E pulei?

   Eu não sei, foi tudo muito rápido.

   Levantei o rosto para a chuva, eu já estava enxarcada, inclinei-me para frente e me atirei do penhasco... Senti o vento jogando meu cabelo para trás mas não podia ser da queda, porque eu não estava caindo. Algo veio de encontro a mim, me prendendo e me levando para longe, primeiro pensei que talvez fossem as pedras no rio, mas não tinha dado tempo de cair, eu nem mesmo senti o baque da água, não eu não tinha nem se quer caído... Estada no chão agora, alguém me segurava e eu estava com medo de abrir os olhos.

   Será?

   - Edward? - sussurrei, os braços de ferro que me seguravam eram os mesmo. Prendi a respiração, o coração galopando, saindo pela boca.

   - Nunca mais, faça isso de novo! - falou num só folego, e o meu coração desmoronou, estilhaçou...

   Abri os olhos lentamente, ainda com um fio de esperança. Damon. Soltei a respiração que prendia; pendi com os braços e pernas flácidos e se não fosse ele alí me segurando eu daria de cara com o chão. Por que ele não me deixou simplesmente cair e me esborrachar na água? As coisas não ficariam tão ruins quanto eu sei que iriam ficar agora. Podia sentir o torpor voltando, e o pânico junto com ele, soltei uma lufada de ar e levei as mãos ao peito sem conseguir respirar, o ar não entrava em meus pulmões, e eu não fazia muita questão que entrassem. Acho que acabei me tornando uma suicída mal sucedida. Malditos heróis!

   - Bella? Você está bem? - Damon perguntou, me sacudindo como uma boneca de trapos, a voz cada vez mais urgente a medida que eu não reagia.

   Não sei quanto tempo ele ficou tentando arrancar alguma palavra de mim, não lembro de muita coisa daquela noite, só sei que tudo ficou escuro.

   ***

   - Eu a encontrei tentando pular do precipício... - uma voz familiar me despertou. Damon.

   Tateei de olhos fechados e encontrei uma mão, abri um olho e o ví, estávamos no meu quarto, eu estava na cama. Reneé e Damon conversavam. Ele me olhou pelo canto do olho e apertou minha mão, suspirei e voltei a "dormir".

   - De novo? - Renée que raramente se abalava, estava com a voz angustiada.

   - Então ela já fez isso antes?

   - Sim, em Forks. Ela pulou no mar, mas Jacob a salvou a tempo... Isso não é bom. - a ouvi suspirar - Bem, Damon muito obrigado. Mas acho que agora é melhor irmos e vou pensar no que fazer.

   - Claro. - Damon disse - Mande-me notícias o mais breve possível.

   Senti uma mudança de peso na cama e a porta bateu, agora eu estava sozinha no quarto. Pelo menos Jacob não contou ao Charlie sobre minhas aventuras mortais... Damon, aquele traidor. - pensei.

   Levantei e comecei a caminhar pelo quarto sem saber o que fazer. Eu não poderia dizer que não importava, claro que importava. Damon era um vampiro, disso eu tinha certeza. Mas na verdade quem me atacou foi o Stefan... de qualquer maneira... Eu precisava sair dessa cidade. Eu realmente era um imã que atraía acidentes, catastrófes e tudo de ruim que estivesse a um raio de 100 quilômetros, mas dessa vez me superei. Queria tanto falar com Jacob, queria tanto estar na sua garagem tomando cocas quentes e vendo-o transformar sucata em automóveis, queria tanto o seu abraço quente de urso, queria tanto o meu sorriso, queria tanto... o meu Sol particular.

   Andei até a janela e tentei abrir. Estava emperrada. Com alguma - alguma? - dificuldade consegui suspendê-la até a metade, meti a cabeça pela espaço e inspirei a brisa noturna, as núvens já tinham se afastado e agora a lua brilhava como nunca.

   - Jake... - sussurrei à lua e ao vento esperando que eles levassem minha mensagem.

[Música - Talking To The Moon] PS: leia a tradução.

   Lá embaixo eu sabia que Reneé conversava com o Phil sobre o "incidente" de hoje - na verdade, hoje aconteceram muitos incidentes... - e sei que isso me renderia problemas, ou no mínimo um psiquiátra, mas eu realmente não ficaria chateada se me mandassem para um psiquiátra ou para um sanatório, que fosse bem longe dessa cidade. Estava cansada desse mundo de 'faz-de-conta', só queria ir para minha casa - o que já era muito estranho considerar Forks minha casa - encontrar meu pai normal, meus amigos normais e o Jake, que não era tão normal assim mas era meu melhor amigo.

   Suspirei me jogando na cama, bati a cabeça em algo duro, meu celular... O peguei e comecei a passar pela lista de contatos não tão grande assim. Jake... Eram três horas da madrugada - provavelmente minha façanha me rendera bastante tempo, ou eu sei lá o que fizeram comigo depois que me encontraram - Mas, será que era muito tarde para ligar? Será que ele estava em patrulha? Talvez não, quando saí de Forks carreguei comigo todos os males da cidade. Bem, quem se importa? O Billy não vai se importar com uma noite perdida, e o Jake, espero que não se importe também.

   Apertei o botão 'Send'... Estava chamando, lá pelo oitavo tuuuuu, quando eu estava quase desistindo:

   - Alô? - soltei a respiração que prendia, a voz rouca e familiar do outro lado da linha.

   - Jake? Sou eu, a Bella. - eu disse, meio sem jeito. Talvez eu não devesse ter ligado nesse horário.

   - Bella? - ele pareceu surpreso. - Bell's! Que maravilha, você não sabe quanta saudade estava sentido... - fez uma pausa - Aconteceu alguma coisa?

   - Me desculpe pelo horário... eu só queria falar com você. - admiti corando.

   - Ah Bell's, quanta falta você faz por aqui. Foi difícil para todo mundo se reacostumar sem você.

   - Eu realmente queria estar aí. - confecei.

   - Bell's, qual é o problema? - sua voz assumiu um tom preocupado.

   - Nada - menti, esperando que não desse para perceber do outro lado da linha.

   - Tudo bem. Mesmo assim, se quiser me contar, estarei aqui, a uma chamada de distância. - gargalhou, isso me fez tão feliz. As coisas seriam tão mais se eu estivesse em Forks com o Jake... Fácil como respirar.

   - Então, está cuidando bem da minha moto? - perguntei, mudando de assunto.

   - Pensei que você não fosse lembrar mais dela depois que ganhou aquele carrão...

   - Você ficou sabendo né? Mesmo assim, ainda prefiro minha picape, e as nossas motos.

Nós dois rimos (...)

   Conversamos durante o resto da noite toda, isso me fez muito bem, mas não contei a ele sobre meus novos amiguinhos aqui.

   Em algum momento acabei dormindo, quando acordei o sol brilhava forte e vigoroso com seus raios amarelos entrando pela janela que eu esquecera de fechar, olhei para o lado, um bandeja de café da manhã com suco, frutas e cereal e um bilhete?

   "Querida, fui na cidade fazer compras para a casa e o Phil está trabalhando, você não precisa ir a escola hoje, quando eu voltar quero conversar com você.

                         Beijos, Reneé."

   Arg. Mais essa... Tomei meu café e fui checar meus e-mails, estava lendo algo sobre compras em grupo que me enviaram quando percebi uma janelinha piscando. Cliquei, era uma mensagem em off do Damon. "Bella, você provavelmente não irá a escola hoje... estou indo para sua casa." a mensagem foi mandada às 9:30, olhei para o relógio, eram 9:52... Na mesma hora a campainha tocou.

   Desci as escadas correndo - e tropeçando - quando cheguei à porta hesitei com a mão na maçaneta, girei a chave e abri a porta até metade, coloquei a cabeça para fora e lá estava ele inabalável.

   - Eu posso entrar? - perguntou, mais formalmente do que o normal.

   - Se eu disser que não você fará o que?

   - Vou embora. - disse, virando-se de volta para o caminho.

   - Entra. - chamei abrindo a porta totalmente.

    Damon entrou e bateu a porta atrás de si, sem dizer nenhuma palavra subi as escadas fazendo um sinal para que ele me seguisse, quando chegamos no meu quarto fechei a porta... Se ele fosse me matar, melhor que fosse algo mais particular, não?

   - Bella, o que está acontecendo? Até parece que você está com medo de mim - ele riu nervoso.

   - Acho que é bem racional ter medo de um vampiro...Não? - falei medindo as palavras, passei a mão no pescoço por instinto.

   Damon arregalou os olhos e depois voltou a sua expressão imparcial.

   - Do q-que você está falando? - gaguejou.

   - Ahh, você sabe! - acusei - Acho melhor pararmos de rodeios.

   - Eu, eu... não entendo.

   - Isso está ficando cada vez mais cômico. Você veio aqui para o que mesmo? - perguntei. - Se for para me matar, acho melhor andar logo por que Reneé já está voltando.

   Ele ficou pálido e seus lábios se curvaram para baixo.

   - Acho que não tenho nada para fazer aqui. - sua voz asumiu um tom gélido, ele foi se levantando em direção à porta do meu quarto.

   - Espere. - eu disse, baixando um pouco a guarda. - O que quer que tenha para falar, diga logo.

   Damon inspirou e expirou o ar, olhando para o teto e entrelaçando as mãos, então voltou seus olhos azul-turquesa para mim.

   - Então, você sabe? - perguntou.

   - Só digo que sua tentativa de apagar minha memória ou sei lá o que que tentou fazer, não funcionou.