Ajeitou a mecha de cabelo para trás da orelha pela vigésima vez seguida. Desconhecidos acusariam: transtorno obsessivo compulsivo. Mas a clínica não explicava seu coração acelerado, as borboletas no estômago e o sorriso bobo no rosto. A resposta para tudo isso era simples: Naruto.

Desde o momento em que abriu a porta até a entrada do baile de Halloween, Hinata foi um monte de manteiga derretida ambulante. Cada gesto, cada sorriso, cada palavra que o garoto lhe dirigiu... Várias vezes ela sonhou acordada com essa situação, mas nunca acreditou que realmenteviveria isso. Nem o fato de ter percebido que Tenten e Ino tinham seguido os dois desde a esquina de sua casa até a entrada do colégio (não precisava ser nenhum gênio pra perceber eles lá, Ino usava uma fantasia de “pavão” e Tenten de dançarina de cabaré, nada discretas) fez com que o humor da garota estragasse.

– Wow... Nem parece a quadra do colégio... – O loiro sussurrou surpreso, olhando em volta. O espaço era uma mistura de casa do horror com balada. Fitas negras com morcegos de plástico colados na ponta, luzes piscantes e abóboras iluminadas com velas decoravam o local enquanto uma música eletrônica tocava em alto volume. Tão alto que era difícil conversar lá dentro. - Você quer tomar alguma coisa? – Gritou. Tá, não tava tão alto a ponto de ter que conversar gritando, mas o palerma não tem noção nenhuma.

– Cla-Claro! – Respondeu o mais alto que pode.

– Espera aqui que eu já volto. – E o garoto foi em direção à mesa de bebidas que ficava não muito longe dali.

Hinata se beliscou. É isso mesmo, produção? Naruto Uzumaki a chamou para ir ao baile, a levou ao baile e está buscando uma bebida pra ela no baile vestido de pirata (bônus: um pirata SEM CAMISA)? É muita felicidade pra um coração só.

– Eu te trouxe uma bebida. – A voz a despertou de seu desaveio.

– Obrigada Naruto-k.... Ah, Kiba-kun! – Lhe deu um sorriso sincero. – Você também veio ao baile?

– Mas é claro. – O sorriso do garoto cachorro mal cabia nas bochechas.

– Você veio com alguém?

– Tsc, infelizmente eu fui passado pra trás e ela veio com outra pessoa. – Ele olhou para os próprios pés, encabulado. – Cadê o baka do Naruto? – Kiba olhou para a esquerda e para a direta, procurando.

– Ele foi buscar uma bebida pra gente. Mas graças a você eu acho que vou ter duas, estarei bem abastecida. – A jovem deu uma risadinha, pegando o copo da mão do garoto.

O cachorro não podia acreditar em como essa garota era completamente legal. – Ei, vamos dançar?

– Da-da-dançar!? Mas... Eu nem tomei meu ponche ainda... – Tentou se esquivar do convite e manter a pose, mas não conseguia disfarçar que o verbo “dançar” lhe causava calafrios. Uma seção de vergonha expressa pra comer agora? Não obrigada.

– Não gosta de dançar? – O Inuzuka parecia ligeiramente surpreso. – Achei que fosse disso que as garotas gostassem... – Coçou a cabeça.

Hinata suspirou. Como explicar todo um trauma de vida baseado em uma festa de 6 anos? Melhor deixar pra lá por agora. – Digamos que... Eu nunca fui muito boa nisso. – Admitiu.

– Sério? Pelo seu corpo eu achei que você fosse boa nisso... – Pensou um pouco alto demais. A garota engasgou com o ponche. – Que tal irmos lá fora conversar então? O barulho aqui está muito alto, minhas orelhas doem. – E apontou para duas orelhas (de pelúcia) de lobo que ocupavam o topo de sua cabeça.

– Desculpa mas... O Naruto-kun... – Murmurou envergonhada.

– Ué, mas o Naruto tá conversando com a Sakura. – Ele aponta.

Os olhos da Hyuuga acompanharam a direção que o Inuzuka apontara, dando de cara com o casal de amigos conversando animadamente em frente à bandeja de ponche. Hinata era honesta demais para negar que Sakura estava linda. Estava vestida de fada, com um vestido curto de cetim e um par de asas cintilantes. – “Ele e a Sakura-chan...” - Seu rosto adquire uma expressão de tristeza que é facilmente percebida por Kiba.

– ... Eu vou lá falar com ele! Como ele se atreve a te trazer ao baile e ficar de papo com outra garota!? – Gesticulou nervoso, agitando os punhos no ar. A garota tentou detê-lo, mas já era tarde demais e o garoto cachorro correu em direção ao ponche esbravejando e topando com as pessoas pelo caminho.

A pequena Hyuuga tentava se manter na ponta dos pés para conseguir enxergar as orelhas de Kiba em meio à multidão que enchia o salão, mas essa tarefa era ainda mais difícil com aqueles saltos tão grandes. “- O que será que o Kiba-kun vai fazer??”

~

O aglomerado de garotas na porta anunciava a nada sutil chegada de Sasuke Uchiha ao baile. Seu status de popularidade e sua genialidade contradizem sua pontualidade discutível. Sete e quarenta. A agitação na entrada (com direito a “recepção do fã clube”) chama a atenção de Naruto do outro lado do salão.

– O Sasuke-baka chegou. – Constatou, desinteressado. – Melhor eu levar esses ponche logo pra Hinata, se não ela vai achar que eu me esqueci dela. - Disse a ninguém em particular, já que a essa altura Sakura havia saído correndo para se juntar ao grupo de fãs descontroladas. Começou sua caminhada lenta até o centro do salão. Era difícil para alguém tão tapado não derrubar o líquido dos copos, então quando ele chegou à metade do caminho só havia ponche na metade do copo. – Droga tte dayo...

– E ai Naruto? – Uma voz familiar o chamou pelas costas.

– Gaara! O que você tá fazendo aqui? Achei que tava suspenso por ter sido pego fumando.

– Eu tenho assuntos pendentes... Seu copo de ponche está quase vazio, quer que eu complete pra você?

– Não precisa, eu vou buscar mais! – Virou em direção à mesa do ponche, derrubando mais um tanto no chão.

– Que isso, eu e meus irmãos estamos responsáveis pela reposição do ponche, vê? – O ruivo tirou um pequeno container de prata do bolso, agitando o líquido contido dentro dele. – Deixa que eu completo pra você. – Despejou uns dois dedos nos copos do Uzumaki, a cor branca se misturou ao laranja do ponche ficando praticamente imperceptível.

– Que isso heim? – O loiro perguntou inocentemente.

– É água tônica, deixa o ponche mais denso.

– Ah sim, valeu tte dayo! – E avistando Hinata ao longe seguiu em sua direção.

~

A Hyuuga estava tão distraída que o garoto não se conteve, foi pelo meio dos grupos até chegar bem perto sem ser percebido. Quando a distancia lhe agradou chegou bem perto da garota pelas costas e gritou um sonoro “Hinata!” fazendo a pobrezinha quase empacotar instantaneamente.

– Ha... Descu.... Hinata... – Naruto não sabia se ria ou se ajudava a coitada a se levantar. – Foi uma péssima ideia. – Concluiu por fim, ao ver a garota tão sem graça.

– Nã-não tudo bem, foi engraçado. – Sorria, sorria, sorria. Não fique vermelha, não fique vermelha.

– Aqui está seu ponche, desculpa a demora. – Entregou o copo a garota fazendo um biquinho adorável que fez com que a pressão cardíaca de Hinata acelerasse.

– Tudo bem... – Ajeitou a barra do vestido com a mão livre. Não fique vermelha. – Estava falando com a Sakura-chan?

– Uhum. – O palerma abriu um largo sorriso.

– Vocês são amigos há muito tempo né? – Delicadamente apertou o copo em sua mão, tentando disfarçar o quanto aquele assunto a incomodava.

– Na verdade ela só começou a andar comigo porque gostava do Sasuke-baka. – Ele suspirou, derrotado. – Mas hoje somos amigos, eu acho. Quer dizer, ela está sempre reclamando que eu copio a lição dela, que eu peço dinheiro pro Sasuke, que eu fico no pé dela... Antes eu queria que ela me visse diferente sabe, mas hoje eu... Eu... – E de repente virou o copo de ponche, bebendo todo seu conteúdo com a intenção de interromper a conversa. Hinata respirou fundo e achou melhor simplesmente acompanha-lho. Levou o copo à boca, encostando seu lábios na borda.

– ... Naruto-kun... Isso tem cheiro de álcool...

O loiro engasgou quase imediatamente, tossindo um bocado. Quando finalmente conseguiu parar suas bochechas já estavam completamente vermelhas.

– Na-Naruto-kun!

~

Do outro lado do salão um Kiba muito determinado faz uma pausa estratégica na mesa de salgadinhos para reabastecer as energias antes de quebrar a cara de um certo Uzumaki. Enche a boca com o máximo de mini hot dogs que consegue de uma vez, está em uma competição contra si mesmo. Na primeira vez conseguiu colocar 10, agora já está na margem dos 15.

De repente, um tapa na costas o desconcentra de seu objetivo. Por um triz não engasga com o décimo sexto cachorro quente que acabara de enfiar na boca.

– Ei Kiba, você viu o Gaara por ai? E a minha prima? – Neji parecia extremamente ansioso. As ataduras de sua fantasia de fantasma insistiam em cair sobre seus olhos.

– ...ofGaara? Cof, não vi não Neji. Mas a Hinata já chegou. – Ele provavelmente sorriu um pouco mais do que deveria quando falou “Hinata”. Neji lhe mandou um olhar assassino. O cachorro não percebeu ou apenas ignorou. – Ela está ali. – E apontou para trás, pro meio do salão. – Ué... Cadê ela?

– Droga. – O Hyuuga pegou o celular e discou o número de Tenten. – Alô, Tenten? (...) Certo, calma. Eu estou indo ai! – E saiu em disparada deixando o garoto cachorro sozinho.

– Neji espera! Cadê a Hinata!? – E o cachorro saiu correndo atrás dele.