. O bisturi que Mattia segurava caiu no balcão fazendo um som metálico. Mattia o recuperou com um movimento rápido.

“ Somos amigos Mattia, pode me dizer.”

“ Temos que terminar o experimento.” Mattia disse sério. Ele estava começando achar o companheiro de laboratório inconveniente.

Denis não parecia querer ceder à recusa do amigo em lhe dizer o que havia feito nos pulsos. Tudo ali era atraente e novo, um segredo obscuro com causas ainda mais obscuras. Mattia era como uma caixa de surpresa.

“ Não me importo com esse trabalho estúpido. Diga o que fez nos pulsos.” Denis esperou uma resposta.

Mattia olhou novamente para o colega que o encarava com seus intensos olhos azuis. Como alguém poderia querer saber tanto sobre ele, talvez por isso não tivesse amigos. Não precisava explicar as coisas que fazia a ninguém, mas Denis parecia ter um interesse desconcertante em Mattia.

“Você quer mesmo o que eu fiz nos pulsos?” Denis assentiu.

Mattia sentia sua alma se agitando como partículas de um átomo. Um ponto negro em seu ser veio a tona. Matti tomou o bisturi em uma das mãos e vislumbrou o seu brilho contra a luz. Denis observava atentamente os movimentos do amigo.

“Agora, olhe aqui.” Disse Mattia.

Agarrou com mais força o bisturi e o passou do vão entre o dedão e o indicador até o inicio do pulso. Mattia encarava Denis esperando a sua reação. O outro garoto colocou a mão sobre a boca ao ver a mão de Mattia sangrando. Denis estava espantado com o sangue frio de Mattia, que permanecia imóvel.

“Professora! O Mattia está sangrando!” A garota que estava na mesa ao lado gritou.

Todos da sala se voltaram para Mattia. Sua mão ensangüentada estava fechada em punho sobre a mesa. Aos poucos a poça de sangue em volta da mão do jovem ia aumentando. Mattia baixou os olhos.

“Rapaz o que você fez? Venha comigo para a enfermaria imediatamente.”  A professora ficou em choque com a cena.

Mattia não respondeu continuou olhando para o chão. Francesca enrolou sua mão em um pedaço pano e o levou para a enfermaria. Denis continuou sentado em seu lugar ouvindo os comentários maldosos dos colegas de sala sobre o que Mattia havia acabado de fazer. Ainda processava os últimos minutos.

A enfermaria era uma enorme sala branca com duas macas e um armário com objetos médicos. O cheiro de asséptico do ambiente fazia o nariz de Matti arder.

  Mattia estava sentado sobre uma das macas enquanto a enfermeira enfaixava a sua mão. A professora o deixou e foi ligar para os pais do dele.

A enfermeira enrolava a gaze branca no ferimento e logo ela ficava suja de sangue, o ferimento ainda estava aberto. Mattia acompanhava os movimentos da mulher de cabelos longos e olhos dóceis. Já não sentia mais dor.

Pietro estava esperando o filho na porta da escola encostado em seu carro. Uma chuva fina caia. Matti prendeu o ar ao ver o pai, não queria mais dar problemas a ele. Seu velho tinha o semblante cansado. A porta do carro se abriu para que o garoto entrasse.

“Mattia, quer me explicar o que aconteceu hoje?” Pietro deu a partida no carro.

“Não.” Negou.

O pai olhou de soslaio o filho.

“Não?” Pietro bufou. “ Mattia, sua diretora perguntou se você tem algum distúrbio.”

“O que você respondeu?” O garoto tirou a atenção da janela e se voltou ao pai.

“ O que você acha?” Pietro parou no semáforo. “ Disse que você era normal. É claro que se você continuar agindo como um lunático e se cortando com bisturis ninguém irá acreditar em mim.”

Mattia não respondeu. Ficou calado e esperou o semáforo ficar verde novamente. No fundo ele sabia que havia algo de errado. Desde que sua irmã gêmea sumiu quando tinham oito anos, algo dentro dele estava quebrado. Michela era o fantasma que assombrava a consciência de cada um dos Balossino todas as noites.

Mattia voltou olhar a janela do automóvel.           


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Notas finais do capítulo

o proximo capítulo vai demorar um pouquinho.