Get Out Alive escrita por Mandy-Jam


Capítulo 10
Os corvos


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo bem tenso.



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Rodrigo tropeçava em seus próprios pés, enquanto corria apressadamente na tentativa de salvar sua vida. Centenas de corvos modificados pela Capital voavam na direção dele, tentando bicá-lo, machucá-lo ou simplesmente derrubá-lo no chão para que pudessem fazer um lanche.

- Saí! – Berrou ele atirando com sua arma de pregos. O corvo mais próximo caiu no chão, mas ainda sobraram centenas deles.

Rodrigo nunca conseguiria derrubá-los. De jeito nenhum. Já estava mais do que certo na mente dele que acabaria morrendo.

Uma hora ou outra.

Foi aí que ele tropeçou em alguma raiz no chão. Ele caiu e não perdeu tempo. Ao ver que seria impossível levantar novamente e com grande agilidade, ele se encolheu tentando se proteger.

Rodrigo esperou, mas a única coisa que sentiu foi uma série de batidas de asas sobre ele. Não estava sendo atacado, mas ouviu que alguém estava.

- O que...?! – Exclamou uma voz feminina.

Ele não teve coragem de erguer os olhos, por isso continuou parado lá por alguns minutos. Os piores minutos de toda a sua vida. Ele pode ouvir claramente os corvos bestantes atacando a garota de modo violento e voraz, como se ela fosse a única comida que poderiam chegar a ter.

Os gritos agudos e desesperados dela ecoaram pelo local, e fizeram Rodrigo tremer de medo. Ele não estava vendo a cena, mas conseguia imaginar claramente o que estava acontecendo.

Com todos os efeitos sonoros, ele podia imaginar a pele da garota sendo rasgada e bicada violentamente pelos monstros. Seus gritos agudos eram resultado de uma dor agonizante provocado por eles, e pelo desespero, é claro.

O desespero. Talvez a pior de todas as sensações. Milhares de corvos á atacavam e ele não tinha nem mesmo idéia de como poderia se defender. Na verdade, não tinha jeito.

Depois de alguns minutos que pareciam se arrastar e ficar piores com o passar do tempo, os corvos bestantes foram embora. Mas o pior não foi isso.

Rodrigo levantou a cabeça tremendo de medo e dor pela garota, ainda mais porque sabia que ela continuava viva. Ele olhou com medo para o lado. Estava escuro, mas podia sentir o cheiro metálico de sangue escorrendo pelo corpo dela, e molhando o chão.

Ele teve medo de se aproximar, mas pode ouvir gemidos e choros baixos e sufocados de dor.

-... A-Ah... – Gemeu a garota. Rodrigo olhou para ela. Seu rosto era impossível de identificar, mas ele conseguia ver sua arma no chão. Talvez ela tivesse tentado usá-la para se defender, mas de nada adiantara.

O tridente de Natália, tributo do Distrito 4. Ele rastejou com medo para um pouco mais perto dela, e pode ouvir os múrmuros ficarem levemente mais altos. Os corvos não eram para matar alguém, eram para torturar ou mutilar gravemente.

Ela era inútil agora. Completamente. Não teria chance nenhuma de ganhar os Jogos. Só estava tentando ganhar um pouco de ar para os pulmões, que já ameaçavam parar de funcionar.

- Você... – Rodrigo sentia que ia vomitar. Odiava o sangue. Seu cheiro, seu aspecto, e tudo mais – Vai morrer.

- Por... – Natália não conseguia formar palavras muito bem, mas depois de muito trabalho conseguiu – Favor...

Rodrigo sabia o que aquilo significava. Ela estava pedindo para que ele a matasse. Seus olhos correram pela terra, e devagar até ela. Podia ver manchas escuras por sua pele antes intacta.

Eram, provavelmente, bicadas profundas. Rodrigo não quis olhar. Ele pegou sua arma de pregos, e sem pensar duas vezes, atirou diversas vezes no que julgava ser a testa da garota.

Depois do terceiro tiro, ouviu-se o canhão disparando. Rodrigo deixou sua arma de pregos cair no chão. Ele tateou e a pegou com as mãos trêmulas.

Pode senti-las molhadas no que devia ser o sangue de Natália. Mas será que isso não estava só em sua mente? Ele pegou tudo o que estava no chão á sua frente. O tridente, um pedaço de papel estranho, e a sua própria arma.

Ele levantou cambaleante, e virou o rosto para longe da garota. Sem conseguir se controlar, acabou vomitando toda a pouca comida que tinha conseguido no primeiro dia dos Jogos.

- Droga... Droga. – Disse ele. Se tivesse luz no local, ele notaria que seu rosto estava pálido. Rodrigo ouviu passos se aproximando. Seu corpo não respondia ao impulso de fugir, por isso acabou jogando no chão.

Ele rastejou até alguns arbustos e torceu para que conseguisse se camuflar na escuridão da noite.

- Natália? – Chamou Mariana com sua voz inconfundível – Natália?!

Ela viu o corpo da garota do Distrito 4 no chão, e os outros dois carreiristas correram atrás dela. Mateus olhou tenso para o corpo, e Rita desviou o olhar, sentida. Não eram amigas, mas tinham passado um tempo juntas.

- O que aconteceu? – Perguntou Mariana olhando para ela.

- Você está perguntando para a Natália?! – Exclamou Mateus incrédulo – Porra, ela morreu! Foi isso que houve!

- Cala a boca! Não estou falando disso! – Exclamou Mariana – O que aconteceu com ela?

- Algum bestante. Só pode ter sido. – Respondeu Rita.

- Não... Olha isso. – Disse Mariana olhando os pregos. Eles atingiram de modo torto a garganta, a bochecha direita e a testa de Natália - Pregos.

- Pregos?! – Exclamou Mateus – Quem pegou uma arma de pregos?

- Qualquer um. Como vamos saber? – Perguntou Rita.

- Não. – Negou Mariana fazendo seu cabelo balançar – Aquele garoto. O garoto vaca. Ele é o Distrito da pecuária. Eles têm essas paradas lá para matar vacas, não é?

- Têm sim. – Confirmou Mateus. Ele olhou em volta, mas para a sorte de Rodrigo, não notou a presença de mais ninguém – Vamos dar o fora daqui antes que ele apareça.

- Nós vamos matar ele, Natália. Pode deixar. – Disse Mariana fechando os olhos da garota. Eles três saíram correndo na direção em que vieram, e Rodrigo sentiu tudo á sua volta girar.

A escuridão ficava cada vez mais densa para ele. Os sons dos bichos e das pessoas na floresta ecoavam na sua cabeça. Ele sentiu seu corpo ficar gelado de repente.

- Querem me matar, é? Então matem. Eu estou aqui. – Pensou ele desistindo de tudo. Não. Ele não conseguiria continuar daquele jeito. Já estava cansado. Ele só queria deitar e morrer.

Talvez umas horas depois dos carreiristas sumirem, alguém se aproximou de Rodrigo. A pessoa se ajoelhou na frente dele e pegou seu rosto para analisar melhor na escuridão.

- Você está bem? – A voz de Bia ecoava em sua mente. Rodrigo piscou os olhos devagar.

- Não. – Foi tudo que ele conseguiu responder antes de desmaiar.

No céu escuro a imagem dos tributos mortos apareceu. Seguindo a ordem dos Distritos, primeiro Natália do 4. Morta por Rodrigo, Distrito 10. Depois Rhamon, do Distrito 11, morto por Vinícius, do Distrito 9.

- Nossa... O Garoto Vaca matou alguém. – Comentou Nina surpresa – Achei que ele ia morrer logo na Cornucópia.

- Talvez ele esteja só escondendo suas habilidades. – Comentou Bruna olhando para Amanda, que fizera o mesmo. A garota do carvão riu.

- Acho que ele não chegou nem mesmo á pensar nisso. – Riu ela – Ele é engraçado, mas acho que não consegue sobreviver tanto tempo. Ele vai ficar nervoso ou irritado, e vai acabar fazendo besteira.

- Veremos então. – Murmurou Bruna encolhendo os ombros.

Eles quatro estavam sentadas no mesmo lugar. Ainda pensavam como fariam para sobreviver aos Jogos. Se eliminariam umas ás outras, ou se tentariam se distanciar. Amanda já tinha a resposta. Assim que ficasse de noite e elas dormissem, ela daria no pé.

Deixaria todas elas para trás. Afinal, não tinha nada contra ninguém ali, por isso, se tivessem que morrer, ao menos que não fosse por suas mãos.

- Está frio. – Disse Flávia se encolhendo. Nina franziu o cenho.

- Está quente pra caramba. – Disse ela – Não bate nem um vento.

- Mas... Sei lá. Estou com frio. Vai ver é porque estamos perto do rio. – Comentou Flávia. Ela pegou mais algumas folhas que guardara e começou a mascar algo que parecia hortelã – Gostoso.

- Já não chega de comer isso? – Perguntou Nina olhando para Flávia, mas ela negou com a cabeça.

- Não tem problema, pode deixar. – Sorriu a garota loira. Nina deu de ombros e jogou-se para trás, encostando-se á uma árvore. Amanda já tinha apagado a fogueira, e todas já sentiam o cansaço bater contra seus corpos.

- Ok. Vamos fazer o seguinte... – Disse Bruna olhando para elas – Eu fico de guarda, enquanto vocês dormem um pouco. Aí depois trocamos.

Nina e Amanda olharam para Bruna. Estava na cara que não iam concordar com aquilo.

- Não. Vamos fazer o seguinte. – Disse Amanda – Como eu passei o dia comendo e estou com mais disposição do que vocês, eu fico vigiando, e vocês dormem. Nós trocamos depois.

- Por que eu acreditaria em você? – Perguntou Bruna olhando para Amanda pela escuridão – Você está armada com uma picareta, e eu duvido que hesitaria em nos matar.

- Eu prefiro que ela fique acordada. – Concordou Nina – Não confio em você, lenhadora.

Bruna deu de ombros como se não ligasse, mas no fundo estava decepcionada por não poder matá-las de noite. Mas ela teria a sua hora. Esperava ter forças para continuar acordada para se proteger de algum possível ataque de Amanda, mas assim que se encostou contra a árvore mais próxima, seus olhos fecharam-se pesadamente.

Flávia logo caiu no sono, mas Nina olhou para Amanda hesitante.

- Ei. – Chamou ela. Amanda olhou para Nina – Eu devo confiar em você?

Amanda riu da pergunta. O que ela poderia responder? A garota do carvão negou com a cabeça.

- Não mais do que em qualquer outra pessoa aqui. – Respondeu sinceramente – Mas ao menos não vou te matar no meio da noite como a lenhadora faria. Pode deixar.

- Por que não vai nos matar? – Perguntou Nina.

- Precisamos nos unir contra os carreiristas, não é? – Disse Amanda – Sozinha não vai ser uma luta tão justa.

Nina assentiu sorrindo.

- Sinta-se a vontade para matar a Bruna, se quiser. – Comentou ela rindo – Boa noite e fique de olho. Quando não agüentar, me chame.

- Ok. Vou pensar no assunto. – Riu Amanda.

Nina caiu no sono, e logo só havia ela acordada ali. Amanda segurou sua picareta e olhou para as três garotas tão indefesas agora. Ela foi para perto de Bruna e esticou a mão. Pegou seu cantil de água, e se levantou.

Era a hora de dar no pé.

- Espero que vocês morram de um jeito digno. – Sussurrou ela de um modo sincero, e talvez sombrio. Amanda foi até o rio para encher o cantil, mas algo a surpreendeu.

Estava escuro, mas ela poderia identificar que ali tinha um rio pelo barulho. Mas... O local estava silencioso. E silencioso até demais.

Amanda tocou a terra úmida do fundo do rio, mas pode notar que não havia mais água correndo por ali. Na verdade... Não havia mais rio em si. Ela franziu o cenho, pois sabia que tinha algo de errado ali.

- O que a Capital fez agora? – Murmurou ela confusa. Eles deviam ter drenado todo o rio, mas... Por quê? E também... Para onde a água tinha ido?

Ela chutou uma pequena pedra e ela rolou pelo chão, mas acabou provocando um barulho estranho ao chocar-se com algo mais á frente. Algo de metal.

Amanda não precisava explorar o lugar para saber que aquilo devia ser algum tipo de armadilha. Algo que não seria nada bom para as suas chances de sobrevivência. Ela segurou sua arma com força e estava pronta para ir embora, quando se tocou de algo.

Se ela fosse embora estaria salva, mas e quanto ás outras?

- Bem... Uma hora teriam que morrer. – Murmurou ela pensativa – Ao menos não vai ser culpa minha.

Uma cena passou pela sua mente. Em uma edição dos Jogos, os idealizadores conseguiram projetar um tipo de chuva ácida extremamente concentrada. Uma coisa se encaixou á outra.

Eles haviam drenado o rio para provocar uma chuva ácida? Era uma possibilidade em mil, mas... Era possível de qualquer jeito.

Amanda se imaginou indo embora, e deixando as três companheiras para uma morte certa. Imaginou todo o povo sedento de sangue da Capital pulando de alegria e diversão enquanto assistia a lenta e dolorosa morte delas três. Gritariam o seu nome, incentivando-a a continuar uma matança. Incentivando-a a eliminar qualquer um que aparecesse na sua frente.

Eles adorariam vê-las acertando á todos com sua picareta. Afinal para que mais eles a disponibilizariam uma arma dessas? Para a caça? Ok. Vamos fingir que isso era verdade.

- Não. – Negou Amanda – Eu não sou um boneco para a Capital.

Assim a garota do Distrito 12 saiu correndo em direção ao acampamento improvisado de suas companheiras o mais rápido que pode.

- Acordem! – Gritou ela – Levantem! Rápido! Podemos não ter muito tempo!

- O que...? – Perguntou Nina esfregando os olhos sonolenta – O que houve?

- Uma armadilha da Capital. Eles drenaram o rio. Temos que correr. – Ela contou aquilo de modo rápido, enquanto ajudava Flávia a colocar a o escudo nas costas novamente. Ela pegou o arco e flechas e Bruna se levantou já com seu machado.

- Como você sabe disso? – Perguntou ela desconfiada.

- Quer parar para ouvir a história toda, ou prefere deixar para depois? – Perguntou Amanda – Se preferir sentar e arriscar a sua vida se não confia em mim, tudo bem.

Bruna ainda estava desconfiada, mas como todas elas já estavam começando a correr para longe dali, ela resolveu ignorar e segui-las.


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Notas finais do capítulo

Chuva ácida. Tenso... Será que é isso mesmo?
Ou a Capital pensou em algo ainda pior?
Veremos. Espero por reviews!



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