Sem Rumo escrita por Mandy-Jam, ray_diangelo


Capítulo 8
Dobrinhas narinas


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pelo atraso.
Espero que vocês gostem desse capítulo.



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Ele continuou encarando.

Olhava fixamente para mim como se algo estivesse errado. Como se eu fosse alguma aberração. Talvez não fosse isso que ele estivesse pensando, mas eu estava me sentindo tão vulnerável ao seu olhar, que me sentia esquisita.

- Ahm... O dia está agradável hoje. – Comentei para quebrar o silêncio. Minhas mãos tremiam um pouco, mas não o suficiente para ele notar – Acho que vai fazer Sol a semana toda.

Ignorando completamente o que eu havia dito, ele fez uma pergunta que no momento pareceu ofensiva.

- O que você está fazendo nessa casa? – Perguntou.

Pronto. Eu estava me sentindo tão confortável com o modo que Deméter, Perséfone e Hades estavam me tratando que não parecia que eu estava incomodando, mas foi só ouvir a pergunta dele que eu me senti uma intrusa.

Era como se eu não pertencesse aquele lugar. Como se eu estivesse invadindo uma casa, e não simplesmente sendo abrigada ali.

Eu fiquei muito sem graça, por isso não ousei olhar para o homem. Meus olhos fitavam a tigela de cereais sem desviar nem por um mísero segundo. O silêncio estava desconfortável, até que ele o quebrou.

- Não vai me responder? – Perguntou ele novamente, ainda me encarando.

Ele não ia me deixar ignorar a pergunta. Eu olhei para ele completamente envergonhada (e isso quase não acontecia comigo) e tentei responder sem que minha língua desse um nó.

- E-E... Er... – Não conseguia dizer nada. Por sorte, não precisei também.

- Isso lá é jeito de se dirigir com as visitas?! – Reclamou Deméter dando um tapa no braço dele.

- Visita? – Repetiu ele achando aquilo estranho. Ele continuou me encarando, e ganhou outro tapa no braço.

- Pare de encarar! Quanta falta de educação! – Exclamou ela irritada.

- Eu não estou encarando. – Negou ele, embora continuasse olhando fixamente para mim.

- Pare de encarar os outros e venha comigo para a cozinha. Quero falar com você sobre alguns problemas na plantação. – Disse Deméter puxando-o para lá. Hades e Perséfone os seguiram, e eu continuei na sala.

Pensei em me levantar e ir embora, mas achei que seria terrível sair sem nem mesmo agradecer os cuidados que eles tiveram comigo. Imaginei a cena de eu andando no meio daquela plantação quente e isolada do mundo, debaixo de um Sol escaldante.

Sim, não era agradável, mas continuar ali incomodando os outros também não.

Pensei em escrever alguma coisa. Talvez se deixasse um bilhete em um pedaço de papel, eles entendessem que eu não queria mais dar trabalho, mas que estava agradecida pela hospitalidade.

Eu terminei a tigela de cereais, e tentei procurar um pedaço de papel, mas não havia nada pela sala. E mesmo se achasse, não teria com o que escrever.

Sentei-me novamente e passei a mão pelo rosto. Ainda não me sentia tão bem e a sensação de estar completamente só no mundo não ajudava. Nunca chegou a atrapalhar, é claro, mas naquele momento estava fazendo um horrível estrago em mim.

- Por que está aqui? – Perguntou o homem. Ele estava parado na minha frente, e assim que abri os olhos me deparei com os seus azuis.

- Eu... – Pisquei os olhos – N-Não estava na cozinha conversando com eles?

- Já terminei. – Respondeu ele analisando o meu rosto. Ele estava esperando pela resposta, por isso eu resolvi falar.

- Ahm... Sinto muito. Eu... Já estou de saída. Não vou mais atrapalhar. – Disse me sentindo envergonhada.

- Não falei que estava atrapalhando. Só perguntei porque está aqui. – Disse ele devagar como se eu não estivesse entendendo nada.

- Por quê? Por que... Eu desmaiei perto daqui. – Contei – Aí... Eles resolveram me ajudar.

Ele franziu o cenho para mim como se eu fosse esquisita por desmaiar, mas disse algo diferente do que eu imaginava.

- Você não se parece com ela. – Comentou ele – Bem, não muito. Ao menos foi lembrou-se do filtro solar.

- Ela? Ela... Quem? – Perguntei sem entender.

- A sua mãe. – Respondeu ele como se fosse óbvio – Nenhum dos seus tutores te disse que não é bom andar por plantações debaixo do Sol intenso sozinha?

Foi a minha vez de franzir o cenho e achá-lo estranho.

- Ahm... Não que eu me lembre. – Respondi sinceramente – Qual é o seu nome mesmo?

- Você não sabe? – Perguntou ele um tanto desapontado – Apolo, querida.

- Certo... O meu é... – Ele me interrompeu.

- Eu já sei o seu nome, Abigail. Tsc. Por favor. – Ele revirou os olhos.

- Não sabia que eu era conhecida. – Murmurei sem entender. Ele continuou me encarando – Você... Quer alguma coisa?

- Não. Estou bem. – Respondeu ele continuando a me encarar – Não pergunte isso de novo, senão Deméter pode ouvir e insistir para eu comer cereais.

- Mas cereais são bons. – Comentei.

- Já comeu três caixas seguidas? – Perguntou ele.

- Er... Não. – Respondi.

- Pois é. – Confirmou ele revirando os olhos. Ele continuou me encarando – Sabe o que é curioso?

Olhei para a tigela de cereal.

- O jeito como eles conseguem fazer o cereal em forma de anel? – Chutei.

- Não. – Negou ele – O jeito como você não se parece nada com a sua mãe, mas os olhos... São uma mistura dos meus com o dela.

- O que? – Perguntei sem entender.

- Seus olhos são uma mistura dos meus com os da sua mãe. São mais escuros em volta e vão clareando, Abigail. – Repetiu ele como se eu não tivesse entendido.

- Eu prefiro Abby. E... Como você sabe da minha mãe? – Perguntei sem entender. Ele riu um pouco.

- Sua mãe passou a vida toda reclamando comigo e dizendo que você não gostaria do nome. Eu achava que ela estava errada, mas deu para ver que não foi bem assim. – Comentou ele encolhendo os ombros. Ele olhou para mim, de repente sério, e analisou meu rosto – Você realmente não sabe quem eu sou, não é?

- Se soubesse, acha que eu perguntaria? – Perguntei sinceramente.

- Não. Tem razão. – Assentiu ele. Apolo chegou um pouco mais perto e alisou meu rosto com a ponta dos dedos. Aquilo me pareceu extremamente familiar – Eu conheci a sua mãe há um tempo, Abi... Abby.

Aguardei por mais. Ele soltou um suspiro.

- É uma pena que ela não durou muito tempo depois que você nasceu. Teria adorado ver você como está hoje. Tão bonita e independente. – Comentou ele um tanto desanimado – Bem... Acho que deve entender melhor agora, não é?

- Ahm... Não. – Neguei sem entender.

- Você ainda não entendeu que eu sou o seu pai? – Perguntou ele incrédulo – Pensei que tinha deixado a mensagem bem clara.

Eu franzi o cenho sem acreditar, e olhei fixamente para ele. Apolo ficou parado me olhando, sem ligar por ser encarado. Achei que ele estava brincando, mas pela seriedade como dissera aquilo, deu para descartar a ideia rapidamente.

Ele era o meu pai. Então... Ele era o meu pai?! Ok... Eu cheguei mais perto dele e olhei fixamente para um ponto. Queria saber se aquilo era verdade, por isso analisei bem um lugar.

- Você... – Eu disse ainda analisando – Você é o meu pai mesmo...

- Pensei que ia dizer que não. Por que concordou assim tão rápido? – Perguntou ele sem entender.

- Você tem a dobrinha do nariz que nem a minha. – Respondi. Apolo passou a mão pelo nariz, e franziu o cenho para mim, curioso – Vi no CSI.

- CSI. Sempre ensinando testes genéticos para crianças. – Comento ele revirando os olhos – E sempre ensinando que você pode matar uma pessoa com toda a sorte de objetos estranhos.

- Eu sei! Já pensei se era possível matar alguém com uma caneta, mas acho que não. – Comentei nem sei por quê.

- Na verdade é possível sim. – Confirmou ele sorrindo – É só você acertar a ponta da caneta em um ponto do pescoço chamado...

- Espera. – Disse franzindo o cenho. Eu entendi o que deveria sentir no momento, por isso me levantei rapidamente. Apolo se pôs de pé também – Você é o meu pai. E...

- E o que? – Quis saber.

- Onde você estava? – Perguntei sem acreditar que ele havia sumido por 17 anos. Ele encolheu os ombros.

- Dirigindo o Sol. É bem cansativo, e acredite... Você tem que dar tudo de si nesse trabalho. Incluindo suor. Muito, muito suor. Aquele carro fica quente pra caramba, sabia? Teve um dia que... – Eu o empurrei para o lado.

Passei por ele até a cozinha.

- Abby! – Chamou ele me seguindo.

- Não me chame de Abby. Não fale comigo. – Disse chateada. Eu coloquei a tigela dentro da pia, e pude notar que Deméter, Hades e Perséfone pararam para nos encarar – Dirigir o Sol não é desculpa para me deixar de lado... Ahm? Espera. Sol? Dirigir o Sol?

- Abby... Eu sou Apolo. Deus grego do Sol, da música, da poesia, e... – Eu o interrompi.

- Deus grego? – Repeti franzindo o cenho – Ah... Isso é tão irritante.

- Eu sei que pode ser irritante saber que eu não posso ficar perto de você, mas... – Eu o interrompi.

- Não! É que os Deuses gregos são chatos. Eles têm nomes estranhos, e... E é tanta gente para decorar o nome que dá um nó na minha cabeça. Esse sempre foi a matéria mais chata da escola. – Comentei revirando os olhos, mas só então notei o que estava acontecendo – Você não pode ser um Deus grego, porque eles morreram faz um tempão.

- Deuses são imortais. – Disse ele calmamente. Eu cruzei os braços. Eu me sentia uma criança sendo enganado por alguma mentira adulta.

- Eu não acredito em você. – Disse negando com a cabeça. Apolo pareceu chocado e ofendido ao mesmo tempo.

- Ah, é?! Não acredita em mim?! – Exclamou ele ofendido – Bom...! Então eu também não acredito em você!

- Não acredita em mim? Mas eu estou aqui na sua frente. – Comentei sem entender.

- Eu também, e você não acredita, não é? – Rebateu ele.

- Acha mesmo que eu vou acreditar que você tem poderes mágicos, que consegue viver para sempre, e coisas do tipo? – Disse negando com a cabeça – Isso é só uma desculpa para ter me deixado sozinha.

Eu passei correndo por ele e fui para o andar de cima. Eu me tranquei no quarto que estava antes, mas Apolo continuou na cozinha. Hades olhou para ele sem entender.

- “Eu também não acredito em você”? – Repetiu ele tentando não rir – Esse foi péssima, sabia?

- Ah, cala a boca. – Resmungou ele jogando-se em uma cadeira da cozinha.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Eu estou completamente enterrada em estudos. Hoje mesmo eu passei 12 horas na escola. Sério. 12 horas mesmo.
Eu sinto muito se não atualizo com tanta frequência, mas eu vou tentar não atrasar muito, sim?
Por favor, mandem reviews para dizer o que estão achando.
Beijos!