Get Out Alive escrita por Mandy-Jam


Capítulo 9
Um pouco de água


Notas iniciais do capítulo

Mais um. Nothing else to say.



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Já estava ficando de noite. Mais um dia inteiro já tinha se passado praticamente, e Rodrigo comemorava mentalmente por ainda estar vivo. Os Jogos Vorazes não eram fáceis, ainda mais quando você podia ser comido por um grupo de coelhos selvagens.

- Se bem que eu podia ter comido eles. Eu estou morrendo de fome! – Pensou Rodrigo, mas logo descartou a idéia. Se ele corresse atrás daqueles bichos velozes, ia acabar cansado demais.

E depois... Poderia até virar a caça.

Mas embora suas esperanças de achar um lugar bom, e conseguir comida estivessem se tornando cada vez mais remotas, ele tinha que continuar andando.

No meio daquela mata de noite não dava para ver nada. Ele tropeçava cada vez mais em galhos e raízes altas que ficavam no chão, e imaginou se não seria picado por uma cobra ou coisa do tipo.

E foi aí que ele ouviu.

Um som metálico, como se alguma placa de metal estivesse sendo erguida, enquanto um motor funcionava a todo vapor abaixo dela.

Rodrigo olhou em volta, forçando sua vista. Foi difícil, mas quando seus olhos finalmente encontraram o que estava produzindo o barulho, seu queixo caiu.

Uma casa, ou algum tipo de construção quadrada, estava sendo levantada do chão. Aos poucos ela se erguia, tornando possível para Rodrigo enxergar.

- Espera... Está surgindo na minha frente. Isso pode ser... – Rodrigo estreitou os olhos, curioso – Pode ser um presente dos idealizadores dos Jogos!

Se fosse um presente, cairia do céu, mas Rodrigo não tinha parado para pensar naquilo. Na sua frente, a construção de cimento parou de subir e ele pode notar que tinha um portão cinza, como os de grades na entrada.

Curioso, Rodrigo se aproximou. O que teria lá dentro?

Se não tivesse nada, ele poderia dormir ali. Seria bem mais seguro, e ele ao menos teria uma chance de manter-se á uma boa distância dos carreiristas ou dos outros tributos se eles atacassem.

Teria a grade na sua frente.

O garoto do Distrito 10 correu até lá, e parou suas mãos nas barras das grades. Estavam presas, de modo que ele não conseguia nem puxá-las nem empurrá-las.

Rodrigo então teve uma idéia. Ele olhou para o cadeado fraco que estava travando a porta, e soube que, se puxasse a grade de lado, ela correria e arrebentaria.

Foi isso que ele fez. Rodrigo segurou a grade e a puxou com toda a sua força. Depois de alguns minutos tentando, ele finalmente conseguiu quebrar o cadeado.

O portão de ferro correu abrindo a entrada, e Rodrigo olhou para dentro. A escuridão tornava impossível enxergar o que tinha dentro, mas era melhor assim.

Por que... Se a imagem de milhares de pontos vermelhos brilhantes já foi o suficiente para amedrontar Rodrigo, imagina se ele visse a forma daquelas figuras logo de cara?

O fogo crepitava na frente delas.

As quatro estavam sentadas do mesmo modo como a posição dos pontos cardeais. Nina de frente para Flávia, e Bruna para Amanda. Elas comiam a galinha que Amanda caçara, enquanto outras partes ainda queimavam um pouco mais no fogo.

- Eu... Não quero comer mais. – Disse Flávia fazendo uma careta. Ela não agüentava comer a coxa da galinha, pois toda vez lembrava-se da cena de como o animal fora morto por um garimpo.

- Se não comer isso, vai ficar com fome. – Disse Nina calmamente.

Bruna olhou para Nina. De todos os tributos, tirando os carreiristas, é claro, Nina era a única que não mostrava nenhum traço de falta de comida ou alguma seqüela de trabalhos braçais.

Bruna era forte por passar vários dias cortando lenha. Amanda devia ter alguma problema respiratório por trabalhar nas minas. Flávia parecia frágil, talvez por não tomar remédios quando precisava.

Mas Nina não. Ela não era magra, fraca, ou apresentava qualquer tipo de problema. Mas... O que ela devia ter? Nina devia trabalhar muito nas fábricas de tecido. Thaiana, a garota que morrera, parecia um pouco magra.

Fome. Mas... Não era o caso de Nina.

- Como é a vida no Distrito 8? – Perguntou Bruna calmamente. Nina demorou um pouco para se tocar que Bruna estava falando dela, o que pareceu estranho.

- Ah... Acho que não muito melhor que a vida nos outros Distritos. – Nina deu de ombros.

- Vocês têm praças? – Perguntou Flávia curiosa – Aquelas no centro da cidade. No Distrito 6, nós temos.

- Ahm... Temos sim. – Sorriu Nina – Praças bem grandes.

- O trabalho lá é muito duro? – Perguntou Bruna querendo saber mais. Nina olhou para ela, e notou que estava passando por algum tipo de interrogatório.

- Não deve ser tão duro quanto catar lenha todo dia. – Rebateu Nina – Mas por que você não fala do seu Distrito? O que vocês fazem lá?

- Nós produzimos madeira para a Capital. – Respondeu Bruna – Cortamos, cerramos, e jogamos nos trens que levam direto para a Capital.

- E morrem de frio no inverno por não terem lenha o suficiente. – Disse Amanda pensando alto. Bruna olhou para ela um pouco surpresa, e Amanda deu de ombros – É a ironia, sabe? Acontece muito quando não se tem o luxo de morar na Capital.

- Você não gosta muito deles, não é? – Comentou Flávia.

- Não. – Confirmou Amanda.

- Como pode dizer isso aqui? Sabe que toda a Capital está vendo você agora. – Comentou Bruna.

- O que? Ah, eles querem que eu finja gostar deles? Querem que eu mande mais beijinhos? – Riu Amanda.

- Podem te matar. – Rebateu Bruna.

- Estou esperando por isso desde a Cornucópia. Se me matarem agora, não vai ser nada além da minha expectativa. – Amanda encolheu os ombros sinceramente.

- Podem matar seus familiares. – Disse Bruna, mas seu tom de voz abaixou. Ela sentiu como se seus próprios familiares estivessem em perigo. A imagem de seus irmãos veio á mente, e ela sentiu um aperto no peito.

- Duvido. – Amanda negou.

- Por quê? – Perguntou Bruna – Acha isso tão impossível?

- Eles morreram em uma explosão. – Respondeu ela. Nina olhou para Amanda, e então notou algo.

- É por isso que tem raiva da Capital? – Perguntou Nina.

- Para falar a verdade, sim. – Confirmou Amanda – Quando uma das minas explodiu, muita gente morreu. Eu perdi todo mundo que eu conhecia, e sabe o que o prefeito me deu? Uma medalha. Uma merdinha de medalha. Logo depois a Capital entrou em contato com o Distrito 12.

- Eles quiseram saber se vocês estavam bem? – Perguntou Flávia esperançosa.

- Não. Eles queriam saber quando iam receber mais carvão. – Contou Amanda com raiva – Eu quero mais é que eles comam todo aquele carvão. Babacas.

- Eles... – Flávia olhou para o fogo um pouco triste – Eles agem diferente no nosso Distrito.

- O que eles fazem? – Perguntou Bruna olhando para Flávia.

- Eles pegam os remédios que produzimos, e todos os outros produtos. Só que... Eles levam os melhores com eles, e deixam os estragados, ou os mais fraquinhos com a gente. – Contou Flávia – Minha irmã precisa de remédios, mas nós não temos dinheiro para comprar os poucos bons que têm.

- É uma pena. – Disse Amanda dando um leve sorriso triste – Mas é como eles são. O máximo que podemos fazer é sobreviver.

Todos concordaram, mas então outra questão surgiu.

- Mas mesmo a Capital sendo muito egoísta e irritante, nada disso teria acontecido se aqueles idiotas do Distrito 13 não tivessem feito a besteira de se rebelar. – Comentou Amanda – Eu não estaria aqui. Nos Jogos.

- Estaria catando carvão. – Rebateu Nina mal humorada.

- Ao menos as pessoas não morrem catando carvão. – Retrucou ela.

- Ah, não? A sua mina não explodiu? – Retrucou.

- Desculpe. Ao menos as pessoas não morrem com faca cravadas no coração, ou atacadas por bestantes, enquanto catam carvão. – Corrigiu Amanda.

- A culpa não foi só deles. Todos os Distritos ajudaram o 13, mas foi só ele que sofreu. – Disse Nina.

- Você é cega?! Nós é que sofremos. Agora temos que participar de Jogos Vorazes só para mostrar como a Capital é mais forte. Eu já sabia disso antes, ok?! Não precisava de uma rebelião para poder provar isso. – Disse Amanda.

- Alguém tinha que fazer alguma coisa! Tínhamos que tirar a Capital do poder! – Exclamou Nina.

- Ah, e funcionou muito! Estou vendo que eles não estão mais no poder! – Exclamou Amanda em sarcasmo.

Amanda e Nina continuaram discutindo sobre isso, mas Bruna estava pensando em outra coisa. Ela olhava fixamente para Nina, e não podia ignorar o fato de ser muito estranho o jeito como ela se referia ao Distrito 13. “Nós” tínhamos que fazer alguma coisa?

Não... Não podia ser isso.

- Você prefere mesmo ficar parada? Não fazer nada? – Perguntou Nina cruzando os braços.

- Desculpa, mas eu não quero morrer como uma heroína. – Respondeu Amanda – Até porque, se eu morrer como uma heroína, eu vou estar morta.

- Você sabe que isso é completamente errado, não é? – Perguntou Nina.

- Você se mataria para salvar o mundo? – Perguntou Amanda. Ela pegou seu garimpo e mostrou para Nina – Se mataria aqui mesmo só para mostrar que você não concorda com a Capital? Sem nem ter chances de saber se você vai realmente mudar alguma coisa?

Nina olhou para a arma de Amanda. Ela não sabia se realmente teria coragem para fazer aquilo. Morrer era algo que não era muito bom para ela. Um certo medo correu seu corpo, enquanto ela tentava se manter forte.

- É. Me mataria sim. Mas a minha meta é vencer os Jogos, e não morrer do nada. – Respondeu mentindo um pouco. Amanda deu de ombros.

- Engraçado. A minha meta também é essa. – Comentou Amanda – Então dane-se a Capital e dane-se o Distrito 13.

- Gente... – Disse Flávia em um tipo de miado baixo. Amanda e Nina olharam para ela – Vocês vão parar de brigar, né?

Amanda e Nina ficaram surpresas ao ouvir aquilo. Sentiram-se como se conhecessem Flávia há muito tempo, e aquela briga entre amigas estivesse abalando-a.

- Vamos. Desculpe, Flávia. – Disse Nina calmamente.

- Não queríamos brigar sobre algo tão estúpido. – Disse Amanda – Vamos esquecer isso, certo?

Uma idéia terrível passou pela mente de Nina. Se ela quisesse ganhar os Jogos... Se ela quisesse vencer e sair viva de lá... Todas aquelas garotas, que pareciam tão legais, teriam que morrer. Provavelmente... Ela teria que matá-las.

Matar a Bruna. Matar a Amanda. Matar a Flávia. Flávia?! Sim, Flávia.

Por mais que doesse imaginar a cena daquela garota tão fofa morrendo, isso teria que acontecer. Era um fato. Se Nina quisesse sair viva, seria o preço a pagar.

Pagar... Com a vida de outra pessoa. Ela nunca matara alguém antes. Nunca. Tinha quase certeza de que a cena nunca mais sairia de sua mente. Ela passaria milhões e milhões de vezes durante seus piores pesadelos.

Amanda já pensava de outra forma. Ela olhou para cada uma delas calmamente, e depois imaginou a cena de ter que enfrentá-las para vencer. Não... Não ia dar certo. Sentiria pena de Flávia, e até mesmo de Nina. Não tinha certeza quanto á Bruna, pois ela parecia um pouco perigosa com seu machado, mas também não gostaria de matá-la.

Ela achou que seria bem melhor fugir, e deixar que elas se matassem. Elas podiam matar umas ás outras, e depois... Os carreiristas poderiam matar a última delas.

Perfeito, pensou. Uma hora, ela fugiria para longe.

- Estou com sede... – Murmurou Flávia olhando para dentro do cantil.

- Eu vou pegar mais um pouco de água. – Ofereceu-se Bruna. Ela pegou o cantil e foi até o lago. Flávia tirou de sua mochila algumas folhas que tinha conseguido na floresta – Alguém quer? Podem ficar seguras. Elas são comestíveis.

- Não, obrigada. – Sorriu Amanda – Acho que já chega de comida por hoje.

- Também não quero. – Disse Nina.

Flávia sorriu e começou a comer algumas folhas. Nina e Amanda começaram a conversar calmamente, quando Bruna chegou com o cantil de água.

Nina olhou para ela, e depois para o cantil. Não confiava muito bem em Bruna, por isso antes que Flávia bebesse...

- Posso tomar um gole antes? – Pediu Nina apressada.

- Ela está com sede. – Disse Bruna.

- Eu estou com mais. – Retrucou Nina pegando o cantil.

Ela o abriu e o cheirou para ver se tinha sido adicionada alguma coisa á água. Alguns tipos de veneno tinha cheiro. Alguns tinham cor, por isso Nina o despejou em sua mão, mas era só água.

Bruna revirou os olhos.

- Já viu que não tem veneno? – Perguntou impaciente.

- Não confio em você. – Disse Nina claramente – Nem em você, nem no seu machado.

- Ótimo. – Disse Bruna pegando cantil das mãos de Nina – Então você que pegue sua própria água.

- E eu vou mesmo. – Disse Nina estreitando os olhos – Na verdade não vou não, porque estou com preguiça agora, mas amanhã eu vou. Pode crer.

Amanda riu daquilo, e Flávia também. Ela pegou o cantil e começou a beber calmamente. Nina e a garota do carvão continuaram a conversar calmamente, até que...

- Ai... – Disse Flávia franzindo o cenho.

- O que houve? – Perguntou Amanda.

Pensaram que era algo perigoso, mas...

- Minha barriga está doendo. – Disse ela – Eu acho que comi galinha e folhas demais.

Nina riu, enquanto ela continuava a beber a água. Alguma coisa em Bruna dizia á Nina que ela não devia baixar a guarda, mas não disse nada. Não começaria a criar suspeitas tão abertamente por nada.

Elas continuaram ali, pensando no que fariam para ganhar os Jogos, mas sem contar nada para ninguém.


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Notas finais do capítulo

Há! Ficaram com medo da Flávia morrer, né?
Rodrigo só faz besteira, gente...
Vamos ver o que tinha dentro daquela construção no próximo capítulo. Enquanto isso... Reviews!



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