Sobre A Pele escrita por Selena West


Capítulo 18
Segredos guardados


Notas iniciais do capítulo

Esse capitulo tem revelações muaahahaha.Boa leitura, gatas.



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Alice mexia nas prateleiras do quarto de Mattia enquanto ele devolvia o conteúdo de suas malas para seus devidos luares. Até dois dias passados ele estava indo para os Estados Unidos, agora estava ao lado da única pessoa que o fazia completo. A universidade de Nova York lamentou a recusa do convite. Mattia seria um grande aluno. O antigo professor de Mattia que conseguiu a bolsa em Nova York, já havia conseguido uma nova na Itália. Era perfeito.

Uma foto caiu do meio de um livro de álgebra avançada de Mattia. Alice pegou o retrato. A imagem mostrava duas crianças muito parecidas em um parque. O garoto olhava para câmera emburrado, já a menina parecia alheia. Ela olhava para a direção oposta, como se outra coisa lhe chamasse a atenção. Alice se perguntou quem era aquela criança. O garoto provavelmente era Mattia.

“Mattia. Quem é esta?” Alice apontou a menina na foto.

“Minha irmã gêmea.” Ele respondeu voltando a guardar suas roupas.

Alice não se lembrava de Mattia ter mencionado a existência de uma irmã, ainda mais gêmea.

“Você nunca falou sobre. Onde ela está?”

“Acredite, muito longe.”

Mattia se virou para Alice.

”Existem muitas coisas que não te contei Alice.”

Ele encarou seus pés, como fazia antigamente. Era difícil falar sobre sua irmã. Ela estava em todos os pesadelos de Mattia, não havia um dia que ele não pensasse nela.

“Me conte então.” Alice pediu.

Mattia não falou nada. Pegou Alice pela mão e a levou até o carro do pai dele. Mattia precisava mostrar algo para a Alice. Pietro não se importava em emprestar o carro ao filho, ele sabia que poderia confiar nele.

Alice perguntou onde estava indo, mas Mattia não respondeu. Então ela resolveu esperar ele contar pro vontade própria.

Mattia dirigiu até a rodovia. A estrada era cercada por arvores de grandes propriedades. Em alguns trechos as arvores eram substituídas por campos ou plantações. Alice observava a paisagem admirada. Toscana sempre foi reconhecida por seus belos campos, porém Alice nunca teve uma oportunidade real de vê-los.

O carro onde estava o casal entrou em um parque. Alice reconheceu a paisagem da foto. As arvores de copas altas, o gramado verde com flores amarelas e o rio escuro por conta de sua profundidade. Ela esperou ansiosa a explicação de Mattia para a visita relâmpago ao lugar.

As lembranças do parque não eram as melhores para Mattia. Era como voltar ao palco de seus pesadelos de infância. Ele ainda podia ouvir as sirenes e os gritos de sua mãe. Mattia sentiu sufocado, e a esquecida necessidade de se cortar para aliviar todos os seus medos, voltou. Alice pegou a mão de Mattia ao ver seu semblante transtornado. Ele olhou para sua mão com a cicatriz, seu pulso. Era um soco na sua alma.

“Mattia?” Alice chamou preocupada.

Ele suspirou.

“ Eu tinha uma irmã gêmea. O nome dela era Michela. Éramos idênticos, exceto pelo fato dela ser retardada mental e...”

“Eu não sabia.” Alice interrompeu.

“Apenas ouça, não sei se posso continuar.”

“Desculpe.” Ela se calou.

“ Descobri desde cedo que crianças podem ser cruéis. Eles falavam maldades sobre Michela e eu.

– Mattia você é tão retardado quanto sua irmã.

– Mattia é um babaca mongolóide. “

Mattia imitou as crianças.

“ Eu odiava ter a michela como irmã. Perguntava-me todos os dias porque Deus havia mandado ela para a minha vida. Minha mãe mandava que eu cuidasse dela na escola e as professoras sempre nos colocava em lugares próximos.

Ela parecia uma menina normal, até que começasse com seus ataques. Michela não falava, porém quando algo a irritava ela gritava e fazia movimentos com os braços. Batia nas professoras que tentavam acalmá-la. Eu sentia vontade de sumir.

No nosso aniversário de nove anos, meus pais nos trouxeram a este parque. Me recusei a fazer uma festa, por que sabia que seria como nos outros anos. As crianças simplesmente não iriam. E Michela... Bem, ela sequer falava direito.”

Mattia passou a mão nervosamente pelo cabelo.

“ O parque estava cheio. Era um domingo meio nublado. Michela se distraiu com as flores amarelas. Enquanto eu sentei em uma ponta da toalha e esperei o momento de ir embora.”

Ele apontou um canteiro com flores amarelas próximo ao rio.

“ Meus pais se afastaram para comprar algodão doce e me deixaram cuidando de Michela. Minha mãe me disse para que não a deixasse chegar perto do rio, por que ele estava com a correnteza muito forte.

Um trio de garotos jogava bola próximo de nós. Fiquei olhando eles jogarem. Um deles deixou a bola escapar para o meu lado. Quando ele veio buscá-la me convidou para jogar também. Achei que era finalmente o meu dia. Eles não conheciam Michela, não iriam me julgar por causa de minha irmã gêmea.

Deixei Michela olhando as flores amarelas. Afinal onde ela poderia ir? Fui jogar com os meninos. Só me dei conta de que Michela não estava mais onde a deixei. Quando minha mãe começou a gritar seu nome. ”

Mattia saiu do carro seguido por Alice. Eles se sentaram próximo ao canteiro de flores amarelas.

“ A policia veio logo depois. Me faziam perguntas que eu não sabia responder. Eu estava assustado, por minha culpa, minha irmã tinha desaparecido. Minha mãe me culpava silenciosamente eu sabia disso. Eu fui tão egoísta.”

Alice o abraçou.

“Eu mal posso imaginar como você se sentiu... alias como se sente.”

“Estraguei qualquer chance que minha irmã teria de crescer e ser feliz. Me pergunto se eu não tivesse ido jogar com aqueles garotos, se ela ainda estaria viva.”

Michela era a pedra que Mattia carregava no coração que não o deixava ser totalmente feliz.

“Às vezes me esqueço dela. Como se Michela nunca tivesse existido. Então as lembranças me bombardeiam.” A voz de Mattia adotou um tom monótono.

“Não foi sua culpa. Você era só uma criança, o que poderia fazer? Michela te perdoaria eu sei disse, ela iria querer que seu irmão fosse feliz. Matti tire esse peso do seu coração.”

Mattia riu.

“Alice ouça você mesma. Dizendo que ela me perdoaria, sendo que você mesma não é capaz de perdoar seu próprio pai.” Mattia encarou seus olhos azuis que naquele momento pareciam fazer uma revolução.

“É diferente.” Ela respondeu seca.

“Não, não é.”

Alice não queria imaginar que seu pai poderia ser perdoado por ser tão irresponsável. Ela era um adulto e colocou sua família em perigo por um motivo banal. Enquanto Mattia era apenas uma criança que não sabia o que estava fazendo.

“Aposto que ele se culpa todos os dias. Que a forma que ele acha de esconder isso é sendo tão rude com você e sua mãe.”

Alice tirou a fotografia de seu bolso. Ela não teve tempo de soltá-la enquanto Mattia a tirava de seu quarto.

“Acho que está na hora de você esquecer isso.” Alice lhe entregou a foto.

Mattia observou as crianças no retrato. Michela distraída com a borboleta que não foi capturada pela câmera. E ele emburrado por não querer ser fotografado. Eles não pareciam as crianças mais felizes do mundo. Talvez Michela fosse. Um pouco.

“Não posso. Ela era minha irmã.” Ele passou a mão pela imagem da menina.

“Não estou pedindo que você a esqueça totalmente. Só que se lembre apenas dos dias em que ela esteve com você.”

Alice esperou a resposta de seu namorado.


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Notas finais do capítulo

Mias emoções no proximo capitulo. Não percam!
beijones.