A Caçada escrita por Bia_C_Santos


Capítulo 22
Capítulo 22 - Livres


Notas iniciais do capítulo

Bom, pessoas, sem demoras hoje. Aqui vai o penúltimo capítulo. O fim d missão, mas ainda não fim. Aguentem mais :P Espero que vocês gostem e desculpem os erros. Narrado pelo James.
(Ah, e parece que eu esqueci de pôr quem narra o capítulo passado. Ops! Acontece :P)



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Parecia mais uma pequena cabana caindo aos pedaços.

            Era de madeira, tábuas de madeira. Algumas já tinham caído no chão, de tão velho e abandonado o lugar era. Tinha uma porta na frente, mas antes uma escada também de madeira, muito difícil de confiar.

            Na verdade, era meio difícil de confiar no lugar inteiro. Parecia que, se déssemos um passo para dentro da cabana, ela cairia em cima de nós.

            Eu nem acreditava como o teto continuava ali em cima ainda. Uma gota de chuva e aquilo ia desabar. Já imaginou com as chuvas que tinham na floresta? Então, como estava lá ainda?

            Olhei em volta. Kate, Lana, Oliver e as Caçadoras estavam ali, com as mãos nos olhos, por causa da luz do sol, mas nem sinal da nossa guia, a corça de Cerineia.

            ― Pra onde ela foi? ― perguntei.

            ― Ela quem? ― Oliver perguntou, em resposta.

            ― A corça ― foi Lana que respondeu, mas sem a intenção. Ela parecia surpresa, olhando para os lados.

            Os outros fizeram o mesmo. As Caçadoras chegaram até a olhar por entre as árvores, mas, pelo jeito, não havia sinal da corça. Ela simplesmente tinha sumido.

            ― Nós nem agradecemos ― Kate falou, meio ressentida.

            ― Era só uma corça, Kate. ― Lana revirou os olhos, como sempre. Bom, dessa parte dela eu não tinha sentido tanta falta nos últimos dias.

            ― Não ― Phoebe disse, pela primeira vez contrariando Lana. E eu pensava que elas eram totalmente iguais. ― Kate está certa. Nesse caso, era bom agradecer. Nós vimos, ela não era uma corça.

            ― Ela era a corça ― Mary brincou.

            Sorri. Então, era isso. Estávamos na frente da Wolf Mine, que parecia mais uma cabana de histórias de terror, no meio de uma floresta. Digamos que não parecia um obstáculo muito grande entre nós e o resto das Caçadoras.

            Sendo assim, o que estávamos esperando?

            ― Vamos? ― perguntei.

            Oliver deu de ombros. Com esse gesto, começamos a andar, alguns mais apressados que outros. Mas não cheguei a dar nem dois passos, quando a voz de Kate nos parou.

            ― Espera.

            Ficamos em silêncio em silêncio e viramos para ela. Ela estava... relutante. Passava o pingente na corrente de seu colar e mordia os lábios.

            ― O que foi? ― Mary perguntou.

            ― Há algo errado aqui.

            Prestei atenção em tudo. Ao longe, pássaros cantavam. O vento fazia as folhas das árvores sussurrarem. O sol de verão queimava a nossa pele. Enquanto isso, a Wolf Mine estava quieta. Estava tudo normal.

            ― O que há errado? ― Phoebe perguntou. Ela e Mary estavam obviamente com pressa de encontrar as outras Caçadoras.

            ― Olha, eu já assisti muitos filmes ― Kate começou. ― Nós não simplesmente saímos do acampamento, perdemos tudo o que tínhamos, menos um cantil de néctar, fomos atacados por guerreiros, quase mortos por um acidente, queimados por uma Hidra, jogados numa floresta, par no final chegarmos a uma cabaninha e salvar as Caçadoras sem mais nenhum esforço.

            ― Isso não é um fil... ― Lana começou, mas Kate não a deixou continuar. Mas eu tinha certeza que ela iria falar “isso não é um filme, Kate” naquele tom dela e revirar os olhos.

            ― O que estou dizendo é que alguma coisa devia estar vigiando a mina, não é? Provavelmente o que atacou as Caçadoras devia estar esperando por nós, certo?

            Todos pensamos por um instante. Bom... Isso era uma questão de lógica. Devia mesmo ter um monstro cuidando das Caçadoras. Mas, se nenhum tinha aparecido até aquele momento...

            ― E o que você sugere? ― Lana perguntou com um sarcasmo óbvio no tom de sua voz. ― Que sentemos e esperemos algo nos atacar?

            Ela não tinha mudado nada.

            ― Não ― Kate falou lentamente, coo se acrescentasse uma sílaba a mais à palavra. ― Mas que, pelo menos, peguemos nossas armas e fiquemos preparados.

            Com isso, ela puxou o seu colar, que logo se transformou em um chicote. Porém, devido à força aplicada, ele estalou no chão, o que fez todos nós nos assustarmos, dando dramaticidade à cena.

            Depois disso, ficamos em silêncio. Kate batendo aquele chicote parecia um pouco assustado, mesmo para uma filha de Afrodite. Ao mesmo tempo em que não combinava com o estilo dela, combinava com ela. Deixava-a mais semideusa, se é que você me entende.

            Kate, na maioria das veze, parecia uma garota normal. Incrivelmente bonita, mas normal. Com aquela arma, ela ficava mais grandiosa. Uma líder.

            Ela era nossa líder.

            Aquilo era verdade. Ela podia até não lutar tanto quanto nós, mas era ela quem tentava manter a mente calma na maioria das vezes e fazia algum plano para lutarmos ou fugirmos.

            Menos, é claro, quando uma Hidra está na nossa frente. Daí, tudo o que podemos fazer é ataca-la com latinhas de pêssegos em calda.

            Naquele silêncio que se seguiu, senti algo passando por nós. Eu não vi nada, mas jurava que algo cortara o vento e parara em uma das árvores. Afinal, não estávamos mesmo sozinhos.

            Isso, mais do que Kate batendo seu chicote no chão, fez com que pegássemos as nossas armas.

            Mais um zunido avisou que, se não fizéssemos algo logo, iríamos morrer. Eu tinha certeza absoluta que o que estava sendo lançado tinha esse poder.

            ― Kate? ― perguntei. Ela olhou com uma expressão meio assustada no rosto. ― Acho que aquela coisa não gosta da palavra “armas”.

            Nos viramos em direção que a coisa deveria estar, mas nenhum, como posso dizer?... dardo foi jogado em nossa direção. Isso mesmo, igual um dardo. Rápido e tão pequenos que não podíamos ver. Só devia ser mais perigoso.

            A coisa agora andava por entre as árvores. Devia estar nos esperando e não nos seguindo, porque, agora que andava, era fácil escutá-la. Obviamente, a coisa era pesada e grande.

            As Caçadoras e Lana apontavam seus arcos e flechas por onde a coisa parecia andar. Se ela saísse das árvores, iria levar três flechas em qualquer lugar.

            Mas daí ela parou. De acordo com nossas arqueiras, um pouco ao lado da entrada da mina. E lá ficou, fazendo nos ficar mais tensos.

            Depois de um tempo, outro barulho começou a vir, dessa vez, de trás da cabana. Era estranho. Como se fosse grandes asas batendo.

            Uma sombra caiu sobre nós.

            Eram asas batendo.

            Acho que nossas arqueiras estavam um pouco erradas sobre onde a coisa estava.

            Olhamos para cima. Algo parecido com um animal de quatro de patas, mas com asas enormes. Devia ser um leão, já que ele tinha alguns pelos em volta do “rosto”. E a cauda? Não era normal.

            Ele não era normal.

            ― Tudo bem. ― Kate, como sempre, disse isso mais para se acalmar, do que para dizer que estava tudo sobre controle. ― Qual é o problema predominante?

            ― A cauda? ― perguntei. Provavelmente era de lá que saía aquilo que fora lançado, não é?

            ― Ele inteiro, talvez? ― Lana falou, sendo irônica, ao mesmo tempo que eu.

            ― Não ― Oliver disse. ― É o fato de ele estar voando.

            ― Sim! ― Kate exclamou. ― É isso mesmo! ― Ela se virou para as Caçadoras e Lana. ― Phoebe, Mary e Lana. Vocês acertam as asas dele. Tentem derrubá-lo.

            As três arqueiras assentiram e começaram a acertar suas flechas nos lugares, para soltá-las em uma asa daquela coisa.

            ― O que é aquilo, para falar a verdade? ― perguntei, já que eu não sabia como chama-lo nos meus pensamentos.

            ― O manticore ― Phoebe respondeu, enquanto soltava uma flecha. ― Corpo e patas de leão, asas, calda igual a de um escorpião e, você verá, rosto humano.

            Franzi a testa. Não era uma boa combinação.

            Lana, Phoebe e Mary lançavam juntas as algumas flechas, que acertaram em cheio a asa direita do manticore. Mas, pelo jeito, não era o suficiente.

            ― Assim que ele tocar o chão, temos que arranjar um jeito de mantê-lo no chão. ― Kate continuou quieta por um pequeno espaço de tempo, pensando. ― Oliver, você pode fazer aquilo de novo? De plantas prendendo os pés das pessoas? Só que com mais, hum, força?

            ― Bom, ― Oliver respondeu ―, aqui é muito melhor com toda a grama e plantas. E eu estive treinando, então... ― ele deixou a frase pendendo no ar, enquanto dava de ombros.

            ― Ótimo! ― Kate exclamou e se voltou para mim. ― James! Eu quero que você tente distrai-lo. Mas não temos escudo, então tente ficar longe da cauda.

            Ela parecia ter um plano em mente, mesmo aquele manticore parecendo impossível de ser derrotado, então tudo o que fiz foi concordar.

            O manticore já estava quase no chão. Eu não entendi o porquê, mas ele ainda não tentava nos acertar com o que tinha naquela cauda. Talvez ele fosse tão burro que não conseguia voar e atirar aquela coisa ao mesmo tempo.

            Ele estava quase lá e Kate já estava quase preparada para avançar, quando Lana perguntou:

            ― O que fazemos agora?

            Kate passou a mão livre na cabeça, como se estimulasse o seu cérebro a pensar. Era meio difícil já que agora o manticore gritava/rosnava.

            ― Nada ― respondeu, enfim, e começou andar, já que mais alguns centímetros e o manticore estaria no chão. Me preparei também. Oliver já tocava sua flauta.

            ― Nada? ― Mary perguntou, indignada, fazendo Kate parar no meio do caminho. Ela nem se virou. Apenas deu uma resposta.

            ― Ah, não sei! ― Kate ficava impaciente. ― Escondam-se atrás das árvores, qualquer coisa para não serem acertadas pelos jatos, mas não façam mais nada.

            Nenhuma das três discutiu. Não havia tempo pra isso. Kate já andava de novo em direção ao manticore, que brigava com as raízes se enroscando em seus tornozelos e movia a cauda. Percebi que andava em direção a ele também.

            Mas eu parei quando Kate chegava perto do manticore, que devia estar preocupado demais com as plantinhas e acertar seu alvo em mim, talvez, pois não a notara. Algo dentro de mim me fez parar. A mesma coisa que me fez dizer:

            ― Kate?

            Kate parou e voltou-se para mim. Ela estava... péssima. Havia lágrimas em seus olhos pedindo para serem libertadas, e ela estava tão cansada que me deu até dó.

            ― O que? ― ela perguntou. Sua voz falhava.

            O que eu queria dizer era “tome cuidado”, mas as palavras não saíram da minha boca no instante em que a vi. Então, pensei em substituir por um “eu te amo” de brincadeira, só para ver a cara de irritação dela. Mas não parecia certo, então perguntei:

            ― O que você vai fazer?

            ― Você verá ― foi o que ela respondeu.

            Corri para o manticore aproveitando que as plantinhas e Kate estavam distraindo-o. Eu não sabia exatamente onde era importante para ataca-lo, mas meu objetivo era a cauda.

            Na verdade, tudo o que eu queria fazer era manter o manticore ocupado comigo e não com Kate. Mas o que viesse era lucro.

            Naquele momento, eu queria ter um arco e flecha, mesmo não sabendo manejá-lo. Mas assim não era preciso chegar perto do manticore.

            Achei que era preciso atacar o manticore para chamar sua atenção, mas logo que cheguei à alguns centímetros dele, o manticore me notou. O bom era que Kate, que chegava perto da manticore também, não foi vista.

            Ela correu para baixo do manticore, o que foi muito corajoso, pois, se ele resolvesse cair, ela seria totalmente esmagada por aquele corpo enorme.

            Enquanto isso, o manticore tratou de direcionar aquela cauda enorme em para cima de mim. Me desviei rapidamente da sua mira e senti seus “dardos” passarem raspando sobre mim.

            O manticore provavelmente ia jogar mais uma saraivada de “dardos” sobre mim, mas algo o desconcentrou. Ele soltou um grito/ rosnado mexeu o corpo, fazendo sua cauda mudar de direção.

            Eu tinha certeza que Kate o acertara com o chicote. Aquilo não era um brinquedo. O jeito que aquilo acabara com a Empousa (as Caçadoras revelaram o que aquela coisa com pernas estranhas era uma Empousa) com um só golpe? Incrível.

            O manticore só não tinha corrido para longe porque Oliver prendia aquelas plantinhas em suas patas. Além do mais, ele estava ocupado comigo naquele momento.

            De qualquer forma, aquela bagunça que Kate organizara fazia sentido. Era um caos para o manticore e cada um fazia a sua parte.

            Bom, mais ou menos. Eu vi de relance Lana, Mary e Phoebe indo em direção à cabana, ou à entrada da mina, enquanto o manticore estava distraído.

            Corri para o outro lado, para chama a atenção do manticore para o lado oposto ao que as três iam.

            O manticore se recuperou do golpe de Kate e enviou a cauda em minha direção. Desviei o mais rápido que pude, mas percebi que ficava mais perigoso chegar perto do manticore.

            Eu não me importava.

            Kate atacou-o de novo. Aproveitei esse momento para ataca-lo também. Cheguei perto de seu corpo de leão e afundei minha adaga nele. O manticore soltou um rugido. Tratei de sair de perto dele.

            Estava ficando difícil para o manticore. As plantinhas de Oliver agora se enroscavam em seu joelho de leão. Kate o atacava com mais intensidade e eu resolvi ficar correndo de um lado para o outro para atraí-lo.

            Mas daí ele viu Lana, Mary e Phoebe.

            O manticore ficou louco. Seriamente. Ele parecia agitado, quase “pulando” no lugar, tentando se livrar de tudo e de todos. Mas só ficava pior.

            As “plantinhas” de Oliver estavam mais fortes agora e se enroscavam em suas pernas, já cobrindo o corpo. Parecia que quanto mais ele se movia, mais as raízes se enroscavam nele.

            Kate saíra de baixo dele, já que ele agora caía. Estava atacando o seu corpo. Era incrível como ela parecia uma domadora de leão de circo com aquela arma.

            Podíamos derrota-lo. Eu fui ataca-lo ao mesmo em que Kate. Mas daí algo aconteceu. Ou melhor, tudo aconteceu ao mesmo tempo.

            Oliver conseguira fazer as raízes se enroscarem no corpo inteiro do manticore, menos na cauda. Essa mesma cauda, a qual eu tinha me esquecido, se jogou contra mim, segundos antes de Kate atravessá-la com o chicote.

            E tudo ficou em silêncio.

            Eu senti vários pontos do meu corpo arderem da minha cintura para cima e do meu rosto para baixo. Doía. Muito. Eu tinha certeza que vários daqueles “dardos” me acertaram e continham veneno.

            Toquei o meu ombro. Ai. Aquilo doía ainda mais. Sim, aquilo tinha definitivamente veneno. E estava percorrendo o meu corpo, o meu sangue. Não era nada bom. Queimava, como fogo nas minhas veias.

            ― Ele... hum... morreu? ― Kate perguntou. Ela estava ao meu lado, mas não olhava para mim, e sim para alguma coisa que parecia uma pilha de raízes de árvores. O que era aquilo mesmo?

            O sol estava ficando mais quente. Eu suava. Muito. Eu sentia a água saindo do meu corpo. Engoli em seco. Eu precisava de mais água, para apagar o fogo.

            ― Acho que sim ― Oliver falou. ― Ele nem se move. Talvez não haja mais nada aí embaixo. E você ainda cortou a cauda dele.

            A imagem do local se duplicara. Havia duas “Kates”            ali. Ou então Lana chegar ao seu lado. Mas como, tão rápido? E Lana estava com uma diferente de Kate, não estava?

            Eu estava ficando fraco, minhas pernas estavam bambas e pesadas. A imagem girava. Estendei a mão e cambaleei até a árvore mais próxima. Praticamente cai sentado no chão, me encostando-se à árvore. Só assim consegui chamar a atenção de alguém.

            ― James! ― Kate exclamou. Ouvi seus passos rápidos vindo em minha direção. Ela se ajoelhou ao meu lado. Dois pares dos seus olhos castanhos me observaram. ― Você foi acertado!

            Meu estado estava tão péssimo assim que era possível perceber que o veneno me torturava?

            Eu enxergava tudo embaçado agora. Eu queria fechar os meus olhos. Eu sabia que aquilo não era a morte. Eu só estava cansado. E queimando. E precisava de água também.

            Kate tirou sua mochila das costas. Pegou de dentro dela um cantil. Era o cantil de néctar que eu tinha salvado. Ela abriu-o e pôs na minha boca.

            Senti um gosto doce na língua. Como chocolate. Muito bom. Não era refrescante como água gelada, mas apagava o fogo por onde o néctar “passava”. Me fortalecia e desaparecia com as minhas dores.

            ― Vamos lá, James ― ouvi a voz doce de Kate do meu lado, me incentivando. As suas mãos seguravam o meu rosto. ― Você consegue. Você é um semideus.

            Eu conseguia. As duas imagens se encaixavam. Eu podia ver o rosto de Kate nitidamente. A dor e o fogo sumiram. A minha força voltava, e felizmente o calor passava.

            Logo tudo voltava ao normal. Só o meu cansaço prevalecia. E a preocupação de Kate. Kate, que provavelmente achou que eu estava morrendo. Kate, que estava tão perto. Tão perto que eu podia ver cada cílios dela.

            E eu me dei conta do quanto ela era bonita.

            Assim, não do tipo “filha de Afrodite”. Ela só era muito linda. O jeito que ela mordia seus lábios, muito vermelhos, tão preocupada. O jeito como seus olhos pareciam tão profundos no meio de sua pele macia. O jeito como sua sobrancelha estava erguida, esperando. O jeito como seu cabelo estava todo bagunçado.

            E eu só queria saber o gosto daqueles lábios. Mergulhar naqueles olhos. Tocar sua pele. Acariciar seus cabelos. Senti-la.

            Então, por alguns instantes, eu não disse nada. Como poderia? Quem sabia o que ia sair de dentro da minha grande boca se eu tentasse?

            Mas então Kate perguntou:

            ― James?

            E eu tive que responder:

            ― Oi?

            ― Ah! ― Kate respondeu, aliviada. ― Não faça isso de novo! Nunca mais!

            Então ela me abraçou. Seus braços me envolveram carinhosamente e me apertaram com força ao mesmo tempo. Devia ser por causa da minha fraqueza. Ela ficara bem mais forte do que eu.

            Mesmo estando dias sem banho, em uma floresta, Kate cheirava muito, muito bem. Lembrava-me de doces. Mais apropriadamente sorvete... Não! Baunilha! E fazia me sentir muito melhor do que o néctar fazia.

            ― Você consegue se levantar? ― Kate perguntou, enquanto ela se desaproximava. Levantou-se, parecendo preocupada. Estendeu a mão para mim.

            Eu me sentia mais forte, então agarrei sua mão. Ela me empurrou com toda força que tinha. Levantei-me. Minha perna ainda estava fraca, mas me mantinha em pé, então continuei.

            Andamos até a cabana, onde Lana, Mary e Phoebe estavam nos esperando. A porta da cabana ainda estava fechada, mesmo as três estando lá fazia bastante tempo. A porta devia estar tão fraca que, só um toque, e ela cairia.

            ― Não conseguimos abrir a porta ― Lana disse. ― Ela deve estar trancada meio que magicamente.

            ― Vamos ver ― respondi me aproximando da porta, depois de subir aquela escada o mais leve o possível. Chutei-a. A porta caiu na hora. Isso porque eu me sentia fraco. ― Pronto.

            Lana e as Caçadoras entraram primeiro. Deixei Oliver e Kate passarem na frente. Depois entrei um pouco surpreso de o chão não ter caído ainda. Afinal, eram apenas algumas tábuas segurando seis pessoas.

            O lugar estava totalmente empoeirado. Havia teias de aranha enormes nas paredes e maços de pó no chão. Era possível até ver pegadas enormes no chão, do que devia ter trazido as Caçadoras.

            ― Onde elas estão? ― Phoebe se perguntou.

            ― Lá embaixo ― respondi.

            ― E como chegaremos lá embaixo? ― Lana perguntou meio irritada, como se fosse culpa minha de elas estarem embaixo de nós.

            ― Por ali. ― Apontei para um canto mal iluminado ali. Tinha uma espécie de caixa embutida em uma abertura na parede, mais conhecida como elevador.

            ― Isso ainda funciona? ― Kate franziu a testa. Com certeza aquele elevador era velho. Mas era a única opção. E só assim as Caçadoras chegaram lá embaixo.

            ― Vamos testar ― respondi. ― Uma viagem, duas pessoas. É melhor assim.

            ― Eu fico aqui ― Oliver falou. Concordamos. Sátiros não gostavam muito do subsolo, pelo o que eu me lembrava. E seria útil caso algum monstro viesse parar aqui.

            Phoebe e Mary entraram no elevador. Por sorte ele não caiu fazendo mais Caçadoras ficarem presas. Eu me aproximei. Ao lado do elevador tinha uma espécie de alavanca, igual à de máquinas de jogos.

            Movi-a para baixo e esperei. O elevador começou a descer. Então, sim, ele estava funcionando, para nossa sorte.

            Depois de Phoebe e Mary descerem, subi o elevador de volta. Foi a vez de Kate e Lana. Elas desceram e depois abaixaram a alavanca para eu descer.

            Tudo estava escuro lá embaixo, mas, depois de tatear no escuro, achei um interruptor. Acendi as luzes, que felizmente ainda funcionava também, mesmo a maioria estando fraca.

            Havia uma trilha na mina. A seguimos. Era comprida e também larga. A igual as trilhas dos filmes, com trilhos no chão, para aqueles carrinhos passarem.

            Demorou um 15 minutos andando na mina em silêncio. Depois disso, no fim da trilha, vimos uma cela com várias garotas de idades mais novas, do contrário do que eu imaginava, que 18 anos. Quando uma delas nos viu, se levantou e gritou:

            ― Phoebe! Mary!

            Phoebe e Mary correram até a cela das Caçadoras, enquanto ficávamos para trás. As duas se encostaram nas grades e Mary perguntou:

            ― Como vocês estão?

            Mesmo de longe, era óbvio que a resposta era “péssimas”. Elas estavam magras e pálidas, as bocas rachadas devido a falta de água e com olheiras profundas.

            ― Com sede ― a garota respondeu. ― E fome. Nossa ainda nos sustentará por alguns dias, mas a água acabou faz dois dias.

            Quando chegamos mais perto, consegui enxergar melhor a garota que falava com Mary e Phoebe. Seus cabelos eram pretos e curtos e ela tinha os olhos azuis mais surpreendentes que já tinha visto na minha vida.

            Lana tirou da sua bolsa várias garrafas de água e deu para as Caçadoras na cela. Enquanto Mary e Phoebe falavam com elas e Lana as saciava, eu e Kate examinávamos a fechadura. Era uma fechadura normal, nem tão grande, nem pequena.

            Era tão simples. Tudo bem, não era um cadeado, o que facilitaria muito as coisas, mas acho que o peso delas conseguiria derrubar aquelas grades, mesmo elas sendo grosas.

            ― Vocês tentaram derrubar essa grade, não tentaram? ― perguntei em dúvida.

            Acho que a garota não gostou muito da minha pergunta. Ela me fuzilou com aqueles olhos azuis-elétricos e eu pensei que ela me mataria com aquele olhar, se pudesse.

            Eu tinha certeza de que ela podia.

            ― É claro que tentamos. ― A garota parecia revoltada em ter que admitir que falharam. ― Mas nossos poderes não adiantaram nada e a cada dia ficávamos mais fracas. E essa grade é incrivelmente resistente.

            ― Como vamos tirá-las daqui então? ― Mary perguntou preocupada.

            Ficamos em silêncio. Os poderes de Kate e Lana não ajudavam em nada. Afinal, ninguém podia persuadir uma porta a abrir. E eu duvidava que arcos e flechas fizessem esse trabalho, então...

            As garotas teriam que deixar com o único homem do lugar... Que irônico! Logo elas que odiavam garotos...

            ― Kate, você vai ter que desfazer esse coque ― disse.

            Kate me olhou como se estivesse perguntando “do que você está falando?”, ao mesmo tempo em que levava as mãos ao cabelo. Mas então ela deve ter encostado em um dos grampos, porque soltou um “ah”, e me deu um deles.

            Enfiei o grampo na fechadura e rezei para que isso desse certo mais uma vez. Era uma questão de orgulho agora. Achei  lugar certo para encaixar o grampo e o girei.

            E daí a grade se abriu.

            Simples assim.

            Tão fácil que nem teve graça. Mas foi divertido olhar para a cara das Caçadoras, algumas bravas por ter sido tão fácil e algumas totalmente descrenças por eu ter conseguido e elas não.

            Deixei todas elas passarem e devolvi o grampo a Kate. O cabelo dela acabara caindo e estava ondulado depois de tanto tempo preso.

            Seguimos de volta o caminho dentro da mina. Nenhum sinal de monstros lá dentro, nem lá fora, já que Oliver teria aparecido para nos avisar.

            Mary e Phoebe iam dando parte da comida para as outras Caçadoras. Elas tinham comido muito pouco por dia, porque não sabiam quando conseguiriam mis comida, então estavam famintas.

            Foram necessárias muitas idas e voltas do elevador para que todas as Caçadoras e mais nós três subíssemos de volta. Eu estava surpreso pelo quanto o elevador estava aguentando, devido a sua “idade”.

            Eu só não fiquei surpreso pelo quanto de tempo aquilo demorou. Subíamos de dois em dois, porque aquilo era frágil, e o elevador era muito, muito lento.

            Mas finalmente todos chegamos de volta para cima. As Caçadoras já estavam na floresta, em volt do que restou do manticore. Provavelmente ele as atacara. Ele deu um jeito de ficar escondido e tudo o que precisava era mexer a cauda para atacar seus dardos e deixá-las fracas.

            Então, no fim, tínhamos salvado as Caçadoras.

            Era isso.

            Nossa missão acabara.


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Notas finais do capítulo

Fiquem comigo pelo menos até amanhã! O último capítulo!



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